Soul escrita por Writer


Capítulo 15
Acontecimentos desnecessários


Notas iniciais do capítulo

É eu sei, faz dois meses que eu não posto nada. E peço mil desculpas por causa disso. É porque eu to mergulhada (morrendo afogada na verdade) nos estudos. Mas eu filnalmente consegui um tempinho pra terminar de escrever e postar. Outra coisa, eu to muito triste por ter recebido só dois comentários no último capítulo. É serio.



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Suspirei e observei o lugar pela terceira vez no caminho. Aquele lugar era lindo e observar tudo aquilo não perdia a graça.

Nós estávamos indo para um lugar ao lado da Casa Grande, aquele lugar apenas com colunas um teto, cercado por cortinas brancas. Não havia sol no céu. Estava nublado mas não estava completamente escuro. Afinal, estávamos no meio do outono. Fiquei confusa sobre o porque a floresta estava perfeitamente verde e viva nessa estação.

Havia um vento frio no ar. Como se tudo o que havia acontecido naquela manhã havia afetado o clima. Eu sentia as marcas nas minhas costas pulsarem a cada segundo. Como se quisessem se libertar de minhas costas. Todos aqueles fatores me incomodavam. Eu estava tensa, para colaborar com minha situação.

Me encolhi um pouco com o vento. Depois teríamos que pegar as malas no carro. Bufei impaciente. O dia não estava para mim.

Finalmente estávamos chegando. As cortinas balançavam com o vento e eu podia ver pelas brechas que haviam pessoas lá dentro, sentadas em cadeiras em volta de uma mesa. Fiquei mais tensa ainda com ter que encarar logo de cara uma reunião dessas. Me sentia quase que uma intrusa. Me encolhi, abraçando meus próprios braços e passando as mãos rapidamente por eles para dar uma esquentada.



–Porque está com medo? - Leo perguntou aparecendo de repente. Ele passou o braço ao redor dos meus ombros e me apertou contra si. Minha falta de altura me fez sentir um ursinho de pelúcia perto dele. Ele era uma cabeça mais alto que eu. Na verdade todos eles eram uma ou meia cabeça maiores que eu.



–Eu não sei. Eu só... Só acho que não vou me encaixar com eles. Ou ser aceita. Tenho esse pressentimento. Olhe para Hazel e Nico, por exemplo. Eles são legais e não se encaixam.

–Você é melhor que eles, Sophie. - Piper disse pra mim, vindo para o meu lado e passando o braço por cima dos meus ombros do mesmo jeito que Leo tinha feito. Meu rosto ficou quente e eu vi o quanto não estava habituada à algumas das sensações.

–Não estou xingando eles nem nada. Vpcê é diferente. Você é legal, bonita, divertida e é um doce. Sério Sophie, se eles não gostarem de você eles serão loucos.



Corei mais ainda, o que pensei que fosse impossível. Dei um sorriso tímido e abaixei o rosto, me escondendo dos olhares e meio sorrisos que eu via os outros darem. Quíron, que estava liderando o caminho ao lado de Percy e Annabeth, olhou pelo canto do olho para mim. Não era um olhar doce ou qualquer outra coisa. Era como se ele estivesse me analisando. Procurando por algo de ruim em mim. Senti um calafrio percorrer minha espinha quando ele voltou a olhar para a frente.



O que foi isso? - Leo perguntou pra mim, falando baixo e perto do meu ouvido.

–Nada. É que o olhar de Quíron me incomodou um pouco.

–É, ele tem esse estranho poder de olhar através de você e te dar medo. - Ele brincou mas seu tom não soou completamente brincalhão. Havia verdade no que ele havia dito.



Finalmente chegamos no local da reunião. Fiquei feliz por já com uma aparência apresentável. Quíron entrou na frente e Percy e Annabeth seguraram as cortinas para podermos entrar. Eu mal havia entrado e já queria enfiar minha cabeça em um buraco no chão. Entrei no local não olhando para nada em especial. Eu olhava para tudo menos para o rosto das pessoas, porque eu sabia que os olhares delas estariam em mim e eu não queria ver elas me observando. Piper tirou o braço de volta de mim e eu me encolhi um pouco, me sentindo imune. Observei discretamente ela darem a volta na mesa e sentar entre duas cadeiras vazias. Leo se despediu de mim e se sentou ao lado de Piper.



–Vem. - Nico disse pra mim, fazendo sinal com a cabeça.



O segui, vendo o quanto aquele lugar estava lotado. Haviam pelo menos cerca de 25 pessoas por ali. Comecei a me sentir agoniada, com medo de que em algum momento toda a atenção se voltar pra mim. Ser um fantasma me fez ter fobia de lugares com muitas pessoas. E também de muita atenção. Era mais fácil ser invisível. E nesses raros momentos eu tinha vontade de não ser vista. Me sentei em uma cadeira entre Nico e uma menina que eu apenas a conhecia de longe. Ela era uma das semideusas que morava com Elisa e Elizabeth.

Lá na casa deles, eles viviam em seis. Três meninas e três meninos. Havia um casal, a menina que estava sentada do meu lado era namorada de outro garoto na casa. Eu não sei quais eram as regras naquela casa mas estavam longe de serem rígidas. Eles faziam festa quase todos as semanas, já que todos eram riquinhos e populares. Elisa e Elizabeth não eram excessão.

Elas eram irmãs por parte de pai e mãe. Quando Elisa tinha 6 e Elizabeth 8, com o consentimento dos deuses elas começaram a morar no palácio de Éolo. Porque a mãe delas havia se suicidado e fugiram do acampamento por não gostar. Agora, aos 15 e 17 elas felizmente gostavam. Começaram a morar ali cinco anos depois de viver com o pai, à pedido dos deuses que estavam vendo que alguns semideuses achavam errado elas terem o poder de morar com o pai. Elas eram um pouco parecidas. Ambas tinham a pele com um bronzeado quase invisível, mas não eram brancas como eu ou Nico. Grandes olhos cinza claros, diferentes dos de Annabeth. O delas era um cinza mais claro, como um prata fosco. Elisa tinha cabelos loiro claro e bem cacheados, com pequenas mechas mais escuras e algumas outras mais claras. Elizabeth tinha cabelos lisos, pretos e sedosos, cortados em um corte reto com uma franja. A personalidade delas não era muito diferente. Ambas eram simpáticas, engraçadas, gostavam de música e de ler, assistir filmes e séries e pareciam apreciar tiro com arco e esgrima. Eu chamava Elisa de Liz - ou pelo nome normal já que ele já é curto - e Elizabeth de Lizzie.



–Hey Sam. - Cumprimentei ela, tentando soar simpática e torcendo para que ela lembrasse quem eu era já que eu só havia a visto umas três vezes.

–Oi... - Ela disse travando e apontando pra mim, tentando lembrar meu nome. Logo ela respondeu sua própria dúvida. - Sophie!



Ri levemente, enquanto ela pedia desculpas por não lembrar meu nome.

Eu não conhecia Sam. Ela tinha cabelos castanho médio e olhos da mesma cor com alguns pontos dourados. Era filha de Apolo, estava lá para alguma emergência e para não ficar muito longe de seu namorado. Ela parecia ser legal, mas não nos falamos muito nas vezes que fui na casa deles.



–Está tudo bem? - Dei um sorriso educado e simpático.

–Tá sim. E com você?

–Nem tudo está bem, mas sim. Só estou um pouco nervosa. - Fui sincera e dei um sorriso tímido, porque não me sentia bem mentindo para pessoas que não me conheciam direito. - Onde está o resto do pessoal?

–As meninas estão no banheiro e os meninos estão colocando as coisas nos chalés. Vocês acabaram de chegar?

–Aham. Mas, fomos perseguidos por um gigante e o nosso carro acabou capotando.

–Deuses! Está tudo bem?



Dei uma vaga explicação sobre o que aconteceu, deixando de fora meu diálogo com o monstro. Eu não iria contar nada sobre o que a palavra "espectro", nada do porque aquilo tinha a ver comigo. Ela fez aquele discurso que todos geralmente faziam de "se você precisar de algo que eu possa fazer por você é só falar" e eu apenas acenei sorri e disse algumas poucas palavras.



A verdade era que eu não estava prestando total atenção nela. Parte de mim estava completamente animada para ver as meninas, ficar no acampamento (mesmo depois de terem me dito que eu não me encaixaria ou seria aceita) e outra parte estava completamente assustada pelo que estava acontecendo comigo. Os sentimentos eram mais fortes do que antes e aquilo me deixava desorientada as vezes.



Quando a conversa acabou eu fiquei sem o que fazer, então comecei a olhar discretamente as pessoas dali. Eu não conhecia ninguém, a não ser o pessoal que morava comigo. Alguns conversavam entre eles, faziam brincadeiras. Peguei uma menina retirando o dedo de um menino, apenas o tirando como se fosse algo solto. Arregalei os olhos enquando o menino que havia 'perdido' o dedo discutia em pânico.



–Isso é normal, fica tranquila. - Nico disse baixo pra mim, ao ver minha expressão de medo.

–Não é normal uma pessoa tirar o dedo de outra pessoa assim! - Falei baixo mas meu tom estava alto.

–Aqui é. - Quase vi um sorriso se formar em seu rosto.



Ouvi um pigarrear e virei o rosto para ver quem era e um sorriso enorme apareceu em meu rosto. Eram Elisa e Elizabeth. Elas estavam de braços cruzados e com um meio sorriso quase malicioso no rosto, paradas na entrada. Abri a boca para comprimentá-las mas fui interrompida antes de poder falar algo.



–Bem agora que todos estão aqui, podemos começar. Todos podem se sentar e por favor coloquem as partes do corpo nos lugares. - Eu nem sabia para o que era aquela reunião. Parecia que tudo estava bem. Porque se não tivesse eu acho que notaria. - Para os que não entendem o porque dessa reunião - O que?! O cara tinha lido minha mente ou tinha uma dedução macabra. - vou explicar. Há alguns dias estamos notando algo estranho em relação aos monstros.



De repente, senti um calafrio passar por mim. Foi como um mau pressentimento sobre o assunto. E se aquilo estava acontecendo era porque algo estava mal de verdade. Era impossível que eu tivesse uma reação assim de apenas uma suspeita de algo ruim acontecendo.



–E eu gostaria de saber se vocês estão notando alguma atividade estranha e incomum, até mesmo perigosa.



Fiquei quieta. Eu não iria contar nada, até porque aquilo podia não ter nenhuma diferença e não ter nada a ver. Vi Nico me olhar pelo canto do olho mas continuei ignorando, olhando para as pessoas e até mesmo a mesa.



–Algo estranho aconteceu ontem a noite. - Disse uma menina de cabelos castanho claro com luzes e olhos também escuros. - Eu estava dando uma volta com umas amigas da escola, quando eu vi um monstro. Um gigante. Ele não me atacou. Na verdade ele sentiu meu cheiro, olhou pra mim e mostrou os dentes. Mas depois ele foi embora.



Outro calafrio passou por mim e, para melhorar, os pelos claros em meu braço ficaram arrepiados. Repentinamente, o ar pareceu se tornar mais frio para mim e eu me encolhi.



–O que torna tudo mais suspeito ainda Srta. Henderson é que hoje enquanto um de nossos grupos vieram para o Acampamento, eles foram perseguidos e atacados por um gigante. O que nos faz notar que ele estava atrás de alguém em específico.



Quíron nos examinava. Ele olhou para mim, depois para Nico, Piper, Leo, Jason, Frank, Hazel. Quando ele me olhou pareceu que ele estava vasculhando minha mente mas eu não podia desviar o olhar. Porque se desviasse isso me faria suspeita. Então mantive o olhar firme, apertando minhas mãos no assento da cadeira discretamente mas com força. Olhei para Nico como se não tivesse nada de errado, mas meu olhar dizia "o que eu faço?". A resposta estava clara em seus olhos. Conte. Mas eu não queria. Não queria ninguém me protegendo, ou vigiando. Até mesmo não queria pessoas me olhando pelo canto do olho, falando coisas sobre mim.

Mais pessoas relataram coisas incomuns de monstros andando calmamente entre os mortais até falta de algumas pessoas que eles achavam que poderiam ser semideuses. E eu aguentei Nico apertando minha mão, falando em meu ouvido, fazendo de tudo para me obrigar a falar mas eu não cedi. No fim das contas, ele ficou irritado e não falou comigo pelos últimos minutos da reunião. Mas fiquei feliz de ele ter respeitado minha opinião e não ter falado por mim. O que significa que ele havia me pressionado para que eu contasse, e se eu não quisesse contar ele respeitaria a minha decisão e me deixaria quebrar a cara sozinha.



–Bem, a reunião está encerrada. Fiquem de olho em mais coisas estranhas e para os que vão ficar uma semana aqui: não se esqueçam que teremos um jogo na terça à noite. O almoço está sendo servido, então todos se encaminhem para o pavilhão.



A sala virou um caos. Todos se levantaram, alguns se cumprimentaram, outros se juntavam em grupos ou trios e saíam conversando calmamente. Me levantei para ir cumprimentar as meninas e Nico segurou meu pulso. Olhei para ele levemente irritada.



–O que foi?

–Nós precisamos conversar.



Eu sempre ouvi que era horrível ouvir as palavras "nós precisamos conversar" e achava que era um total exagero. Mas na hora que ele falou a frase eu quase tive um ataque. Meu coração disparou. E se ele achasse que nosso relacionamento é errado? E se ele me achasse uma idiota por tudo que aconteceu hoje? E se ele decidisse que não deveríamos continuar juntos? E se ele estivesse indo pro Mundo Inferior?



–Ok. Eu já volto. - Disse sem mudar um traço da minha expressão.



Ele soltou meu pulso lentamente e eu me virei, ainda tendo um ataque de pânico. Deuses, tomara que ele não queria terminar o nosso... rolo. Murmurei mentalmente, respirando fundo.



Vi as meninas me esperando perto da entrada, com os sorrisos grandes contrastando com o pânico que eu sentia. Mas mesmo assim sorri, tentando esquecer que Nico queria falar comigo e que eu não fazia ideia do motivo. Assim que cheguei até elas, elas me abraçaram forte e ao mesmo tempo. Meu sorriso se tornou verdadeiro. Elas me soltaram e vi seus olhos prata-fosco brilharem.



–Deuses, sentimos sua falta! - Elizabeth falou por ambas mas Elisa não protestou. Elas pareciam mais amigas do que irmãs.

–Eu também! - Se pudesse, meu sorriso se tornaria maior.

–E ai? Aconteceu alguma coisa na área Niphie?– Niphie era o ship delas para Nico e eu. Revirei os olhos e não falei nada. Quando não falei nada, Elisa tirou suas próprias conclusões. - Ah meus deuses! Aconteceu alguma coisa??– Ela quase gritou e eu quase dei um tapa nela.

–Não vou contar agora. - Falei em um tom baixo e discreto. - Depois a gente conversa direito. Agora Nico quer conversar comigo.

–Vocês mal estão juntos e ele quer ter uma DR? - Que tipo de pessoa ainda fala "DR"? Apenas Elisabeth.

DR? Quem ainda fala isso? - Elisa disse, irritando-a.

Eu falo.

–O fato é que, não é uma... DR. É outro assunto.

–Sei. - Ambas murmuraram quase ao mesmo tempo.



Revirei os olhos. Elas eram excessivamente clichês as vezes. O que nos fazia combinar em certas horas porque eu soltava termos estranhos ou agia como se estivesse na década passada.



–Podem ir para o almoço, encontro vocês depois. - Afirmei.



Elas deram uma quase despedida e saíram, falando sobre esmaltes. Revirei os olhos. Elas eram tão mimadas pelo pai que se tornaram um pouco frescurentas, mas eu gostava delas mesmo assim.

Me virei e a sala estava quase vazia. Nico estava andando na minha direção ao lado de Quíron, que parecia irremediavelmente curioso.



–Gostaria muito de saber um pouco mais de você Srta...

–Seele. Sophie Seele. Mas me chame apenas de Sophie.

–Claro. Gostaria muito de saber mais sobre a sua história.



É eu também gostaria. Murmurei amargamente. Aquele espaço em branco na minha memória estava me incomodando mais do que o habitual.



–Sim, podemos marcar uma hora para conversarmos. E também, eu ficaria muito agradecida se me ajudasse com uma questão que estou curiosa.

–A qualquer hora.



Quíron me parecia assustadoramente parecido com o personagem Jeb, de A Hospedeira de Stephanie Meyer. Sua curiosidade sobre mim era quase igual a que Jeb sentia sobre Peregrina e o universo.



–Por agora, posso acompanhá-los para o pavilhão? - Finalmente achei alguém que fala quase formalmente sem parecer um estranho louco. A linguagem se encaixa nele, pensei alegremente. Olhei para Nico, esperando ele falar que queria conversar comigo em particular. Nico respirou fundo antes de falar.

–Quíron, espero que não se incomode mas Sophie e eu precisamos conversar à sós. - Ele soou quase formal e eu fiquei surpresa.

–Nico, você deve saber que são as regras. Semideuses de sexo oposto não podem ficar sozinhos em chalés ou lugares fechados.

–Não se preocupe, vamos manter as cortinas abertas. - Quíron respirou fundo, ao ver que suas regras estavam sendo dobradas por dois adolescentes. - Além do mais nos conhecemos bem, moramos na mesma casa afinal.

–Neste caso, vejo vocês em dez minutos no pavilhão. Espero realmente ter aquela conversa Sophie.

–Claro! Nos vemos por ai. - Disse dando um sorriso amigável.



Eu realmente gostei de Quíron. Até porque a sua semelhança com o personagem, Jeb, ajudava um pouco. As vezes eu lia para fingir em minha cabeça que era uma personagem do livro, viva acima de tudo. Não fazia tudo 10x melhor mas tornava os dias, meses e anos solitários, menos vazios.

Me virei para Nico e o sorriso já não estava mais em meu rosto. Agora eu estava preocupada.



–O que foi? - Perguntei.



Ele se virou, e começou a abrir as cortinas que cercavam o local. Em silêncio eu o ajudei, não falando nem um pio e sendo corroída por dentro pela curiosidade. Mordi meu lábio inferior. Aquilo estava se tornando um mal hábito de quando eu ficava nervosa.



–Você não devia ter feito aquilo. - Ele disse por fim. E eu sabia exatamente do que se tratava. Ele estava bravo comigo por não ter contado a ninguém sobre meus pesadelos e o que aconteceu no ataque hoje. - Deveria ter dito à eles.

–Não. Eles poderiam me ver como um problema. Um mal presságio, talvez.

–Não. Eles iriam te ajudar o máximo possível.

–Não tenha tanta certeza. Você não passou anos observando as pessoas.

–Droga Sophie! Porque você não me escuta? - Naquele ponto estávamos quase gritando um com o outro.

–Eu estou te escutando! Mas eu não quero incomodar ninguém mais! Os deuses já fizeram o enorme favor de me dar a vida, eu não quero ter que atrapalhar os semideuses. Ainda mais Quíron. Ele parece ser legal e eu não quero colocar o peso de um problema do qual eu não consigo lidar nos ombros dele. Eu não posso ser ajudada em todos os problemas.

–Sophie, - Sua voz era bem mais calma quando ele falou dessa vez. Ele se aproximou de mim, podia ver a preocupação comigo gritando em seus olhos. - ele está aqui para ajudar. E aquilo lá fora não é um problema pequeno. É algo muito grande, eu tenho certeza.

–Nico eu...

–Não proteste novamente. - Ele disse suavemente, chegando mais perto de mim. Ele pegou minha mão e me puxou de leve para atrás de um dos pilares largos da construção que eu ainda não sabia como se chamava.

–Eu vou pensar. Te respondo até amanhã, ou depois ou antes. Sei lá. Não sou boa com prazos. - Falei rápido porque eu estava ficando nervosa pela falta de distância entre nós.



Ele sorriu levemente diante a minha confusão. Ele se aproximou mais e me beijou, quase me prensando contra a coluna de mármore. Suas mãos apertaram a base das minhas costas, enviando um calor por todo o meu corpo. Passei meus braços por seus ombros e minhas mãos foram para seu cabelo, puxando de leve. Ele se separou de mim, puxando meu lábio inferior.

Respirei ofegante. Que dia era mesmo?



–Precisamos ir. - Ele disse, ainda perigosamente perto de mim. Sua respiração estava quase tão desordenada quanto a minha.

–É, temos que ir. - Falei confusa, procurando a linha de raciocínio que eu estava antes de nos beijamos.



Minhas mãos escorregaram por sua nuca, ombros, e, lentamente indo parar para o seu peito. Quando minhas mãos chegaram no seu peito pude sentir as batidas do seu coração, bombeando a vida por seu corpo. O que seria relativamente impossível, já que eu não estava pressionando e nem prestando atenção em ouvir seu batimento. Mas eu não era uma pessoa normal. O possível comum não se encaixava na minha vida, afinal eu era filha do deus grego da morte, era um fantasma à apenas quase um mês e meio atrás, estava em um acampamento protegido por uma barreira mágica e tinha alguém querendo me pegar, dizendo um apelido do qual eu queria saber o que significava.



–O que foi? - Ele perguntou me observando, vendo a minha expressão pensativa.

–Eu não sei. - Admiti. -Posso sentir seus batimentos cardíacos. E isso faz eu me sentir estranha. É algo que eu nunca senti.

–É bom ou ruim? - Ele falou baixo e com um tom que eu tive vontade de mordê-lo. Não pergunte porque.

–Não faço idéia.



Eu tinha uma breve sensação de que não era uma boa sensação. Porque, veja, eu sou uma filha de Tânatos. E segundo a linha de raciocínio a morte não me incomodava. Para as pessoas que eu não conhecia apenas me trazia a leve tristeza de que aquela pessoa poderia ter vivido mais, aproveitado mais ou que ela teria uma vida feliz se não tivesse morrido. Eu nunca havia perdido ninguém que eu conhecia e gostava para a morte, então não podia comentar sobre esse lado da história. Mas e se a idéia de vida não me agradava como deveria?

Aquele pensamento me fez sentir nojo de mim mesma. Que tipo de pessoa não se incomodava com a morte e sim com a vida? Isso era ser um monstro, na melhor das hipóteses.

Afastei as minhas mãos de seu peito, voltando aos seus ombros.



–Sua cara não está boa. O que foi? - Ele insistiu.

–Foi só um pensamento ruim. - Respondi encarando a cortina branca balançando.



Ele não insistiu. Nós nos beijamos novamente, antes de nos separarmos completamente para fingirmos ser apenas amigos. Caminhamos por grande parte do caminho com o braço de Nico dando a volta na minha cintura. E aquilo me trouxe um conforto que eu estava sentindo falta naquele dia.

Observei o lugar, ainda maravilhada com a beleza. A grama era de um verde brilhante, contrastando com os caminhos largos de pedra branca que passavam por todos os lugares do acampamento. Eu podia ver vários chalés, cada um diferente do outro.

Pensando assim, do jeito que eu estava, eu poderia considerar aquele lugar como uma casa facilmente. Se aquele lugar não fosse uma casa bonita por fora mas horrível por dentro, afinal.

Nós começamos a avistar o pavilhão e ver o movimento das pessoas e Nico logo retirou, relutante, o braço da minha cintura.

Eu queria poder abraçá-lo com pessoas por perto.

Chegamos no pavilhão, e, deuses aquilo era um caos. Pessoas caminhavam de um lado para o outro, algumas jogavam comidas no fogo outros iam conversar com as pessoas nas mesas mas não se sentavam. Cada um conversava mais alto que o outro, e na verdade, eu me senti mais em empolgada ainda.

Até metade dos campistas virar a cabeça para me ver entrando com Njco.

A outra metade estava ocupada comendo, mas não fazia diferença alguma. Eu estava me sentindo naqueles momentos em que eu preferiria ser uma fantasma, para não ter que receber olhares.



–Ignore. - Nico disse no meu ouvido, mas eu não me senti menos tensa e menos observada. Na verdade a quantidade de olhares havia aumentado.

–Não é tão fácil quanto parece. - Murmurei, escondendo minhas mãos no bolso do short. - Vamos sentar logo.



Ele caminhou até uma mesa e quando eu ia me sentar ao lado dele, ele disse que era proibido e que eu deveria sentar sozinha. Lá se ia minha sensação de conforto.

Me sentei na mesa sozinha, com várias outras mesas vazias ao meu redor. Na minha frente haviam apenas um copo e talheres em cima de uma mesa com uma toalha laranja e branca. Eu estava com fome, e com certeza não comeria o copo e as talheres. Felizmente, uma garota passou ao meu lado e colocou um prato na minha frente. Sorri e agradeci. A garota corou, o que foi meio estranho já que ela tinha a pele de um tom de verde claro e suave.

Nico fez um sinal para mim - sua mesa era na fileira ao lado da minha uma mesa na frente, quase que na diagonal - e se levantou. Demorou vários segundos para eu processar que ele estava fazendo sinal para que eu o seguisse. Levantei e logo recebi uma tonelada de olhares, mas continuei a encarar o nada a minha frente. Eu não ficaria de cabeça baixa por apenas olhares.

Alcancei-o e ele me mostrou que eles jogavam a melhor parte do alimento no prato e ofereciam para algum deus ou mais de um, pois eles gostavam do cheiro que vinha das oferendas. Joguei um cacho de uvas que julguei bonito e bom, mas deixei uma para trás por nunca ter experimentado nenhuma antes.



Naquele almoço eu cheguei a duas conclusões.

1- Uvas eram horríveis, nojentas e molhadas. E aquela casca me deu nojo também.

2- Eu não conseguia comer com pessoas me encarando e sussurrando sobre mim.



Ouvi cerca de cinco vezes, pessoas falando seus palpites por termos feito um auê ao chegar no acampamento. Uma delas era que eu havia acordado atrasada por dormir com um dos Stoll's. A outra era que eu havia assassinado alguém no caminho com meus poderes de matar alguém apenas a encarando fixamente e tivemos que fazer uma longa parada para encobrir a morte. É sério, qual era o motivo daquela agitação toda? Eu nem tinha feito nada.

Outro motivo que estava fazendo muita agitação era que os heróis - vulgo aquele pessoal com quem eu morava e que deixavam as toalhas molhadas e roupas sujas no chão - haviam retornado para o Acampamento. Não sei se o fato de eu estar morando com eles atrapalhava o meu julgamento, mas eles não eram super-maravilhosos-poderosos-donos-do-mundo. Eles eram heróis e isso era inegável, mas eles não eram tão grandiosos quando diziam ser. Porque, caramba, eles eram pessoas normais! Eram legais, chatos as vezes, tinham TPM, fome, vontade de ir ao banheiro. Não eram esse auê todo.

Distraída com os meus pensamentos, não percebi as filhas de Éolo se aproximando da minha mesa.



–Ei coisinha! - Elisa disse me assustando de leve. Elas as vezes me chamavam de coisinha pois eu era a menor entre as três.

–Hey. -Respondi.

–Ainda não conhece o Acampamento né? - Elisa me perguntou. E deuses como ela falava rápido.

–É claro que não conhece. - Respondeu a irmã e eu sorri com o tom impaciente que ela usou.

–Então levanta que vamos fazer um tour.

Sem muito ânimo, levantei da mesa e as segui.



××××××××××



O lugar só ficava mais bonito. Mas estávamos na metade do nosso tour quando fomos interrompidas.



Basicamente um garoto enorme, quase um dinossauro de tão grande, decidiu aparecer no caminho. Deuses, os monstros decidiram atrapalhar meu dia. Murmurei em minha mente. Eu estava bem humorada demais para ter que aguentar aquilo. Aquilo era castigo divino. Só podia.

A melhor descrição para o garoto era que ele parecia um armário. Literalmente. Sua pele, por exemplo era escura quase do tom de uma madeira escurecida por verniz. Ele era enorme. Eu tinha que levantara cabeça para olhar pra ele (N/A: Eu dei uma raciocinada melhor e coloquei a altura dela de 1,60. Porque 1,65 era muito alto). Seus cabelos e olhos eram castanhos escuros.



–E ai Barbie. - Que droga eu tinha de Barbie? Nem o cabelo era parecido. O meu era mais claro. O meu olho e a minha pele também.

–Agora não Eric. - Elizabeth falou.



Nas histórias sempre haviam aqueles tipos de idiotas e valentões, que os heróis/heroínas superavam. Aquele por acaso seria o valentão da história que iria me encher?



–Sai daqui ventinho. - Ok aquilo era muito clichê.

–Sério? - Murmurei baixo e bufei impaciente. - Nos dê licença, por favor. - Tentei ser o mais educada possível. Mas eu já estava por aqui de pessoas e coisas me irritando e entrando no meu caminho, literalmente.

–Não vai dar, criancinha.



Eu não sei o que aconteceu ou o que eu senti, que tomou conta de mim como uma força misteriosa que eu nunca havia sentido antes. Um choque estranho percorreu meu corpo e eu fechei minhas mãos com força. Acho que era raiva. Digo, era muito parecido com o que senti com o Gigante mas com um toque estranho. Talvez sombrio.



–Você não tem armas para polir ou sei lá o que? - Elisa perguntou bufando.

–Não. Eu tenho pessoas pra fazerem isso pra mim. E também, eu tenho que receber a nossa nova campista. - Ele olhou para mim, e deu um sorriso cruel.

–Me deixa em paz. - Murmurei irritada.

–Eu tenho que receber a nova campista! - Ele falou em um tom que era pra ser inocente. Mas nada soava inocente na boca dele.

–Não toque nela. - Elizabeth disse em um tom ameaçador e deu um passo a frente.



Eu estava com medo do que ele poderia fazer comigo. Mas também estava com raiva por ele ter me chamado de criancinha. Recuei um pequeno passo e ele voltou seu olhar para mim. Mas que droga.

Com um movimento brusco, ele empurrou Elizabeth do caminho e eu entrei em pânico. Para meu terror aumentar, o tempo parecia ter mudado para uma versão slow motion. Ele se aproximou, seus passo pareceram lentos e pesados.

E então o mundo explodiu em cores brilhantes.

Foi como as cores que se vêem em um bolha quando o sol batem nelas. Brilhantes, vivas mas fizeram minha mente explodir igualmente em dor. Uma dor aguda e forte.

Ele gritou. Um grito que parecia muito como um rugido. Havia raiva, uma pontada me medo, e susto. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas a culpa provavelmente era minha.



–Você me cegou!


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Notas finais do capítulo

Gente, não briguem comigo por ter demorado pra postar. E então, o que estão achando do tom sombrio que Sophie está ganhando? E os seus poderes? Ela tá muito pouco badass. Mas eu prometo que na próxima temporada ela vai tá super badass. E sim, vai ter segunda temporada kkk. Por favoooor comentem e digam o que acharam. Eu particularmente achei um capítulo meio chatinho



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