Bubbles And Leaves escrita por Mayumi Sato


Capítulo 1
01. Tique-Taque, Tique-Taque.


Notas iniciais do capítulo

"Ignorando completamente o maremoto que ocorria dentro do artesão, Alfred exibia um humor nitidamente contente.

— Não é um engano seu, Artie. - ele declarou, sorrindo - Eu tenho meus princípios contra qualquer tipo de spoilers, incluindo os seus spoilers-masters-socialmente-embaraçosos.

Diante do silêncio completamente confuso de Arthur, ele deu de ombros tranquilamente ao acrescentar:

— Eu só estou querendo testar uma teoria.

— Uma teoria, huh?"



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Cenário: Uma loja de relógios antiga em um bairro comercial. Um universo alternativo que se passa nos dias atuais em um mundo no qual mágica e tecnologia convivem.

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01. Tique-Taque, Tique-Taque





A loja da família Kirkland estava na plena juventude de sua segunda geração, contudo não podia ser facilmente subestimada. As suas técnicas para a produção de relógios mágicos eram mais aperfeiçoadas do que as de sua concorrência, pois o senhor Kirkland havia sido um mago poderoso e a senhora Kirkland, uma artesã talentosa, posições que o conferiram especialidade em todos os ramos necessários para que eles criassem os melhores relógios encantados em muitas décadas.






Arthur, um pessimista senhor de 26 anos, era o atual responsável em continuar o legado de seus pais. Ele não via problemas nisso. Sendo honesto, ele gostava da arte de criar belos instrumentos mágicos capazes de medir não somente o tempo, mas a previsão de quando determinados eventos aconteceriam na vida de uma pessoa. Era uma ideia bastante poética, ele conseguia reconhecer. Além disso, ela exigia tal grau de conhecimento de seu artesão que o herdeiro dos Kirkland não podia deixar de sentir uma onda quente de prazer envolvendo seu ego quando ele completava um trabalho.



Entretanto, o próprio Arthur Kirkland jamais usaria um de seus relógios em seu pulso.

Os relógios encantados, como era de conhecimento geral, tinham um despertador o qual teoricamente deveria tocar apenas uma vez. Quando um acontecimento X ocorresse na vida de uma pessoa, ele deveria tocar. Hoje, com os avanços nas técnicas de produção, era possível escolher uma vastidão de opções para qual seria o acontecimento previsto ou qual seria o som do alarme. Algumas pessoas escolhiam músicas horrendas para momentos emocionantes como “Encontrar o meu amor verdadeiro” ou “Conhecer o melhor amigo que já terei” e Arthur não podia evitar repúdio e um contrair dos cantos da boca imediato, uma vez que ele era um romântico por trás de suas dezenas de camadas de cinismo.

Justamente por ser uma mescla entre um romântico e um cínico, Arthur Kirkland não gostaria de usar um de seus relógios. Ele tinha medo de vê-los envelhecer silenciosamente em seu pulso. Um relógio era feito para tocar algum dia. Feito para repentinamente surpreender seu dono com o som que ele escolheu há alguns anos e com a descoberta de que um acontecimento importante acabara de ocorrer em sua vida. Não havia nada mais triste do que um relógio eternamente silencioso, sendo este o cinzento destino esperado por qualquer relógio usado por ele. Pelo menos, em sua racional opinião.

Desde criança, Arthur nunca vivenciou grandes emoções ou aventuras. A sua rotina era muito bem padronizada. Sua personalidade era cansativa para os demais. Ele não fez amigos, conquistas significativas e não conseguiu um único namorado em seus 26 anos de existência. Logo, seria patético usar um relógio guardando esperanças como “Quando eu conhecer meu primeiro amor!” ou algo similar, tendo em conta que Arthur era um daqueles raros indivíduos irremediavelmente destinados a solidão. Ele não queria ter que criar ou usar um objeto fadado a marcar a inércia do seu destino. Seria simplesmente deprimente.


A ausência do uso de um relógio por parte de Arthur era excessivamente compensada pela quantidade anormal de relógios comprados por um de seus clientes: Alfred F. Jones. Alfred era um jovem universitário de dezenove anos com uma personalidade vibrante que veio pela primeira vez a sua loja há quatro anos e não deixara de voltar corriqueiramente desde então. Ele sorria demais, falava demais, era implicante, convencido, precipitado, ingênuo. Arthur o conhecia muito bem graças à freqüência das visitas daquele barulhento cliente estrangeiro. Conhecia o suficiente para saber o quanto Alfred era cativantemente estúpido e estupidamente cativante. Aquele garoto lhe dava nos nervos, mas, céus, ele não queria que ele se esgotasse tão cedo de sua mania estranha de comprar relógios quase semanalmente.



Alfred era um caso bem peculiar na freguesia habitual dos negócios dos Kirkland. Como um jovem atraente, inteligente, persuasivo e enérgico, ele raramente tinha dificuldades em alcançar seus objetivos práticos por mais que eles parecessem um tanto ridículos à vista de um observador comum. Escalar uma montanha, beijar uma celebridade ou fazer cinco novas amizades eram coisas que ele conseguia em aproximadamente um mês. Para piorar(?), as metas dele não eram sempre tão radicais. Tinha vezes em que ele precisava de um relógio por semana porque “Você acredita? A minha mãe preparou aquelas panquecas que eu sempre quis experimentar exatamente nessa semana! Que coincidência, não é? Eu vou precisar de um novo relógio, Artie. Há, há, há! Você precisava ter visto o momento em que ele começou a tocar ‘Celebration Time’ enquanto ela tirava as panquecas da frigideira!”.


Enfim... Havia um enorme contraste entre Alfred e Arthur o qual era refletido pela forma como eles percebiam os relógios mágicos. Arthur os estimava tanto, tinha tamanho respeito pelo seu sentido, que não suportaria vê-los constatando o vazio da passagem de seus dias. Alfred era tão casual quanto a eles que parecia antes utilizá-lo como uma trilha sonora da sua vida do que como um instrumento para descobrir como momentos aparentemente casuais podem ser decisivos para as linhas do futuro.

A única coisa que Alfred costumava evitar eram as maiores e mais buscadas informações pedidas aos relógios. Ele nunca solicitou um relógio de “Encontrar o amor da minha vida”, “Conhecer o meu próximo namorado” ou similares. Seu argumento era o de que “Certas coisas são mais empolgantes com um elemento de mistério!” ou “Um herói deve saber por conta própria quando encontrou sua Louis Lane!”. Arthur não considerava o seu raciocínio prático, mas ele não contestou essa decisão, preferindo manter-se em silêncio quanto a esses comentários. Ele não queria ter que fazer uma quantia ainda maior de relógios para Alfred e tinha a terrível certeza de que seria deveras amargo vê-lo atravessar um dia a porta de seu estabelecimento e exclamar em uma voz alegre que o relógio dele tocara quando ele encontrou uma maravilhosa garota Y.

Sigh.

Amargo, porém inevitável. Assim como havia pessoas como Arthur que não podiam escapar da solidão, havia pessoas que não conseguiam manter-se perto dela. Alfred F. Jones era tão carismático, charmoso e divertido... Aquele idiota não precisava de um bendito relógio para descobrir seu grande amor.

No entanto, surpreendentemente, em uma agradável tarde de outono que aparentava ser tão comum, Alfred de supetão entrou na loja e fez um pedido que Arthur não estava torcendo para ouvir.

– Como?

– Há, há! A idade está começando a prejudicar a sua audição, Artie? Nesse caso, eu irei repetir! – depois de cessar o seu rápido riso petulante, Alfred manteve um sorriso suave, pôs as mãos nos quadris e ergueu seu rosto mostrando um olhar límpido e resoluto. - Eu quero um relógio para saber quando eu conhecerei a pessoa com quem irei me casar.

Onde? Quando? Por quê?

O que acontecera? Arthur não estava psicologicamente preparado para um acontecimento assim em uma tarde tão amena! Respiração. Respiração. Respiração. Ele tinha que entender o que estava ocorrendo. Ele tinha que se acalmar. Ele tinha que aparentar estar calmo.

– Eu pensei que você possuía alguma teoria ingênua sobre como eventos emocionantes não devem ser anunciados antes do tempo? – perguntou Arthur com forjada casualidade. Ele começou a remexer aleatoriamente em seus instrumentos para dar a impressão de que sua mente estava ocupada demais para concentrar-se no que Alfred dizia, entretanto sentiu-se um idiota ao perceber o quanto as suas mãos tremiam.

Ignorando completamente o maremoto que ocorria dentro do artesão, Alfred exibia um humor nitidamente contente.

– Não é um engano seu, Artie. – ele declarou, sorrindo - Eu tenho meus princípios contra qualquer tipo de spoilers, incluindo os seus spoilers-masters-socialmente-embaraçosos.

Diante do silêncio completamente confuso de Arthur, ele deu de ombros tranquilamente ao acrescentar:

– Eu só estou querendo testar uma teoria.

– Uma teoria, huh?

Arthur sabia como funcionavam essas teorias. Ele já tinha visto muitos casos como esse nos seus anos de trabalho em seu estabelecimento. Clientes que conheciam um cara ou uma garota incrível e compatível com eles e corriam para terem uma confirmação de que um relacionamento poderia ser desenvolvido entre os dois. Bastava um encontro com uma pessoa interessante e mesmo o mais cético dos seus clientes tornava-se um tolo melodramático debruçado sobre relógios com perguntas amorosas.

– Ah! Eu trouxe a minha micro-esfera com a música que eu escolhi! – exclamou Alfred retirando uma pequena esfera de cor metálica de um dos bolsos de sua calça e a exibindo com orgulho sobre a palma de sua mão para o relojoeiro. Em seguida, ele misteriosamente sentiu-se compelido a explicar com um sorriso mais contido acompanhado por um brilho incomum em seus olhos - Para facilitar o seu trabalho, é claro.

Arthur apanhou a micro-esfera com as duas mãos, aproximou-a de seu rosto e deu um suspiro ao ver o que estava escrito nela. Ele deveria ter previsto. Era a música que tocaria quando Alfred encontrasse a pessoa com quem ele iria se casar, mas ele teve que escolher um pop irritantemente agudo e repetitivo cantado por aquela cantora e apresentadora sul-coreana bizarra que brincava de agarrar os peitos da sua audiência. A letra da música, aliás, tinha um tema parecido com essa atividade de sua compositora.

...Arthur Kirkland não sabia se deveria invejar ou ter pena do rapaz ou senhorita cuja presença faria o relógio tocar.

Muito bem. Ele precisava se conter. Não era o momento certo para comparações com o futuro ou futura senhora Jones. Ele estava trabalhando. Seu foco deveria ser nisso. Sempre havia a noite para lamentações acompanhadas por bebidas.

– A esfera parece estar em ordem. – ele disse, verificando a superfície do objeto metálico em busca de arranhões discretos – Você gostaria de escolher um modelo pronto ou de fazer uma encomenda especial?

– Um modelo pronto, por favor. Eu estou um tanto apressado. – Alfred sorriu amplamente, movendo-se para cima e para baixo inquietamente como se estivesse prestes a pular - Sem contar que uma encomenda especial não serviria para nada. – ele informou em uma voz mais baixa.

Arthur ergueu uma sobrancelha. Bom, aquilo era estranho. Não que aquela situação não fosse suficientemente estranha, mas aquela observação foi mais peculiar do que as outras. “Uma encomenda especial não serviria para nada”? Por que ele pensava isso? Modelos previamente produzidos e encomendas tinham a mesma função, a diferença estava somente nos detalhes do design. Ademais, encomendas eram mais compatíveis com as preferências de seus fregueses porque eram eles que escolhiam a grande maioria dos detalhes sobre a aparência do relógio. Em anos de trabalho, o herdeiro dos Kirkland ouvira as encomendas sendo chamadas de caras – “Você deveria ter pensado no preço antes de requisitar um relógio coberto com pedras preciosas, seu imbecil!”- ou demoradas – “Você acha que eu posso reproduzir uma miniatura do ‘Nascimento de Vênus’ no interior do seu relógio em cinco segundos?! Cinco segundos nem foi o tempo que levou para o sêmen de Urano cair no mar!” – contudo jamais escutara um freguês chamá-las de desnecessárias. Não havia nenhuma vantagem nos modelos previamente preparados em relação às encomendas. O raciocínio de Alfred era indecifrável.

– Eu não compreendo o seu ponto, mas quem sou eu para discutir com um freguês que está facilitando o meu trabalho. – bufou Arthur, revirando os olhos e fazendo um gesto para chamar Alfred para um dos diversos armários de vidro espalhados nas paredes do estabelecimento que continham os modelos previamente produzidos – Pelo bem do seu futuro marido ou futura esposa, eu espero que a sua escolha de modelo seja mais sensata do que a sua escolha de música.

– Ei! Essa música é excelente e você sabe disso! – Alfred riu ligeiramente implicante. O seu punho fez a menção de encostar no ombro da pessoa ao seu lado enquanto ele a acompanhava. Entretanto ele não concretizou o movimento. - Eu não vou aceitar objeções!

– Excelente para uma sessão de tortura com o propósito de obtenção de segredos militares, você quer dizer. – Arthur respondeu com sarcasmo e azedume, contraindo os cantos da boca e seus olhos ao tentar concentrar-se em identificar os modelos que combinariam mais com seu cliente no meio da enorme diversidade de opções à sua frente. - Definitivamente ela é inadequada para um noivado. Ocasiões como essa pedem por um pouco mais de sentimento, graça e lirismo, seu idiota.

– Esse é o seu problema, Artie. – Alfred suspirou, agitando o rosto para os lados com um sorriso que poderia expressar deboche, pena ou uma mescla dos dois - Você leva tudo tão a sério. Por que eu preciso colocar uma música pomposa e romântica em uma ocasião como essa? – ele argumentou, gesticulando expansivamente com as mãos - Digo, é a pessoa com quem eu vou me casar! Eu posso me sentir um pouco mais confortável com ela, não acha? Seria tão esquisito e tenso se uma música açucarada começasse a tocar no momento em que eu descobrisse que iria me casar com ela. É muito “Days of our lives” para mim. Não combina comigo.

– E se combinar com a pobre vítima que você está cortejando? Existe a possibilidade de que ela fique ressentida com a sua péssima, péssima escolha musical e lamente a ausência de algo mais romântico nesse contexto.

Estranhamente, aquele alerta conseguiu chamar a atenção de Alfred.

– O quê? Você acha mesmo? – o garoto perguntou apreensivo com seus olhos azuis preenchidos por receio, seu corpo tentando camuflar um nervosismo muito aparente. - Se você ouvisse uma música assim, por exemplo, você ficaria ressentido ou enfurecido?

...

“Arthur Kirkland, você está com 26 anos. Não fique se iludindo com expectativas estúpidas. Não deixe o seu coração disparar como o de uma protagonista juvenil de novelas românticas por conta de algo tão ridículo. Controle-se, controle-se. Ele está fazendo essa pergunta por razões estatísticas. Um exemplo, como ele disse. Lembre-se: um exemplo, hipótese ridícula, 26 anos. 26 anos!”

– Provavelmente não. – Arthur, por fim, reconheceu - Todavia, não leve em conta o meu caso. Se eu descobrisse que me casaria com... – ele quase mordeu a própria língua - alguém, eu ficaria radiante demais para me importar com o que diabos estivesse tocando no relógio dele.

Assim que acabou de falar, ele pôde literalmente ver o alívio inundando o semblante de Alfred F. Jones. Ele viu como a sua face recobrou a cor, como o seu peito inflou, como seus ombros relaxaram, como os seus olhos recuperaram o brilho e como o seu sorriso retornou. Era como se ele estivesse observando a descrição perfeita do sentimento de alívio. Era um tanto exagerado que Alfred houvesse ficado satisfeito a esse ponto com essa resposta, porém como um homem que estava acostumado a lidar com diversos tipos de pessoas, o herdeiro dos Kirkland era capaz de compreender que existem aqueles que conseguem ser otimistas com qualquer grão de esperança que encontram. Alfred com certeza era um desses caras.

– Ah, ótimo. – ele falou em um tom tão extasiado que gerou um desconforto inevitável em Arthur, cujas maçãs do rosto esquentaram com discrição. Oh, droga. Aquele cretino realmente gostava do cavalheiro ou da dama que ele estava cortejando, não era? Bolas. Como Arthur estava distraído se maldizendo, ele nem percebeu a transformação maligna no sorriso de Alfred até que este lhe perguntasse com o deboche quase escorrendo em sua boca - Mas cá entre nós, Artie, você está tão desesperado assim?

Era um comentário legitimamente provocativo que iniciou um pequeno conflito, recebendo uma reação à altura quando Arthur perdeu sua paciência e gritou furiosamente linhas como “Você aprenderá o que é desespero quando o meu punho for de encontro ao seu rosto, seu pirralho intratável, inconveniente...!”.

A quantidade de ofensas poderia ter se prolongado por mais algumas horas se Alfred não tivesse o interrompido com uma alegre exclamação de “Esse é o relógio que eu quero!”, fazendo-o recordar-se de que tecnicamente ele estava vendendo um relógio. Para Alfred, ainda por cima.

Arthur dirigiu seu olhar para o quinto relógio na segunda fileira da terceira estante de cima para baixo. Ele deu um pequeno assobio. Assombrosamente, o seu cliente “eu-uso-relógios-como-copos-descartáveis-mas-me-considero-um-ambientalista” havia escolhido um modelo formidável dessa vez. Um Royal 120 nº14. Arthur levou em torno de seis meses para terminar aquele relógio. Ele era perfeito em cada aspecto. O interior do relógio era de um tom anil muito profundo e elegante, os ponteiros e números eram brancos e artisticamente trabalhados, cheios de detalhes cujo esforço necessário para que fossem criados quase matou seu criador de estafa. A sua corrente era de ouro 12K. Seu design e sua mágica eram impecáveis. Era um senhor relógio, não o tipo para ser comprado por adolescentes impulsivos como Alfred.

Se ele pretendia mesmo comprar aquele modelo, os sentimentos dele deveriam ser ainda mais sérios do que Arthur cogitara.

– Você pretende pagar esse relógio com o dinheiro que você deixou de gastar em hambúrgueres nesse mês? – o artesão perguntou com um riso sardônico e discretamente amargo. Oh, céus. Ele tinha que rir. Aquela cena era tão triste, patética, previsível... Completamente compatível com a sua vida, enfim.

– Há, há. Muito engraçado. – o riso de Alfred, por sua vez, foi forçado e notoriamente irritado, além de ter sido acompanhado por um revirar de olhos, sugerindo que ele de fato havia deixado de comer hambúrgueres para pagar parte do preço daquele relógio, uma circunstância que era simultaneamente hilária, adorável e deprimente. O que o amor não fazia com as pessoas, huh? - Eu posso experimentá-lo antes?- Alfred questionou, interpelando a nova sessão de melancolia de Arthur.

Agindo muito profissionalmente, o artesão fez um som de confirmação, apanhou o relógio delicadamente, oferecendo-o a Alfred apenas para ouvir...

– Não! Sem chances. Você tem que me ajudar a colocá-lo. Eu sou péssimo com esses adereços formais.

Honestamente. Que se ferrasse a vida dele, pensou Arthur enquanto punha o relógio no pulso de seu cliente, sentindo seu coração pulsar a contragosto com aquela quantidade mínima de contato.

– Pronto. – ele disse ao terminar, com o rosto muito aborrecido e vermelho, observando o chão compenetradamente - Não é como se eu quisesse ajudá-lo, mas eu tenho essa obrigação como dono desse estabelecimento e...

– Wow. – o som chamou a atenção de Arthur. Quando ele ergueu o rosto, deparou-se com Alfred maravilhado inspirando fundo, contemplando a sua imagem com o relógio no espelho de parede mais próximo - Ficou muito bom.

Havia ficado centenas de vezes melhor do que Arthur imaginara. Elegante, mas casual. Clássico, mas moderno. Ele se perguntava se alguém ficaria tão bem com aquele relógio quanto Alfred F. Jones ficara.

É claro, ele não poderia admitir a própria surpresa.

– É óbvio que ficou muito bom. – ele cruzou os braços sobre o peito e pôs um sorriso arrogante - Nós não somos conhecidos como os melhores à toa. A família Kirkland não conseguiu destruir os negócios dos Bonnefoy por ser extremamente simpática.

– Oh! Certamente não foi por causa disso. – um riso mordaz seguiu-se a esse comentário de natureza semelhante.

Uma discussão poderia ter começado a partir desse comentário se Arthur, observando o vibrante sorriso de seu freguês e a admiração com a qual ele mirava a própria figura usando o relógio, não estivesse começando a se recordar de que aquele seu trabalho no pulso de Alfred era destinado a outrem. Uma pessoa que mudara os princípios de Alfred, conseguindo agitar suas emoções e suas economias.

Alfred estava genuinamente feliz com o seu relógio porque ele era a representação da afeição que ele sentia por alguém. Para Arthur Kirkland, esse era um pensamento tão desanimador que tirou seu fôlego até para brigar com ele.

– Pois bem... – murmurou Arthur, retirando bruscamente o seu modelo do pulso do cliente, sem conseguir encará-lo - Confirme, por favor, se esse é o modelo que você deseja.

– É claro que sim! – Alfred sorriu novamente.

Afastando-se de seu freguês, Arthur encaminhou-se para a sua mesa de trabalho para colocar a micro-esfera dentro do relógio com os seus instrumentos de bronze e para atribuir-lhe uma função específica através da mágica do espaço-tempo-destino. Apesar do procedimento-padrão ser relativamente rápido, ele era um tanto delicado, então o artesão decidiu informar para evitar um acidente mágico por falta de concentração:














– Eu vou começar a fazer os ajustes. Calculo que demorarei cerca de vinte minutos. Saia para comprar um lanche se quiser.

O que era a sua maneira cavalheiresca de dizer: Por favor, saia, seu grande idiota e leve com você os seus estúpidos anseios amorosos, antes que você me faça destruir essa maldita loja. Eu estou mexendo com elementos instáveis aqui!.

– Não, não, obrigado. – o seu amável cliente dispensou o conselho de imediato - Eu posso esperar.

Arghhhh.


O que estava acontecendo com Alfred naquele dia?! O comportamento dele era inexplicável. Certo, o amor muda as pessoas, mas Arthur não sabia que ele podia torná-las suspeitas! Ele estava agindo tão estranhamente. Não era somente a sua visível ansiedade em receber o relógio o mais breve possível que deixava Arthur desconfiado. Esse fato, na verdade, seria simples de explicar dentro do senso comum. Apaixonados eram seres irrequietos. No entanto, combinada com a maneira estranha com a qual o seu cliente comentara sobre como ele havia trazido a própria esfera para ajudá-lo ou como ele dissera que encomendas não serviriam de nada, a sua pressa também parecia ter um quê de incomum.

De qualquer modo, sem conseguir criar uma desculpa para dispensá-lo, Arthur Kirkland deu de ombros, retornando aborrecidamente para o seu trabalho. Embora houvesse uma cadeira ao seu lado na qual seu cliente poderia se sentar, Alfred permaneceu em pé, balançando seu corpo para frente e para trás em um ritmo agitado. Os seus olhos brilhavam com intensidade durante a sua observação dos movimentos do artesão... Mesmo sentindo certo rancor da pessoa que cativara o seu inquieto visitante semanal, Arthur não podia deixar de sentir uma ponta de curiosidade em saber quem conseguira produzir tal efeito sobre ele.

Passados trinta angustiantes minutos de ajuste nos quais o relógio foi preparado para tocar quando Alfred encontrasse o indivíduo com quem se casaria e para receber uma micro-esfera, o grande final chegou.

Era o momento de inserir a micro-esfera no relógio.

– Você está certo de que deseja essa música, não é? Uma vez que eu coloque a esfera, não é possível modificar o despertador.

Arthur inegavelmente estava querendo ganhar tempo. Alfred Jones era um impulsivo. Talvez uma questão desse o tempo necessário para que ele desistisse daquela ideia. Ele tinha que confirmar se Alfred realmente queria aquilo. “Aquilo” não era somente a música...

Alfred arregalou ligeiramente os olhos, estranhando o fim do longo silêncio entre eles, assim como uma pessoa estranhando o despertar de um sonho.

– Você nunca me perguntou se eu gostaria de mudar a música! – ele noticiou.

Possivelmente era porque a música dos outros relógios não importava! Os outros relógios não importavam! Quão lerdo um único indivíduo podia ser?!

– Os seus relógios anteriores não tinham o mesmo grau de importância. – Arthur respondeu gravemente.

– O que há com essa voz solene, Artie? – Alfred ergueu uma sobrancelha - Eu já disse que é apenas um experimento. Tente relaxar, ok? Eu quero ficar com essa música.

“Uma pessoa não fica esperando em pé com os olhos brilhando de ansiedade por um experimento, seu idiota.”

Dando o suspiro mais fundo daquela tarde, o artesão reposicionou sua mão direita na pinça, parcialmente disposto a encerrar de vez aquela cena deprimente. Ele não estava conseguindo quaisquer benefícios emocionais em prolongá-la.

– Nesse caso, eu irei colocar a...

– Espere!

– Huh?

Os olhos de Arthur arregalaram-se diante daquele imperativo tão enérgico e repentino. A expressão de Alfred havia mudado subitamente. O seu olhar estava sério, ardente, penetrante. Era um rosto desconhecido para Arthur até então. Ele não sabia que aquele garoto poderia transmitir seriedade ou como ele ficava tentador ao fazê-lo.

– Eu quero fazer uma pergunta antes.

Provavelmente não seria um “Você quer casar comigo?”, todavia interrupções eram bem-vindas naquele contexto.

– Sim?

O ardor de Alfred esmoreceu tão subitamente quanto surgiu. Em poucos segundos, ele tornou-se tímido e hesitante, esfregando a parte de trás de seu pescoço com uma das mãos e mantendo seu olhar abaixado.

– Er...Os seus relógios são inteiramente à prova de falhas?

Ótimo, Alfred F. Jones teve que interrompê-lo dramaticamente, quase provocando um ataque cardíaco nele, somente para fazer uma pergunta com uma resposta óbvia.

– É evidente que sim. – Arthur franziu suas sobrancelhas - Nós, os Kirkland, temos orgulho dos nossos feitos. O meu tataravô fazia relógios quando eles ainda eram feitos de...

– Waaa! Você sabe que eu adoro as suas reminiscências, seu velho nostálgico! – Alfred falou em um tom afetuoso, sorrindo genuinamente, o que deixou Arthur confuso se deveria receber aquela afirmação com alegria ou ofensa. Antes que ele decidisse, Alfred complementou com uma expressão que tinha a decência de exprimir algum desconforto. - Mas eu estou um pouco apressado, entende!

– Humpf. Os seus modos são tão terríveis quanto a sua impaciência.

E eles retornaram ao grandioso instante final.

Quando poucos milímetros separavam a micro-esfera de Alfred de seu destino, Arthur foi acometido pela estranha sensação de que o tempo tornara-se lento e pastoso. Cada segundo era sentido como uma hora, cada movimento seu parecia pesado para o seu corpo. Era como se toda a sua loja estivesse em câmera lenta.

Ele não percebeu que não estava respirando até soltar o fôlego ao encaixar completamente a micro-esfera no relógio.

Essa expiração sua antecedeu um acontecimento inesperado que se seguiu imediatamente a ela.

O relógio começou a tocar

Em um volume tão alto que causava a impressão de que poderia partir as vitrines da loja e seus armários, repetia-se a voz aguda da cantora sul-coreana dizendo em um inglês de sotaque curioso sentenças como “Peito! Peito! Peito! Deixe-me pegar seu peito agooora!”.

Aquilo era vergonhoso em tantos aspectos. Como se não bastasse que o produto dele estivesse apresentando problemas, toda a vizinhança estava ouvindo aquela música perturbadora vir do seu estabelecimento!

– Espere um pouco. Eu vou verificar qual foi o problema. Falhas assim ocorrem esporadicamente.

Alfred, o desgraçado, estava explodindo de rir da situação. Ele ria tanto que não conseguiu falar com Arthur e acabou respondendo com um sinal afirmativo com o seu polegar.

Não era possível retirar a micro-esfera, uma vez que ela tivesse sido inserida, contudo havia métodos para corrigir sua posição, caso ela tivesse sido inserida incorretamente – a justificativa de Arthur para aquela ocorrência. Desvantagem? A música continuava a tocar até que ela fosse completamente reajustada.

Arthur Kirkland, em sua existência tranquila, nunca vivenciara minutos infernais como aqueles. Ele estava fazendo ajustes delicados e trabalhosos, ouvindo Alfred morrer de rir, uma voz aguda como a ponta de uma lâmina repetindo incessantemente “Peito! Peito! Peito! Você sabe que eu gosto de um peito definido!” e sofrendo uma pressão psicológica terrível porque a sua experiência profissional ainda não conferira capacidade de enxergar qual era o problema daquele relógio especificamente. Por mais que ele tentasse reposicionar a micro-esfera, ela sempre dava uma volta novamente e continuava tocando.

Em algum ponto entre a pausa de dois “Peito! Peito! Peito!” da cantora, ele perdeu inteiramente as poucas gotas de paciência que lhe restavam.

– Que diabos! – ele exclamou, arremessando o relógio no chão com violência.

O objeto enfim quietou-se. Alfred começou a se acalmar um pouco, enxugando as lágrimas em seu rosto. Arthur respirou profundamente e tornou a se recompor. Ele depois se arrependeria de ter se descontrolado e estragado um relógio de ótima qualidade, mas o que importava era que aquela maldita música finalmente havia...

Peito! Peito! Peito! Deixe-me tocar seu peito agooora! Wooow, wooow!

...voltado! Ela apenas tinha reduzido o seu volume por um momento, porém já estava recobrando as forças!

Percebendo isso, Arthur murmurou um palavrão em um estado de perplexidade e indignação e Alfred quase caiu no chão de tanto rir.

– Eu sabia que essa micro-esfera era ótima! – Alfred gargalhou.

O artesão infelizmente não podia perceber os fatos com o mesmo humor.

Ignorando a música irritante, o riso interminável de Alfred, havia algo mais preocupante ali. Algo que ele notava mais claramente agora. A incapacidade de Arthur em ajeitar seu próprio relógio.

Era uma vergonha para ele, o herdeiro dos Kirkland, não conseguir reposicionar uma micro-esfera em modelo padrão. A sua concorrência o humilharia tanto se soubesse disso. Arthur não conseguiu ajeitar um relógio criado por ele! E o que era pior! Ele não fazia ideia de qual era o problema com aquele relógio!

– Alfred, eu peço desculpas. – ele murmurou, saindo de sua mesa cabisbaixo com uma voz desapontada - Eu nunca tive esse tipo de problema. Eu precisarei de tempo adicional para pesquisar sobre o assunto. Se você quiser, nós podemos tentar um relógio diferente e eu posso dar uma micro-esfera para você, então...

Sendo um insensível de categoria maior, Alfred riu cretinamente ao ver o tormento sofrido por Arthur Kirkland.

– Como eu disse várias vezes essa tarde, você se estressa demais, Artie. – ele repetiu com o canto de seus lábios sorridentes destilando o que aparentava ser um inexplicável sentimento de vitória, aproximando-se e colocando suas mãos sobre os ombros do Arthur tal qual um mestre transmitindo um conhecimento ao seu jovem aprendiz. Irritante. - Eu sei exatamente o que está acontecendo com esse relógio.

Arthur subiu uma sobrancelha, encarando Alfred com um ceticismo inesgotável.

– Oh, mesmo? Eu não sabia que você era um especialista em relógios, Jones.

– Eu não sou. É por isso que eu preciso fazer outra pergunta a você.

Para ser honesto, Arthur estava farto de perguntas sem sentido e esgotado daquela situação como um todo. Não fosse Alfred um cliente acima de tudo...

– O que é?- ele grunhiu exasperado, cobrindo rapidamente seus olhos com a mão direita.

Alfred ficou 1000% indiferente a essa demonstração de hostilidade.

– Segundo essa programação, o relógio deve tocar na frente da pessoa com quem eu irei me casar porque, dentre outros fatores, eu gosto ou gostarei dela e porque ela gosta ou gostará de mim, certo?

Outra pergunta com resposta óbvia. Ele deveria ter imaginado.

– Bem, não é como se você fosse seqüestrar uma noiva, portanto...

– Era tudo que eu precisava saber.

Arthur ia abrir a boca para perguntar o que significava aquele comentário quando a sentiu sendo selada com uma pressão macia e voraz. Ele demorou um pouco para registrar o que estava acontecendo e quando a sua realização finalmente veio, ela aumentou a níveis extraordinários o seu choque. Alfred F. Jones estava o beijando! Beijando! Beijando!!!

Tantas perguntas passaram por sua mente. Quando? Onde? Por quê? Elas foram rapidamente adiadas quando as mãos de Alfred desceram dos seus ombros até a sua cintura em movimentos sinuosos, provocando nele uma onda de prazer e desespero.

Os lábios de Alfred moviam-se contra os seus com uma lentidão torturante, mas os imprensavam com tamanha força que Arthur sentiu suas pernas bambearem diante daquela demonstração de urgência febril.

Ele começou a retribuir o beijo desajeitadamente, lamentando a sua inexperiência naquele campo. Qual era o ritmo em que ele deveria respirar?! Para onde as mãos dele deveriam ir?!

Sentindo a resposta de Arthur em sua boca, Alfred pareceu receber uma dose adicional de encorajamento porque imediatamente ele o puxou contra si e inclinou o rosto para o lado, permitindo-se que sua língua atravessasse a barreira dos lábios.

Oh.

Foi uma tempestade de sensações sem nenhuma ordem ou racionalidade. Sentir a língua quente de Alfred explorar sua boca sem modéstia, a força com a qual ele o segurava como se nunca fosse permitir que os dois se separassem, sentir a colônia dele invadir o seu corpo... A mente de Arthur foi apagada, mas o seu coração disparou incontrolavelmente.

Uma explosão de cores invisíveis aconteceu. De repente, ele percebeu, foi como se uma música silenciosa estivesse tocando. Uma música que vinha de dentro do próprio Arthur, abafando todos os outros sons. Era uma música desconhecida sem notas definidas cujos sons eram gloriosos e harmônicos, elevando-o como se reduzisse seu peso.

Era contraditório, até mesmo paradoxal, o ressoar de uma música silenciosa, todavia Arthur não achou incorreta sua conclusão. Se o amor havia sido descrito como uma dor que desatina sem doer, por que ele não poderia ser uma música silenciosa? Avaliando aquela sensação, Arthur conseguiu entender porque surgiu na humanidade a ideia da criação dos relógios mágicos. Para complementar o que não era alcançado pela limitada audição.

Infelizmente, mais cedo do que qualquer um dos dois gostaria, eles tiveram que separar suas bocas. Havia limites do quanto uma pessoa podia prender a própria respiração como Arthur estivera fazendo. Os pulmões dele começaram a arder.

A separação deu espaço para que Arthur recobrasse o fôlego. E a razão. Ele piscou uma, duas, três vezes sem que o rosto de Alfred se afastasse remotamente do seu ou que houvesse uma redução do seu sorriso. As mãos dele também não haviam sido retiradas de sua cintura. No lugar disso, elas começaram a traçar pequenos círculos nela, deixando Arthur inteiramente pasmo.

– Você ficou completamente louco?!

Alfred não parava de sorrir. A sua imagem era muito semelhante a de um cachorro abanando a cauda.

– Você me beijou. – Arthur murmurou ameaçadoramente, pondo a mão sobre a boca, atônito com o que ocorrera nos últimos minutos.

– Eu sei. – Alfred cantarolou alegremente.

– Você me beijou! – o artesão exclamou exaltado. Ele sentia uma mistura de vergonha e estupefação por ver Alfred tão calmo quanto ao que havia acontecido.

– Eu fico extremamente feliz que você queira anunciar isso para todos os cantos do mundo, Artie. – Jones, o idiota, riu suavemente. Ele parecia brilhar de tanto entusiasmo. Sem reduzir o seu sorriso, ele deu um longo suspiro de alívio ao admitir - Nossa, eu estive hesitante, mas você tinha razão. Os seus relógios não falham.

– H-Hã?

As peças começaram a se encaixar a mil no raciocínio de Arthur. O que Alfred estava implicando com aquela frase, qual era o significado daquele beijo, qual era o problema misterioso do relógio, porque ele estava se comportando estranhamente naquela tarde... A cada fragmento de informação que fazia sentido, Arthur levitava um centímetro por dentro, acometido pela melhor dor possível em seu peito. Era inacreditável, porém não havia outra resposta... Essa era a única explicação coerente. Céus.

– Eu detesto spoilers, no entanto, tinha que pensar em algum plano, sabe. – Alfred F. Jones explicou com satisfação, adivinhando o encaminhamento atual dos pensamentos de Arthur - As minhas economias estavam sendo completamente gastas com relógios dos quais eu nem precisava, o nosso relacionamento não avançava há meses... Se eu não tivesse uma confirmação, iria acabar enlouquecendo!

As sobrancelhas de Arthur subiram tanto que formaram semicírculos perfeitos.

– Quer dizer que você...?

– Mas eu não poderia deixar essa cena açucarada demais. – ele deu de ombros, revirando os olhos, mas ajeitando os óculos para que eles disfarçassem um corar discreto em seu rosto - E eu queria me divertir um pouco com você, não vou negar. No fim, eu obtive cenas produtivas e hilárias! Cara, as músicas da Yong Soo são as melhores para marcar momentos assim.

Essa última frase fez uma parte dos sentidos de Arthur retornar, proporcionando que ele tornasse a ouvir o refrão daquela música pop horrenda. Agora que ele pensava nisso, aquela havia sido a trilha sonora do seu primeiro beijo de verdade e da declaração de amor de maior relevância que ele recebera. Droga.

– Eu deveria matá-lo por informar algo tão importante com uma música dessas. – disseram em consenso o lado romântico e o lado aborrecido de Arthur Kirkland.

– Não seja amargo, Artie. – o seu futuro marido idiota colocou a mão em seu queixo com um ar brincalhão - Eu pensei que seria engraçado! É uma pena que eu mal tenha conseguido ouvir a música, quando nós estávamos... – novamente um corar sutil surgiu no rosto cada vez mais desconfortável de Alfred o qual engoliu em seco para conseguir complementar – juntos.

Aquela tímida reação tão sincera fez o coração de Arthur remexer-se bastante. Ele não era acostumado a receber emoções ternas como essa, desconhecendo como reagir a elas, de modo que ele queria dizer algo igualmente encantador a Alfred, entretanto não conseguia encontrar palavras.

– Er...Hum. Sei. Ah...Sobre isso...É...Entendo.

Não que ele não tivesse tentado.

Houve um instante de completo silêncio entre os dois – ou não tão completo, a senhorita Yong Soo ainda estava cantando – que precisou ser cessado por uma nova iniciativa de Alfred. Ele pigarreou, sugerindo com uma nova expressão alegre e recobrada casualidade:

– Ei. Tendo em conta que essa é uma agradável tarde de outono e nós provavelmente iremos nos casar, não seria bom irmos a um encontro? – ele inclinou seu rosto para o lado, aumentando propositalmente o seu charme adorável - Tem uma lanchonete ótima nesse bairro.

Era uma proposta simples e aberta. Pensando bem... Por que não deveria ser? Arthur entendeu que não eram necessárias delongas, silêncios repletos de tensão ou acúmulo de sentimentos secretos. Estava claro que ele e Alfred tinham uma afeição mútua cuja existência culminaria em união matrimonial futuramente. Pelo menos por enquanto, ele não precisava pensar demais sobre o futuro. Ele precisava sair com Alfred, falar com ele, tocá-lo. Que a sua razão e pessimismo fossem reservados para um instante menos feliz. Ele estava exultante por hora.

Evidentemente, o próprio Alfred não poderia ser abertamente informado sobre isso.

– B-Bem, eu não posso evitar. – o artesão respondeu, tentando disfarçar sua alegria com uma expressão vagamente resignada - Os meus relógios nunca erram, afinal.

Com uma risada que emitia algo muito além do que mera implicância, o seu acompanhante concordou:

– Eu estou convencido disso, Artie.

Os dois saíram da loja de relógios para andarem pelas ruas cobertas de folhas douradas, com os braços dados, corações aquecidos e toda a atmosfera emitindo as notas de um jazz. No chão do estabelecimento, o relógio ia se calando aos poucos como uma fome desesperada sendo gradativamente satisfeita.


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Notas finais do capítulo

Olá, queridos leitores! Muitíssimo obrigada por ler essa pequena estória construída com carinho por mim! Eu dou minhas boas vindas aos meus novos leitores e imploro aos antigos que não mencionem os meus antigos projetos em meus comentários! Embora tudo esteja sob controle, eu sinto peso na consciência quando vocês me perguntam sobre eles!-_-

Essa coletânea não terá uma quantidade definida ou uma regularidade de postagens. Ela apresentará estórias simples feitas especialmente para apresentar universos alternativos. Peço desculpas por isso, mas eu não estarei aceitando desafios ou sugestões porque eu já estou afundada neles nos meus outros projetos. Saibam, entretanto, que eu ficaria imensamente feliz se vocês explorassem os universos alternativos que apresentarei nessa coletânea!

Para uma estória que eu escrevi em três dias, com a intenção de fazer algo simples, eu gostei bastante dos resultados dessa e espero que vocês tenham gostado também!^-^

Esse universo alternativo que chamarei com pouca criatividade de "UA - Relógios" partiu de uma ideia da Iggycat-sama. Ela escreveu uma one-shot denominada 37 na qual as pessoas recebiam logo após seu nascimento um relógio que indicava quanto tempo elas demorariam para encontrar o amor de suas vidas. Quando elas finalmente o encontravam, o relógio caía de seus pulsos.

Eu adorei o conceito de "Um relógio que marca uma previsão" e decidi trabalhá-la de outro modo, gerando esse fluffy com uma união entre as minhas ideias e as ideias dessa autora fantástica.



Características do UA! - Relógios: Na minha versão desse universo alternativo, o mundo atual possui uma mistura equilibrada entre magia e ciência e esses relógios são um produto relativamente comum. Eles tocam somente uma vez e são precisos em seus acertos, mas podem causar algumas impressões enganosas se uma pessoa for se divorciar, o relógio dela tocará apenas para a primeira pessoa com quem ela se casar, a menos que seja especificado Quando eu conhecer meu segundo marido ou segunda esposa, por exemplo. Os relógios são de modelos comuns, no entanto eles possuem uma minúscula abertura circular onde se insere uma micro-esfera com a música que tocará no instante em que o relógio cumpre a sua função. A música eventualmente é cessada, contudo o seu volume e duração podem aumentar de acordo com a intensidade dos sentimentos da pessoa quanto ao evento que a causou. Usem esse universo alternativo como quiserem, com os casais que quiserem e sintam-se à vontade para fazer perguntas ou elaborar mais detalhes sobre ele.

Eu somente peço que, no caso de você utilizar a minha versão desse universo alternativo, você mencione a minha fanfiction. Seria muito positivo para mim, considerando-se que a influência da Iggycat não modifica o fato de que pus muito empenho em elaborar essa versão desse UA. ^^º


Muito obrigada por lerem essa estória! Por favor, continuem acompanhando, apreciando e comentando as fics dessa coletânea!

PS: Há um simbolismo na forma como eu usei os relógios, o sentido de despertador e a música.

PS2: Há uma certa influência de Camões também. Como eu poderia escapar? Eu adoro Camões e estou o estudando na minha cadeira de literatura portuguesa no momento ~

PS3: Aos meus leitores antigos, desculpem minha fase de isolamento. Eu tive alguns problemas pessoais bastante sérios que explicarei na próxima atualização dos meus outros projetos.