Bubbles And Leaves escrita por Mayumi Sato


Capítulo 4
04. Dois mundos em rotação.


Notas iniciais do capítulo

"Uma vez. Se ele fizesse sexo com o Jones uma vez e usasse isso a seu favor, todos os seus problemas seriam resolvidos. Sexo com Jones. Criar um planeta que tivesse hospitais em forma de logomarcas de super-heróis. Argh."

— Avisos: +16. Menções sexuais um tanto gráficas!



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04. Dois mundos em rotação

Arthur Kirkland, diferente de seus irmãos, demorou muito para adquirir o típico espírito ambicioso de sua linhagem. Quando criança, ele se considerava feliz em sua vida tranqüila na Terra e nunca se imaginou indo para outros planetas para seguir uma carreira que desse a ele maiores poderes. Como o planeta em que habitava era uma gigantesca área de preservação ambiental e cultural, ele sabia que havia chances consideráveis de que ele adquirisse um papel modesto, como o de um floricultor talvez, e ele estava tão contente quanto ciente dessa possibilidade. Aprimorar naves espaciais em Marte? Lidar com problemas de perda de partículas em teletransportes na Lua? Humpf. Dispensado. Ele não queria uma carreira que girasse em torno de máquinas, números e partículas. Matemática é uma tortura, concluiu um Arthur de oito anos, resolvendo suas equações de segundo grau. Além disso, a Terra era o planeta-original, onde havia a beleza, o conforto e a serenidade sem a necessidade de aparelhagens complexas. Se pudesse ficar lá e cuidar de um jardim bonito, ele seria feliz para sempre.

Ou era o que ele pensava até os seus doze anos.

No ano de 3052, quando Arthur estava no início confuso de sua adolescência e perdido em relação a todas as suas convicções anteriores, uma luz veio para mostrar-lhe um novo caminho. A luz de um holograma tridimensional utilizado para que os alunos do fundamental assistissem à palestra do professor Matthew Jones, um dos notáveis nomes da engenharia de desenvolvimento de novas Regiões Habitáveis.

Essa palestra mudou toda a percepção de Arthur sobre o universo. Ele quase não conseguia respirar, escutando sobre todas as adaptações que os planetas passavam para se tornar áreas onde os seres humanos pudessem viver confortavelmente. Era impressionante ver quantas coisas precisavam ser planejadas para que um planeta passasse de um deserto com fumaça tóxica para uma moderna e organizada área urbana. E havia uma arte no planejamento dessas Regiões que era extremamente admirável. Novos tipos de construção, novos tipos de estradas, novos tipos de espaços de lazer. Gerar uma nova Região Habitável significava dar o primeiro passo para o surgimento de uma cultura completamente nova.

Era impressionante. Ser um engenheiro de D.R.H era uma profissão na qual você criaria um lar para milhares de pessoas do presente e para todas as suas futuras gerações. Era um trabalho cujo produto final duraria até o fim dos tempos e se desenvolveria autonomamente no decorrer dos séculos, ganhando uma História, uma identidade.

Ao sair daquela sala, após o fim da aula, Arthur Kirkland podia ainda ter dúvidas sobre o seu corpo, sobre outros meninos e sobre a sua própria personalidade, mas uma certeza ele tinha. Ele se tornaria um engenheiro de D.R.H.

Essa certeza deu início à fase ambiciosa de Arthur e não foi diluída pelos contratempos e problemas com os quais ele se deparou. Por sinal, foram muitos os contratempos e problemas. A formação de um engenheiro de D.R.H era complicada do início ao fim. Apenas duas Regiões Habitáveis ofereciam o curso e cada curso tinha vagas apenas para vinte pessoas a cada cinco anos. Arthur Kirkland tinha que estar entre os vinte primeiros lugares do vestibular de uma das faculdades para cursar o que queria. Com esse objetivo em mente, ele abdicou completamente à sua vida pessoal durante o ensino médio. Nem os avisos gentis, porém vagamente frustrantes da sua mãe de que “Você não deveria passar o dia inteiro estudando, quando sabe que não vai conseguir passar no que quer, querido. Tente aproveitar melhor a sua juventude.” conseguiram desviá-lo de sua meta.

Foi comicamente chocante quando - diferente do que esperavam seus pais, irmãos, professores, colegas de sala, vizinhos, conhecidos e até mesmo uns desconhecidos - os seus esforços tiveram resultado e ele terminou o seu terceiro ano, arrumando as malas para mudar-se para a Lua, deixando todos boquiabertos, absorvendo aquela nova informação. Arthur Kirkland passou de um garoto que queria somente ficar plantando rosas para um estudante de um dos cursos mais limitados e complexos do universo. Como eram imprevisíveis os Kirkland.

Cursar a faculdade não foi mais fácil do que conseguir passar no curso. Engenheiros de D.R.H precisavam de notas altíssimas em matemática, astrofísica, engenharia civil, arquitetura, história da arte... De uma turma de vinte pessoas, seis se formaram. Dentre elas, um exausto e satisfeito Arthur Kirkland.

A última e igualmente árdua etapa de Arthur foi a de conseguir um projeto planetário. Não era todo dia que um planeta podia tornar-se habitável e, quando a oportunidade surgia, centenas de pessoas cobiçavam um trabalho de poucas vagas. Algumas dessas pessoas esperavam décadas para conseguirem fazer parte de um projeto de criação de uma Região Habitável. A maioria nunca conseguia projetar um planeta e tinha que se contentar com pequenos trabalhos, como criar um novo modelo de prédio sob determinados parâmetros para um planeta já habitado ou aperfeiçoar a construção de uma estrutura arquitetônica em satélite natural também povoado.

Há! Como se Arthur fosse deixar isso acontecer com ele. Se fosse para apenas projetar um prédio flutuante insignificante, teria sido melhor permanecer na Terra! O seu objetivo final era um planeta. Esse era um sonho que o consumia deliciosamente e ao mesmo tempo queimava dentro de si. Ele tinha desenhos guardados em sua escrivaninha de vários tipos novos de construções para adequar-se às mais diversas circunstâncias. Formas, cores e temas habitavam a sua imaginação. Às vezes, passando em uma via de altitude 02 no seu carro antigravitacional, ele olhava para a Terra azul ao longe, a sua casa original, e se indagava como seria o futuro planeta com o qual ele iria trabalhar. Quem sabe um planeta gelado? Ou um planeta repleto de vulcões ativos? Ele sonhava muito e trabalhava bem mais. Em função de sua ambição final, ele apanhava os projetos mais complicados e desagradáveis para estabelecer o seu nome. Tinha jantares com pessoas influentes do mesmo ramo que ele esbofetearia em qualquer outra situação. Todo o seu empenho derivava-se da esperança de um dia poder criar um mundo inteiramente novo em algum lugar da galáxia.

Por fim, em uma determinada manhã, ele ficou dormindo por um longo tempo, depois de terminar um projeto especialmente complicado - céus, como era desgastante fazer ajustes nas condições climáticas artificiais de uma Região Habitável subterrânea – até ser acordado pelo barulho irritante e alarmantemente alto do seu aparelho de mensagens holográficas, o qual deveria ter sido chamado umas cinco vezes se já havia alcançado esse volume.

Foi com um grunhir hostil, um andar cambaleante e uma jura interna de vingança que ele atendeu ao aparelho de mensagens e ao ver o rosto de Francis Bonnefoy surgindo na tela, ele desejou com todo o seu coração que aparelhos holográficos permitissem a transmissão de contato para que ele pudesse esmurrá-lo ali mesmo. Argh. As tecnologias ainda tinham muito a avançar.

Ele estava prestes a brigar com Francis porque o fato de ele ser seu antigo colega de faculdade e uma ou outra noite de curiosidade sexual, não significava que ele podia ficar ligando insistentemente e...!

– Você viu o que está passando na Rede, Arthur? – foi a pergunta de Francis, antes que o senhor Kirkland dissesse qualquer injúria, e havia um brilho tão peculiar em seus olhos que a raiva de Arthur foi momentaneamente atenuada por sua curiosidade.

Ele quis perguntar o que diabos de tão importante estava passando na Rede, mas Francis novamente não o deixou falar. Não parecia que ele quisesse impedi-lo de falar, no entanto. Ele apenas transparecia estar desesperado demais em dizer o que quer que fosse. A curiosidade de Arthur aumentou e começou a encher-se de ansiedade.

– Eles conseguiram um. – disse o Bonnefoy, soltando uma expiração que parecia ter sido guardada por muitos anos.

– Um o quê?

– Um planeta habitável.

–...

– E nós estamos na lista de engenheiros de D.R.H convidados a participar da direção do projeto.

Dessa vez, a resposta de Arthur não foi impedida por Francis, e sim pelos seus próprios soluços. Soluços altos, carregados de emoções, memórias e esperanças acumuladas por dez anos. Soluços que finalmente admitiam uma incerteza e insegurança que ele tentou conter por tantos anos. Soluços de alívio puro. Soluços tão fortes que faziam seu corpo arquear.

Arthur caiu de joelhos e continuou a chorar e chorar, enquanto o holograma na sua frente sorria, tornando-se mais e mais embaçado pelas suas lágrimas.

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Como foi dito, um planeta era o plano original de Arthur. Seu projeto final. Um planeta levava dez anos para ser inteiramente planejado e outros dez anos para ser construído. Quando Arthur terminasse essa tarefa, ele estaria com cinqüenta e dois anos e poderia se aposentar com a acolhedora certeza de que o seu maior sonho foi realizado.

Sendo assim, ele tinha motivos para acreditar que agora só lhe restava desfrutar da sua alegria e tranqüilidade perpétua porque nada mais poderia importuná-lo. E ele, de fato, pensou assim, antes de conhecer o senhor Jones, o responsável por convencê-lo de que nós podemos encontrar o desprazer mesmo nas condições mais potencialmente deleitáveis.

Não, não. Não era o senhor Matthew Jones, aquele amável senhor que usou um urso de pelúcia para falar de sua fascinante profissão a meninos e meninas de doze anos. Quem dera. Infelizmente, o Jones em questão era o filho dele. Alfred F. Jones. O insuportável, irritante, estúpido, incompreensível e imaturo Alfred.

Oh, o primeiro encontro deles. Arthur não se esqueceria daquela data. Quando Alfred chegou atrasado para a reunião com um depósito cheio de pílulas de alimentação instantânea que ele ficou comendo da maneira mais barulhenta que Arthur havia visto. Anteriormente, o senhor Kirkland nem sabia que alguém poderia mastigar pílulas de alimentação, produzindo o som de quem estava triturando uma pedra!

Quando Arthur teve o bom senso de perguntar quem diabos ele era, uma vez que o seu atraso fez com que ele não tivesse a oportunidade de se apresentar, o senhor Jones deu um sorriso largo e respondeu sem importar-se com a denotação hostil da pergunta “Eu posso saber quem diabos você é?!” proferida por um impaciente Arthur Kirkland:

– Finalmente! Eu achei que a estrela da reunião não teria uma chance de se apresentar! Alfred F. Jones ao seu dispor, senhoras e senhores!

Preferindo ignorar a sua raiva, a questão seguinte de Arthur naturalmente foi:

– Esse “F” seria...?

– Oh! – o senhor Jones abriu bastante os seus olhos com um ar de surpresa que definitivamente era forjado, tendo em conta como ele foi seguido pelo sorriso e comentário mais descarado que Arthur Kirkland presenciara em seus trinta e dois anos de existência - Escuta, cara, eu realmente entendo que você queira me conhecer melhor, mas nós estamos no meio de uma reunião! – para piorar, ele praticamente adquiriu o tom de um adulto explicando uma regra a uma criança ao acrescentar com um sorriso que tinha a ousadia de parecer embaraçado e um gesto de dispersão com os braços - Vamos ter algum profissionalismo, ok?

Foi ódio à primeira vista.

Alfred era o mais novo dos membros da direção do projeto. Ele tinha acabado de concluir a sua faculdade e não tinha feito mais do que dois ou três trabalhos antes de receber o seu cargo atual. Por melhores que fossem as suas notas, era visível que ele apenas estava no projeto porque o sucesso de seu pai fez com que as pessoas automaticamente chegassem à conclusão de que ele também deveria ser um gênio.

Bom, basta dizer que as pessoas estavam erradas.

Talvez fosse porque ele era jovem demais. Talvez fosse porque ele era inexperiente. Talvez fosse porque ele tão somente era um idiota de categoria maior.

O certo é que as reuniões fascinantes que Arthur esperava ter com os outros engenheiros para que sua imaginação e conhecimento gerassem um mundo novo, tornaram-se encontros para impedir que Alfred adicionasse absurdos aos projetos.

Aquilo era ridículo. Eles mal conseguiam fazer algo de produtivo, uma vez que setenta por cento da reunião era composta por Alfred lançando sugestões inaceitáveis e Arthur as recusando com uma fúria que ele nem tentava conter.

Eles brigavam dia após dia. Os encontros conseguiam ter um pouco de avanço, antes de Alfred dizer alguma coisa, todavia de um modo geral, pouca coisa havia sido definida ali, além do estabelecimento de que Alfred F. Jones era um idiota e de que Arthur Kirkland era um inimigo do estilo agressivo-agressivo.

Depois de tantas complicações e confrontos, foi no terceiro mês de projeto que Arthur finalmente sentiu que havia alcançado o seu limite. Quando ele saiu da sala de reuniões, rouco de tanto gritar “Você quer mesmo que os hospitais desse planeta tenham o formato da logomarca de super-heróis?! Essa proposta não faz qualquer sentido!” e receber como resposta argumentos como “Mas super-heróis salvam as pessoas! E sabe o que também salva as pessoas, Kirkland? Hospitais! Nossa, você não conseguiu entender nem isso? A sua geração realmente precisa se atualizar!”, Arthur Kirkland estava de tal modo abatido, frustrado e insatisfeito que ele recorreu a uma ajuda da qual ele só costumava valer-se no ápice do desespero, da frustração sexual ou de ambos.

– Eu não sei o que eu faço, Francis. – ele gemeu exausto, encostado na parede do corredor externo à sala de reuniões. – Eu estava seguro de que ele se esgotaria com o tempo e nos deixaria fazer o nosso trabalho, porém parece que ele está pior a cada dia. Nós estamos ridiculamente atrasados.

O corredor da sala de reuniões era um local quieto e imperturbável. Embora as paredes de trás fossem de um branco impecável, as paredes da frente eram compostas por material transparente, permitindo a contemplação da cidade abaixo, de uma infinidade de estrelas à frente e da Terra grandiosamente colocada no espaço, parecendo tão próxima da Lua quando vista daquela posição. Era um corredor com a impessoalidade de um edifício empresarial no qual não havia nada além de portas brancas, uma silenciosa máquina de bebidas e uma lixeira constantemente vazia. Um refúgio aceitável para um engenheiro profundamente esgotado.

Em contraste com o desespero de Arthur, o sorriso de Francis era leve e tinha um toque de diversão secreta.

– É claro que ele está pior a cada dia. Você desaprova tudo o que ele propõe, então ele tenta trazer novas ideias e convencê-lo a aceitá-las. É natural, eu acho.

O senhor Kirkland limitou-se a fazer um som de desaprovação para mostrar o seu descontentamento e ofensa com aquela resposta. “Você desaprova tudo o que ele propõe, então é natural que ele continue a fazer propostas idiotas!”. Que afirmativa ridícula. Arthur não era o vilão e a sua desaprovação contínua aos planos sem nexo de Alfred era a única coisa natural por ali.

Arthur era a vítima. Ele esforçou-se por anos e anos para conseguir aquele trabalho e um garoto imbecil estava estragando completamente a experiência com a qual ele sempre sonhara.

– Se você realmente quer apaziguá-lo, por que não aprovar alguns dos projetos dele?

A indagação do Bonnefoy foi imediatamente seguida por um riso sarcástico e um tanto horrorizado da parte de Arthur.

– Você não pode estar sendo sério. – a boca de Arthur estava sorrindo, porém os seus olhos estavam arregalados – Um planeta que possua qualquer um dos projetos daquele garoto estaria fadado ao ridículo. Pense em como os seus habitantes seriam debochados por viverem lá. Nós não queremos estimular o bullying entre planetas, Bonnefoy. – Arthur concluiu parcialmente irônico. Parcialmente.

– Quer dizer que você está determinado a não aceitar as sugestões dele? – Francis questionou mais uma vez, dando um relance muito atento e sutilmente confrontador para o colega ao seu lado.

Arthur respirou fundo. Ele entendia as linhas implícitas naquela pergunta. Sim, o projeto estava atrasado e eles poderiam perder as suas férias por conta disso. Teoricamente, seria mais fácil aceitar um ou dois planos imbecis para permitir o andamento do seu trabalho. No entanto... Aquele era um projeto especial. Era o planeta que ele conseguira com tanto, tanto esforço. A maior realização de sua carreira. A única coisa que ele ambicionara com tanta força em sua existência.

Ele não poderia permitir que a sua obra-prima tivesse cruzamento de vias que formassem “emoctions” quando observadas de cima.

– Eu me esforcei muito para conseguir esse projeto. – ele bufou, tocando a sua testa com uma mão e sentindo que as suas sobrancelhas haviam se franzido sem ele perceber - Eu não vou deixá-lo ser estragado por um garoto de vinte e três anos.

– Nesse caso, você tem uma única opção.

O peito de Arthur contraiu-se com um péssimo pressentimento. Ele cruzou os braços defensivamente.

– Que seria...?

– Seduzi-lo.

Arthur quase se engasgou com a própria saliva. Ele girou lentamente o seu pescoço e encarou Francis Bonnefoy com uma expressão intensamente mortificada:

– O quê?!

– Oh. Você sabe o que costumam dizer. – disse Bonnefoy, o desgraçado, parecendo entreter-se com cada palavra que saía de sua boca - As pessoas escutam com mais calma quando estão na cama. Ou em qualquer lugar que vocês encontrarem para as suas atividades, na verdade. Eu tenho a impressão de que o Jones é um tanto impulsivo e eu sei que você transmite a sua selvageria habitual para as suas atividades lascivas.

A casualidade com a qual Francis estava propondo aquilo estava horrorizando Arthur. Ele não estava vendo quão absurda era aquela ideia?! Aquilo nunca havia passado por sua mente! Ele e Alfred?! Oras, ele e Alfred!

– Por que eu...? Como isso ao menos poderia funcionar?! Céus, nós nos detestamos! Ele é a última pessoa da galáxia com a qual eu...!

– Por três razões. – Francis declarou com muita calma, mostrando três dedos - Primeira, eu acho que o Jones tem uma queda por você. É por essa razão que ele insiste em se provar para você. Os projetos dele são absurdos, contudo fisicamente possíveis. Imagine a quantidade de esforço que ele deve colocar para criar um a cada semana. Eu não acho que ele faria isso, a menos que tivesse um desejo ardente de impressioná-lo, meu caro. – tudo nos argumentos de Francis foi espantoso e terrível porque eles eram estranhamente lógicos. – Em segundo lugar, desde quando você é tão sentimental? Eu conheço você de outras noites e episódios sórdidos, Arthur. Nem tente bancar um virgem inocente comigo. – ouvindo essa parte, Arthur fez um som mal-humorado no fundo da garganta, mas não a contradisse remotamente e permaneceu quieto para escutar o resto - Por fim, as vantagens são grandes, senhor Sobrancelhas. Você vai voltar a assumir a direção do projeto dos seus sonhos e vai conseguir atingir a sua meta dormindo com um indivíduo particularmente desejável. Do que você está reclamando?

– Desejável? – Arthur ergueu uma sobrancelha questionadora. Ele fechou os olhos e agitou seu rosto em desaprovação - Oras, sua besta descontrolada. Ao contrário de você, eu tenho os meus padrões.

– Então você realmente não reparou nisso? Vamos, senhor Sobrancelhas. Aqui não é como a Terra, onde eles vestem aqueles panos frouxos. As nossas roupas adaptam-se e colam ao nosso corpo. Não há muito espaço para imaginação.

Para o lamento de Arthur Kirkland, aqueles argumentos faziam perfeito sentido.

– Essa realmente é a melhor... – o senhor Kirkland suspirou exasperadamente, incrédulo com o que ele estava prestes a fazer - Digo, a única opção que tenho, não é?

Francis deu de ombros com uma satisfação perversa que não emitia nenhuma discordância quanto a essa opinião.

– O que você acha?

Uma vez. Se ele fizesse sexo com o Jones uma vez e usasse isso a seu favor, todos os seus problemas seriam resolvidos.

Sexo com Jones. Criar um planeta que tivesse hospitais em forma de logomarcas de super-heróis.

– Eu acho que tenho que voltar a usar cápsulas de colônia quando venho para as reuniões. – ele declarou, e a sua voz acabou soando acidentalmente um pouco mais rouca e grave. Por mais humilhante que fosse a perspectiva de seduzir o Jones, ele não tinha sexo há muito, muito tempo e as roupas da Lua realmente não deixavam espaço para a imaginação.

Francis deu tapinhas amistosos no seu ombro direito, contudo Arthur evitou voltar-se para ele e ver sua expressão. Qualquer uma delas seria insuportavelmente irritante.

Droga.

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Como um legítimo terráqueo, Arthur teve uma educação básica sobre a fauna terrestre que lhe conferia a consciência de que ele não era um predador direto como o Bonnefoy. Enquanto o Francis seria mais similar a uma águia, que paira sobre uma região e avança em uma presa quando a detecta, as técnicas de Arthur eram mais felinas. Espreitar, aproximar e agarrar no instante certo. A sua aproximação, portanto, foi torturantemente lenta. Os seus métodos foram calculados e sutis.

Contando que aquilo que Francis havia dito para ele fosse verdade, e o Jones tivesse alguma queda secreta por ele, Arthur Kirkland passou a fazer certos movimentos que passariam despercebidos para uma pessoa comum, mas os quais definitivamente chamariam a atenção de alguém que sentisse certa atração por ele e, com alguma sorte, conseguiriam aumentá-la.

Humpf. Ele tinha essa perspectiva, todavia não estava tão confiante de que seus planos transcorreriam tão bem na prática quanto na teoria. O único indicativo de que Alfred F. Jones tinha uma queda por ele era um palpite do Francis e o Bonnefoy não exatamente o ser mais confiável de todas as Regiões Habitáveis. Havia a grande chance de que aquilo fosse uma brincadeira elaborada e ele manteve esse receio até o último segundo.

Sendo assim, foi uma surpresa quando ele descobriu que era bastante fácil despertar reações adoráveis e sadicamente divertidas no Jones.

Se Arthur o encarava fixamente nos olhos, Alfred corava em poucos segundos e, embora gritasse com um bico acentuado frases enfurecidas como “Qual é o seu problema, Kirkland?! Se você quer dizer algo, diga logo!”, ele tornava-se um tanto amável aos olhos do senhor Kirkland.

Quando Arthur passava uma mão rapidamente por seu ombro ao cumprimentá-lo, antes de sentar-se para iniciar a reunião, ele sentia a tensão surgir automaticamente nos músculos dele.

E podia ser porque Arthur não reparara nisso antes, porém nunca ficou tão evidente que Alfred passava a reunião inteira dando rápidos olhares furtivos na sua direção.

Sentindo-se mais confiante, ele também foi tornando-se mais ousado. “Ei, Jones. Você está ocupado agora? É óbvio que você não está. Escute, eu estou sentindo o meu traje começar a se desajustar. Você pode conferir se ele está bem colado ao meu corpo?”. “Sente-se mais perto de mim, Jones. Eu quero que você veja melhor os meus cálculos. Nós não precisamos gritar o tempo todo, precisamos?”. “Eu acho que uma das suas milhares de pílulas de alimentação instantânea caiu debaixo das suas pernas. Bah. Deixe-me conferir.”.

Se as técnicas dele estavam começando a beirar o cômico, as reações inocentes de Alfred também estavam. A maneira indignada, chocada e embaraçada como Alfred gritava um “Que diabos, Arthur!” sem afastá-lo era ridiculamente adorável.

No momento, o maior problema de Arthur era que Alfred estava jogando aquele jogo também.

Arthur Kirkland não sabia exatamente o porquê, contudo desde suas primeiras tentativas de seduzir Alfred, o comportamento do último já havia mudado. Nem sempre de um jeito positivo. Arthur não sabia se ele estava se vingando, se aquele era o tratamento que ele dava a pessoas com quem ele estava acostumado ou se ele estava... Er...

De modo geral, havia dois tipos de comportamento estranho que ele estava mostrando mesmo nos instantes em que Arthur não tomava a iniciativa de provocá-lo.

O primeiro era de uma natureza mais provocante. Subitamente, Alfred começou a tornar-se super-interessado em fazer piadas sexuais e frases de duplo sentido e dedicá-las com um piscar charmoso e o sorriso mais cínico de todos os tempos a Arthur. Uma vez, ele colocou casualmente uma mão na cintura de Arthur, quando este se levantava, justificando-se com um “Você é tão atrapalhado! Eu pensei que você iria cair. Quedas são perigosas na sua idade, sabe.”... Bom, os princípios heróicos de Alfred não explicavam nenhum pouco a pressão quase curiosa que os dedos dele estavam aplicando sinuosamente – por um tempo maior do que o necessário, diga-se de passagem – nos quadris de Arthur. Ademais, a quantidade de vezes em que o Alfred passou a sussurrar suas opiniões – ainda ridículas, apesar dos pesares – dentro da orelha de Arthur, com os seus lábios perigosamente próximos do lóbulo, quando alguém estava falando nas reuniões, era desconcertante. Antes, o senhor Kirkland nem sabia que o Alfred conseguia sussurrar!

O segundo era de uma natureza mais gentil. Inexplicavelmente, o Jones começou a mostrar ocasionalmente certa consideração por Arthur e, de alguma forma, as suas gentilezas eram ainda mais angustiantes do que as provocações sexuais dele. Eram gestos simples, porém tão puramente doces que o peito de Arthur doía um pouco ao percebê-los. Ver como Alfred passou a verificar se o nível de gravidade na sala estava ajustado o suficiente para que Arthur não se sentisse tonto, como ele passou a trazer sempre uma xícara de chá consigo, quando ia apanhar o seu café, ou como ele experimentava – ainda que toda vez reclamasse - diariamente a salada caseira usualmente desprezada que Arthur trazia para mesa de almoço dos encontros, deixava Arthur Kirkland tão, tão feliz que ele tinha vontade de esconder o seu rosto nas mãos.

Sim, a situação parecia maravilhosa. Arthur estava entretido, comovido e mais do que um pouco excitado. Entretanto, o que tornava a situação maravilhosa também a tornava perigosa.

A intenção primordial dele era deixar as tensões sexuais e agressivas entre ele e o Jones chegarem ao seu máximo para que eles tivessem uma noite de sexo selvagem e ele pudesse chantagear emocionalmente o ingênuo Jones com o velho “Você não vai nem me ouvir depois de tudo o que nós fizemos naquela noite? Pelo visto, você só queria me usar!” e etc.

No entanto, o objetivo final do projeto começou a tornar-se algo cada vez mais distante e menos relevante no decorrer do processo.

Maldito Jones com aquela discreta gentileza repentina e com aquelas reações encantadoras a tentativas de sedução. Sentindo-se um tanto lisonjeado e enternecido com aquelas atenções inexplicáveis e abruptas, Arthur Kirkland não pôde deixar de tentar retribuí-las em parte. Ele era um cavalheiro, afinal.

Ele ainda resmungava e reclamava de algumas manias do Jones, contudo a sua nova atitude era significativamente diferente da anterior. Em comparação com o período em que todas as interações entre eles eram compostas por sincera impaciência e hostilidade, agora mesmo nos momentos em que Arthur estava bravo com Alfred, a sua raiva tinha um toque de afeição.

Que garoto estúpido. É tão adorável como ele faz esses projetos que parecem sair da imaginação de uma criança. Oh, céus. Como ele pode parecer tão confiante dizendo tantas coisas idiotas? Eu tenho que reconhecer que essa confiança absurda que ele esbanja possui algo de instigante. A maneira como os olhos dele brilham quando ele está falando de suas paixões é... Caham.

Para completar, a sua tentativa de ser amistoso com Alfred provavelmente saiu de suas pretendidas proporções. Aquilo que deveria ser uma relação cordial carregada de acumulada tensão sexual tornou-se estranhamente similar a uma... Amizade carregada de acumulada tensão sexual? Ou algo ainda pior?

Ele não realizou quando exatamente essa mudança aconteceu. Em fatos, ele a realizou quando era tarde demais para revertê-la. Em um dia qualquer, ele viu Alfred rindo de uma das estórias que ele contou sobre os seus irmãos mais velhos, sentiu um sorriso crescer espontaneamente nos seus próprios lábios e antes de conseguir disfarçá-lo, ele viu Jones retribuí-lo de uma forma que tirou o seu fôlego. Foi quando ele soube. O coração dele falhou em uma batida. Nesse instante, Arthur Kirkland acabou percebendo que ele estava completamente perdido.

Não. Não. Não. Não.

Seduzir Alfred era uma coisa! Gostar dele era outra inteiramente diferente!

Aquilo não era nada bom. Se Arthur continuasse a afundar naquilo, ele poderia acabar perdendo tudo. A chance de chantagear Alfred, a chance de dormir com Alfred, e a chance de manter uma amizade com Alfred.

Ele estava bem seguro de que Alfred não o rejeitaria, caso ele o puxasse contra si e pressionasse os seus corpos juntos. Todavia, ele não achava que Alfred aceitaria tão facilmente essa afeição dolorosa, quente e doce que ele estava começando a sentir.

Arthur não podia mais seguir riscos. Ele tinha que ir para a rota segura. Que se danasse a recém-formada amizade entre eles. Que se danassem aquelas ânsias que o seu coração estava começando a sentir. O instante de dormir com Alfred e chantageá-lo havia chegado.

Assim, em uma quarta-feira comum, após uma reunião turbulenta, ele se virou para Alfred e sugeriu com o ar mais profissional possível:

– Se você realmente quer avaliar a possibilidade de concretização das suas ruas musicais que mudam de cor, eu acho que nós não devemos discutir esse projeto por aqui. Você tem algum compromisso esta noite?

– Er... Não? – Alfred inclinou o rosto para o lado, visivelmente confuso com aquela questão. A inocência daquela pergunta fez uma onda de afeição e culpa passar por Arthur Kirkland. Por uma questão de praticidade, ele buscou apagar as duas sensações.

– Ótimo. – Arthur suspirou e deu um pequeno sorriso que mesclava conformismo, alívio e melancolia - Vamos a um café.

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Um vulcão pode lançar suas cinzas no ar por dias antes de entrar em erupção, porém quando ela ocorre é súbita, rápida e incontrolável.

Arthur optou por não fazer nenhum movimento ousado quando os dois estavam no café e deu preferência a deixar a tensão fervente se acumular aos poucos antes de chegar ao seu ponto máximo de pressão e explodir com força. Sentado no lado oposto da mesa, ele encerrou brevemente o assunto das ruas musicais e conversou com Alfred sobre Regiões Habitáveis, sobre seus anos de faculdade, sobre as diferenças culturais da Lua e da Terra e sobre algumas das pessoas insuportáveis com quem ele fora forçado a conviver no ramo deles. Todavia, vez por outra, ele cedia um meio-sorriso que destilava malícia e um olhar voraz que transmitia a clara mensagem de “Eu não me importaria se você me jogasse nessa mesa e me estocasse de um jeito tão feroz que nós não conseguiríamos nos levantar por horas.”. Ele tocava o joelho de Jones, umedecia seu lábio inferior lentamente e testava a sua capacidade de se conter com uma enorme criatividade.

Não havia como ele se sentir minimamente culpado ou constrangido por tais movimentos quando Alfred também era um participante desse jogo.

Sim. Durante a maior parte do tempo, o Jones comentava sobre os seus interesses, sobre as suas aventuras na adolescência e sobre estórias familiares de tal modo estranhas e cômicas que chegavam a ser inacreditáveis. Ele falava de assuntos divertidos e casuais e os dois apreciavam conjuntamente uma conversa leve entre dois novos amigos... E uma vez ou outra, ele sugava demais a colher que utilizava para mexer o café, aproximava excessivamente os seus rostos e movia as suas sobrancelhas sugestivamente de um jeito ousado e um pouco brincalhão, como se dissesse “Você não quer apostar que eu teria coragem de ir para debaixo dessa mesa e sugar você, Kirkland?”.

Ah. As horas no café foram bastante deleitáveis. Além de torturantes, é claro.

Quando eles finalmente consideraram que estava tarde demais para que eles continuassem (desperdiçando tempo) no café, ambos dividiram a conta e Alfred ofereceu insistentemente uma carona para o Kirkland, uma vez que o último havia consumido uma taça de vinho – pelo visto, uma grande quantidade de álcool para os parâmetros da Lua - e teria que pegar um táxi de outro modo. “Você vai ficar me devendo essa, Kirkland.”, Alfred brincou e Arthur riu por mais de uma razão. Tudo ia de acordo com os planos.

O carro de Alfred era elegante, moderno e confortável. Não combinava muito com ele. Arthur o enxergava mais como alguém que teria um carro velho e bagunçado que teria pertencido ao pai dele. Uma imagem mais adolescente, enfim. No entanto, o veículo dele era o de um jovem adulto com uma carreira brilhante e, bem, Arthur não tinha do que reclamar, considerando-se que ele praticamente afundou na sua cadeira macia de espumas. Ademais, o carro tinha um cheiro de menta fresca e um micro-clima frio e com o nível de umidade certo que o deixaram consideravelmente mais relaxado. Aquilo era bom. Arthur Kirkland havia trabalhado o dia inteiro e precisava de um descanso antes de várias rodadas de sexo animal com um rapaz nove anos mais novo do que ele.

Eles ficaram em absoluto silêncio no caminho para a casa de Arthur. Os únicos sons dentro daquele espaço eram a voz do GPS dando instruções para Alfred e o som de pulsações sonoras delicadas vindas do aparelho sonoro no carro. Era um silêncio de cautela e espera. Arthur via o reflexo de Alfred pelo vidro lateral do carro, dando rápidos relances atentos e reservados em sua direção. Nos seus próprios relances, ele observava como Alfred estava agarrando o volante com todas as suas forças, apesar da aparente ausência de motivos para que ele sentisse ansioso. Ah. Arthur sabia muito bem que aquela ausência era aparente. Ele mesmo não conseguia parar de bater sua perna e de respirar fundo ao pensar no quanto ele queria, ansiava pela pessoa ao seu lado.

Quando eles alcançaram a casa de Arthur, o ar dentro do carro parecia ter se tornado mais quente e úmido, a despeito do quanto aquele fenômeno fosse cientificamente improvável em um carro tão moderno.

– Então... – Alfred soltou uma expiração espessa. Ele ainda não conseguia encarar o seu acompanhante e a sua cabeça estava abaixada como se ele estivesse estranhamente concentrado na imagem do volante do veículo. - Você mora aqui.

– Sim. – declarou Arthur, voltando-se para ele e fitando-o com uma suavidade atenciosa.

O senhor Jones decidiu arriscar virar seu rosto em sua direção. Pelo visto, era o máximo que ele poderia fazer naquele instante. O olhar dele não conseguia se manter em seu acompanhante e corria para várias direções.

– Er... Eu me diverti essa noite, Kirkland. – ele sorriu com visível desconforto, observando o teto por um ângulo estranho - Você não é tão chato se tiver álcool à disposição.

– Não seja exagerado. Uma taça de vinho. – bufou Arthur com desdém, virando o rosto para os lados. Em seguida, visando adicionar um pouco mais de tempero ao diálogo, ele deixou os seus lábios se curvarem e comentou provocativamente - Eu não tenho culpa se vocês, lunistas, são péssimos em lidar com algo que tire um pouco do seu autocontrole.

O pomo-de-adão de Alfred deslocou-se rapidamente.

– E-Eu acho que você irá entrar agora, certo? – ele indagou e o seu sorriso parecia estar indeciso e a beira de quebrar-se em linhas estranhas por seu rosto. O nervosismo dele era evidente e encantador. Algo na aparência daquele cara de vinte e três anos tão ansioso, tímido e confuso com uma evidente troca de flertes entre eles tornou-se amplamente desejável para Arthur.

– Eu irei. – a resposta foi instantânea e firme.

A sombra de decepção que se passou no rosto de Alfred não foi despercebida por seu acompanhante.

– Ah, certo! – ele exclamou logo em um volume e animação tão altos que transpareceram quão artificialmente eram produzidos - Até amanh...!

– Bem, nós não comemos nada consistente naquele café. – Arthur falou e alguma irritabilidade acabou saindo na sua voz. Ele não estava mais agüentando aquela tensão tão sensivelmente percebida pelos seus nervos e pelo espaço entre as suas pernas. A incerteza de Alfred estava passando de adorável para inquietante. - Com as bebidas naquele preço absurdo. Se você estiver com fome, eu tenho uma salada especial na geladeira. – “Mais um pouco. Insista apenas mais um pouco...”- Você não quer entrar?

Aparentemente, aquele foi o limite.

O impacto violento da palma de uma mão no vidro atrás de si foi todo o aviso que Arthur recebeu antes de sentir lábios rachados e ferozes pressionarem os seus, e ser completamente envolvido por músculos, calor e colônia. Ele abriu a sua boca de imediato, instintivamente, o suficiente para que uma língua quente e úmida a adentrasse, permitindo-o provar e degustar o gosto amargo de café. Alfred lançou-se sobre ele com uma fome voraz, forçando-o a recuar no banco até que as suas costas batessem na porta do carro. Os primeiros segundos foram um tanto atrapalhados. Arthur quase caiu do banco com o movimento repentino e Alfred precisou agarrar a sua cintura, mas acabou quase caindo também. As pernas deles demoraram a se ajustarem em meio a tamanha bagunça de corpos. Por sorte, eles estavam excitados demais para se importarem com esses pequenos problemas técnicos. Quando eles conseguiram uma posição confortável, Arthur pôde sentir perfeitamente o volume que tocava sua coxa e, oh, as vestimentas da Lua eram mesmo maravilhosamente reveladoras.

– E-Eu pensei que você ao menos deixaria que nós entrássemos na minha casa... – ele riu, quando as suas bocas se separaram, sentindo a respiração quente de Alfred acariciar gentilmente o seu rosto.

– Com aquela quantidade de provocações suas? – Alfred parecia quase indignado com a idéia - Droga. Eu sou humano, Arthur.

– De qualquer modo... – Urgh. A região entre o ombro e o pescoço de Arthur Kirkland era um ponto sensível e era difícil falar quando havia dentes a pressionando cuidadosamente. - Nós precisamos entrar.

– Não, não. Sem essa. – ele recusou, erguendo o seu rosto com uma expressão séria e impaciente que Arthur desconhecia até então. A intensidade dela conseguiu acertá-lo diretamente e gerou uma sensação elétrica que deslizou pela extensão da sua pele, arrepiando cada fio em seu percurso. - Eu não vou agüentar. Eu quero você aqui e agora.

– Que romântico. – ele revirou os olhos, bem-humorado, e empurrou de leve o corpo do Jones. Ele precisava disfarçar o quanto ele estaria contente em receber Alfred dentro de si ou em fazê-lo reagir com aquela força quando a próstata dele fosse estimulada repetitivamente pelo seu membro. Humpf. O senhor Kirkland tinha trinta e dois anos e a sua dose adicional de autocontrole deveria delegá-lo como o razoável naquela situação. - Infelizmente, Romeu, nós não podemos passar para as partes divertidas dentro do carro. Nós não temos lubrificantes, preservativos...

– Que se dane. – Alfred praticamente grunhiu - Nós fazemos um 69 ou damos outro jeito.

–... e as nossas roupas possuem travas de segurança que só podem ser desativadas quando entramos dentro de uma localização que se enquadre perfeitamente nos parâmetros de segurança máxima do interior de ambientes.

O estalar de Alfred batendo uma mão com força contra o seu próprio rosto foi bastante alto.

– Argh! Droga. Eu tinha esquecido completamente!

– É uma medida de segurança necessária. – Arthur sentiu um discreto sorriso voltar ao seu rosto ao realizar como era divertido verificar o nenhum-pouco-modesto-ou-contido desespero que Alfred sentia por ele e estimular a sua impaciência de propósito. Não era como se ele estivesse menos propenso, no entanto, e sendo assim ele teve que encerrá-la logo, pois o seu corpo estava começando a ceder ao absurdo. - Ademais, lembre-se de que se o carro cogitar em abrir, os nossos capacetes vão se fechar imediatamente. Não importa o que esteja no meio. Imagine os riscos de um 69 nessas condições.

Alfred quietou-se completamente por um momento.

– Vamos entrar. – ele concordou, por fim, tentando disfarçar com um rosto contrariado, o lampejo de medo que dilatou suas pupilas.

Os poucos passos para entrar na casa foram turbulentos e cada um deles foi percorrido como se a distância equivalesse a anos-luz. Arthur descobriu – ou possivelmente “confirmou” - que Alfred F. Jones não era um indivíduo com moderações. Eles não conseguiam desgrudar-se um do outro e a todo instante havia braços envolvendo a sua cintura, pernas se entrecruzando. Ocasionalmente um joelho pressionando uma determinada área que fazia seus olhos se fecharem, apertados, e algo quente descer ao seu baixo-ventre. Para piorar, Arthur teve que lidar pela primeira vez com o desafio de procurar uma chave na sua bolsa enquanto mãos exploravam o seu torso e a parte interna das suas coxas e não conseguiu parar de resmungar termos de baixo calão, sentindo o molho escapar tantas vezes. “Alfred, seu cretino, você bem que poderia colaborar, considerando-se que nós temos um interesse-comum!”.

Quando a porta se abriu, a sensação de alívio dos dois foi instantânea e intensa. Eles correram para dentro da residência de Arthur como se tivessem esperado milênios por aquela porta e o mundo estivesse em seus momentos finais. E mal haviam a adentrado quando Alfred começou a tentar abaixar o zíper nas costas do Kirkland, parecendo que poderia destruí-lo com as mãos, caso ele continuasse a não descer.

– E-Espere um pouco. Ele não vai ceder antes que eu trave a porta.

– Trave logo! – Alfred gritou com uma raiva explosiva que visivelmente não era direcionada ao Arthur, mas a sua própria Região Habitável com todas as suas malditas medidas de segurança. Arthur Kirkland, sendo um engenheiro de DRH experiente que entendia como e porque elas eram mais do que necessárias, concordava plenamente com aquela irritação e não tinha como julgá-lo por aquele acesso de cólera.

O barulho de um “bip” anunciou que a porta havia se travado, o que não foi a única confirmação recebida por Arthur de que a sua casa estava propriamente calibrada. Por conta da teimosia de Jones em continuar a puxar insistentemente o seu zíper, este desceu no exato instante da liberação do ambiente. O seu susto inicial impulsionou Arthur a dar um pequeno salto e a colocar os seus braços em torno dos ombros de Alfred. O Jones, como um jovem enérgico, obviamente não desperdiçou aquela chance. Pelo contrário. Aproveitando-se da diferença no físico dos dois, ele segurou Arthur pela cintura, mantendo-o ligeiramente acima do chão e o pressionou firmemente contra a parede.

Oh.

Sentimentos contraditórios começaram a tomar Arthur Kirkland, durante o tempo em que Alfred começou a arrancar desajeitadamente as suas roupas com um braço e sustentá-lo contra a parede com o outro. Por um lado, era excitante sentir a urgência de Alfred de tocá-lo em cada parte de seu corpo ou a fome nos seus olhos quando ele se detinha momentaneamente para observá-las. Sentir a sua força e energia na maneira firme como ele estava sendo segurado e constatar o pique juvenil daquele indivíduo estonteante de si. Por outro lado...! Droga. Ele não poderia dar um segundo para que o Arthur se movesse? Ele entendia que Alfred estivesse desesperado por sexo e, caramba, ele teria o que queria muitas vezes naquela noite, mas Arthur realmente gostaria de ganhar a oportunidade de tentar experimentar ele mesmo a pele de Alfred, testar as suas reações e participar mais ativamente do entretenimento dos dois. Ou pelo menos, uma oportunidade de corrigir a sua posição, pois ele não estava bem acomodado naquela. De jeito nenhum.

Como aquele garoto não tinha noção suficiente para dar um espaço a ele, Arthur precisou tentar obtê-lo por conta própria.

– Alfred, controle-se um pouco, eu vou... – ele acabou sendo interrompido por um som engasgado seu que fez com que o empolgado senhor Jones não percebesse que Arthur estava tentando desvencilhar-se educadamente dele. Que se danasse o seu corpo com aquela quantidade ridícula de zonas sensíveis acima da cintura. – Eu preciso...

A palavra “preciso” atiçou uma nova onda de entusiasmo no Jones, embora provavelmente não pelos motivos certos, considerando-se que ele começou a murmurar em uma voz grave e lasciva “Do que você precisa? Eu darei exatamente o que você precisa, Artie.”. Ótimo. Agora Arthur não poderia dizer “Eu preciso me afastar de você porque essa posição não está confortável para mim e eu acho que você pode quebrar uma das minhas vértebras.”. O clima seria destruído em fragmentos microscópicos.

Sentindo a necessidade de outra tentativa, Arthur tentou corrigir a sua posição com um esforço solitário, tirando um braço dos ombros de Alfred e apoiando sua mão contra a parede. Não funcionou muito bem. Ele mal conseguia deixar a sua mão no mesmo lugar, visto que Alfred começou a deslocar os seus corpos indissociáveis para o lado esquerdo no que deveria ser uma tentativa de levar os dois para uma cama.

– Alfred! Alfred...! – “Deixe-me ao menos corrigir a minha maldita posição, Alfred!” era o que ele queria gritar. No entanto, ele não conseguia terminar suas frases, o que levou Alfred a interpretá-las como gritos de desespero sexual e reagir de acordo com isso. Pois bem, ele não estaria completamente errado em nenhum dos dois sentidos da expressão. Com um movimento mais repentino e arrebatado de seu acompanhante, a mão trêmula e úmida de Arthur deslizou tão rapidamente a ponto de tocar em uma superfície estranha, empurrando-a para baixo. E então a sensação de se soltar do chão, bater as costas contra a parede e sentir cada centímetro do corpo de Alfred praticamente colar-se centímetro por centímetro ao seu, como se eles tivessem tornado-se imãs de cargas opostas, acertou-o de uma vez e de imediato.

– Você mudou o nível gravitacional da sala? – Alfred perguntou sério e pasmo, com o fôlego praticamente esgotado.

– Céus. Sim. Eu mudei. – Arthur gemeu. Ele mordeu seu lábio inferior e apertou suas pálpebras, buscando lidar com duas formas diferentes de frustração. Droga. Droga. Droga. Não era um bom momento para se sentir assim, mas... Céus, céus. Como os músculos de Alfred estavam pressionando o seu corpo. Era quase revoltante que alguém tivesse um físico assim. Eles estavam o apertando uma força tão intensa que chegava a machucá-lo e ele queria tanto ficar chateado com aquilo, contudo os seus sentidos estavam sendo de tal modo estimulados por aquela pressão sólida e rígida que ele acabou tornando-se incapaz de sentir outra coisa, além de ânsia febril e humilhação. Sem contar que a maldita ereção do Jones estava tão próxima da sua! Arthur Kirkland teve que usar todo o seu orgulho e racionalidade para se controlar e não começar a se esfregar nele no meio do ar e por cima das roupas. - Foi obviamente um acidente. – ele continuou com os olhos abaixados e uma voz embargada por uma multiplicidade de sensações - O meu interruptor fica na parede e eu...

– Argh. Eu entendi, eu entendi. – Alfred agitou seu rosto para os lados e fez um estalo na boca, impaciente para resolver o problema técnico dos dois. - Como diabos nós corrigimos isso, Arthur?

– Eu... – Arthur precisou acalmar sua respiração para falar - Eu acho que você consegue puxá-lo para cima com a sua perna.

Custou uma sequência deveras desajeitada de movimentos – que envolveu um incidente em que Alfred quase flutuou de cabeça para baixo, um deslize constrangedor que acabou resultando no roçar de seus membros e o senhor Jones fazendo um som macio em um instante bastante inapropriado, e uma troca de acusações enfurecidas quando eles começaram a demorar demais e a se machucarem (não de um jeito positivo, Arthur constou) por conta de algumas posições desastrosas - para que o interruptor enfim fosse desligado e eles conseguissem cair no chão, finalmente despregados um do outro.

Caídos no chão, eles inicialmente se encararam com uma mistura de raiva, seriedade e certa necessidade de voltarem aos seus assuntos iniciais. Entretanto, eles apenas precisaram olhar um para o outro por alguns segundos para que não conseguissem mais segurar. Eles começaram a rir incontrolavelmente.

– Caramba, Arthur! – Alfred F. Jones praticamente chorou de rir - Essas foram as preliminares mais bizarras de todos os tempos.

– Eu sei! Eu sei! Naquela parte em que os seus braços perderam o equilíbrio... – Arthur colocou a mão sobre a sua boca para abafar seus risos, porém os seus olhos transbordavam uma diversão inesgotável - Você parecia uma aranha desengonçada! Eu estava tão irritado com você que nem consegui rir, mas...!

– Você não estava tão elegante se pendurando em mim, Artie! – Alfred o provocou, sorrindo radiantemente.

Depois de uma sequência de flertes e de contatos, foi essa troca de risos que realmente gerou um sentimento de pesar no peito do Arthur, afundando-o em um oceano cinza de desolamento e encobrindo-o com escuridão. Através dela, ele chegou a uma realização. Esta veio de maneira tão forte que atingiu Arthur Kirkland como uma dor rasgante no peito.

A luxúria era simples e animalesca. Fácil de lidar e de manipular. Entretanto, aquele conforto, aquela alegria genuína e aquela afeição... Eles apareciam em momentos únicos como esse. Momentos que não eram calculados ou planejados porque não precisavam ser. Era esse conjunto de emoções que era tão facilmente produzido nele por Alfred. Era ele que tornava Alfred F. Jones diferente das outras aventuras de Arthur. Assim como os instintivos tornavam Arthur Kirkland ansioso para tocá-lo, os seus sentimentos o tornavam ansioso para rir com Alfred, conversar com ele, conhecê-lo e vivenciar mais experiências ao seu lado.

Quando eles... acabassem, como Arthur poderia chantageá-lo e tolerar a possibilidade de ser odiado por ele? Por outro lado, se ele conseguisse permanecer ao lado de Alfred, como ele poderia se explicar, caso as suas intenções iniciais fossem descobertas? Era provável e justificável que o Jones não o perdoasse. De repente, o que Arthur considerava uma via única mostrou-se como uma multiplicidade de rotas dúbias e possibilidades sombrias.

Era muito pesado suportar segredos, previsões e sentimentos, e o coração de Arthur havia chegado ao seu limite de cansaço com esse esforço... Ele não agüentava mais. Ele não podia continuar com aquela farsa.

– Alfred, nós não podemos fazer isso. – ele declarou com um ar muito sério.

A princípio, o senhor Jones parecia prestes a rir, como se Arthur tivesse feito uma piada muito engraçada. Depois, percebendo que o seu sorriso não estava sendo retribuído, ele começou a tornar-se igualmente sério. Naturalmente, não demorou para que ele saltasse da seriedade para a fúria.

– O quê? A sua tensão sexual foi liberada e você começou a se arrepender? – ele questionou agressivamente - Porque eu juro, Arthur Kirkland, que eu...!

– Não se trata disso. – ele apressou-se em dizer. O seu tom era neutro e firme. - Alfred, eu preciso ser honesto com você. – ele suspirou e cerrou os seus punhos com força. Fale, Arthur. Rápido. Rápido. Você precisa falar. - A razão primordial pela qual eu me aproximei de você foi porque eu queria chantageá-lo para que você parasse de dar idéias tão estúpidas para o nosso projeto... – ele confessou de uma vez. Não havia sentido em prolongar aquilo ou colocar as circunstâncias em outras palavras. Elas não seriam menos detestáveis se tratadas em eufemismos. - O Bonnefoy disse que você tinha uma queda por mim e que eu deveria usá-la a meu favor. Eu estava tão aflito com o atraso no projeto que aceitei. Entretanto, eu... – ele começou a titubear. Ele tentou continuar, mas a sua voz simplesmente não conseguia sair.

Por mais que ele pensasse que estava preparado, quando a perspectiva de ser rejeitado por Alfred e perder a sua confiança entrou em processo para tornar-se realidade, ela passou a doer, doer muito. O seu coração estava sendo esmagado com uma força que deixava o seu corpo tremendo involuntariamente. Argh.

– Droga, Alfred. Por que você precisa ser um idiota tão encantador? Eu só estava querendo seduzir você para o meu benefício e veja onde estou agora! – ele gritou, indignado com o Francis por ter dado aquela idéia estúpida, com o Alfred por ser tão tonto e tão amável e, acima de tudo e de todos, consigo mesmo. - Eu estou tão apaixonado por você que não quero deixar que você faça sexo comigo, pensando que eu sou uma pessoa diferente ou que a origem da minha atração por você foi tão espontânea e...

– Era só isso? Caramba, como eu estou aliviado!

O sorriso de Alfred ao interrompê-lo foi tão extenso e alegre que paralisou Arthur instantaneamente.

Assustado, ofendido e confuso, ele sentiu a sua temperatura cair vários graus. O que possivelmente poderia deixar Alfred aliviado em uma situação dessas? Será que ele não queria mais do que sexo casual e ficou contente em saber que eles nunca precisariam ter mais do que isso? “Eu não estou nem aí! Vamos voltar para a parede!”. Era essa a lógica dele?! Quanta indelicadeza com os sentimentos de alguém! O senhor Kirkland havia agido mal, sim, mas ele havia acabado de confessar os seus sentimentos mais profundos e aterrorizantes e não esperava que eles fossem recebidos com tamanho descaso. O pior era que Arthur não tinha condições de reclamar após admissões como as suas. Pelo contrário. A despeito de sua raiva interior, ele estava atento para a possibilidade de que ele tivesse que fazer um oral no Alfred para que os dois pelo menos pudessem preservar a sua relação em um nível mínimo de cordialidade. A Lua era um mundo injusto.

– Sabe, o Bonnefoy me fez a mesma proposta e disse a mesma coisa a seu respeito. “O Arthur tem uma queda por você. Você não vê o quanto ele discorda de você para chamar a sua atenção? Tente seduzi-lo e tal”. – com nada mais do que essas frases, a boca de Arthur despencou, formando um círculo perfeito. A sua audição e sensatez entraram em discordância. O que o Alfred estava dizendo era... Quer dizer que...? Não, não era possível. - Convenientemente, no dia seguinte, você começou a dar as cantadas mais descaradas em mim e eu notei que algo estranho estava acontecendo. Eu já li shoujos, eu sei como esses complôs amorosos funcionam.

Ah, então era isso. Alfred não estava ofendido porque ele era uma das peças no jogo. Ele estava tentando manipular o seu obstáculo profissional, assim como Arthur estava tentando manipular o seu. A diferença era que o Arthur havia se apaixonado por ele e decidiu impedir-se de cometer um erro, enquanto Alfred... O senhor Jones esteve disposto a enganá-lo até o fim.

Bom, como Arthur poderia julgá-lo? Ele, Arthur Kirkland, agiria de maneira idêntica em outro caso. Negócios eram negócios.

– Ei. Calma. Não me dê esse olhar ferido, ok? – ele reagiu defensivamente, transparecendo certa ofensa com a mágoa ressentida perceptível no semblante de Arthur - O meu problema era diferente do seu. Eu nunca pretendi “usá-lo”. – ele agitou o pescoço para trás, como se a noção de uma ação como essa fosse ridícula para a vida real - Eu sei melhor do que ninguém o quanto você é dedicado a esse projeto, Arthur. Era 100% impossível que você o colocasse em jogo por conta de uma noite de sexo casual.

– Então por que...?

Alfred colocou a mão na parte de trás do seu pescoço e abaixou o seu rosto. Ele estava sério demais para alguém tão vermelho e nitidamente desconfortável.

– Eu sei que foi tudo um blefe do Francis, mas ele acabou acertando em parte. – ele admitiu em uma voz mais baixa e esganiçada do que o habitual, lembrando a Arthur de que, no fim das contas, ele estava conversando com um homem nove anos mais novo do que ele. - Eu realmente tinha uma queda por você... Desde o início do projeto. Ou melhor, eu tenho uma queda por você. Se bem que “queda” não seria mais o termo certo...

As sobrancelhas de Arthur Kirkland arquearam-se com aquele acréscimo e ele ficou ligeiramente sem fôlego. Eram muitas informações sendo transmitidas concomitantemente. Ele não sabia a qual deveria reagir primeiro. Ele estava surpreso, mas feliz. Ele estava feliz, mas confuso. Confuso, mas receoso. Assim, o senhor Kirkland havia entrado em um estado de profunda reflexão, quando Alfred apanhou as mãos com um semblante preocupado, interpretando mal a sua recente gravidade:

– Olha, eu não sou bom nessas coisas, porém eu quero que você saiba que eu estava ciente de que você estava tentando me usar para os seus propósitos malignos e também que eu não poderia usá-lo para os meus, mas queria dormir com você mesmo assim. A verdade é... – Alfred F. Jones finalmente ergueu os seus olhos. Azuis, francos e claros. Eles eram bastante claros. - Eu gosto tanto de você, Arthur Kirkland, que não estava me importando se você só queria fazer uma chantagem emocional comigo ou outro plano maléfico. Eu nunca pensei que eu fosse conseguir ser qualquer coisa além de uma irritação diária para você, então... – era duro ver como Alfred parecia estar recebendo um golpe no estômago somente em admitir aqueles sentimentos. - Se eu tivesse somente uma chance de poder me aproximar de você, flertar com você, tocá-lo e dormir você... Eu nem ligaria para os seus motivos. Sinceramente.

O coração de Arthur estava pulsando violentamente contra as suas costelas. Ele podia senti-lo no seu pescoço. Ele quis dizer alguma coisa. Abraçar Alfred. Beijá-lo. Ele tinha que agir.

– Por que você não manifestou seu interesse por mim antes que todo esse melodrama acontecesse?! – a pergunta praticamente escapou da sua boca, tendo doses equilibradas de choque e fúria.

– Oh, bem, Arthur! Eu não sei! – com alguma irritabilidade sorridente, Alfred forjou um ar de ignorância cujo exagero gestual era próximo do cômico - Talvez seja porque é meio difícil dizer para o terráqueo adorável e com um ótimo perfume que estava encarando você, um “Ei. Você não quer sair comigo qualquer dia?” quando a primeira frase que ele grita na sua frente é um “Quem diabos você é?!”. Eu tive que defender a minha honra. E o seu pavio curto tornou tudo muito mais complicado.

– O seu senso de humor cínico e provocativo também! - o senhor Kirkland rebateu.

– Vê? Pavio curto. – Alfred deu um sorriso lateral.

– Vê?! Humor cínico e provocativo! – Arthur exclamou acusatoriamente.

Subitamente, eles se calaram e se entreolharam acometidos por uma realização mútua e simultânea, como se atingidos por um raio.

– Então... Eu... gosto de você. – Arthur começou a murmurar com um semblante de incerteza e estupefação, encaixando as peças com cuidado - Você gosta de mim. Nós estávamos tentando seduzir um ao outro há semanas...

– E agora nós estamos sozinhos na sua casa com nossas roupas parcialmente retiradas. – Alfred complementou o raciocínio prontamente. - Embora eu admita que fiz um péssimo trabalho nisso. – ele ergueu seu rosto, dando um relance avaliativo nos trajes mal sustentados no torso de Arthur Kirkland.

– Por que nós ainda estamos conversando? – ele piscou.

– Eu não tenho idéia. – Alfred concordou em uma voz que estava várias notas abaixo do comum. Inclinando-se sobre Arthur com um sorriso destilado pelos cantos da boca, ele propôs, próximo a cartilagem fria de sua orelha. - Que tal deixar que as nossas próximas palavras sejam os nossos nomes, “Oh!”, “Mais rápido!”, “Assim!”, “Aí!” e “Sim, sim, sim”?

– Bom, pelo menos uma vez, nós entramos em acordo, senhor Jones. – Arthur brincou com uma polidez visivelmente fingida, passando os dedos pela nuca de seu parceiro.

Em resposta, Alfred riu com sinceridade e começou a enlaçar as costas do Kirkland com as mãos. Por segundos tranqüilos, eles ficaram naquela posição confortável em silêncio. Próximos o bastante para uma abundância de contatos, porém suficientemente distantes para observarem seus rostos com cuidado. Após reunir alguma coragem, Alfred foi o primeiro a interromper aquela pausa:

– Eu gostaria que nós pudéssemos entrar neles mais vezes. – ele murmurou brandamente, encostando as suas testas com o rosto e a garganta contraídos com uma emoção incerta.

Arthur conhecia o medo e a esperança expressos naquele comentário que poderia ser igualmente classificado de “desejo”, “meta” ou “sonho”. Aquele era somente o começo. Eles possuíam muito a trabalhar e não tinham garantias de que poderiam se resolver. Gostar um do outro não significava que eles sabiam como lidar um com o outro. Estabilizar o relacionamento entre indivíduos que literalmente eram de mundos diferentes seria um processo longo, complicado e lento. No entanto, estranhamente... Céus. Como Arthur estava ansioso para que aquele processo horrível começasse.

Com um sorriso que fez os cantos de sua boca doerem e a sua visão ficar quase embaçada, ele pôs as mãos nas laterais da face do rapaz que ele adorava, com o coração decidido quanto a um único ponto.

– Vamos tentar. – a sua resposta veio como um sopro de ar, apagando-se por completo quando ele se inclinou e os lábios dele encostaram timidamente, tentativamente nos de Alfred, sendo retribuídos com um entusiasmo suave, confiante e paciente.

O resto da noite não foi mais silencioso ou intenso do que as suas primeiras partes. Ele foi, no entanto, mais lento, delicioso e quente. Essa foi a primeira vez em que eles entraram em um acordo e quando olharam para o teto embasbacados, suados, sem fôlego e ainda trêmulos ao fim das transações, ambos concordaram que os resultados dos acordos deles podiam ser simplesmente brilhantes.

Arthur não havia decidido se deveria acertar o Francis com uma cadeira ou considerá-lo como um possível padrinho de casamento. Como as alternativas não se excluíam, ele eventualmente seguiu as duas.

Assim, cedendo em alguns pontos, combinando idéias em outros e compensando grandes sucessões com promessas sexuais e encontros românticos meticulosamente arquitetados, Arthur e Alfred levaram o seu relacionamento e projeto adiante. Sempre planejando, mas também sempre deixando que os dois se desenvolvessem com espontaneidade e criatividade. Vida e cor.


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Notas finais do capítulo

Essa foi a fanfiction que me fez perceber que eu sou uma espécie de rei Midas do fluffy. Eu toco em uma fanfiction e ela vira um fluffy. Mesmo que eu não queira.
Os meus planos originais para essa estória eram os de torná-la uma leitura descontraída e sexy porque eu tenho uma coisa por romances de escritório carregados de rivalidade e UST e lamento sinceramente que eles não sejam mais populares no fandom brasileiro. Eu pretendia dar um final e um desfecho mais casual a essa estória, mas a minha veia romântica atacou inesperadamente. Minhas sinceras desculpas. Se vocês estranharam a minha escassez de longas reflexões sentimentais, saibam que eles nem deveriam estar ali para começo de conversa. Muitas coisas foram se alterando ao longo do percurso por conta da minha incapacidade de deixar uma estória totalmente sem fluffy. Por exemplo, o meu plano original era o de fazer com que a cena em que o Arthur empurra o interruptor fosse provocada por um descontrole provocado pelo prazer, pois as preliminares deles deveriam ser o ápice da sensualidade dessa fic. Em vez disso, eu fiz uma cena de preliminares super-cômica do início ao fim. Como isso aconteceu?

Ah. Um detalhe interessante: o título dessa fic se refere não somente às diferenças gritantes entre as personalidades e histórias do Arthur e do Alfred(dois mundos). A rotação é o movimento que um planeta faz em torno de si mesmo e essa é a ideia fundamental para definir os personagens dessa fic. Eles dois agem muito de acordo com os próprios interesses e concentram-se demais em si mesmos para perceberem os sentimentos do outro, o que os torna um pouco egoístas até a concessão deles no final da fic. O Arthur quis seduzir o Alfred por conta da carreira dele, esse é o caso mais óbvio de egoísmo, mas, por outro lado, não foi exatamente nobre da parte do senhor Jones, aproveitar-se do fato que o Arthur estava querendo seduzi-lo por querer garantir o andamento do projeto dos seus sonhos, para conseguir suprir a carência afetiva dele com contatos físicos.

Os dois foram um pouco egoístas e, no entanto, se vocês pensarem bem, não foi um egoísmo absurdo. Eles tinham boas razões. O Arthur amava intensamente o seu projeto e queria protegê-lo. O Alfred gostava do Arthur desde o início do projeto e achava que não teria nenhuma chance de ter qualquer envolvimento com ele, caso não se aproveitasse daquela chance. Eles apanharam a oportunidade que tiveram, porém estavam igualmente errados.

"Mas o amor é mais importante!", podem pensar os que defenderem que o Alfred tinha mais razão do que o Arthur. Novamente, pensem bem. O Arthur desistiu de dormir com o Alfred, contudo a vontade do último era a de que eles continuassem até o fim. Mas o Alfred sabia que o Arthur queria usá-lo para garantir o andamento do projeto. Vocês acham que ele deixaria que o Arthur conseguisse o que queria? Não, não. Ou seja, ele dormiria com o Arthur e depois diria “Sinto muito, cara, mas eu já sabia de tudo desde o começo e não vou mudar meus planos por causa disso”. Considerando-se que ele não sabia que o Arthur gostava dele, mas sabia que o Arthur era completamente apaixonado pelo projeto, a sua expectativa de proceder assim é ainda mais egoísta. Ele era um jovem impulsivo e ligeiramente imaturo, com sentimentos arrebatados. Naturalmente, as suas decisões nem sempre são corretas.

Os dois eram um pouco cretinos. Quem não é?

Eu gostei de criar esses personagens ligeiramente egoístas e cientes de que, a despeito do quanto eles gostam um do outro, a relação deles será problemática por um bom tempo. Pessoas não precisam ser cem por cento nobres e o amor não precisa resolver tudo. A ética é relativa e pode ser muito embaçada em certas ocasiões. Todos os seres humanos são um pouco egoístas e podem ser um pouco egocêntricos, o que não nos torna vilões e não nos impede de lutarmos para reverter os efeitos de nossas más decisões.

“O título se refere a tudo isso”? Sim. Essa foi a reflexão implícita no conteúdo da fic.

Em relação ao texto em si, existem certas partes que poderiam ter soado melhor. Partes que eu gostaria de ter organizado melhor. No entanto, diferente das minhas fics habituais que são revisadas por quase um mês, eu tive apenas alguns dias para revisar essa, tendo em conta que ela fazia parte de um evento com um prazo específico. Eu acabei “Contato e distância” miraculosamente cedo, então não tive o problema de lidar com uma revisão apressada. Sendo franca, eu tive praticamente um mês somente para revisar “Contato e distância”. Pensando nisso, por favor, não se concentrem muito nas partes que poderiam ter sido organizadas de outra forma. Eu estou ciente de que elas poderiam ser aperfeiçoadas, mas as condições não foram favoráveis dessa vez. Eu acho que essa fic possui vários pontos interessantes e lamento um pouco a minha falta de oportunidade de lapidar mais o texto. Um pouco de incentivo dos meus leitores seria muito bom para estimular a minha motivação.

Por fim, esse é um universo alternativo EXTREMAMENTE elaborado que eu tenho em mente. Um universo alternativo em que os humanos começaram a se distribuir naturalmente por regiões habitáveis, e cada uma delas desenvolveu uma cultura específica. Eu pretendo fazer um post mais detalhado explicando esse universo alternativo, mas esses são os pontos principais dele:

— As três Regiões Habitáveis principais são: a Terra, a Lua e Marte.

— A Terra possui a menor quantidade de pessoas, pois ela é uma região de preservação ambiental e cultural, então há restrições enormes para aqueles que desejam mudar-se para ela. Além disso, os moradores precisam obedecer a VÁRIAS leis bem específicas em relação ao seu modo de vida para que as suas ações não afetem a natureza. Eles recebem uma educação extensão sobre as artes tradicionais da Terra Antiga e buscam preservá-la. O que explica porque o Arthur conhecia a referência a “Romeu e Julieta”.

— A Lua tem um visual moderno, urbano no estilo simple and clean. Ela é o centro do desenvolvimento tecnológico da galáxia. Os seus moradores dividem-se entre “Esses prédios são tão tristes. Eu queria ir para a Terra, o planeta-mãe.” e “Esse é o melhor lugar do universo!”. As roupas deles são feitas de um material elástico extremamente resistente que se aderem ao corpo. O capacete deles faz parte da roupa, como se ele fosse um capuz, pois o seu vidro pode se dividir ao meio, permitindo ao capacete ser facilmente retirado a depender do ambiente em que você se encontra.

Você pode abrir o vidro do seu capacete dentro de veículos, pois eles se fecham automaticamente quando o veículo cogita em abrir. No entanto, o capacete em si e o resto da roupa só podem ser retirados dentro de espaços fechados – prédios, casas. A lógica disso é muito simples. Fechar o vidro de um capacete demora dois segundos. Colocar uma roupa demora muito mais. Em caso de um acidente de carro, seria mais fácil escapar do efeito de um contato com o vácuo com o capacete fechando na hora do que tendo que recolocar a sua roupa.
A Lua possui vários mecanismos automáticos para proteger os seus habitantes de acidentes envolvendo a gravidade, o vácuo e etc. O mais notório deles decorre do fato de que muitas pessoas tiram o seu capacete dentro de uma residência, e se esquecem de recolocá-lo quando vão sair. Isso resulta no portão se bloqueando automaticamente e uma sirene lembrando em um volume excessivamente alto que a sua roupa não está seguindo os padrões de segurança. É constrangedor.

— Marte possui uma sociedade subterrânea extremamente lotada. Você encontra de tudo em Marte. TUDO.

Bom, eu acho que isso é tudo, meninos e meninas! Muito obrigada por lerem esta fic! Por favor, continuem a acompanhar, apreciar e comentar as one-shots dessa coletânea! Bai, bai!:3

PS: Eu deixei essa one-shot aqui porque: 01. Ela se encaixa na proposta da coletânea. 02. Eu não encontrei uma capa que combinasse com ela devido aos meus headcanons para as roupas da Lua. 03. Eu quero deixar as minhas fics de R16 e R18 agrupadas por uma questão de segurança.