"Senhoras e senhores, apresento a vocês a linha de pensamento do meu amigo. Ela faz sentido? Eu digo que não.."

Eu e Travis estávamos no meu quarto conversando já fazia tempos, mas o mais legal foi quando ele chegou e eu convidei-o para subir. A cara de indignação de Marie estava hilária. "Você vai levá-lo pro seu quarto?!". Ai, socorro. Eu ri de mais.

Enfim, nós estávamos sendo felizes e falando do quanto nós somos felizes (sinta a ironia) até eu receber uma ligação de Will. Será que ele ia desabafar mais? Eu teria que expulsar Travis dali ou dizer não para Will? Por que eu estou pensando nisso agora? O celular ainda está tocando, Ariane!

– Jay? - Perguntou Will do outro lado da linha.

Jay?! O quê?! Qual o problema desse garoto?

– Jay?!

Eu soei indignada. Ouvi Travis rir da minha careta. Mostrei a língua para ele.

– Ariane?

Não, não. O batman. Da, da, da, da batmaaan! Tá, parei. Acho que ele ainda está pensando no Jay.

– Will?

– O Jay?

– Ai, cala a boca. O que deu em você?

Ouvi ele rir do outro lado da linha. Estava silencioso, geralmente a casa dele é barulhenta. Ou há o Jay gritando pelo Skype com alguma ficante revoltada. Ou cachorros de rua furtando o lixo que eles mal limpam. Ou algum amigo bêbado no andar de baixo. Bom, talvez ele não estivesse em casa.

– Estou tentando falar com o Jay. Mas ele não atende o celular, e está sumido desde que você veio aqui. Ontem. Então imaginei que ele estivesse aí.

– Por que você achou que o Jay estivesse aqui? Estamos falando do mesmo Jay? Aquele louco que vive sumindo e que faz yoga no escuro? O que te chama por apelidos gays?

– Sim, é o mesmo Jay. Eu sei que ele vive sumindo, mas ele não atende a porcaria do celular! E da última vez que ele ficou podre de bêbado ele foi para aí. Poderia estar aí de novo.

Senhoras e senhores, apresento a vocês a linha de pensamento do meu amigo. Ela faz sentido? Eu digo que não.

– Ele não está aqui. Deve ter dormido na casa de uma ficante ou, sei lá, ou bebeu com os amigos.

– Tudo bem. Que bom que me atendeu. Depois a gente se fala, beijos.

– Beijos.

– Desculpe ter incomodado. Ah, é. Eu não incomodo. Por que você me adora.

– Cala a boca, até mais.

Desliguei o celular. Travis estava brincando de esticar a bochecha dele. Uma mania incrivelmente engraçada e fofa ao mesmo tempo. Qual o problema dos meus amigos? Ah, é. Eles não são normais. Eu também não sou. Fazer o quê? Travis "acordou" quando me viu rindo da cara dele. Ele corou.

– Não ria - Ele disse, olhando para o chão

– Eu tenho que rir! Você estava puxando a sua bochecha!

– O que o seu namoradinho queria?

– Ele não é meu namoradinho, a gente nunca nem se beijou.

– Não é como se você não quisesse.

– Cala a boca! Enfim, ele queria achar a paixão dele. O Jay está sumido, de novo.

– Esse garoto vive sumindo, né?

– É.

Eu me lembro de quando o Jay e o Travis se conheceram. Como prometido, o Will disse que ia me ver cantar no bar, e levou o Jay com ele. Então, depois do meu turno terminar, eu apresentei eles para os meus meninos.

Travis estava podre de bêbado, e Jay tampouco. Eles e o Scott ficaram falando sobre nada que fizesse sentido por horas. Caleb e Drake ficaram rindo e conversando sobre papos de homem com Will. E eu fiquei conversando com o outro cantor do Joey's, o Pablo. Ele não tinha a melhor sanidade mental que eu já tinha visto. Não é como se eu conhecesse muita gente normal nem nada, mas eu não imaginava como Pablo era.

Eu não sabia se Jay e Travis se falaram depois do "primeiro encontro" deles. Mas eu sabia que Jay ficou muito amigo de Scott, e Will de Drake.

Ah, o Travis está falando alguma coisa. É melhor eu prestar atenção nele.

– Você viu que um garoto da sua escola está doente? Parece que, por mais que ele levasse lanche pra escola, ele não estava comendo. E ele já tinha um problema do estômago e tal, e tinha uns remédios na comida dele ou sei lá. Está no hospital.

– Coitado, quem é?

– Mark alguma coisa.

Fruta que caiu! Era o mesmo Mark?! Eu coloquei um nerd no hospital?! Não era como se isso não tivesse nunca acontecido, mas desta vez não foi proposital.

– Que hospital?

– Meu amor, você é a pessoa que mais fala que essa cidade é o fim do mundo. Só tem um hospital.

– Como você ficou sabendo dessa?

– Minha mãe é a psicóloga desse menino. Ele tem uns problemas de depressão.

Eu coloquei um garoto com depressão e doente de sei-lá-o-que no hospital?! Estou me sentindo muito mal agora. Merda. E eu nem odiava tanto aquele Mark.

– Ari, você conhece esse menino?

Eu fiquei vermelha.

– Eu não sabia que ele era doente, tá?! Eu pegava o lanche dele, por que era bom. E ele nunca pareceu ficar mal. Ah, droga. Quero falar com o Mark.

– Eu te levo lá no domingo, pode ser?

– Te amo.

– Eu sei.

Então começou a tocar Vermilion, do Slipknot. Comecei a cantar loucamente. Então reparei que a música vinha do meu celular. Tinha alguém me ligando. Não era o Will.

– Ariane?

– Oi, o que foi? - Pelo menos o Drake não começou chamando outra pessoa

É, eu sei que sou grossa. Mas só porque estou me divertindo, o Céu e o Inferno decidiram me ligar. Vamos, vamos fazer o Dia Encha o Saco Da Ariane. #Partiu.

– Ai, grossa.

– Desculpe. Tudo bem, querido? - Perguntei carinhosamente (ironia? você por aqui?)

– Maravilhoso. Só uma coisa - Ouvi risadas - Estou indo pra sua casa deixar o Jay aí, ok?

O quê? Nada faz sentido nessa vida?!

– Oi?

– Foi mal. Eu não expliquei, né?

– Não.

Mais risadas. Ele estava bêbado ou o quê?

– O Jay passou aqui no Tigers para me emprestar o carro - Ou seja, o Fusca amarelo que parece uma gema de ovo - E eu deixei ele na frente da casa deles. Mas ele estava sem chave e o Will não estava em casa. E toda vez que ligávamos para ele, dava ocupado.

Imaginei, ele deveria estar ligando pro mundo atrás do Jay, o que tanto ele queria com o Jay? Que desespero, viu.

– E onde eu entro nessa história?

– O Will não está aí?

– Não. Por que estaria?

– Por que vocês se gostam.

– Cala a boca. Nada a ver.

– Cala a boca você, Ari. Enfim, eu já estou na sua rua. Então pega o Jay aí e depois liga pro Will.

Ele estava querendo sair com alguem. Estava atrasado. Tinha essa certeza.

– Eu não sou uma coisa, pra ser largada assim! - Ouvi Jay gritar para Drake do outro lado da linha, e então risos femininos

A vida está ficando cada vez mais sem sentido.

Ouvi a campainha tocar e o telefone desligar. Eram eles. Eu e Travis descemos as escadas enquanto eu o explicava o que acontecia com os nossos amigos loucos. Quando cheguei lá em baixo vi Jay e Eliot conversando animadamente. Marie encarava eles como "esse é o bêbado que apareceu aqui outro dia?". Vaca.

– Jay, faz o favor de ser uma pessoa normal pelo menos uma vez? - Disse, cumprimentando-o

– Desculpa. Eu esqueci as chaves de casa. E imaginei que Will estava aqui. Você também não é a pessoa mais normal do mundo, sabia?

Marie pigarreou, enquanto fazia um coque em Alisson, e Annabelle estava sentada no chão, tomando uma mamadeira gigante. A bruxa má deveria ter pensado "quantos garotos essa menina trás quando eu não estou?". Querida, você não faz diferença se está ou não.

– Não está. E por que ia emprestar o carro pro Drake?

– Ele vai sair com uma menina. Todos aqui temos vida social, Ariane Jones. Você não é a única amiga menina que conhecemos.

Os risos femininos.

Eu afastei Jay e passei por ele. Havia um Fusca amarelo parado na rua, havia duas pessoas dentro. Na verdade, quase parecia uma. Estavam se agarrando, quase se engolindo ali.

A menina era... Lisa?!