Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 9
09




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"Eu sei que há algo na seqüência do seu sorriso

Eu tenho uma noção do olhar em seus olhos, sim

Você construiu um amor, mas aquele amor desaba aos pedaços

Seu pedacinho do paraíso se torna muito escuro

Ouça seu coração

Quando ele está chamando por você

Ouça seu coração

Não há nada que você pode fazer...

Mas ouça seu coração

Antes de você lhe dizer adeus"

-Eu não tenho nem idéia de como vou fazê-lo gostar de mim. – É a primeira coisa que declara, chegando a escola, confessando-se para Jane. Chegava a estar nervosa do tanto que vinha pensando naquilo ultimamente. Com poderia conquista-lo? Como uma mulher conquista um homem?

Tudo o que sabia era o que vira em filmes ou livros, e nada daquilo lhe parecia natural.

A menina loira a encara, sem parecer reconhecê-la, apenas para um sorriso irônico aparecer em seu rosto.

-Quer dizer então que você finalmente decidiu partir para o ataque? – E ri, histérica. – Acho que já estava mais do que na hora. Achei que fosse ficar esperando para sempre!

Nessie a olha feio, mas suspira, consentindo.

-Mas aí? Vai me ajudar ou só ficar aí reclamando?

Jane a olhou fixamente por um instante, pensativa.

-Só quero que saiba que eu não sei conquistar um homem com você ainda vestida. – Estava constatando, mas a ruiva lhe lançou um olhar estranho, entre o descontentamento e a descrença, apenas para balançar a cabeça, tentando esquecer o assunto.

-Tá, esquece que eu pedi! – E ri um pouco, ainda incrédula.

Jane sorriu, safada.

-/-

Tinha de colocar as idéias em ordem. Quer dizer, tinha todas em ordem, mas precisava saber o que fazer agora, porque realmente não tinha idéia do que fazer para chamar a atenção de alguém.

Beija-lo subitamente? Ridículo, não, não e não.

Perguntar? Duplamente ridículo, e por isso, duplo negativo.

Insinuar-se? Impossível, logo já riscado antes de poder vir a existir.

Era inexperiente, e, pela primeira vez, a incomodava. Como poderia inverter a mesa? Passar a distribuir as cartas.

E, em seu ato desesperado, conta com a única cartada que tinha, que embora fosse extremamente perigosa, com certeza, era garantida.

-Alice? A gente pode se encontrar? – Sentada na cama, com as pernas cruzadas de índio, ouvia a moça do outro lado mandar alguém fazer alguma costura, embora não se interessasse. Alice trabalhava com moda, ela era estilista, então aquilo não era nenhuma novidade. Ela provavelmente estava apenas montando sua nova coleção.

-Só um segundinho amor! – A voz etérea parecia um sino, independente da situação, e Nessie achava que nunca se acostumaria.

A menina esperou, fazendo círculos na colcha cor-de-rosa, estalando os lábios.

-Posso saber o por quê de nosso encontro? – Ela volta, parecendo recuperar o ar, mas ainda assim, animada e energética como sempre.

A menina morde o lábio de baixo, puxando uma pele solta, tentando descobrir se seria uma vantagem ou desvantagem em contar-lhe agora.

-Prefiro dizer no nosso encontro, tudo o que posso dizer agora é que preciso da sua ajuda. Muito, você é, tipo, minha única esperança. Pode me ajudar?

A moça ri, doce.

-Depois de você pedir assim né? Claro que sim. Hoje é um pouco complicado para mim, mas pode ser amanhã, depois da sua aula?

A menina combina, desligando, só depois parando para pensar que, se saísse com Alice, não veria Jacob. Engole em seco. Tinha ido visitá-lo todos os dias, desde que o fizera pela primeira vez. Respira fundo, reencontrando sua determinação. Era para o melhor. Com isso poderia, se com sucesso, passar a vê-lo com a freqüência desejada.

Seu coração acelera um pouco com o pensamento. Ela sorri e se obriga a acalmar-se.

Depositaria toda a sua fé e esperança em Alice.

-/-

Depois da aula, Alice passou de carro para pegá-la na escola. A curiosidade provavelmente a estava matando, se a conhecia bem. O porsche amarelo costumava chamar atenção e exclamações de seus colegas de classe, mas a menina já estava acostumada, e simplesmente entrou, jogando-se no banco da frente, ao lado da moça de estatura pequena e jeitos graciosos.

-E então? Quais são as novidades? – Pergunta, assim que se puseram andando, o ar condicionado estando um pouco forte demais.

A menina se encolhe, ponderando em como dizer o que era importante, mas deixar o resto de fora, não querendo revelar tudo a moça, sabendo que poderia não ser seguro. Por fim, ajeita a mochila a seus pés, pegando o agasalho que trouxera, colocando-o canhestramente.

-Lembra-se do que a gente conversou aquele dia, na casa da Rosie? – E morena simplesmente confirma com a cabeça, esperando, ansiosa a explicação.

-Então, sobre aquilo, acho que estou gostando de alguém...

-Yay! Sério mesmo? – E ela parecia mais empolgada do que deveria – Quem poderia ser? Você vai me dizer?

-Calma Alice – E a menina ri um pouco da animação infantil, antes de seguir – Prefiro não dizer – E vendo a clara frustração da outra, emenda – Por enquanto, pelo menos, mas queria pedir a sua ajuda, porque, para dizer a verdade, não faço a mínima idéia de como mostrar que eu gosto dele...

Aquilo parece contornar o desânimo anterior, fazendo-a totalmente animada novamente.

-Sério mesmo? A primeira coisa que precisamos fazer é te comprar algumas roupas novas! – E sorri, totalmente animada. Era Alice, como Nessie não pensara nisso? Era óbvio que tudo começaria com o guarda-roupa. Mas, no caso, teria de confiar nela, porque realmente, não fazia idéia do que fazer.

As duas ficam a tarde inteira a procura das roupas ideais, coisa que parecia uma tarefa interminável nas mãos de Alice. O resultado final de tudo aquilo não podia ser outro além de Nessie com sete novos vestido, doze novas blusas e três calças, além de intermináveis acessórios, que ela mesma não sabia como poderia usar, de tantas as possíveis combinações que a morena lhe mostrara.

Volta para casa exaurida, porém satisfeita com o que tinha em mãos. Os visuais eram incríveis, mas a questão agora era como fazer para usa-los?

Senta-se no sofá durante alguns instantes, recuperando o fôlego, respirando fundo. Não queria fazer aquilo de novo tão em breve. Uma coisa era sair para fazer compras com Alice, outra, bem diferente, era sair em umamissãocom ela.

-Nessie? – Bella entra na sala, sorrindo suavemente.

-Mãe... – Chama, longamente, a moça sentando a seu lado, abraçando-a de leve.

-Se divertiu? – E menina apenas dá um aceno com a cabeça. – Quer comer alguma coisa? Seu pai e eu estamos jantando...

Dizendo isso, a ruiva, achando todas as forças que ainda tinha em seu corpo, levantou-se, e arrastando-se, seguiu a mãe até a cozinha, sentando-se a mesa. Comia distraída e lentamente, quando o assunto, dando uma drástica mudança, chama sua atenção.

-Estava pensando em ir jantar em um restaurante esse final de semana. – Edward não diz nada, só estranha, enquanto a morena continua – Primeiro, porque faz tempo que não fazemos isso em família, estamos ocupados muito tempo, e em segundo, porque não sei quanto tempo o Jake ainda vai ficar por aqui, e eu não o vi desde que ele se mudou, por isso estava pensando em chamá-lo. O que vocês acham?

Nessie não quis parecer muito ansiosa em responder, e ficou com medo que seu olhar a entregasse, por isso, permaneceu encarando seu prato, comendo sem fazer nenhum barulho, apenas a faca raspando de leve na porcelana irritando-a.

-Eu acho que parece uma idéia... Razoável – A voz grave contribuiu com cuidado, e a ruiva vira a cabeça apenas a tempo suficiente de ver sua mãe revirar os olhos.

-Por que tanta implicância com o Jake? Desde sempre – Era um comentário para si, claramente, pelo seu tom de voz, então o ruivo não fez questão de responder, mas aquilo fez o coração da menina acelerar. A oportunidade havia acabado de surgir, de ser jogada em seu colo, e ela não iria desperdiça-la.

Durante o resto da semana, não foi visitar Jacob novamente, não teve coragem de encara-lo, estava nervosa demais, pensando no final de semana. Todos os dias, quando voltava da escola, ficava encarando as roupas que comprara, sem conseguir se decidir por uma.

Aquilo a estava matando, nunca fizera aquilo antes, nunca gostara de ninguém antes. Como deveria agir quando o visse? Talvez devesse pegar mais algumas dicas com Alice, embora ela provavelmente fosse lhe dizer para ela agir naturalmente. O que fazer? O que fazer?

A semana se arrastou, parecendo pinica-la a cada dia. Na sexta-feira, Nessie fez questão de que Jane fosse visitá-la, para que a ajudasse com a escolha do vestido. A menina fez um mini desfile, mostrando cada roupa, todos os quais, a loira assistiu com o seu costumeiro olhar entediado.

-Acho que não há dúvida nenhuma – Ela diz, no final, terminada as opções. A outra levanta uma sobrancelha, inquirindo-a. – Aquele – E indica com seu esmalte descascado, um sorriso aparecendo em seu rosto – Problema resolvido.

Nessie o pega na mão, hesitante, encarando-o. Era um vestido inteiramente com brilho, preto, tomara que caia em formato de coração, que ia até a metade de suas coxas.

-Tem certeza?

-Não há dúvida. E você devia usar uma meia calça, aquele salto que eu invejo seu... Agora só preciso ver seus acessórios.

E passam o resto da tarde para decidir os acessórios e a maquiagem, ficando decidido por um colar de coração de strass, com a corda de veludo, acompanhado de uma gargantilha, fininha, também de veludo, um conjunto de doze pulseiras pretas opacas, chamando bem menos atenção do que o resto, discretas.

O que aconteceu no dia, porém, foi inteiramente diferente. Desde depois do café, já se punha remexendo as mãos em nervosismo. Por que havia resolvido tentar mesmo? Será que se culparia demais por desistir?

Encara o vestido por um instante, e depois o restante da combinação. Não estaria indo com muito preto? Será que devia diminuir?

Em um frenesi momentâneo, muda o vestido para o dourado, também tomara que caia, com o mesmo comprimento, mas com apenas alguns detalhes brilhantes, todo desenhado, várias faixas, desenhadas, passando por ele.

Grunhi baixinho, inconformada. Por que tinha de ser tão difícil?

Conforme o relógio vai rodando, toma um banho longo, seca os cabelos, fazendo escova, deixando-os brilhantes, os cachos nas pontas, perfeitos, também não conseguindo decidir entre soltá-los ou deixa-los presos, e só por isso deixando-os como estavam.

De acordo com sua mãe, o jantar seria às oito. Ainda não eram nem seis e já se arrumava. Era o horário certo, claro, mas já tinha tomado banho, se vestido, colocado a meia-calça, as pulseiras e o colar, faltando só a maquiagem, com mais de duas horas de antecedência. Provavelmente ficaria em seu quarto até em cima da hora. Não queria seu pai pensando a respeito de sua ansiedade, ele sabia o suficiente do jeito que estava.

Com o tempo que restou, estava tão ansiosa, que o que acabou sobrando para fazer foi andar de um lado para o outro do quarto, com os fones de ouvido ligados, ouvindo música, tentando, mas falhando em se concentrar nas mesmas.

Por fim, depois do que parecia uma infinidade de tempo, finalmente, sua mãe bate na porta, suavemente.

-Está pronta filha? – E a moça entreabre a porta, espiando, colocando a cabeça para dentro, apenas para se admirar.

A menina volta a retorcer as mãos, diante da expressão surpresa da mãe.

-O que, está demais? – E olha para si mesma, e depois para o espelho que ficava pendurado na parede, hesitante, os olhos também feitos com dourado, e tons terrosos, um delineador preto passado em uma linha fina.

-Você está linda! – A moça diz, sorrindo, abrindo a porta por completo. Disso, a ruiva sorri, tentando esquecer o nervosismo.

-E é daí que vem a surpresa? Estou começando a ficar ofendida. – Dessa vez, Bella ri, agradada.

Os três entram no carro de Edward, a menina encarando a janela, o local caído em silêncio, as luzes passando na janela, refletindo no rosto jovem. A moça só percebe aonde iam, quando o carro já virava a esquina.

-Por que estamos indo para o hotel do Jake? – E engole em seco, percebendo sua voz um pouco histérica, seu coração acelerando, ainda não estava pronta psicologicamente.

-Aahn – Sua mãe não parecia notar nada estranho – Ele está sem carro, então eu ofereci para dar uma carona. – O carro parou, freando devagar, bem em frente ao prédio. Ninguém a questionou de como ela sabia que aquele era o lugar. A da frente pega o celular, discando o número devagar, mas, antes que completasse, alguém bate em seu vidro. Bella o abre, sorridente.

-E aí? – O moreno diz, abrindo um sorriso, o coração da menina atrás parece parar por um instante, apenas para recomeçar, doendo na intensidade que batia, ela podendo ouvi-lo, sentindo o sangue desconfortavelmente parecer engrossar, subindo para o rosto.

-Entre, entre – A morena responde, e ele assim o faz. A ruiva, ainda com os olhos arregalados, demora a reagir, estando sentada atrás de Bella, tendo de pular para o lado para que ele entrasse. Ela o encarava, um pouco horrorizada, apenas para virar o rosto para o outro lado, envergonhada demais.

Jake usava um jeans escuro, uma blusa clara, e um terno, ficando em um social esportivo. Ele estava perfeito demais para ser real, e aquilo só a fazia mais desconfortável. Engole em seco, tentando se acalmar, mas não conseguindo levantar o rosto.

O encara com o canto dos olhos, e percebe que ele fazia o mesmo, olhando-a de uma maneira estranha. Vira o olhar para o outro lado, instantaneamente. Por que ele a olhava daquele jeito? Havia algo de estranho no ar e os dois sentiam isso, parecendo extremamente desconfortáveis.

O resto do percurso, só Bella e Jake falavam, conversando casualmente, algo leve.

Chegam ao restaurante, um lugar pequeno, mas agradável, de algum renome. Edward sai primeiro, abrindo a porta para Nessie, dando a volta no carro, para fazer o mesmo por Bella. A menina adianta-se, dando alguns passos para a entrada. Era a primeira vez que vinham aqui esse ano, era um dos restaurantes favoritos de sua mãe.

A moça pára, esperando os outros, apenas para se virar e ver Jacob parado perto dos carros, vindo em sua direção. Algo brilhava em seus olhos e ela soube imediatamente o que era. Era admiração, ele a estava analisando. Os olhos eram extremamente intensos, e pareciam fazer o resto desaparecer. Sente um frio na barriga, um arrepio passar por sua espinha.

Aquilo a agrada, mas ao mesmo tempo, parece que faz seu coração acelerar ainda mais.

Ele pára a sua frente.

-Está muito bonita senhorita Cullen – A menina abaixou o rosto, extremamente corada, não sabendo como responder, apenas para ser salva pelos pais, que chegavam. Ela lança um olhar ao moreno, vendo que ele sorria de lado, safado.

Miserável, vê-la desconcertada era engraçado então? Ele gostava de vê-la daquele jeito?

Sente raiva, apenas por um instante. Novamente, os pais dão alguns passos à diante, confirmando a reserva. O que a menina não esperava é o jeito que Jacob encosta em si, em seu braço, um pouco urgentemente, sussurrando, nervoso.

-Preciso falar com você!

A menina estranha, sem entender, mas eles seguem em frente, para a mesa reservada. O que fora aquilo? Conversam um pouco, Jacob parecia estar perfeitamente à vontade. Mas, se assim fosse, o que sentira no carro? O que fora o elogio? O que ele queria dizer com o que precisava falar?

Fazem o pedido, pedem um vinho para beber. A cabeça de Nessie parecia rodar com os pensamentos. Isso não era nada do que ela pensara, quer dizer, com exceção talvez de ter conseguido chamar a atenção de Jacob, o resto parecia uma bagunça!

Edward e Jacob até pareciam fazer um esforço para se suportarem, e montavam uma conversação. Fazem os pedidos. A ruiva não sentia fome. Encara o teto, as luminárias de cristal, começando a sentir-se tonta. Estava entrando em pânico?

Tenta acalmar-se, respirando algumas vezes, profundamente.

A comida chega, mas a menina se vê com dificuldade em comer, estando um pouco enjoada. No fim dos dez primeiros minutos da refeição, levanta-se, chamando a atenção de todos na mesa para si.

-Com licença – Murmura, a voz falhando um pouco, seguindo para os toaletes.

Jacob a observa partir, continua a comer, e, no fim de um minuto de espera, encara seu celular, levantando-se.

-Preciso fazer uma ligação, volto já. – E parte para a área reservada, antes do corredor dos toaletes, tentando ficar a vista para Edward, que não tirava os olhos de si.

A ruiva encara sua imagem no espelho e respira fundo algumas vezes, estalando os lábios. O que estava fazendo consigo mesma?

Liga a torneira, passando um pouco da água nos pulsos e no pescoço, refrescando-se. Respira mais algumas vezes, sentindo-se um pouco mais calma e controlada. Ao menos capaz de comer ela tinha de ser capaz, senão provavelmente achariam que estava passando mal. Não estariam errados, quer dizer, quase...

Com uma última respirada, ajeita os cabelos de leve, puxa um pouco o vestido, admira sua imagem, e sai do banheiro. Congela no lugar, a imagem distinta de Jacob parado, encostado a parede, uma mão no bolso, no final do corredor. Ela o encara, indecisa do que fazer. Notar que ele estava ali, espera-lo, passar por ele...

Dá alguns passos em sua direção, mas trava, encarando-o. O perfil bem delineado, os ombros fortes, a altura. Nunca o tinha reparado tão alto. Qual era sua altura parada ao lado dele?

Nisso, ele parece notar a sua presença, e sinaliza discretamente para que ficasse onde estava. Não era como se ele precisasse pedir, seus pés pareciam grudados ao chão de qualquer forma.

Ele não demora a desligar o aparelho, colocando-o no bolso, vindo em sua direção. Não nota que seus olhos arregalam devagar. O que dizer? O que fazer? O que Alice queria dizer com agir naturalmente? Teria de lembrar-se de mata-la mais tarde por isso.

-Preciso falar com você – E ele parecia nervoso como ela, suas sobrancelhas se contraindo, o maxilar mexendo-se.

-Pode falar – E ela cruza os braços, ao perceber que, de salto, chegava à altura do peitoral do moreno. Morde o lábio inferior, encarando o rosto de traços firmes.

-Sobre as fotos que você viu...

-Calma, que fotos? – E por alguns instantes, realmente tinha se esquecido. Ele parecia impaciente com aquilo, estalando os lábios, passando a mão pelos cabelos curtos e negros.

-As fotos da sua mãe que você viu na minha carteira! – Ele enfatiza, usando as mãos, a voz parecendo estritamente controlada para que não perdesse o controle e gritasse. Nessie sente seu coração gelar, quando ele toca no assunto.

-Como você sabia que eu as tinha visto? – Pergunta, ainda em choque.

-Uma delas estava caída no chão, e achei que você deveria ter visto, quando o recepcionista me avisou que você tinha passado por lá, mas já tinha ido embora. – Ela muda o assunto, não admitindo, nem negando.

-O que têm elas? – E a voz soa mais áspera do que queria, a moça trocando o peso, de uma perna para a outra, esperando a explicação. Ele respira fundo, parecendo procurar as palavras certas.

-Quando você não apareceu mais, eu tive a certeza que você tinha visto, eu só vim hoje porque precisava falar com você! Ou você acha que eu ia querer sair com o Edward em qualquer outra situação? Sabia que você não ia mais aparecer depois do que viu.

Ela permaneceu impassível, de braços cruzados, encarando-o, esperando para ver onde aquela conversa iria dar. Não conseguia dizer que isso não tinha a ver com o motivo pelo qual tinha desaparecido, sua boca estava seca.

Ela pensou que conseguiria, mas, se tivesse que competir com a sua mãe pelo amor de alguém, era por ali que pararia, não era tão forte como imaginava, não a ponto de conseguir combater essa situação, e começava a se odiar por isso. Mordia o lábio inferior com tanta força, que tinha certeza que ele em breve começaria a sangrar.

-Pensei tanto em como explicaria a você, mas agora a merda das palavras sumiram! – Ele range os dentes, batendo na parede ao lado. – Não é o que parece, é, mas não é. Era o que era, mas provavelmente não é mais o que era. – E ele revira os olhos, ela piscando algumas vezes, tentando entender – Merda! – Ele murmura, entre dentes.

-Você gosta dela? – A ruiva pergunta diretamente, sentindo o coração pesar, ao mesmo tempo que a ansiedade aumentava e fazia seu coração bater mais rápido, a perna impaciente repetindo o movimento de se chocar contra o chão.

Jacob a encara sério, seus olhos naturalmente intensos pareciam mais faiscantes que o normal, tamanha a atenção que ele prestava nela, os olhos presos um no outro, ele suspira e lambe os lábios cuidadosamente antes de falar. A menina volta a sentir um choque por seu corpo e franze as sobrancelhas. Não era para se sentir tão fora de controle perto dele.

-Não – E hesita – Quer dizer, acho que não. É totalmente diferente do que eu achava.

Ela permanece alguns segundos digerindo a resposta. Ele achou que ela fosse perguntar o que ele esperava, ela não perguntou. Apenas continuou ali, introspectiva, entregue a si mesmo.

Esperando por uma reação dela, que não vem, ele limpa a garganta, no fim de um minuto.

Isso chama a sua atenção, e ela o encara, a boca ligeiramente aberta, ainda pensativa.

A verdade é que Nessie não sabia como se sentir a respeito daquilo. Tinha imaginado aquele cenário, pior na verdade, mas quando as palavras tomavam formato, tudo parecia diferente. Pelo menos, ele pensava não gostar dela. Tinha de contar para alguma coisa, não? Ou não contava para nada e seria melhor que ele fosse decisivo? Mas se assim fosse, que espaço sobrava para ela?

Que espaço sobrava para ela mesmo agora, que ele parecia estar confuso?

Teria a coragem de seguir em frente com seu próprio plano. Não? Sim?

Respira fundo, sentindo seus ânimos abrandarem, recompondo-se.

E então sente uma onda de vontade tomar conta de seu corpo. Se chegara até aqui, não desistiria agora, não tão perto, não quando ele tinha vindo até ali para falar com ela. Isso contava para algo, tinha certeza!

Sente um novo arrepio, mas esse era diferente, era uma emoção da adrenalina que a tomava, por ter se decido, até suas pernas pareciam estremecer, o formigamento voltava.

Ela sorri de leve, dando um passo para frente, puxando-o para baixo pela blusa. Ele se assusta um pouco pela aproximação repentina, quando ela gruda a boca em seu ouvido.

-Eu não ligo que você costumava gostar da minha mãe, Jacob Black! – E sorri, estranhamente, um sorriso sedutor, depositando um leve beijo na bochecha do moreno, raspando de leve na boca do rapaz. Sente-se estremecer, e imediatamente se afasta, voltando para a mesa.

Sentia suas pernas tremerem e estava mole. Nunca teria a coragem de fazer aquilo novamente. Ou teria? Tudo o que sabia é que pelo resto do jantar, não teve coragem de levantar o rosto para encara-lo, e nunca ficou sabendo como ele reagira, ou como a encarava agora, embora, diversas vezes sentira os olhos deles sobre si.

O que exatamente tinha feito? Não sabia responder.

-/-

A menina chegou em casa sentindo-se insatisfeita consigo mesma. Embora tenha sentido que naquele momento, tinha feito tudo o que conseguia fazer, agora, olhando para trás, pensava que podia ter feito diferente. Talvez porque a adrenalina tivesse baixado, talvez porque não estivesse cara a cara com Jake para se intimidar, mas o fato é que, pensando friamente e distanciada, sentia como se pudesse fazer diferente.

Despede-se de seus pais, subindo para o quarto, trancando a porta. Tira os sapatos e escova os dentes. Senta-se na cama por algum tempo e leva a mão aos lábios, lembrando-se do contato mínimo do dia de hoje, das bocas se raspando, o que a remete ao beijo anterior, voltando a estremecer, o formigamento típico entre as pernas, uma sensação estranha parecendo no estômago, um revirar esquisito.

Imagina como seria o interior de sua boca e o formigamento aumenta, fazendo-a suspirar, descontente, frustrada. Junta as pernas, forçando uma contra a outra, a sensação intensificando-se.

Antes que desse conta do que fazia, põe-se em pé em um salto, vestindo um sapato de boneca sem salto, abrindo a janela. Não fazia isso há alguns anos, imaginava se estava enferrujada.

Caminha um pouco pelo telhado inclinado e desce pela árvore da ponta da frente, como costumava fazer, sem cair ou machucar-se. Estava melhor do que imaginara se ainda conseguia fazer isso.

Enquanto caminhava pela rua escura, perguntava-se o que estava fazendo e o que iria dizer. Podia morrer, ser estuprada ou assaltada, mas ainda assim, por mais que isso lhe desse medo, sua preocupação maior repousava no que diria quando o visse. O que podia dizer?

Estaria disposta a se declarar? Conseguiria transmitir o que sentia em palavras? E fora que, teria coragem, mesmo sem saber em absoluto se ele sentia o mesmo? O que poderia fazer?

Felizmente, sem nenhum problema, alcança o hotel, subindo os degraus devagar. O recepcionista, impressionantemente, não dormia, mesmo sendo quase uma hora. Não sabia quanto tempo ficara em seu quarto pensando. Certamente mais do que pensara a princípio.

-Boa noite – A menina cumprimenta, fazendo-o lançar um olhar de descaso, enquanto tirava seu foco da televisão, apenas para voltar a olha-la, admirado, em seguida, um brilho de desejo passando em seus olhos. Ela deveria realmente ter se arrumado bem. Mas, ao contrário do que acontecia com Jacob, o olhar a deixa desconfortável, fazendo-a querer se encolher, tirar os olhos dele de si. – Posso subir?

Ele lhe lança uma expressão jocosa, quase a diminuindo, o desejo voltando a brilhar, dessa vez sem ir embora, enquanto ele apoiava os cotovelos no balcão, ela dando um passo para trás, sorrindo, sem graça, a raiva começando a surgir.

-Não acha que está um pouco tarde não, mocinha? – E o 'mocinha' dito com tanto desrespeito, que ela chacoalha a cabeça negativamente por um instante, sorrindo, descrente, soltando um som que mostrava seu aborrecimento.

-Esquece, eu acho meu caminho – E vai para o elevador, abrindo a porta, uma vez que ele já estava no andar, apertando o botão rapidamente, apenas para ouvi-lo desesperar-se.

-Não, você não pode, isso não pode...

E o resto permaneceu um mistério, não que se importasse. Começou a sentir o coração acelerar novamente, e volta a bater o pé, impaciente, sem saber se queria ou não que o andar destinado chegasse.

Desce, as luzes acendendo automáticas. Hesitante, aproxima-se da porta do cento e três, arrastando os pés, respirando pesadamente. Agora que já chegara até ali, só lhe restava ir em frente. Até se decidir, as luzes de movimento se apagam, e não voltam a se acender.

Fechando os olhos e encolhendo os ombros, bate na porta, firme, duas vezes, acrescentando uma terceira, só para ter certeza.

Ouve agitação, alguns passos, e então, a chave na porta. Seu coração, ao contrário do imaginado, pára. Ela sente a boca seca e a porta se abre. A luz amarelada machuca um pouco seus olhos, que estava parada há algum tempo ali, no escuro. Ele levanta uma sobrancelha, parecendo genuinamente surpreso, apoiando um braço no batente, esperando uma explicação.

A menina encolhe-se no lugar, colocando as mãos atrás do corpo, mordendo o lábio no canto direito, como era seu costume quando nervosa. Só então, com os olhos devidamente acostumados nota que ele estava sem blusa. Aquilo a faz corar e tira sua reação, fazendo-a encara-lo sem pensar no que fazia, a vergonha não passando em sua cabeça no momento.

Ficam assim por alguns instantes, um sorriso divertido passando pelos lábios bem definidos do moreno. Ele limpa a garganta e ela percebe a cara sarcástica que ele lhe lançava, para depois encarar o próprio corpo. Ela cora, da cabeça aos pés, nunca tendo se sentido tão envergonhada.

Engole em seco, passando a encarar os próprios pés.

-Eu não devia estar aqui essa hora. – Murmura, em um fio de voz.

-Realmente não devia. – Ele responde, dando espaço para ela entrar. A moça passa, ele fechando a porta atrás dela. – Então, vai me dizer o que veio fazer aqui ou vai continuar a me encarar desse jeito?

A menina dá alguns passos para frente, sentando-se na beira da cama.

Ele estranha, e dirigindo-se para a gaveta, pega uma blusa, colocando-a, rapidamente. A moça encara o processo, encantada, os músculos firmes movimentando-se. A sensação que sentira em casa voltava em um momento inoportuno.

-Consegue se concentrar melhor agora? – Ele diz, sorridente, mas ela estava tão nervosa que nem consegue ficar irritada, não respondendo. Ele volta a estranhar, preocupando-se, sentando-se a seu lado. – Algo errado?

Ela tinha vindo para falar sobre o que fizera hoje, sobre o porquê o fizera, e talvez para tentar suavizar o passo das coisas, mas todos os pensamentos pareciam ter sumido de sua mente, apagados, um borrão substituindo-os.

Obliterava a si mesma, pelo nervosismo, pela visão dele tão perto, a presença masculina parecendo surtir efeito. Nem sabia mais o que fazia ali. Talvez fosse melhor voltar para casa. A teoria era muito mais fácil do que a prática.

Toma impulso para levantar-se, mas permanece sentada.

Lutava tão bravamente consigo mesma, que Jake nota, depositando a mão quente sobre a sua, suavemente.

-Nessie? – A voz rouca chamando seu nome faz os pelos de seu braço se arrepiarem. Por que a voz tinha de ser tão grave e aveludada?

Ela vira-se para encara-lo, os olhos dele sobre ela, parecendo tentar lê-la, tão escuros, tão impossível não se perder neles. Engole em seco.

-Jake... – O que podia dizer? Conseguia transmitir o que sentia?

E, em um impulso, volta a fechar a distância entre eles, as bocas se chocando com violência quando o faz, o ato impensado, os braços delicados contornando os ombros largos. Em um primeiro instante, o moreno parecia totalmente surpreso e não corresponde, depois, a empurra de leve.

-Nessie, o que...? – Mas não termina, porque ela volta a investir, fechando as distâncias, e dessa vez ele não resiste, muito pelo contrário, desiste, abraçando-a de volta, as mãos fortes puxando-a pela cintura, a língua pedindo passagem para a boca da menina.

O beijava com intensidade, com tudo o que tinha, e ele parecia fazer o mesmo, dominando-a, conduzindo-a. As mãos dele descem por sua cintura, causando-lhe um arrepio forte, fazendo-a se aproximar ainda mais, ele a puxando para si, ela acabando em seu colo. Ela se movimenta, subindo e descendo devagar, sentindo o ar ao seu redor ficar mais pesado, o resto do mundo desaparecendo.

Os lugares onde ele a tocava pareciam queimar, e ela suspira, baixo. Suas roupas pareciam atrapalha-la.

Os braços fortes a seguravam com tanta força contra o corpo dele, que conseguia sentir cada parte de debaixo da blusa dele, o corpo delicado dela contra o musculoso e firme dele. Encaixava-se ali perfeitamente e era ali que pretendia ficar.

Ouve-o gemer, um som feito com a garganta, gutural, grave, fazendo-a sorrir no meio do beijo. Por fim se separam um pouco e ele morde a parte de baixo da boca da menina, com força, puxando-o de leve, voltando para trás.

Os dois respiram fundo, tentando recuperar o fôlego, encarando-se intensamente. O que se passara ali?

Nessie é a primeira a voltar a si. Estava no colo de Jacob Black, com a roupa toda desalinhada, ele era o melhor amigo de sua mãe, com quem acabara de dar um amasso rápido. O que diabos estava fazendo? Mexe-se devagar, sentindo algo rígido embaixo de si. A moça se levanta em um pulo, mais por surpresa do que qualquer coisa. Ele a encara, confuso.

-Agora você já sabe! – Exclama a ruiva, apressando-se para a saída. Ele se levanta, tentando alcança-la, mas ela corre para o corredor, pegando as escadas, começando a correr. O que tinha sido aquele ato de loucura e a que aquilo levaria?


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Notas finais do capítulo

E agora pessoas? Vocês acham que o Jacob se explicou por ela ser a filha da Bella ou por algo mais? XD Hahahahahahaha!

E o que vocês acham que ele vai fazer agora? :P
Surpresas, surpresas, surpresas!

Como vocês puderam ver, a menina está super confusa, querendo o Jake, mas sem saber direito se isso é a coisa certa... Vamos ver se as coisas se endireitam haha

E agora vocês tiveram uma palha do que virá a acontecer entre esses dois no futuro. Não parem por aqui!

E venhamos e convenhamos, tadinho do Jake non? Fazendo de tudo pra se controlar, e a Nessie literalmente pulando em cima dele. Que homem agüenta isso? Hahahaha Aí é que ele perde o controle.

Outra coisa... Desculpem-me o atraso. Tive de fazer uns exercícios extras de desenho, plus aniversários, plus provas, plus uma pá de coisas que resultaram em meu atraso :/
Se serve de consolo, tentarei ao máximo atualizar duas vezes esse mês e compensar ok? ^^
Espero que curtam e continuem aproveitando a história ^^

A música do começo é Listen to your Heart, versão da Cascada. Pode ser a slow, prefiro a slow haha

Terminada em: 15.12.2011
Postada: 25.10.2013



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