Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 5
05


Notas iniciais do capítulo

Eu tenho um tumblr para a história, quem quiser dar uma olhada:

http://a-serendipity-story.tumblr.com/



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"Eu estou sentado a sua frente

E sonhando com as coisas que eu faço

Eu não falo, você não me conhece de verdade

Por medo do que você poderia fazer

Eu não digo nada, mas fico encarando você

E eu estou sonhando

Eu estou viajando sobre você"

O sábado amanhece cinza, mas Nessie não parece perceber, pulando da cama, praticamente correndo porta a fora, batendo o recorde de velocidade do tempo que se arrumara, ainda nove horas, descendo aos pulos, fazendo um estardalhaço.

–Nossa Nessie, por que tudo isso? – Edward pergunta, assim que ela entra na cozinha, mas, a primeira coisa que ela faz é trocar um olhar significativo com Jake, travessa.

–Minha primeira aula! – Sorri, animada.

–Aula? – O homem repete, sem entender.

–Sim, de moto – a menina explica, um pouco confusa. – Mamãe não te falou?

E ele se põe enfezado.

–Acho que ela esqueceu de mencionar. – Bella não comenta nada, continuando a tomar seu café. O resto da refeição é feita em silêncio, pontuada por comentários leves. Todos pareciam contornar o mau humor de Edward. Na verdade, isso era o que Renesmee e Bella faziam, Jake só as seguia.

Os dois saíram logo depois, a moça animada, de calça jeans e uma camiseta com um decote quadrado, pronta para enfrentar as eventuais quedas. Os dois conversavam sobre o que fariam a seguir, animados, podendo serem vistos na rua, de onde Edward os encarava.

Ele os encarava com certa desaprovação nos olhos, vendo algo que Bella parecia se recusar a enxergar. Xinga mentalmente, sabendo perfeitamente bem onde aquilo ia terminar, e o repete, para si mesmo, encostando a mão à boca, pensativo.

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Os dois passaram na casa do amigo de Jake, que os encara com um sorriso safado no rosto, fazendo Nessie corar, e o moreno que estava consigo sorrir de lado, sem se dar ao trabalho de explicar.

Pegam a moto emprestada, e, com Jacob dirigindo, vão para uma parte mais tranqüila e aberta, onde podiam praticar.

Lá chegando, ele logo começa a explicar, mostrando como se sentava na moto e para que servia cada um dos controles, como seguraria o guidão. A menina faz algumas vezes, antes de realmente se arriscar a ligar a moto.

Jacob ria o tempo todo de sua falta de aptidão.

–Desse jeito você nunca vai aprender – E ria mais, só a fazendo irritada, querendo se esforçar ainda mais. Ele a ajuda, e ela anda em linha reta, pelo que parece ser dez segundos, antes de se desesperar e deixar o veículo cair.

O moreno vai a seu encontro, escondendo um sorriso, mas seu rosto inteiro levantado, mostrando como se sentia.

–Tudo bem? – E ela ajeita o cabelo, lançando-lhe um olhar de ódio.

–Ótimo, agora me ajude a levantar, e vamos tentar de novo! – E ele confirmou, fazendo uma afirmação, a boca torcendo para baixo diante da força de vontade da menina, ajudando-a. Por enquanto, ainda não tinha nenhum arranhão.

Tentam mais algumas vezes, a ruiva parecendo ficar ligeiramente melhor, mas a situação, a determinação e teimosia dela começando a preocupa-lo.

–Tem certeza que quer continuar hoje? A gente pode fazer isso outro dia. – Era mentira, mas ela não tinha pensado ainda sobre isso.

–Não, não e não! – Responde, voltando a ligar a motocicleta. – Não saio daqui até estar satisfeita comigo mesma! – Responde, avançando. O que não esperava, era entortar de leve o guidão, fazendo a moto hesitar, antes de passar por uma irregularidade, no calor do momento, a menina tenta parar o movimento, o que só causa com que voe para frente.

Não sabe dizer exatamente o que acontece, porque seus olhos não assimilavam tamanha velocidade, mas deve ter rolado longe, pois, quando se deu por si, estava deitada, caída no chão, vários metros de distância de onde a moto estava caída.

Fica ali, alguns segundos, desnorteada, tentando entender o que acontecera, inexplicavelmente caindo no riso. Nem ao menos sabia por que ria.

Jacob aparece correndo a seu lado, a sombra do homem alto impedindo o sol de bater em seu rosto. Ele parecia preocupado, mas suspira fundo, ao ver o quanto ela ria. Ele balança a cabeça negativamente, parecendo inconformado.

Nessie desembestara a rir, não conseguindo se controlar, ficando mole, não conseguindo se levantar. Até se vira um pouco para o lado, sentindo a barriga começar a doer pela intensidade com que ria.

O moreno fica um pouco parado, encarando-a, parecendo pensar no que fazer, até que enfim, sorri de leve do estado da menina, abaixando-se, colocando os braços dela em seu pescoço.

O contato imediatamente parece lhe dar um choque, a risada sendo substituída por um sorriso sem graça. Ele a levanta, mas, no momento em que os braços dele encontram sua cintura, o sorriso some, e ela sente o corpo gelar, o corpo dele enrijecendo com o contato.

Com uma facilidade surpreendente, ele a põe de pé, mas as mãos delicadas que entrelaçavam o pescoço forte permanecem no lugar, mesmo quando já tinha sido colocada em sua posição correta.

Ela respira pesado, e o encara um pouco confusa, um pouco sem graça, sem saber o que fazer. Os braços dele ainda repousavam em sua cintura, mas ela não se atina, os dois se encarando por um instante.

Estavam tão próximos que seus rostos quase se encostavam, ela conseguindo ver o movimento de sua mandíbula contrair, seu corpo estremecendo com o olhar intenso com que ele a olhava. Sua cintura estava colada na dele, mas ela não conseguia desviar seus olhos dos dele, chegando a lamber os lábios de leve, vendo-o acompanhar o movimento.

Aquilo parece surtir um efeito estranho em si, o formigamento entre as pernas voltando, sentindo seu corpo esquentar, e então os olhos de cor de chocolate descem um pouco, encarando os lábios bem definidos do moreno, apenas durante alguns segundos, insinuantes.

Ele se aproxima de leve, os lábios quase se encostando, apenas para dar um passo para trás, dando um riso sem graça, surpreendendo-a.

–Desculpe por isso, acho que me deixei levar – E vira de costas, mexendo no pescoço, deixando-a encarar suas costas, enquanto caminhava e pegava a moto do chão.

Nessie ficou observando-o faze-lo, com a expressão muda. O que tinha acabado de acontecer ali? Estava em choque, seu cérebro tentando processar o que ocorrera. Era impressão sua ou ele quase a tinha beijado? Teria realmente tido um clima ou teria sido coisa da sua cabeça?

Ele estava embaraçado, não estava, então era real, não era?

Sente-se um pouco tonta, e se senta. Sua cabeça parecia rodar por um instante, estava mais confusa do que imaginava possível. Ele, só ele, dera uma quinada de cento e oitenta graus em suas preocupações. Como, em uma única semana, passara a ocupar tanto espaço em seus pensamentos?

–Nessie? Você está bem? – Vê a sombra e os pés a sua frente e levanta o rosto, para encara-lo, inclinado ligeiramente em sua direção, a expressão preocupada.

–Só um pouco tonta. – Responde, tentando respirar fundo. Isso só parece aumentar a preocupação do moreno, que se inclina, sentando-se, apoiando um joelho no chão gramado, a sua frente.

–Será que foi a concussão? – E ela balança a cabeça de leve, sentindo o mundo a seu redor tremer com o movimento. Tinha batido a cabeça? Mal percebera.

–Ah, não foi não! – Responde, enfática. Mas ele a ignora, simplesmente depositando uma mão em seu rosto, fazendo borboletas estranhas parecerem revirar-se em sua barriga, o nervosismo aumentando. Tenta a todo custo permanecer impassível quando ele levanta seu rosto de leve, olhando seus olhos devagar.

–Pode levantar um pouco o rosto? – E ela o faz, e ele observa, a sobrancelha cruzada, procurando sinais do dano. Ele a solta, fazendo o ar de seus pulmões esvaziarem. Estava sendo muito óbvia – Consegue seguir meu dedo? – Pergunta, fazendo-a seguir desde a frente, até o meio de seu rosto, apenas para respirar fundo, em seguida – Ufa, parece tudo bem. – E ele se solta, indo para trás, sentando-se no chão, como ela.

–Não te disse? – E a menina sorri, abraçando as pernas, juntando-as ao corpo.

Havia uma espécie de clima estranho entre eles e ela conseguiu capta-lo.

–Talvez nós devêssemos encerrar por hoje – Ele diz, uma mão segurando a outra. Ela o encara, séria, antes de suspirar.

–Mas ainda está tão cedo, e eu realmente queria aprender a andar... – Ele solta um riso engasgado do muxoxo da menina, mas concorda – Uma pausa então? Podemos almoçar em algum lugar, e retomamos depois disso?

Ela concorda.

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Os dois sentaram-se um de frente para o outro, em um restaurante fast-food, fazendo um jogo de perguntas rápidas.

–E zumbis, o que acha de zumbis? – Pergunta a menina, com voz animada, pegando uma batata e molhando-a no ketchup.

–Zumbis são toscos. – Ele responde, sorrindo, vendo a cara inconformada de discordância da menina – Guns n' Roses?

–Já foi melhor – Responde, dando de ombros – Lobisomens?

–Lobisomens são legais. Os considero a melhor figura, sinistra, mitológica, seja lá o que for, dessas que existem – Disso ela se impressiona.

–Jura? Sempre achei os vampiros! – Ela responde, e ele faz uma cara de tédio.

–Você é uma menina, era óbvio que ia gostar mais de vampiros, aquela história de Anne Rice, Lestat ou o diabo a quatro – E ela ri a respeito.

–É exatamente o diabo a quatro que me atrai, como você sabia?

–Eu leio mentes, não sabia? – E ele dá um sorriso maroto, misterioso.

–Ah, é? O que estou pensando agora então? – E ela faz uma expressão concentrada, enquanto ele larga as batatas na mesa, limpando as mãos na calça, pensando.

–Você está pensando – E cerra os olhos, tentando parecer aplicado – como você pôde ter tanta sorte e encontrar um professor tão bom quando eu? – E sorri, vitorioso, comendo uma batata em comemoração.

Ela lhe mostra a língua, com uma expressão de descaso.

–Errou, errou e errou de novo, ok? – E ele lambe os lábios, mordendo o sanduíche. Passam alguns instantes em silêncio, apenas mastigando, até a ruiva retomar – tá, então, conte-me alguma coisa sobre você que ninguém sabe. – E o olha, na expectativa. Ele a encara de volta, pensando por um instante.

–Eu como nachos com creme de amendoim. – Responde simplesmente, ela fazendo uma careta.

–Arghh! Isso é nojento! Não devia ter falado, agora vou ficar pensando nisso! – E ele volta a rir, encarando-a, mas, antes que o momento estranho voltasse, ela tenta emendar – Não, mas eu falo sério.

E ele a encara por um instante, uma expressão engraçada e indefinível em seu rosto.

–Não sei se tenho alguma coisa assim – ela pensa algum tempo, antes de prosseguir.

–Qual o seu sonho? – Pergunta por fim, todo o ar de graça sumindo, assumindo um ar mais sério. Ele devolve o olhar, pensativo.

–Acho que não tenho um – Responde, limpando a garganta, como que colocando um ponto final no assunto. Ela não o deu por encerrado.

–Como não? Achei que todos deveriam ter um sonho, ou coisa assim – E sorri de leve, com ternura. Ele a encara, suspirando.

–Acho que nunca fui esse tipo de pessoa, de ter grandes sonhos e tal, sempre aceitei a minha realidade como ela era.

Aquilo soou triste e um pouco amargo até para a própria menina, que conseguia ver o ressentimento naquelas palavras. Todos sonhavam como alguma coisa, mesmo que esse sonho fosse ter um sonho, como achava que era o seu caso.

–Faremos um trato então. – E ela sorri, felina, chamando sua atenção. – Você me ensina a andar de moto, excelente professor, e eu te ajudo a achar seu sonho, o que me diz? Uma troca justa?

Ele parece pensar, remexendo a cabeça, nervosamente, por fim desistindo, com um sorriso conformado.

–Feito – E aquilo encerra o interessante do dia. Quando voltaram a treinar, embora sua ansiedade tivesse aumentado a níveis homéricos, nada acontece, e mesmo quando volta a cair algumas vezes, Jake não a ajuda, contentando-se em perguntar se estava bem de longe.

A sua vontade foi de responder que tinha uma cratera no lugar da testa, só para ver a reação dele, mas se conteve. Afinal, o que estava esperando? Mas que, depois do que ocorrera ele a estava tocando menos, isso não tinha dúvida.

A aula termina deixando-a em um misto de frustração e felicidade. Uma combinação estranha na verdade, que estava prestes a fazer sua cabeça explodir. Já era tarde, e o sol começava a se despedir, os raios laranjas espalhados pelo céu em um tom bonito, deixando tudo o que tocava amarelo ou vermelho.

Os dois retornam a moto emprestada, a sensação de Nessie enquanto se segurava no corpo bem definido a sua frente, com força, sendo totalmente diferente da de quando vinha. Sentia sua garganta seca, e tudo o que conseguia pensar era em como o corpo dele era quente e bem definido.

Tinha vontade de colocar as mãos por dentro da jaqueta dele, para conseguir senti-lo melhor, mas, obviamente, não o faz, sentindo-se estranha, algo de constrangedor.

O resto do caminho é feito a pé, aproveitando para conversarem, embora Nessie tenha notado que a conversa travara. Não gostava disso, não servia a nenhum de seus intuitos, sem conversar direito, não poderia ser amiga de Jake, nem nada diferente, embora essa parte, deixasse um pouco de escanteio no seu cérebro.

Os dois andavam com as mãos nos bolsos, ela com as mãos no bolso do agasalho e ele na jaqueta de couro.

–Acho que você ganhou aquela aposta. – Ele diz de repente, tirando-a de seus pensamentos, exaltando-a.

–Hã? – Repete, olhando-o, estranha.

–Você pode ser tão ruim assim – Ele responde, lançando-lhe um pequeno sorriso irônico, fazendo-a grunhir, mas soltar uma risada, voltando-se em sua direção, batendo-lhe com o ombro, empurrando o peso de seu corpo para cima dele.

–Idiota! – Murmura, alto, mas rindo, fazendo-o rir também – Você é um idiota!

Chegam em casa já melhorados do fato anterior, trocando palavras leves, sobre bandas e filmes que gostavam, mas alguma barreira parecendo ser visível entre eles, pelo menos para Nessie, que se incomodava com o fato.

Será que agora ele se recusaria a ensina-la? Pensa no dia seguinte e não gosta, desejando que não to tivesse feito. E se ele se recusasse a ir?

–Então filha, como foi a aula? – A voz imperativa de Edward ecoa um pouco, trazendo-a arrastada para a realidade, fazendo-a encara-lo.

–Foi boa – Diz simplesmente, fraquinho. Ele a encara um pouco desconfiado, lançando um olhar estranho para Jacob, que simplesmente faz um barulho estranho com a garganta. Havia algo de errado ali e Nessie conseguia senti-lo claramente, só não sabia dizer o que.

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O dia seguinte foi outro dia de chuva, parecendo seguir a sexta-feira, manhoso, a chuvinha que ia e vinha, deixando tudo molhado e cinza.

E, apesar do dia mostrar-se desanimado, sem vontade de chegar até o fim, o humor de Nessie não batia com ele, talvez, com exceção da parte de ir e voltar. Fazia mais de uma hora que acordara, mas não deixara seu quarto, andando, de um lado para o outro.

Agora que punha uma certa distância ao que acontecera, tinha vergonha de encarar Jacob, não por nada, mais porque não sabia exatamente o que tinha acontecido ontem, e muito menos, o que ele pensava a respeito. Ele parecia ter esfriado depois disso, será que manteria isso hoje, durante o dia inteiro?

Limpa a garganta, sentindo sede, mas permanecendo a caminhar.

E ainda tinha o cinema, outro problema. Será que a história ainda estaria de pé? E irrita-se, bufando. Tudo isso por um momento, uma junção de corpos indevida. Pigarreia ao lembrar, o contato do corpo dele contra o seu, firme, atlético, ela podendo sentir seus músculos através da blusa. Os braços fortes e quentes a envolvê-la. Agora que parava para pensar a respeito, era um lugar de onde não queria sair.

Tosse alto, afastando tais pensamentos de sua própria cabeça. Não podia pensar daquele jeito, isso só lhe traria problemas.

No fim de um minuto, pára, reunindo coragem. Ficar parada ali não lhe traria nada, muito pelo contrário. O melhor era enfrentar logo aquilo e por um ponto final no assunto. Mas se sentia com o pé atrás. Era covarde e se odiava por isso.

No fim de mais alguns instantes, imóvel, sente-se preparada, e, respirando fundo, marcha a fora do quarto, descendo. Apenas para decepcionar-se, ao ver as salas de baixo vazias. Ele não estava em lugar algum para se ver, e, como não queria perguntar onde ele estava para seu pai, volta a subir, tentando sua mãe.

Bate de leve na porta do escritório, apenas para entrar, antes de ouvir uma resposta.

–Mãe, o Jake saiu? – Pergunta, entrando no escritório, só a parte de cima do corpo para dentro.

Bella demora um instante para responder, enquanto terminava de digitar, o que quer que fosse.

–Saiu sim filha, ele disse que ainda tinha uns assuntos pendentes pra resolver e que tinha de fazer isso logo, senão não conseguiria.

A menina a encara um pouco, estranha, e a morena percebe, voltando a encarar o computador.

–Ué, ele tem de partir amanhã, se esqueceu? – Aquilo parece cair como uma pedra de gelo por dentro de si, grande, machucando sua garganta, como se a arranhasse.

Havia se esquecido completamente.

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A menina liga seu laptop e fica na sala, matando tempo. Na verdade, o laptop era só uma desculpa para o que realmente fazia. Pensar.

Primeiro, tentava se decidir o que sentia por Jacob Black. Ele era treze anos mais velho que ela, e já tinha se dito isso milhares de vezes, e também, era o melhor amigo de sua mãe, o que era, no mínimo estranho, mas, ainda assim, todas às vezes que pensava nele, não conseguia evitar se sentir nervosa, como se algo estivesse a boca de seu estômago, incômodo. Seu coração parecia acelerar quando o via e ainda tinha o fato de se sentir uma tonta.

A atração já era um ato consumado. O que mais teria por ali?

E a pergunta maior ainda, o que ele sentia por ela? Será que sentia metade das coisas que ela sentia? Afinal, nunca imaginou possível, nem ao menos que ele olhasse para ela desse jeito, mas, depois do dia anterior, talvez suas esperanças não fossem tão vãs assim. Podia acreditar nisso?

Ele tinha se afastado no último instante. Ou nunca houvera instante, também era uma opção. Será que ele não a achava desejável, ou talvez, isso fosse tudo o que achava dela... Sua cabeça estava tonta de tanto girar e girar, vendo a mesma cena, de novo e novamente.

Nisso, a menina ouve a porta abrir e bater, com força, e inclina seu corpo para frente, vendo-o passar.

O Quileute entra praguejando, mordendo de leve, o maxilar seguindo o movimento. Bella é a primeira a lhe dirigir a palavra, sentada numa cadeira na extremidade da sala, levanta-se, indo até ele.

O homem estava molhado da cabeça aos pés, pequenas gotas espalhando-se por seu cabelo e jaqueta de couro. Ele não parecia se importar. Discretamente, Nessie o encara, enquanto sua mãe se aproximava.

–Tudo bem Jake? – E ele leva a mão à cabeça, irritadamente, não permitindo ser tocado.

–Tudo bem, tudo bem – E remexe-se, batendo a cabeça nas mãos – Algumas das peças que eu pedi não chegam até semana que vem. Agora me explica como eu vou fazer, sendo que meu pai precisa delas para, no máximo, quarta-feira?

E embora soubesse que não devia, o pensamento de Jacob ter de ficar mais uma semana inundou sua mente, agradável de ser ouvido e repetido. Ele continuou a reclamar com Bella, sobre os fornecedores e as entregas, mas, embora tentasse se concentrar na revolta do moreno, tudo o que conseguia pensar é que, agora, provavelmente, ele teria de estender sua estadia.

Demora alguns segundos para perceber que a conversa acabara, e Jacob entra na sala, encarando-a. Um sorriso idiota brincava nos lábios da ruiva.

–Sobre o que você tanto ri sozinha? – Quis saber, cruzando os braços, uma sobrancelha erguida. Ela sente vergonha.

–Nada não. – E emenda, para não ter de discorrer o assunto – O cinema ainda está de pé?

Aquilo parece estalar uma memória dentro da cabeça dele, com violência, claro.

–Merda, o cinema! – E ele sai, pisando duro. Nessie se levanta, mas só o tempo de fazer isso e já ouvia o quarto de Jake bater a porta. Suspira.

Era um sim ou um não?

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Enquanto caminhavam, Nessie pensava na óbvia relutância que Jacob tivera para leva-la ao cinema. Talvez devesse ter desistido, ele não parecia confortável com a idéia, e agora, por seu silêncio, também a fazia desconfortável e um pouco culpada.

Antes da tarde de ontem, tudo parecia bem, e inclusive, quando o convidara, ele adorara a idéia de irem ver um filme, depois daquilo, no entanto, era como se ela pudesse ler a hesitação em seus olhos. O que mudara? E realmente mudara? Até que ponto sua imaginação falava?

Funga de leve, o vento frio da noite em seu rosto fazendo-o gelado.

–O que você vai fazer sobre as peças do seu pai? – Pergunta, só para preencher o vazio, mexendo-se, as mãos no bolso do casaco impedindo-as de ficarem geladas como seu rosto.

Ele suspira, cansado.

–Não sei, vou ver o prazo de entrega, se for muito grande, talvez, pedir em outro lugar. Já falei com meu pai e expliquei a situação – E contrai os ombros, relaxando-os em seguida. – Já comecei a dar uma olhada em hotéis.

–Hotéis? – A menina repete, descrente, a surpresa atingindo-a como uma bofetada na cara.

–É, não posso continuar dependendo da gentileza da Bella. Ela pode ser minha melhor amiga, mas ainda assim, agora ela é casada e tem as coisas dela pra se preocupar – E a sentença soou um pouco distante e etérea, fazendo a garganta da ruiva fechar rapidamente.

–Mas não é um incômodo, quero dizer- – E as palavras morrem em sua boca, realmente incrédula, sem saber o que dizer. O moreno sorri, agindo como ela, atingindo-a com o peso de seu corpo, causando com que a moça desse alguns passos para o lado.

–Não se preocupe, ainda não achei um lugar, mas achei que deveria dar um aviso prévio. – Aquilo a fez voltar a mergulhar em si mesma. Qual seria a vantagem de ele ficar então, se não o veria? Engole um sentimento amargo.

Ele parecia um pouco sem graça por ter declarado aquilo, tentando, pela primeira vez desde que saíram aquela noite, montar um diálogo.

–Posso te perguntar uma coisa? – E ele a encara durante alguns segundos, antes de voltar a olhar para frente, fungando.

–Sim, qualquer coisa – Mas seus pensamentos ainda estavam longe, ela desnorteada.

–Eu pude perceber que você estava um pouco perdida. – Diz aquilo com cuidado, como se as palavras pudessem feri-la, ou trazer um ataque de raiva. Ela o encara, passando para confusa.

–Como assim?

–Bella me disse que você tenta não machuca-la, mas que não consegue evitar sair de casa, mas que ao mesmo tempo, tenta manter suas notas altas, e não fazer nada que não tenha volta, um dano permanente. Isso soa como coisa de alguém que não sabe o que quer.

Aquilo não era nenhuma surpresa para ela, e quando ele o expôs, não a incomodou.

–E daí? Isso não é uma pergunta. – Ele riu, baixo, abaixando o rosto.

–O que mais te aflige? – E dessa vez, ele a encara, esperando a resposta. Ela suspira, mexendo nos cabelos vermelhos, parecendo ponderar uma resposta.

–Talvez o que mais me aflija seja não saber o que me aflige. – Responde por fim, recebendo um aceno de cabeça como resposta. Não gostava de admitir aquele tipo de coisa, na verdade, não gostava nem mesmo de pensar sobre aquele tipo de coisa.

Mas, de alguma forma, aqui, com Jake, nada disso parecia importar. Era como, realmente, se estivesse com ele, nada daquilo fosse mais o monstro que costumava achar que era.

O resto do caminho é feito em silêncio, e quando entram no cinema, a menina suspira, aliviada, por, de certa forma, ter colocado aquilo para fora, pois nunca antes o fizera.

Aproximavam-se da bilheteria, quando a menina estanca um pouco, os olhos fixos em um grupo um pouco a frente.

A menina reconhece um grupo de jovens em frente à bilheteria, mas na verdade é o fato de reconhecer um, específico, que faz sentir seu sangue gelar. Jacob parece perceber sua súbita mudança, e seu olhar comprido, porque indaga.

–Alguém que você conhece? – E olha o grupo de adolescentes, não gostando.

–É, são meus colegas – Responde, com um fio de voz. Levanta o dedo indicador, mostrando um em especial, de cabelos castanhos e aparência rebelde – Aquele é o Alec, ele é irmão da minha melhor amiga... – O resto parece ser dito no som mais baixo possível – Nós ficamos às vezes. – Ela chega a achar que ele não ouvira, mas pela tensão de seu corpo, deduz que sim.

–E você quer ir cumprimenta-los? – Nessie sentiu como se fosse uma espécie de pergunta pegadinha, mas não hesita, porque não era como se realmente estivesse com vontade – Na verdade, preferia que não me vissem.

Aquilo parece ser um alívio ao moreno, que sorri torto, mas ainda parecendo perturbado.

–Então espera aqui, perto dessa coluna, que eu vou comprar os ingressos, certo? – Ela concorda com a cabeça, encostando-se ao lugar indicado, passando a encarar os próprios tênis. Tinha vontade de esconder seu rosto dentro de sua blusa, seus cabelos ruivos e cacheados nunca antes lhe parecendo tamanha maldição, por serem tão aparentes. E não podia ser diferente, quando ouve um riso próximo a si.

–Nessie! – A voz conhecida e grave é seguida de risos debochados. Sente seu sangue agitar-se. Ela vira-se, encarando os meninos que se aproximavam, mas acabam ficando em um grupo, um pouco afastado, só Alec vindo até ela. Ela lhe sorri, tentando ser simpática – Que coincidência, você por aqui! Quer ir ao cinema com a gente?

–Não podia ser mais óbvio não? – Um dos meninos do grupo grita, fazendo o menino de cabelos castanhos escuros rir, levemente histérico. A ruiva começava a sentir-se mal, exposta.

–E então, quer vir com a gente? – Ele volta a perguntar, aproximando-se um pouco, fazendo-a cruzar os braços, um desconforto tomando-lhe o peito.

–Hoje ela está comigo, sinto muito – Jacob sempre parecia chegar nessas horas, e Nessie o encara por um momento, mordendo o interior de sua bochecha, para depois voltar a olhar o chão. Ele não parece se incomodar como ela ficara sem graça, vindo parar a seu lado, puxando-a levemente de encontro a si, pela cintura.

Nessa hora, seus olhos ficam tão grandes quanto os de Alec. Ela encara o menino por um momento, depois volta a encarar o alto homem a seu lado. Ele lhe lança um sorriso zombeteiro, o braço enlaçando-a, antes de começar a andar, por pouco não a fazendo tropeçar.

Os dois permanecem assim até entrarem na sala, ela muito consciente do calor que o corpo masculino dele emanava, de como eram confortáveis suas mãos em sua cintura fina, em como seu corpo parecia se revirar por dentro, fazendo-a instável, algo dentro de si indo de um lado para o outro.

O que ele estava fazendo?

Quando ele a solta, quase vai ao chão, sentindo as pernas tremerem, como gelatina. Sua sorte é poder sentar-se, antes que ele o notasse.

Durante todo o filme, que tanto quisera assistir, ficou pensando no que acontecera, procurando sinais do Jacob que existia, até poucos segundos antes da menção de Alec, ele parecia ter sumido. Fora que, primeiro, parecia estar frio com ela, ela deduzira que fora pelo que ocorrera na aula, mas depois, a primeira menção de um ficante, ele vinha agir todo protetor pra cima dela, como se ela o pertencesse.

Estava confusa, as ações do moreno não faziam sentido e davam um nó maior ainda em sua mente. Desiste de ver o filme, suas indagações gritando dentro de sua mente.

Não sabia o que estava acontecendo consigo, nem com Jacob, só sabia que ele a deixava confusa, uma bagunça total, e que gostava de estar do lado dele. Apenas para variar, não queria pensar no que isso significava.

Volta a lançar outro olhar surdino em Jacob, mordendo o lábio inferior. Ele parecia tão concentrado no filme, como se o que acontecera instantes atrás já não mais existisse me sua mente. Seria ela, a única incomodada com o que acontecia?

Seria tão mais fácil se pudesse simplesmente visualizar o que os outros pensavam, assim como que acontecia em sua mente. A idéia, vendo o filme passar, acha outra resposta que achava perdida dentro de si.

O filme acaba, e os dois se retiram, em silêncio. Teriam voltado para o estado anterior ao filme?

–Gostou do filme? – O moreno pergunta, sem encara-la, enquanto saíam para a rua, movimentada apesar do horário, carros passando sobre o chão molhado, vários reflexos de luzes sendo borrados.

–Uhum – Responde, mas não o tinha assistido, provavelmente não sabia nem a metade. Respira, resignada, tentando acalmar o inconformismo consigo mesmo.

E voltam a se calar, a menina sentindo o vento frio, mas agora agradável que batia em seu corpo. Tira o cabelo do rosto.

–Pensei em uma coisa que você me disse. – E ri, baixo – Acho que é mais como se tivesse percebido isso...

Ele parece interessado, virando a cabeça de leve para ouvi-la.

–O que eu quero fazer. Eu gostaria de mostrar o meu modo de ver o mundo, como eu enxergo as coisas.

Ele dá um sorriso torto, fazendo, como sempre, seu coração acelerar.

–Tem a sua cara. – E joga um olhar brincalhão – Ahhn, algo como artes então. Fazer filmes ou coisas assim?

E a menina percebe uma coisa que a faz ficar parada, encarando-o fixamente durante alguns instantes, ele também pára, esperando-a.

–Uhum – Responde, voltando a andar. E perguntava-se como uma pessoa que conhecia há tão pouco tempo poderia conhece-la ta bem.

Com Alice era diferente, Alice a distraía. Quando estava com Jacob era como se não precisasse se preocupar com nada. Resolve deixar isso para lá por enquanto, e, sem perceber o que fazia, sorri, docemente, segurando o braço de Jake, sorrindo para esse, que apesar de não corresponder o gesto, também não faz nada para afasta-la.


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Notas finais do capítulo

Terminada em: 02.12.2011

Publicada: 06.08.2013

As coisas começam a tomar uma forma nesse capítulo. Aqui, o relacionamento deles começam a mudar a dinâmica. Yay! :D

O babado começa a ficar interessante.

Obrigada a todos que acompanham ^^