Literally Falling From A Parachute escrita por Paul Everett


Capítulo 58
Capítulo 58: Perda


Notas iniciais do capítulo

Pois é, talvez eu tenha demorado um pouco, talvez três meses. Mas aqui estou novamente tentando terminar esta história que construímos juntos. O capítulo é meio pesadinho, talvez eu não tenha conseguido transmitir isso do jeito que eu queria de verdade, mas quem sabe numa próxima. Mesmo assim espero que gostem!!

Boa leitura.



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Pam encarava o rosto pálido e imóvel de Walter, seus sentimentos em uma confusão. Sentia a dor de perder o homem que amara por tanto tempo, o homem que era pai de seus filhos. O homem que por tempos teve o sorriso que lhe derretia. Sentia alívio de saber que a causa da dor de seus filhos agora não existia mais.

Sentia um leve prazer na vingança de vê-lo ali estirado naquela maca de metal fria, com incisões no peito e o lençol branco lhe cobrindo. Chegava a ser irônico ele ter morrido do coração, mais irônico ainda era o coração daquele homem ter parado por ser grande de mais. Perguntava-se o que Walter estaria fazendo em Nova York, não tinha notícias dele desde que entrou com o divórcio.

Ela deu as costas para o homem morto e se dirigiu a porta encontrando duas pessoas que faziam parte da família que ela tão orgulhosamente pertencia.

Ellen desencostou-se da parede rapidamente desligando o celular enquanto Ryder se adiantava segurando o seu casaco.

— Eu estava falando com o Kurt, ele está com Blaine, Cooper está cuidando das coisas para o velório em Ohio. — Ellen explicou oferecendo o braço para a senhora enquanto Ryder lhe tomava o outro.

— Obrigada, minha querida. — Pam suspirou acenando com a cabeça. — Vamos para casa.

— A senhora está bem? — Ryder perguntou em voz baixa.

— Não se preocupe. — Sorriu de leve para ele, adiantou-se para o carro deixando os dois para trás trocando um olhar.

A capela era alta com as suas paredes de alvenaria bem trabalhadas, o caminho de pedras era ladeado por pequenas flores. Os quatro degraus de pedra fria levavam ao portal reto onde a parte superior se fechava em um triângulo, a cruz presa sobre o portal era de madeira sólida.

Kurt mexeu-se levemente incomodado sobre os olhares penetrantes que recebia. Alguns familiares dos Anderson estavam presentes. Sam estava ao seu lado com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco grosso e a expressão fechada. O loiro tinha entrado no primeiro avião para Ohio quando soube da notícia, ele sabia que Blaine precisava de apoio e ele estaria lá para o seu amigo. Blaine suspirou vendo o ar quente que saia de sua boca se condensar em contato com o ar frio da noite, o casaco grosso bem envolvido em seu corpo e as mãos enluvadas. Ele finalmente havia decidido aparecer.

— Cadê a minha mãe?

— Está com o seu irmão ali na frente. — Kurt indicou os bancos mais próximos ao caixão. — Você quer ir lá?

— Si-sim.

Blaine tencionou o maxilar antes de soltar a respiração num sopro rápido. Ele caminhou em direção da família e parou ao lado de Cooper olhando para o caixão sem demonstrar interesse ou pesar. Kurt e Sam trocaram um olhar levemente preocupado pelo comportamento do moreno.

Alguns minutos depois, Blaine caminhou para o jardim atrás da capela se sentando em um banco de ferro, o frio era intenso, mas simplesmente ignorou o tremor leve em seu corpo agasalhado. Se alguém lhe perguntasse como havia sido o velório e o enterro ele não saberia dizer. Passara a maior parte do tempo em silêncio, em momento algum se aproximou do caixão para prestar suas homenagens ao homem ali deitado.

Pam aproximava-se cautelosamente.

— Filho. — A mãe o chamou em voz baixa, parando ao lado do banco.

Blaine ergueu os olhos para encarar os olhos castanhos que lhe encaravam tão preocupados.

— Já estamos indo embora. — Ela ergueu a mão para acariciar a nuca do moreno. — Ainda tem o coquetel.

Blaine suspirou desviando os olhos para a grama que ia ficando levemente branca pela fina geada que começava a cair. Seus olhos castanhos e intensos encaravam céu escuro como chumbo, suas nuvens grossas e ameaçadoras que pairavam calmamente lá em cima.

— Você ainda não chorou. — A voz de Pam estava baixa como se ela temesse alguma explosão.

— Eu não consigo. — Blaine respondeu com a voz rouca. — Por que eu deveria... Por que eu deveria estar aqui por ele quando ele me negou tantas e tantas vezes?

— Ele ainda é o seu pai.

— Ele me negou. — Blaine retrucou. — Eu não tinha que estar aqui, não tinha que rezar pela alma dele. Todas as vezes que eu precisei dele, ele não estava lá por mim.

Pam suspirou e sentou ao lado do filho no banco.

— Eu entendo a sua dor. Meu casamento acabou. Eu sei disso e não acabou de maneira boa, não colocamos determinadas coisas em pratos limpos e isso está me doendo. — Pam fechou os olhos sentindo as lágrimas quentes queimarem através das pálpebras. — Por mais absurdo que pareça, por mais inacreditável e inconcebível que seja... Por mais canalha, filho da mãe e bastardo ele tenha sido... Eu o amei. Eu realmente o amei.

Blaine viu os ombros da mulher se sacudirem diante do choro que ela deixava sair.

— Sabe filho, eu só queria ver mais uma vez aquele garoto, eu sei que mesmo quando éramos adolescentes ele não era bom por assim dizer, ele já tinha os seus defeitos e os seus desvios de caráter, mas... Só por um instante eu queria ver o garoto pelo qual me apaixonei...

— Mas... Se naquela época ele já não era uma pessoa boa então por que a senhora iria querer vê-lo de novo? — Blaine agachou-se na frente da mulher, que soltou uma risada chorosa.

— Porque, Blaine, porque naquela época ele ainda tinha bem no fundo uma alma boa e se eu tivesse percebido a tempo eu poderia ter ajudado e não deixado ele se corromper por completo. E ele não teria machucado tanto você e seu irmão.

— Eu vi Cooper chorar... Na hora que o padre estava dizendo as últimas palavras ao lado do caixão. Eu vi a senhora chorar agora, mas eu ainda não chorei. — Ele inclinou a cabeça para o lado.

— Não se preocupe. — Pam acariciou o rosto dele. — Na hora certa você vai chorar. Tudo tem o tempo certo.

***

De volta para Nova York, os dias passaram mais rápidos como nunca. Blaine não achou que tivesse tanto trabalho a fazer, pois achou que era fácil fazer uma quantidade abundante de quadros em poucos meses, mas foi um engano. Ele passava dias e noites pintando, batendo a cabeça, gostando e detestando a maioria das artes. O tempo parecia ser o seu pior inimigo durante aqueles meses.

A morte de Walter Anderson ainda o atormentava. Todos os dias, Blaine se pegava pensando no falecido pai e sobre a conversa com sua mãe. E isso lhe atrapalhava bastante nas horas de pintar, as lembranças o enlouqueciam. Aquele dia especial, ele estava sozinho com seus quadros, os animais estavam trancados do lado de fora do estúdio para que ele pudesse se concentrar. Por um momento, ele achou que fosse conseguir com pelo menos um dos animais lá dentro, mas isso acabou resultando em dois ou três quadros quebrados e rasgados.

Os animais não paravam com a presença Blaine.

Nem mesmo Jasper, o motor de pernas curtas.

Do outro lado da cidade, Kurt estava fazendo algumas entrevistas sobre o livro. O repórter arrumou o gravador o pousando sobre o braço da poltrona enquanto puxava um bloco de notas e uma caneta. Os dois homens se ajeitaram nas poltronas e se encararam como se estivessem avaliando como iria proceder a entrevista.

Kurt inclinou a cabeça para o lado como uma criança curiosa e deu um leve sorriso.

— Qualquer pergunta que você fizer lhe darei uma resposta. — A voz era calma. — Não tenho segredos então, por favor, comece a desmembrar os cantos obscuros da minha alma.

O repórter sorriu como se aquilo fosse exatamente o que ele queria ouvir. Kurt bebeu um gole da caneca de café e esperou pacientemente pela primeira pergunta enquanto o homem na sua frente se decidia por onde começar.

— Como foi o processo de construir a saga? — O repórter finalmente disparou erguendo os olhos.

— O livro é um projeto antigo que me causou muitas dores de cabeça, principalmente com minha vida social. Eu estive preso com esses personagens há mais de dois anos e ao finalizar o primeiro livro me senti livre.

— Livre? Por quê?

— Porque eu senti que toda a dor de cabeça e noites mal dormidas, tentando criar uma história que fascinasse as pessoas e as deixassem curiosas, valeram a pena.

— Teve alguma inspiração em Melinda e Collins?

— Eu sempre brinco que Melinda tem um pouco das minhas melhores amigas, Quinn Fabray e Santana Lopez. A mistura de alguém misteriosa e amargurada, mas isso não tem nada a ver com minhas amigas. A duas são maravilhosas. — Kurt riu levemente. — Collins é apenas um adolescente qualquer que encontramos em qualquer esquina vivendo um amor proibido. Não tem muito segredo.

— Você já viveu algum amor proibido?

— Oh, claro... — Kurt revirou os olhos. — Quem nunca? Amores proibidos são os melhores e mais doloridos, vocês nunca sabem o desfecho, ou acabamos sendo envenenados como Romeu e Julieta ou acabamos com um zoológico em casa.

— Então você está vivendo um amor?

— Todos os dias, com meu namorado, com meus amigos e meus animais.

— Blaine Anderson, é seu namorado atual, há boatos que é também seu ex-aluno. Ele foi o seu amor proibido?

— Eu sei que foi uma grande irresponsabilidade manter isso por muito tempo, mas não podíamos negar o que sentíamos. Somos perfeitos juntos, só tenho isso em dizer em minha defesa.

— Perfeitos?

— Quase perfeitos. — Kurt sorriu. — A nossa loucura e estranheza combina.

— Ter essa experiência de amor proibido entre professor e aluno ajudou a escrever o livro?

— Não, definitivamente. — Kurt balançou a cabeça, cruzando as pernas. — Eu não queria isso de novo, sabe, envolver minha vida pessoal com a escrita, eu não quero escrever uma história de amor sobre a minha vida. Isso é íntimo para mim. O livro e minha vida são diferentes e não há conexões.

— Mas o que escrever significa?

— Antes eu diria que significaria o meu mundo, aquele que eu vivia fantasiando e criando pessoas que não existiam na vida real, mas acredito que não é mais sobre isso. — Kurt encolheu os ombros. — Eu gosto de ajudar as pessoas em seus próprios mundos, mesmo que seja uma fuga temporária.

— E qual é o seu mundo agora?

— Ele. — O sorriso largo apareceu quase imediatamente. — Esse moreno, baixinho, esse homem que eu conheci como um menino indefeso, que aos poucos criou garras, mas ainda se comporta como um menino fazendo manha e aparecendo em casa com animais abandonados e diferentes. Eu não trocaria mundo nenhum e nem vida alguma se ele não estivesse comigo. Ele é o meu mundo, ele é o meu sorriso e meu choro, ele é tudo.

Os olhos azuis desfocaram por um instante como se tivessem nublados pelas lágrimas e Kurt teve que segurar o choro, seu nariz ardia e ele apenas respirou fundo.

— Você faria algo do seu passado diferente?

— Nada, absolutamente nada. — Kurt falou firme. — Não mudaria nada e não me arrependo de nada, se não fosse pelos erros do passado eu não estaria onde estou.

— Não se arrepende de nada? Mesmo? Absolutamente nada?

— Não me orgulho, mas não me arrependo.

— E o que você mudaria no Blaine?

— Nada. — Kurt respirou fundo. — Não mudaria nada.

O repórter cantarolou satisfeito enquanto rabiscava no bloco de anotações. Kurt teve tempo de tomar mais um gole de café antes que as perguntas voltassem.

— É a última pergunta que eu te faço. — O repórter ergueu os braços. — O que você deseja para o futuro?

— Eu desejo que minhas amigas, Brittany e Santana, estejam felizes curtindo Valerie, que o Sam continue tão apaixonante e encantador quanto ele é agora. Que Quinn realize o que ela realmente deseja. Que meu pai e minha madrasta continuem tão apaixonados quanto estão agora, que minha sogra se sinta realizada. Que Cooper pare de implicar comigo e seja feliz com quem ele ama. Que meus cachorros não destruam a casa. Que Blaine continue tão apaixonado pelos animais e pelos seus sonhos quanto é agora.

— Mas e você?

— Eu? Eu estarei bem, não importa onde vou estar.

***

Kurt chegou ao apartamento e estranhou o silêncio, os animais estavam na sala de estar, sentados e comportados. Zyon era o único sentado na porta que dava ao estúdio do Blaine. Isso era realmente estranho. Ele largou suas coisas sobre a mesa da cozinha e andou em direção ao estúdio. Ele empurrou a porta e encontrou Blaine segurando uma foto.

Blaine estava no meio do quarto, sentado sobre uma grande poça de tinta. Sua calça moletom estava toda manchada, os braços tinham algumas listras de tinta rosa e seus cabelos estavam numa confusão de cachos com alguns pingos brancos.

— Pequeno?

— Cooper havia escolhido viajar como presente de 15 anos... Eu devia ter uns 9 pra 10 anos. — Blaine começou com a voz baixa e embargada. — De manhã ele entrou no meu quarto e disse que minha mãe e Cooper iriam passear, mas eu iria ficar com ele no hotel, após eles saírem, ele me levou pelos museus e cafés da cidade até acharmos esse jardim... Ele leu um trecho de “O Morro dos Ventos Uivantes” para mim naquele dia enquanto estávamos sentados em um dos bancos... Eu nunca contei para ninguém.

Kurt sentou-se sobre o colo de Blaine, não se importando com a sujeira, segurando um dos lados da foto. Era uma foto de Walter segurando um menino de 5 anos no colo, Blaine, seu Blaine. Seus dedos começaram a massagear a nuca do artista.

— Você... Você... — A voz de Blaine morreu em sua garganta.

— Se eu acho que ele poderia ter mudado? — Kurt completou em voz baixa.

—Eu queria... Eu queria que ele fosse o homem bom que minha mãe viu. Queria ele fosse... Fosse mais como esse cara da foto.

Blaine ergueu os olhos castanhos com as lágrimas quase caindo pelas pestanas.

— Mas agora ele tá morto. — Sussurrou sentindo a lágrima teimosa cair pelo olho esquerdo. — Meu pai tá... Morto.

— Pequeno... — Kurt tentou acalmá-lo limpando as lágrimas insistentes. — Ele te amava do jeito torto dele. Você sabe disso. Ele quis o que era melhor para você, mas foi de um jeito que para nós era torto, mas para ele era certo.

— Não...

— Ei, me escuta. Ele vai estar com você onde você estiver, por favor, lembre-se das coisas boas e dos momentos felizes e se lembre dele como seu pai e não como uma pessoa má.

— O que eu faço quando só conseguir me lembrar dele como uma pessoa má? — Murmurou sentindo mais lágrimas caírem.

— Você olha isso aqui. — Kurt pegou a foto e a segurou de uma maneira que os dois pudessem olhar. — E lembra que foi bom. Você precisa se livrar desse medo, por mim, pela Pam e acima de tudo por você. A ferida tem que cicatrizar e essa dor e essa raiva precisam sumir.

— Eu sei.

Kurt o beijou nos lábios.

— Vá tomar um banho e comer o sanduiche que eu trouxe, está em cima da mesa da cozinha. Vou ficar aqui e limpar essa bagunça antes que uns dos nossos bagunceiros entrem aqui. — Kurt sussurrou carinhoso. — Me ouviu? Leve o tempo que quiser no banho.

O banho não foi demorado, quando as lágrimas secaram, Blaine sentiu que tinha tirado um grande peso das costas. Ele não carregava nenhuma culpa, mas sentia um grande alívio e o peito preenchido de paz. Toda aquela mágoa ia se dissolver aos poucos dando lugar para as boas lembranças, como Kurt disse. Mais tarde, uma nova foto foi grudada no painel de fotos do escritório.

Blaine esperava que de algum lugar distante o seu pai visse que seu filho estava feliz e que isso bastava.


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Notas finais do capítulo

Acho que devo contar algumas coisas pra vocês, começando pelo fato de que eu não mataria o personagem do Walter, mas como eu fui encurtando a história para terminar mais rápido, foi o jeito que eu arranjei de terminar essa parte da história.Outras personagens também iriam morrer ao decorrer da história, mas eu decidi que não, mas se você reparar dá pra saber quem era.

Eu não tenho o próximo capítulo feito, mas eu tenho o capítulo final pronto, eu sei, não faz sentido, mas é a vida. Eu ando bem ocupada com as coisas da faculdades e da vida, mas eu vou tentar lembrar disso aqui sempre que der. Talvez as férias seja um boa, quem sabe.

Deixam seus pensamentos aqui e flw.



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