Enquanto conversava com Julian, Andrew passou por nós.

– Então acho que é isso... - disse pra mim.

– Me desculpe, eu amo o Liam.

– Tudo bem. - virou as costas e saiu andando. Ele parecia bravo. Pelo jeito não gostava de perder, mas aquilo não era um jogo.

Julian segurou minha mão. Sua mão enrugada tremia e eu me perguntei como nunca havia parado tempo suficiente para conversar com ele.

– Acho que agora é a hora que você sai correndo e o procura. - riu. - Eu fecho seu apartamento pra você.

– Obrigada, Julian. - beijei seu rosto e saí correndo para a garagem no prédio.

Por sorte, as chaves do meu carro estavam no meu bolso e eu não precisei voltar no apartamento.

Dirigi correndo para seu apartamento e me lembrei do dia que estive lá para me despedir, mas dessa vez eu iria pedir que ficasse. E ficasse permanentemente. Comigo.

No carro, tocava The Storm e eu sentia uma adrenalina estranha misturada com medo. Medo de que ele não me aceitasse ou não me escutasse, mas eu tinha tanto o que dizer pra ele que eu tentava não me importar com mais nada. Só Liam importava naquele momento.

Finalmente cheguei no seu prédio. Estacionei na vaga de cadeirante e saí correndo. Parei na frente do enorme porteiro. Ele tinha barba comprida e me encarava.

– Preciso de sua ajuda.

– Está tudo bem, moça?

– Sim. - estava novamente ofegante. - Só preciso de uma informação.

Fez sinal para que eu falasse.

– Liam... Liam Marsh. Ele subiu?

Pareceu pensar um pouco.

– Não. Ele viajou a alguns dias e não voltou ainda.

Coloquei as mãos no balcão e abaixei a cabeça enquanto recuperava o fôlego.

– Não acredito. - sussurrei.

– Tem certeza que está bem?

Fiz que sim com a cabeça.

– Olha, posso avisar que esteve aqui, é só me dizer seu nome.

– Sally Curtis e sim, gostaria.

Sorriu pra mim. Agradeci e saí do prédio.

*

Entrei no carro e dirigi sem rumo. Last Night On Earth havia começado a tocar e as lágrimas saiam quase sem querer.

– If I lose everything in the fire, I'm sending all my love to you. - cantei junto da música, tentando impedir meu choro.

Passava por muitas pessoas na rua. Haviam crianças, cachorros, casais e adultos apressados. A vida por um momento pareceu ser tão simples que eu me perguntei porque eu estava chorando, mas aí lembrei que seria mais simples se Liam estivesse do meu lado e naquele momento eu não sabia nem mesmo onde ele estava ou o que estava fazendo.

Pensei na mulher que havia atendido o telefone naquele dia e vi que por mais que eu tivesse sentido raiva, não importava. O fato era que a atitude de Liam naquela manhã havia feito com eu pensasse que ele realmente se importava comigo.

Dirigi tanto pela cidade que mal notei quando cheguei perto do litoral. Era sábado, então muitas pessoas estavam na praia naquela manhã, principalmente casais aproveitando o dia dos namorados. Parei o carro em um vaga que possibilitava uma boa visão. O sol batia na minha pele fazendo com que ardesse.

– O que eu deveria fazer? - me perguntei enquanto apoiava a cabeça no volante.

Foi aí que me veio a imagem do lugar em que Liam havia me levado pouco antes de viajar. Era como uma miragem e logo soube o que eu deveria fazer. Haviam muitos lugares para ele ir, mas eu sentia que o encontraria lá.

Liguei o carro e saí dirigindo mais rápido que devia. Furei dois sinais vermelhos e em vinte minutos já havia saído da cidade. Me encontrava na estrada. A mesma que Liam dirigiu comigo.

Olhava no relógio com ansiedade. Já eram quase onze horas quando eu parei perto da estrada e vi o carro de Liam estacionado lá. Senti um arrepio e sorri sozinha. Eu estava prestes a fazer o que devia ter feito a muito tempo.

Saí do carro e bati a porta. Em poucos segundos estava correndo pela trilha de terra. Olhei para minha sapatilha branca e percebi que estava marrom de tão suja, mas aquilo me fez sorrir. Alguns ramos de plantas que estavam no caminho passavam pela minha perna nua e chegava a doer. Minha blusa preta de renda balançava junto do meu cabelo e logo soube que Liam me viria no meu pior estado.

Como se não bastasse, senti gotas da chuva tocarem minha pele levemente. Me perguntei como havia começado a chover sendo que o tempo estava ensolarado, mas vi que aquele não era o momento de fazer perguntas.

Parei de correr ao ver que a trilha acabava. Andei pelos ipês e fiquei completamente paralisada ao ver que Liam estava sentando na borda. Ele tinha o olhar distante e seus cabelos estavam molhados por causa da chuva, fazendo com que parecessem mais escuros. Observei-o passar a mão pelos cabelos.

– Aqui sempre chove ou só quando eu apareço? - finalmente falei, fazendo com que ele olhasse espantado pra mim. Eu sorria sem parar.

– Sally? O que está fazendo aqui? - disse levantando-se rápido.

– Jessica não era sua namorada, certo? - apertei os olhos.

– Namorada? - estava espantado. - Não! Jessica é minha irmã.

Passei a mão nos meus cabelos pensando em como tinha sido boba por simplesmente parar de conversar com ele sem saber antes quem era a tal mulher.

– Acho que você está com Andrew agora...

A chuva tinha ficado mais forte e eu apenas o olhava sem dizer nada. Balancei a cabeça negativamente.

– Eu te amo, Liam e eu correria o tanto que fosse possível só pra te encontrar e dizer isso.

As lágrimas desciam pelo meu rosto junto das lágrimas. Eu sentia um misto de nervosismo e alívio. Liam ficou parado e isso só me deixava mais nervosa.

– Eu sempre te amei. - disse correndo para perto de mim quando um raio cortou o céu quase imperceptível por causa do brilho do sol. Suas mãos seguraram meu rosto e ele se abaixou para me beijar. Sentia meu coração disparar e apesar do frio por causa da água, o toque de Liam fazia com que eu sentisse minha pele pegar fogo.