Eu e o Lucca ficamos deitados no sofá, com a Sasha nos meus pés e a minha mãe na cozinha. Isso era umas nove horas eu acho.

Estávamos assistindo televisão mesmo que não estivéssemos prestando muita atenção, quando a campainha soou de novo.

–Meu Deus, – eu disse – essa casa anda meio movimentada.

Levantei da cama e fui abrir a porta. Eu estaria preparada pra tudo, até pro meu pai eu acho. Mas não, não foi ele que apareceu na porta. Primeiro eu achei que fosse um cavalo, mas aí eu olhei bem e tinha um homem onde deveria sair uma cabeça de cavalo. Era um centauro.

O Lucca já tinha me falado que o “treinador” dele era um, mas ver um ao vivo em cores é bem mais complicado do que ficar imaginando ele.

Bem, era um cavalo branco com um corpo definido, tinha uma armadura no peito e um arco e flecha nas costas. Quando olhei seu resto, fiquei mais perplexa que tudo que eu havia tentado colocar na vida real antes.

–Profes... Professor Brunner? – disse gaguejando.

Ele sorriu pra mim tentando meio que se desculpar. Logo em seguido apareceu o Lucca do meu lado junto com a Sasha e a minha mãe.

–Quíron?! – disseram minha mãe e o Lucca juntos, porém com expressões diferentes. Minha mãe tinha a face emoldurada com respeito e falou com orgulho, desejando boas vindas. Já o Lucca estava com uma cara surpresa e o seu tom de voz refletia muito bem essa sua surpresa.

–Minha cara Luana, continua linda. – disse o centauro para a minha mãe. Olhei incrédula para ela enquanto ela sorria e assentia.

–Obrigada, Quíron. – respondeu ela em tom respeitoso.

–O que você está fazendo aqui? – perguntou o Lucca com o tom um pouco alterado.

–Vim buscar você. – o centauro respondeu com a voz firme.

–Mas eu não quero ir hoje, eu ia sozinho amanhã.

A postura do centauro endureceu, o rosto dele ficou duro e ele falou com a voz evidentemente controlada.

–Você não pode ir sozinho, você não pode chegar atrasado. Seu cheiro é forte de mais para você ficar por aí. Eu nem precisei perguntar por você, senti seu cheiro de longe!

Ok pode me chamar de idiota, mas eu fiz a primeira coisa que me veio na cabeça. Cheguei mais perto dele, segurei a manga da sua camisa e cheirei.

–Mas ele não fede... – disse.

Todo mundo começou a rir, até a Sasha deu uma engasgada do meu lado, que pareceu muito com uma risada.

–Não é esse tipo de cheiro, nobre donzela. – disse o centauro. Então ele me olhou com um olhar de professor. – Também vim aqui para te levar ao Acampamento.

–Quê? – eu e o Lucca perguntamos ao mesmo tempo.

–E com a sua permissão também, Luana. – o centauro falou para a minha mãe. – Podemos concordar que sua filha precisa de treinamento e agora mais que nunca.

Olhei pra minha mãe com cara de bunda. Cara, como assim? Ela sabe de mil coisas e não fala nada pra mim?

–Concordo com você, ainda mais agora, que esses dois estão juntos vai chamar muita atenção.

O centauro apenas acenou a cabeça em concordância e então se voltou a mim e ao Lucca.

–Crianças, vocês estão autorizadas a subir em meu dorso. – se dirigiu diretamente a mim. – Você pode pegar a bolsa que tem arrumada dentro do seu guarda-roupa agora, criança.

Algo dentro de mim acordou e eu simplesmente me virei e fui ao meu quarto pegar uma bolsa que eu nem sabia que existia, mas que tinha certeza absoluta onde ela se encontrava, o que tinha dentro e, principalmente, que estava na hora de usá-la.