HICCUP HADDOCK HORRENDOUS

— Gente, isso daqui é fácil – Astrid comentou dando uma leve analisada ao olhar seu caderno. Soluço sorriu ao ouvir os protestos de Merida dizendo que para nerds tudo era fácil. O moreno pegou a bandeja com os lanches que seu pai havia deixado na geladeira e foi em direção a mesa, colocando a bandeja no centro da mesa e sentando na cadeira logo em seguida.

Merida logo pegou um lanche, e continuou a escrever qualquer coisa em seu caderno, praticamente ignorando Astrid que falava alguma coisa sobre a matéria, e somente Rapunzel parecia prestar atenção na loira, já que Soluço estava concentrado em colocar o suco de uva em seu copo sem derrubá-lo.

— A gente podia parar de estudar um pouquinho, né? – Merida fez um muxoxo logo em seguida fitando a todos. Soluço pararia também. Já sabia a matéria muito bem, e a prova no outro dia seria fácil de resolver.

— Não! – Rapunzel protestou fitando a amiga ruiva ao seu lado, que soltou um suspiro cansado. – A gente nem chegou na metade! Para de ser preguiçosa, Merida – sussurrou a última frase, mas pela cara da ruiva, ela escutou muito bem, assim como Soluço e Astrid, pelo silêncio que reinava naquela casa. Soluço deu um suspiro cansado e mandou um olhar implorando para Astrid continuar com sua aula.

A loira deu um sorriso e voltou para as duas garotas.

Soluço estava cansado. Não de estudar, e de ajudar a suas melhores amigas, mas sim de vê-las daquele jeito e de estar brigado com Jack. O moreno tinha de admitir, Jack até fazia falta em sua vida. Oras, ele era seu melhor amigo desde sempre! Porque ele tinha que fazer tal coisa? Ignorá-lo na frente dos garotos do time? Fingir que nunca o viu em toda a sua vida? Até Henry que realmente não conhecia muito bem Soluço ficou ali o consolou, dizendo que Soluço poderia ter sonhado que era amigo de Jack, ou então, que Jack poderia ter feito amizade com ele enquanto estava bêbado, por isso não se lembrava. Entretanto, aquilo em vez de consolar o moreno, só ajudou a piorar a situação de Soluço.

O moreno também percebeu uma pequena mudança no jeito de Merida e Rapunzel. As duas estavam um pouco distante, diferente uma com a outra, e isso incomodava Soluço. Ele não entendia o porquê de ambas estarem mais afastada, e ele queria entender. Mas, também poderia ser algo de sua cabeça, que viajava mais do que o necessário.

Soluço observou sua namorada dando a pequena aula para Rapunzel, já que Merida estava com a cabeça deitada na mesa, escrevendo qualquer coisa em seu caderno, recebendo algumas vezes um olhar reprovador da loira de olhos verdes. O rapaz deu um sorriso de canto, sentindo-se feliz na companhia das três até a porta se abrir.

Astrid parou de falar, e Merida levantou a cabeça, assim como Rapunzel. Soluço achou que era seu pai, mas estranhou o fato dele ter chego mais cedo, então também fitou a porta, a espera do grande homem, mas ao invés disso, viu quem não queria ver.

— Vocês estavam me esperando? – o rapaz de fios brancos perguntou. Vestia o casaco do time, e tinha uma mochila em uma das mãos. Soluço logo voltou ao seu livro, percebendo que Rapunzel também voltava e juntamente Merida, que parecia receber um rubor nas bochechas. Exceto Astrid que não voltou, e fez o favor de piorar tudo.

— Quer estudar com a gente? – indagou fitando o rapaz de fios brancos. Soluço rapidamente levantou seu rosto do livro e fitou sua namorada, que sorria gentilmente. O moreno praticamente engasgou.

— Astrid eu acho que ele não gostaria – o moreno falou praticamente sussurrando para a loira, que virou seu rosto para fitá-lo e arquear uma sobrancelha para Soluço.

— Oras, e porque não?

— Ele tem coisas melhores para fazer com os amigos dele – Soluço fez questão de aumentar a voz ao pronunciar essa frase. O moreno poderia não ser popular, mas pelo menos tinha amigos verdadeiros e uma namorada que amava.

— Que amigos? – a loira perguntou franzindo a testa.

— Não, não, eu não tenho – a voz de Jack ressoou por toda a sala, e Soluço fitou-o. Sua vontade era de socá-lo com toda a vontade que tinha em seus braços. – Nós já treinamos e iremos sair amanhã – falou com um sorriso de canto divertido.

— Então você pode sentar aqui e estudar conosco – Astrid informou indicando a cadeira ao seu lado.

— Não, ele não pode – Soluço voltou a afirmar. Já era ruim ter de encontrar com Jack toda a manhã e agir como se nada, absolutamente nada, estivesse acontecido entre ambos. Soluço não queria ter de dividir a mesa com ele, e ainda por cima ter de estudar junto com ele. Aquilo era horrível.

— Claro que posso! – Jack rebateu com um sorriso impecável no rosto, fazendo Soluço querer voar no pescoço do rapaz. – Eu não tenho nada mais a fazer mesmo – deu de ombros colocando sua mochila em cima da mesa e se aproximando.

— Não, você não pode – Soluço rebateu se controlando. Todas as garotas fitaram o menino, que mantinha as mãos em cima da mesa. – Você irá para seu quarto fazer coisas que você sabe, e irá nos deixar em paz – ordenou com a voz grave.

Jack soltou uma pequena e curta risada.

— E perder a oportunidade de estudar com os meus melhores amigos? – sua voz tinha sarcasmo, mas ao mesmo tempo divertimento. O moreno não aguentou mais. Levantou-se com toda a força que tinha em seu corpo, batendo suas mãos na mesa, assustando as três garotas ali presentes.

— Nós não somos seus melhores amigos – sua voz estava baixa, e saiu como um sussurro, mas Soluço tinha certeza de que todos o escutaram. O rapaz mantinha a cabeça baixada, os olhos em seu livro de biologia. Soluço engoliu em seco e então levantou o olhar para fitar aqueles olhos azuis que nunca demonstravam qualquer sentimento. – Não mais.

E depois disso tudo ficou num silêncio completo.

Soluço e Jack se encaravam num jogo de completas decifrações nos olhares. Os olhos azuis de Jack estavam indecifráveis e Soluço estava odiando isso mais do que tudo, porque ele sabia que em seus olhos tinham uma boa quantidade de dor e também de sofrimento. O moreno estava sentindo como era perder seu melhor amigo agora. As garotas nada falaram.

— Alguém poderia me explicar o que aconteceu? – Astrid se pronunciou depois de alguns minutos em completo silêncio. Soluço olhou para sua namorada, que parecia estar brava com os dois que se diziam ser melhores amigos até algumas semanas atrás.

— Jack é um idiota, Astrid, é o que você precisa saber – Soluço sussurrou para a namorada, que lhe fuzilou com o olhar, indicando que aquilo não havia ajudado em explicar nada.

— Na verdade, é o Soluço que não consegue entender o lado dos outros – Jack falou mais alto, como se estivesse bravo. Soluço fitou o rapaz do outro lado da mesa. O moreno deu uma risada irônica e então cruzou os braços.

— Ah, claro, até porque seu melhor amigo fingir que nem te conhece só para ser popular é uma coisa super fácil de entender! – o moreno retrucou com o sorriso sarcástico e dolorido no rosto. A vontade que tinha de matá-lo era enorme.

— Eu preciso ficar no time, ok? É o meu sonho! – Jack gritou.

— Espera, você fez o que? – Rapunzel praticamente gritou de onde estava, chamando a atenção de todos ali presente, principalmente de uma pessoa extra. O rapaz de fios brancos não respondeu. Soluço percebeu o olhar aflito dele sobre a loira, que guardou suas coisas na bolsa, fazendo Merida acompanhá-la. – Minha mãe deve estar me esperando – comentou pegando a bolsa e acenando para todos dali. Merida acompanhou a amiga.

— O que está acontecendo aqui? – Stoick imenso como sempre, apareceu na porta da sala, com uma sacola em mão, que parecia estar super lotada de coisas. Soluço sentiu seu coração tremer ao ver seu pai, mas logo se suavizou.

— Eu acho melhor eu ir – Astrid logo se pronunciou, guardando as suas coisas mais rápido que Rapunzel ou Merida. A loira de olhos cinza levantou-se da cadeira, colocando a mochila no ombro e dando um rápido selinho em Soluço. – Te vejo amanhã – sussurrou para o menino, que assentiu. A garota deu um leve aceno para Stoick e então partiu rumo à porta. Soluço fitou seu pai.

— Vamos, eu quero uma resposta – ordenou soltando a sacola em cima da mesa. Soluço fitou Jack, esperando o garoto falar qualquer coisa que colocasse a culpa em Soluço, mas o rapaz fitava o chão, como se estivesse preparado para receber uma grande bronca. Soluço viu que ele não falaria nada.

— Jack e eu brigamos pai, só isso – o moreno respondeu fitando seu pai rapidamente e voltando ao seu livro de biologia, que naquele momento parecia muito tentador.

— Vocês... O que? – o homem de barba imensa e cabelo com fios ruivos questionou praticamente não acreditando no que ouvira. Soluço fez um gesto banal com a mão, enquanto voltava a se sentar e organizar suas coisas do estudo mal rendido. Jack pegou sua mochila.

— Brigamos. Nada que o senhor precise saber – o rapaz de fios brancos deu um sorriso gentil á Stoick, e então partiu rumo à escada, subindo os degraus com passos leves. Soluço fitou seu pai, que parecia extremamente atordoado com tudo aquilo.

— Está tudo bem, ok? – o moreno falou tentando melhorar a sua situação. Não estava tudo bem, mas preocupar seu pai era a última coisa que Soluço faria naquele momento.

— Não está tudo bem, meu filho – o homem se aproximou de Soluço, que engoliu em seco. – O que realmente aconteceu entre vocês? – Stoick indagou ao seu filho. Soluço fitou seu pai, que estava sentado ao seu lado. O moreno relutou.

— Nós brigamos pai – Soluço falou dando um sorriso triste. – Mas, você conhece a gente, daqui a pouco voltamos a ser melhores amigos – e deu uma risada sarcástica e dolorida. Soluço sabia que isso não iria acontecer. Não mais.

— X –

— Hei – a loira passou sua delicada mão nos fios castanhos do rapaz, dando um sorriso logo em seguida, e sentando-se ao seu lado. Soluço retribui o sorriso da namorada, pegando em sua mão e dando um pequeno e rápido beijo. – Está tudo bem?

— Perfeitamente bem – Soluço sorriu voltando a seu lanche. O lanche natural preparado por Stoick e o suco de laranja que ele havia comprado em uma padaria quando caminhava sozinho para a escola. – E quanto a você?

Astrid deu um sorriso calmo.

— Você mente muito bem, Soluço, já te disseram isso? – a loira indagou dando um sorriso que agora se transformava em algo irônico e divertido. O moreno revirou os olhos.

— Eu estou bem, Astrid – o moreno voltou a repetir, fazendo a namorada revirar os olhos e deixar sua maça em cima da mesa. – A prova de biologia foi extremamente fácil, achei que seria um pouco mais complicado – o rapaz comentou dando um sorriso de canto.

— A prova realmente foi fácil – Astrid comentou pegando sua maça e dando uma leve mordida. – Mas não era sobre isso que eu queria saber – comentou docilmente.

Soluço sorriu fitando a garota, que mastigava.

— Eu estou bem – admitiu. – De verdade.

— Tem certeza? – a loira retomou a pergunta. Soluço assentiu, ainda a fitando. – Soluço, ficar mal é natural – a menina comentou se aproximando um pouco mais e passando sua mão livre no rosto do menino. Soluço baixou sua cabeça.

— Eu não gosto de falar sobre isso – murmurou fitando seu lanche que agora parecia não querer ser comido. O moreno havia perdido totalmente seu apetite. Engoliu em seco. – Machuca mais do que já foi machucado – murmurou novamente dando uma breve olhada em Astrid, que mantinha sua mão no rosto do menino.

— Hei, eu estou aqui – a loira sussurrou se aproximando. – Eu estou aqui pro que der e vier, Soluço – a menina passou a mão nos fios castanhos de Soluço e deu um beijo na bochecha do moreno. – Pode contar comigo.

— Eu sei que eu posso – o rapaz murmurou de volta e sorriu para a garota, fitando-a e se sentindo o rapaz mais sortudo do mundo.