- Mas você é um doido mesmo! – Eu disse. – Agora se vire pra subir, eu não vou descer aí pra abrir a porta. – Como sou maldosa.

- Aé? Pois espere só!

León fez uma cara de cachorro abandonado, mas logo começou a escalar a casa como se estivesse determinado a provar para mim que ele conseguiria. Eu comecei a rir descontroladamente ao ver tanto esforço ali, até que depois de muita dificuldade León chegou até a minha janela.

- Caramba, eu pensei que você não conseguiria. – Eu disse erguendo as minhas mãos.

- Mas você é chata hein? – Ele mostrou a língua para mim.

Quando o fez, León abaixou e me pegou pela canela, me arrastando até a janela e deixando metade do meu corpo pra fora, o que me fez começar a gritar.

- León, seu louco, me solta! – Eu gritava enquanto me debatia.

- Só se você gritar pra sua vizinhança inteira em plena madrugada que está perdidamente apaixonada pelo León Vargas. – Me segurava firmemente.

- Nunca. – Eu disse.

- Tá bom então. – León afirmou discretamente e então deixou meu corpo um pouco mais pra baixo.

Naquela ele iria me vencer.

- EU ESTOU PERDIDAMENTE APAIXONADA PELO LEÓN VARGAAAAAAAAAS! – Gritei enquanto morria de medo.

- Assim está bem melhor. – León sorriu e então me colocou no chão.

Eu bufei.

- Você tem problema? Seu otário! – Eu fingi que estava brava e então dei um tapão na cabeça dele. – Cadê o seu romantismo? Ficou todo lá na Espanha, né?

- Mas eu estou sendo romântico com você, vim até aqui uma hora dessas. – Ele fez biquinho.

Eu cruzei os braços em reprovação.

- Pare com isso! – Quase gritei.

- Parar com o quê? – Ele se fingiu de desentendido.

- De ficar atingindo meu ponto fraco, você sabe que eu não consigo resistir quando você faz essa cara. – Eu disse enquanto me aproximava lentamente dele.

- É, eu sei bem disso. – León praticamente sussurrou, o que me deixava mais vulnerável.

Nós fomos nos aproximando lentamente até que León olhou profundamente em meus olhos, pegou nas minhas mãos que foram subindo lentamente até o meu queixo, deu um meio sorriso e se aproximou mais lentamente ainda até nossos lábios roçarem um no outro. Quando a ansiedade finalmente falou mais alto e começaríamos a nos beijar, León se afastou rapidamente, começou a rir e se jogou na minha cama, me deixando com uma cara de completa idiota.

- Seu idiota! – Eu gritei. – Ai que ódio que eu estou de você! – Cerrei os punhos.

- Então vem brigar, mano. – León levantou as duas mãos como se estivesse pronto para me bater.

Eu fiz uma cara de brava e então pulei em cima de León, que começou a se debater e tentar me segurar de todas as formas possíveis. Quando ele viu que a força dele não adiantaria, começou a fazer cócegas em mim e então eu me rendi. León prendeu os meus braços na cama e então mostrou a língua pra mim.

- Não adianta você lutar, eu sempre serei o melhor. – Disse enquanto se gabava.

- Aé? – Eu perguntei e em um movimento me soltei e dei uma mordida com toda a minha força no braço dele, o que o fez gritar imediatamente.

- Sua louca. – Ele disse enquanto passava a mão em cima da marca que eu havia acabado de deixar ali.

Começamos a dar inúmeras risadas e continuamos a brincar daquela maneira, até que uma hora paramos para descansar e para a minha infelicidade, León avistou o meu antigo diário que ainda estava jogado ali. Ele não perdeu e logo o pegou.

- Nossa, eu me lembro de ter visto esse diário há uns dois anos atrás.

Ele sorriu pra mim enquanto meu desespero só aumentava, eu sabia que ele ia querer folhear as páginas, e também sabia que isso implicava em ele ver todas as coisas que eu tinha escrito sobre Tomás antes dele.

- Pois é, isso está tão velho já... – Eu tentava disfarçar enquanto ele já abria o diário.

León se calou por alguns segundos e seus olhos se voltaram para as primeiras páginas do diário, pude ver a expressão de nojo e desgosto que ele fazia a cada página onde havia desenhos do Tomás e todas aquelas coisas, o que me partiu completamente o coração.

- V-você não está com ciúmes, está? – Eu cortei o silêncio.

Léon suspirou.

- Claro que não, eu sei que o Tomás já era. Só estava lembrando do inferno que foi a minha vida por culpa dele.

Eu dei um sorriso sem graça.

- Eu era muito cega. Vou queimar logo esse diário. – Disse e então puxei o diário da mão dele.

- Ei, ei, ei! Não precisa fazer isso. – León segurou meu braço. – Isso faz parte de você.

- Mesmo assim, León. Não quero mais lembrar que eu era uma idiota e...

Bem na hora que eu comecei a falar o meu diário caiu com tudo no chão, e então abriu justamente na página onde eu falava sobre o meu primeiro beijo com León. Ao ver a si mesmo desenhado ali, León logo apanhou o diário e começou a ler, o que o fez abrir um imenso sorriso no rosto.

- Peraí... Você escreveu sobre mim naquele dia? – Os olhos dele brilhavam.

- E tinha como NÃO escrever, León?

León permaneceu calado e começou a folhear o resto do diário, mas agora nas páginas onde eu falava dele, o que também me fazia ficar bem constrangida, porque ali os meus sentimentos estavam completamente expostos. Eu não aguentei ficar parada ali somente o observando, então novamente puxei o diário das mãos dele.

- Ei! Eu quero ver o que você escreveu sobre mim! – Logo gritou.

- Eu não preciso mais disso, León. – Eu disse me referindo ao diário.

- E por que não? Você adorava escrever nele e...

- Porque agora eu cresci e estou decidida, não tenho mais que ficar expondo meus sentimentos pra um diário. Eu tenho você e isso me basta. – Disse em um tom até meio arrogante.

León abriu um meio sorriso e não disse nada. Sutilmente ele tirou o diário da minha mão e o colocou em cima da cama, e então começou a segurar as minhas mãos, e não perdeu tempo em lançar o seu olhar cativante até que me tomou em um abraço apertado, fazendo com que seu cheiro se espalhasse em meu corpo e eu começasse a delirar como sempre. Eu não aguentei e me senti na obrigação de começar a beijá-lo a partir de sua nuca, e então fui me movimentando lentamente, passando pelo seu rosto até que me aproximasse de sua boca. Antes de nós selarmos aquilo eu sorri para ele, que então ficou tão ansioso que logo me tomou em um beijo apaixonante, onde eu fiquei completamente perdida em acompanhá-lo. Eu não tinha mais nada o que falar, toda a vez que nós nos beijávamos era a mesma coisa, meu coração palpitava, as minhas mãos suavam e eu não conseguia pensar em mais nada. Quem disse que o amor se esfriava com o tempo com certeza foi uma pessoa que nunca amou, porque eu sabia bem que aquilo que eu estava sentindo com Léon não iria se esfriar como muitos “amores” por aí.

Quando o fôlego acabou, nós nos separamos e não conseguimos nos conter em sorrir um para o outro. Ficamos por bastante tempo abraçados até que o sono veio à mim e eu adormeci nos braços de León, o que era muito bom, mas talvez poderia não ser tão bom assim quando o meu pai chegasse em casa.

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- Violetta? Violetta? – Ouvi alguém me chamando enquanto me reformulava para acordar.

Movimentei-me na minha cama e abri os olhos lentamente, até que me dei conta de que já havia amanhecido e de que tinha uma pessoa me abraçando. Até aí não tinha problema, já que quem me abraçava era o León – que também dormia profundamente -, o que me deixou desesperada mesmo foi quando eu percebi que quem estava me chamando era o papai. Por sorte eu havia trancado a porta do quarto.

- León, León acorda! – Eu sussurrava da maneira mais desesperadora possível enquanto balançava León.

- Ahn? O que... – Ele dizia de uma maneira sonolenta até que abriu os olhos e ficou em choque. – Violetta? Que horas são? Eu passei a noite aqui? Ah, meus pais vão fazer um questionário e depois me matar!

- Isso se você sair daqui vivo. – Eu disse, também desesperadamente.

- Por que você diz isso? – Evidentemente León ficava mais desesperado a cada segundo.

- Meu pai... tá... na... porta. – Eu finalmente disse. – Você vai ter que pular da janela de novo.

León arregalou os olhos e praticamente pulou da minha cama. Não perdeu tempo e foi recolhendo as coisas que estavam jogadas no chão e eu fui o ajudando até que conseguimos fazer tudo.

- Depois a gente se fala! – Ele me deu um breve selinho de despedida e então correu para a janela.

Eu esperei algum tempo para abafar o ultimo ocorrido, me reformulei, respirei fundo, fiz uma cara de sono e então abri a porta do meu quarto, quando finalmente pude ver o meu pai, que estava me fitando com cautela. Mas o que me deixou intrigada mesmo foi ver a roupa ridícula que ele vestia e chegar à conclusão de que ele havia acabado de chegar da farra.

- Papai? O que você quer? – Eu tentava ao máximo ser uma boa atriz.

- Nada, é que eu cheguei agora e quis me certificar de que estava tudo bem, mas como sua porta estava trancada eu tive que te chamar.

- Chegou agora? Que horas são?

- Seis e meia. Agora pode voltar a dormir. – Papai me deixou com um beijo na testa e então caminhou até o quarto dele.

Aquilo ainda parecia algo completamente fora do normal,caramba, papai ficou na balada até ESSA hora? Não sei por que, mas de alguma forma aquilo me deixava preocupada invés de me aliviar.

Fechei a porta e caminhei até a minha cama... Não pude deixar de perceber que o cheiro de León ainda se espalhava por todo o meu quarto, o que me deixava mais feliz. Resolvi parar com meus devaneios e então peguei o meu celular na tentativa de sair do tédio, e então para minha surpresa eu havia recebido uma mensagem de texto do Pablo.

“Reunião com os ex-alunos do Studio hoje às 17h”.

Caramba, mas o Pablo nos amava mesmo, hein?

Eu abri um sorriso involuntário ao ver aquilo... Por mais que nós (os alunos do Studio) tivéssemos que ficar separados pelo fato de estarmos crescendo, as situações sempre acabavam nos juntando. Vê-los com certeza me deixaria muito mais feliz do que eu já estava, eu só tinha medo do que nos aguardava na tal reunião.