Soul escrita por Writer


Capítulo 11
Sólido, gasoso ou ceifadora?


Notas iniciais do capítulo

Eu nem demorei tanto. Ou demorei? O capítulo tá um pouco diferente do habitual, eu acho.



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Não foi fácil achar um caminho de volta. Muito menos não me distrair com as pessoas em roupas estranhas, as ruas iluminadas por neons que me deixavam desorientada. Mulheres usavam roupas extravagantes, brilho, penas, pouco tecido. Homens eram mais discretos, exceto aqueles que se vestiam de mulher. Não que eu nunca tivesse visto aquilo durante todo o meu tempo por ai. Sem contar com os perfumes extremamente fortes que as mulheres usavam. Elas passavam ao meu lado e eu podia sentir. Será que ele me largou aqui? Considerei comigo mesma. Por favor, que você não tenha me largado aqui.

Cheguei a um ponto e parei para pensar um pouco. Eu não havia passado por ali. Girei para dar uma olhada e meus deuses. Atrás de mim havia um lago artificial grande, um prédio grande, branco e com janelas e sacadas de vidro. Meus olhos percorriam por todo o prédio, admirando a estrutura enorme e levemente curva. Era o Cassino Bellagio. Sempre quis ir ali, ver o show com os jatos d'água no ritmo das músicas, as luzes fazendo a água mudar de cor. Se ainda fosse fantasma eu entraria ali. Mas graças aos deuses, literalmente, eu não era.



–É bonito. - Uma voz falou ao meu lado e eu pulei de susto. Fiquei feliz ao ver que era Tânatos. - Embora eu ainda prefira o Ceasar's Palace.

–Dizem que é lindo. Eu já vi algumas fotos. - Disse voltando a examinar o local. - Ouvi falar que eles fazem aquele negócio com água de 15 em 15 minutos. Será que falta muito tempo? Eu queria ver.

–Infelizmente, as apresentações só são até a meia-noite Sophie. - Meu ânimo desapareceu.

–Ah. - Murmurei.

–Você vai poder ver quando vier uma próxima vez. Mais cedo. - Ele disse.

–Tudo bem. Ei, podemos passar pela Fremont Street? - Fremont Street é uma rua com um teto feito de leds que ficam exibindo imagens.

–Pode ser. - Ele disse soltando o ar pelo nariz em forma de risada.

–Do que você tá rindo? - Perguntei em tom inocente.

–Nada, turista. - Ele disse sorrindo e começando a caminhar.



Fiz careta, mas fui atrás dele. Não queria me perder novamente e sentir aquela agonia no peito denovo. Era muito ruim e estranho. E eu ainda precisava pedir desculpas a ele por ter fugido daquele jeito. E queria um pedido de desculpas por ter me obrigado a pular daquele treco.



–Aonde a gente vai? - Perguntei sem conseguir ficar quieta por muito tempo.

–Para uma casa.

–Pra que?

–Pegar um cara. - Demorei alguns segundos para entender o sentido de pegar na frase.

–Ah. - Murmurei novamente. Caminhamos em silêncio por algum tempo. - As pessoas nos veem ou não? Eu estou ficando confusa.

–Elas estão nos vendo agora, exceto por alguns detalhes que a Névoa oculta.

–Tipo suas asas?

–Tipo isso.

–As pessoas te veem quando você... Mata elas?

–Algumas veem. Essas que conseguem, é por causa de uma espécie de dom. Geralmente são mortais que veem através na Névoa, ou semideuses fortes. Aquela ali por exemplo. - Ele apontou vagamente para uma garçonete ou stripper (eu estava meio confusa quanto à sua ocupação) e depois colocou as mãos nos bolsos da jaqueta de couro. - Ela vê através da névoa e é mortal. Ela acredita que eu estou fantasiado para alguma festa.

–Esse cara que a gente tá indo buscar, ele é alguma dessas coisas?

–Não. Ele é depressivo.

–Como sabe disso?

–Te explico quando chegarmos lá.



O ar estava frio então eu coloquei as mãos no bolso da jaqueta, quase refletindo o deus da morte. Senti algo estranho nas costas, que nunca tinha sentindo antes. Era como se algo estivesse batendo de dentro para fora.



–Isso se chama latejar. - Tânatos disse.

–Você está lendo a minha mente? - Perguntei ultrajada.

–Não exatamente. Tudo que você sente, em relação ao corpo eu consigo saber sem dificuldade alguma. Também posso invadir sua cabeça, ver seus pensamentos, sua vida como se fosse um trailer, ou um filme. Mas não vou fazer isso porque eu já não tenho muito crédito com você.

–Você está com crédito negativo, isso sim. - Falei sem me segurar.



Ele pareceu magoado levemente e eu lembrei das palavras de Atena. Talvez ele não saiba como me tratar e lidar comigo.



–Olha, - Quando uma conversa começa assim quer dizer que não é algo divertido. Viramos em uma rua deserta. - eu queria te pedir desculpas por ter feito aquilo com você. Não foi justo, foi errado.

–E eu quero pedir desculpas por ter surtado.

–A culpa não é sua. Meu crédito ainda está negativado? - Ele brincou.

–Está zerado. - Sorri levemente.



Ele parou em frente a uma casa simples e eu quase trombei com ele. Mas acabei apenas dando de cara com uma de suas asas. Assoprei para evitar penas enquanto recuava. Tânatos me olhava com divertimento enquanto eu corava. Olhei a casa. Era simples, branca, de apenas um andar. Não havia nada de interessante ali. Até o carro estacionado na frente da casa parecia comum.



–E agora? - Perguntei. - A gente só vai lá e entra?

–É. Algo parecido. - Ele disse se virando pra mim. - Eu quero que você se foque. Você precisa deixar de ser... Sólida.

–Você está pedindo pra mim me transformar em fantasma novamente? - Perguntei exasperada.

–Não é permanente eu prometo. É só por alguns minutos. - Ele olhou para longe, mas logo voltou seu olhar pra mim. - Eu sei que estou sem crédito com você. Eu não devia estar te pedindo isso desse jeito depois daquilo que aconteceu. Se não quiser fazer isso, posso te levar para o apartamento agora mesmo.



Respirei fundo, fechei os olhos. Tentei limpar a minha mente mas era impossível. Era impossível não pensar no frio vazio, na falta de toque. Era impossível não lembrar na agonia de querer chorar, que se acumulava mais e mais conforme os dias passavam. E acima de tudo, era impossível não pensar na vontade que eu sentia antes de conversar com alguém, ter amigos. Mas mesmo assim eu pensei sobre aquilo.



–Promete que vai ser por pouco tempo? E que eu vou mesmo voltar? - Disse abrindo meus olhos lentamente.

–Prometo. - Ele disse eu sabia de algum modo que ele não estava mentindo.

–Então eu vou. - Minhas mãos tremiam levemente e o meu estômago se revirava com o medo.

–Ok. Agora você precisa se focar.

–Você já disse isso. - Disse querendo desviar o assunto.

–Não muda de assunto, é sério. - Ele me censurou. - Você precisa esvaziar sua mente. - Eu queria fazer algum comentário mas não tinha nenhum e ele iria ficar bravo comigo. Suspirei pela milésima vez e fechei os olhos.



Esvaziar a mente. É algo relativamente impossível, pensei. Pare com isso, outra voz minha disse. Decidi escutar ela. Pensei no vazio, no preto, no vácuo tipo espaço.



–Agora olhe para suas mãos, imagine-as se tornando translúcidas novamente. - Era basicamente me lembrar do meu primeiro pesadelo.



Coloquei minhas mãos na minha frente, encarando-as. Dedos finos e delicados, mãos pequenas. Me lembrei de como elas se apagaram durante o pesadelo. A partir das pontas dos dedos, se espalhando pelas minhas mãos, braços, tronco, pernas e rosto. E então aconteceu.

Todo o ar foi tomado dos meus pulmões. Meu coração doeu e eu senti ele quando ele parou de bater. Eu gritaria pela dor se houvesse algum ar em meus pulmões. Coloquei a mão sobre o meu peito, apertando com tanta força que as minhas unhas quase entraram pela pele. E então aquilo parou e uma coisa nova começou. Minhas mãos pararam de sentir o macio da echarpe no meu pescoço. As tirei dali, completamente assustada. Estava acontecendo. Minhas mãos desapareceram gradativamente até que tudo - inclusive minhas roupas - eram translúcidas.

Não precisava mais respirar mas eu havia me acostumado a aquilo, assim como a brisa fria da noite, as batidas do coração dentro de mim. Olhei para Tânatos e ele olhava intrigado para algo atrás de mim. Me virei e não vi nada.



–O que foi? - Disse me voltando para ele.

–Olha pra trás.

–Não tem nada atrás de mim. - Disse dando uma volta novamente.

–Olha pra trás sem virar o corpo, só a cabeça. - Virei do jeito que ele disse e peguei a ponta de algo preto.

–Mas que merda...? - Perguntei.

–Vem cá.



Ele saiu andando rapidamente e eu corri atrás dele para manter o mesmo passo que ele. Passamos por algumas casas até parar na frente de um daqueles escritórios com porta de vidro revestida de insufilm. Me olhei sem notar a diferença logo de cara. Só depois fui perceber. Haviam duas sombras pretas avermelhadas atrás de mim, uma de cada lado. Asas. As malditas asas haviam aparecido apenas agora.



–Talvez só agora porque seu corpo deixou de se tornar matéria e elas ultrapassaram sua pele. - Ele deduziu.



Enquanto ele falava, eu olhava perplexa para o meu reflexo no espero. Abre, disse mentalmente e fazendo o mesmo tipo de força que usava para abrir os braços e as assisti obedecerem. Esticadas elas eram duas vezes maiores que o meu braço, e encolhidas elas iam de um pouco acima da minha cabeça até o meu tornozelo. Exalavam uma sensação assustadora de poder e ao mesmo tempo de proteção.



–Como eu escondo essas coisas?? - Perguntei histérica. - Eu não posso andar assim pela cidade. Acho que nem consigo sentar.

–Tem como escondê-las. Mais tarde te explico. Vamos logo. A gente precisa ir.



Ele começou a andar e eu fui atrás novamente. Eu queria fazer logo isso e ir embora. Queria deitar na minha cama e desmaiar e só acordar no dia seguinte. Fomos até a casa e passamos pelo jardim da frente. A grama estava alta, cheia de folhas e jornais velhos. O deus parou em frente a porta, esfregou os pés no capacho velho - claro, até porque isso é muito normal - e atravessou pela porta. Fiz um barulho vindo do fundo da garganta e achando que era impossível deixar a casa toda suja de areia espectral, apenas entrei pela porta. Era impossível ficar desacostumada a ser algo quase gasoso.

A casa estava tão bagunçada quanto o lado de fora. Latas de refrigerante, cerveja, garrafas de vodka e wisky. Caixas de pizza, comida de microondas, chão sujo. Eca, pensei. Se eu sentisse algum cheiro imagino que ele seria pavoroso.

Andei atrás dele pela casa e por reflexo desviando das sujeiras no chão. Encontramos um homem sentado em um sofá. Seus cabelos loiro escuro estavam desgrenhados, sua barba estava por fazer, ele estava magro. Todo esse conjunto de coisas ocultava seus olhos azuis opacos. Ele estava sentado no sofá vendo um canal chato na TV. Tentei imaginá-lo com mais vida mas era difícil.



–Agora eu vou te ensinar como descobrir essas coisas que eu sei. - Tânatos disse. - Imagine sua mente se conectando com a dele. Quando conseguir fazer isso me avise.



Me foquei pela milésima vez naquela noite. Estava cansada de me focar. Se eu precisar me focar mais vezes acho que a única coisa da qual ia me focar seria no meu punho batendo na cara de alguém. Fiz do jeito que ele pediu e minha mente girou por um segundo. Foi a confirmação de que havia dado certo.



–Agora eu vou perguntar e você vai responder. O que aconteceu com a namorada dele?



Eu não fazia idéia de como usar um Google Mental. Pensei. O que havia acontecido com a namorada dele? Então minha cabeça doeu quando eu fui atingida por uma enxurrada de pensamentos e imagens em uma forma de slides super rápidos. Pensamentos como: "ele vai pagar" "ela não merecia isso" "esse criminoso merecia morrer de um jeito mais cruel do que o que ela morreu". Vi um túmulo. A imagem de uma garota bonita, rindo. Até esse ponto, eu cavava fundo e mais fundo porque ainda não havia visto nada que respondesse. A imagem mudou completamente. Vi do seu ponto de vista como nas outras vezes.

Eu... Ele estava chegando em casa. Aquele lugar era bem mais alegre do que era agora. Ele abriu a porta, entrou e jogou as chaves e a carteira em um aparador. A TV estava ligada mas não havia ninguém assistindo. Havia um cheiro de comida queimada no ar, conhecia esse cheiro porque já havia queimado comida ou alho algumas vezes no apartamento, e algo mais úmido e estranho. Eu não pensava que sentiria o cheiro de algo durante uma espécie de alucinação.



–Jess? - Ouvi ele chamar. Sua voz estava doce, nunca imaginaria o homem sentado no sofá com essa voz. - Jess? - Chamou denovo.



Acho melhor parar. Disse pra mim mesma. Aquela cena estava tomando um tom sombrio que eu não estava a fim de ver o final. Mas ela continuou. Ele passou pela sala, procurando pela garota. Fumaça vinha da cozinha e havia algo no chão. Pare! Gritei em minha consciência mas como da última vez não parou. Ele andou rápido até a cozinha, tossindo com a fumaça e o cheiro ruim. Lá dentro, no chão, havia muito sangue. Seus olhos correram pelas linhas vermelho-vivo procurando a fonte. Havia uma faca ensanguentada aos seus pés, e mais um pouco a frente havia um corpo. Seus cabelos ruivos se misturavam com o sangue, suas roupas rasgadas… Pare!

Fiquei mais aliviada do que nunca quando a imagem sumiu. Eu estava de volta a casa mais que bagunçada. Tânatos ainda esperava a resposta.



–Você viu aquilo? - Perguntei um pouco assustada. Não era a primeira vez que via um corpo assim, seguido do ocorrido. Mas não importa quantas vezes veja, nunca iria deixar de me assustar.

–Não. Então, o que aconteceu com ela?

–Assassinada. - Respondi.

–E o que ele pretende fazer daqui a pouco?



Eu não queria cavar na mente dele mais ainda. Era muito obscuro, assustador até demais pra mim. Mas mesmo assim eu o fiz. Não por obediência, mas eu sabia que aguentaria. Eu tinha. Já havia escutado Percy e Annabeth falarem milhares de vezes o quanto a vida de um semideus era difícil. Eu não podia chorar todas as vezes que algo acontecia. Então eu o fiz por uma questão de princípios.

Entrei em sua mente me sentindo uma parasita novamente. Quase como a Peregrina de A Hospedeira. Não precisei me aprofundar para descobrir. Sua mente girava em torno daquilo. A resposta me deixou extremamente assustada.



–Ele quer... Se matar. - Respondi em tom baixo. - Não é uma pessoa muito... Sombria, pra me trazer aqui?

–Nem tudo é bonitinho Sophie.

–É, eu sei disso. Mas... sei lá. É triste. Alguns anseiam pela vida e outros apenas a jogam fora assim.

–Não é culpa deles. Eles apenas acreditam que isso vai acabar se morrerem...

–Mas na verdade é bem pior. - Completei.

–Na maioria das vezes. - Ele concordou.

–Então? O que fazemos agora?

–Esperamos.



Esperar foi chato. Não que eu quisesse que o cara morresse. Eu estava querendo sair daquela forma espectral ir para casa e dormir até o dia seguinte. Enquanto nada acontecia ele me fez perguntas básicas tipo idade, nome, primeira escola, cidade natal, etc. Então, ele levantou do sofá e começou a andar pela casa. Pode ver seus pensamentos suicidas ficarem mais intensos.



–Eu sempre pensei que você induzia as pessoas a morrerem.

–É bem diferente não é? - Ele disse me dando um sorriso suave.



Não respondi. Apenas dei um sorriso cansado. Minha cabeça doía de tanto ficar ouvindo os pensamentos do cara. Ele entrou em um corredor e sumiu por alguns segundos. Voltou segurando um frasco de remédios e uma garrafa de vodka.



–Me diz porque eu tenho que ver isso mesmo? - Perguntei.

–Porque eu vou precisar de ajuda logo, logo. - Ele respondeu e logo acrescentou. - E o mundo é grande, sabia? Não é fácil.



Novamente eu não respondi. Eu queria perguntar porque ele iria precisar de ajuda, mas isso seria pedir demais. Ficamos em silêncio observando o cara, Ethan, pegar o frasco de remédios, engolir quase todos eles e beber a bebida. Enquanto o silêncio reinava, a não ser pela TV e pelo som do líquido da garrafa se movendo, desconectei minha mente da dele não querendo mais ouvir nada sobre Jess ou sobre vê-la novamente ou qualquer coisa parecida. Em meia hora, ele já estava deitado inconsciente no sofá. Me senti mal por ter ficado apenas olhando. Eu podia ter feito algo.



–E agora? - Perguntei com voz trêmula. Eu estava me sentindo cansada. Talvez o gasto de energia para ficar naquela forma e exercitar meu poderes estivesse me atingindo. Mas acho que quando voltasse a ser sólida o cansaço iria me atingir em cheio.

–É só tocá-lo. - Ele disse como se fosse simples.

–Tipo, - Me aproximei do homem inconsciente e toquei sua canela, minha mão passou através dela na verdade. - assim?

–Não. Tipo assim. - Ele disse erguendo sua mão e eu me assustei quando vi. Ela estava marcada com veias pretas que lembravam muito raizes e iam até a metade do antebraço antes de começarem a se apagar.

–Como? Deixa eu adivinhar: eu preciso me focar? - Eu disse e ele soltou o ar pelo nariz e sorriu de leve, algo bom porque o fazer rir era mais difícil do que com Nico.



Ele me explicou como fazer aquilo e com muito trabalho e esforço eu consegui. Minhas mãos pareceram mais pesadas quando as veias pretas as marcaram e eu me senti mais fraca ainda.



–Agora eu só... Encosto nele? - Perguntei confusa com as pernas tremendo em exaustão.

–Mais ou menos assim. Mas você tem que descobrir o que a pessoa deseja. Ficar aqui vagando ou ir para o mundo inferior.

–Como eu vou saber? - Perguntei. Eu sabia que ele queria ir encontrar sua namorada mas mesmo assim ele deveria escolher.



Com as mãos do jeito normal, ele me mostrou como fazer e eu imitei. Coloquei uma mão em cada ombro, eu podia colocar em qualquer parte mas prefiri ali. O homem perdeu sua cor, sua vida completamente drenada pelas minhas mãos. Levantei as mãos lentamente, vendo uma luz branca suave deixar seu corpo e ir para o meu lado. Antes que eu pudesse notar, as marca sairam da minha mão. E ainda por cima, do meu lado estava uma versão fantasma do homem morto no sofá.



–Eu morri? - Ele perguntou para mim, exaltado e assustado. Recuei alguns passos, olhando para Tânatos em busca de ajuda. Ele obviamente não havia pensado direito sobre se matar.

–Porque você não espera lá fora? - Tânatos me perguntou e eu assenti. - Te explico o que acontece depois.



Caminhei para fora, trocando os pés uma ou duas vezes. Era complicado até mesmo contar. A rua estava tão deserta e quieta que eu teria medo se estivesse como uma pessoa normal. Mas como ninguém me veria dessa forma eu estava tranquila. Fechei os olhos por um tempinho, sentindo o cansaço me atropelar. E logo uma espécie de sentimento estranho apareceu.



–Eu matei alguém. - Murmurei transtornada.

Em dois minutos Tânatos saiu pela porta, novamente limpando os pés no capacho como se deixasse a casa de um amigo e não de uma pessoa morta.



–Eu matei alguém! - Quase gritei assim que ele saiu pela porta.

–Sério Sohie?! Remorso? - Ele me perguntou.

–Isso não é pra mim. Eu nunca mais quero fazer isso!

–Você vai, porque eu preciso. E eu te dou dinheiro, então você meio que me deve isso.

–Eu quero um aumento então. - Pedi e ele fez uma expressão incrédula. - Não faz essa cara! Você pode fazer o dinheiro aparecer do nada.

–De quanto? - Ele perguntou, fechando os olhos e apertando entre eles.

–500. - Respondi e ele suspirou. - Você faz isso em quando tempo em um dia normal?

–Pouco. E eu tenho alguns que se oferecem para trabalhar pra mim, então não é tão ruim. - Ele passou as mãos pelos cabelos e se espreguiçou. - Ah, e a ultima parte é apenas tocar a pessoa novamente como da primeira vez caso ela quiser ir. E se quiser ficar, apenas dê as costas.

–Eu vou lembrar disso. Posso voltar a ser uma pessoa normal? - Perguntei um pouco agoniada.

–Pode. Ai eu vou te levar para casa.



Para voltar ao normal eu imaginei que era apenas pensar o contrário de antes. Imaginei minhas mãos e pés se tornando visíveis, meu coração voltando a bater, o ar enchendo meus pulmões. Repeti a imagem várias vezes, quase entrando em pânico ao passar da terceira. Então um formigamento passou pela minha pele e eu senti o ar frio da noite me cercar. Meu peito explodiu em uma dor súbita como se meu coração e pulmões quisessem sair para fora e eu puxei o ar com força e tossi por ter puxado rápido demais. Meu coração regulou suas batidas.


Mas com poucos segundos de volta ao meu estado normal, o cansaço me atingiu tirando toda a energia que eu pensava ter antes. Minha mente se desligou e eu desmaiei.


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Notas finais do capítulo

SOCORRO VOCÊS VIRAM CF? Eu tive que ver pela internet porque eu não tenho cinema em casa mas MEU DEUSSSS. Eu queria também perguntar: o que acham se eu envolver vampiros e lobos (no estilo original, não do creúsculo ou de tvd)?



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