Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 16
16




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16

"Put your lips close to mine,
As long as they don't touch,
Out of focus, eye to eye,
Til the gravity's too much,
And I'll do anything you say,
If you say it with your hands,
And I'd be smart to walk away,
But you're quicksand,

This slope is treacherous,
This path is reckless,
This slope is treacherous,
And I, I, I, like it
"

Nessie respira fundo, olhando a janela. As mesmas meninas de sempre brincavam, mas não conseguia prestar atenção a elas. Um nó em seu estômago a sufocava. Uma das meninas cai da bicicleta e começa a chorar, a outra se aproxima, com cara de medo. A ruiva as relanceia, sem encara-las. Uma brisa agradável mexia em seus cabelos de onde estava, sentada na janela. Suspira.

Agora Seth sabia e aquilo a incomodava mais do que deveria, o dia de ontem tinha sido confuso e angustiante. Ele fora o primeiro a saber e sentia-se extremamente mal por isso. De alguma forma, em seu ínfimo, mantivera a esperança de seus pais serem os primeiros. Era um sentimento confuso e controverso, pois ao mesmo tempo que desejava ardentemente que eles nunca soubessem, queria que eles fossem os primeiros. Sendo totalmente sincera consigo mesma pela primeira vez, estava só com medo. Em sua forma mais pura.

Ainda mais, depois da briga com Jacob, um fantasma de angústia parecia perdurar, assombrando-a pelos cantos, fazendo seu peito arder quando puxava o ar.

Sabia que tinha tantos motivos para seu relacionamento com Jake dar errado que não queria mais um deles. Seu pai era facilmente capaz de separa-los, simplesmente por desaprovação ou desgosto.

Alguém bate na porta e a moça vira o pescoço levemente, com graciosidade.

–Sim? - Sua voz era um pouco rouca e percebe que fazia várias horas desde que proferira suas últimas palavras. Bella aparece na porta, um sorriso sem-graça, como se estivesse invadindo.

–Alice está aqui, Rosie também, não quer sair um pouco? Eu chamei o Seth - Sabia que deveria animar-se, mas aquilo fora como um soco no estômago. Era o que recebia por ter mentido no dia anterior, era o que merecia. Começava a perceber que gostaria de se punir pelo que fazia de errado. Tenta esquecer e promete a si mesmo que tentaria se divertir, por sua mãe e por ela mesma, merecia distrair-se um pouco.

Logo que o encontra, põe-se nervosa, mas ele lhe sorri educado e assim que se vêem sozinhos, a reassegura.

–Não se preocupe, não direi nada sobre você e o Jake, minha boca é um túmulo - Levanta as sobrancelhas - Foi só o choque inicial - E sorri em seguida, simpático. Aquilo a faz relaxar, sorrindo de volta.

O dia fora passa rápido e agradável, somente para somar-se a sua culpa anterior. Seth era um garoto agradável que parecia saber exatamente o que dizer para deixa-la a vontade ou fazê-la rir. Em uma outra situação, poderia acabar gostando dele. Eram dois adolescentes em sincronia. As mais velhas percebiam e faziam de tudo para deixa-los a sós. Se ao menos elas soubessem o quanto era em vão.

Seth agia com naturalidade, como se já tivesse totalmente recuperado do baque da notícia do dia anterior. Aliás, nem a mencionara. Os dois passam grande parte do tempo em um fliperama, competindo, enquanto as outras passeavam e viam lojas.

Depois, o menino lhe comprou um sorvete e os dois sentaram-se na praça de alimentação para comer.

–Você é bom demais, me deixa com vontade de voltar a treinar, só pra te vencer - A menina cutuca, rindo, jogando o cabelo para trás, sobre os ombros. Seth ri de volta. - Nós costumávamos vir aqui todos os dias, Jane e eu, uns anos atrás. Acho que perdemos o costume.

–É uma pena. Você realmente parecia enferrujada. - Ela o olha indignada.

–Heyyy! - E arregala os olhos, cutucando-o com sorvete - Não se fala isso para uma dama! - E finge-se indignada.

–Bom saber! Assim que vir uma, faço questão de agir direito. - Ela lhe faz uma careta e chuta sua perna por baixo da mesa. Ele só ri mais alto.

–Você é um idiota!

–É uma qualidade de todos os homens.

–Difícil negar - E os dois riem mais.

–Vocês parecem estar se divertindo - A voz grave faz Nessie engasgar, tendo um acesso de tosse que quase a mata sem ar. - Jake? - E pula na cadeira, virando-se para encara-lo. Ele os olhava de volta, os braços cruzados e uma sobrancelha levantada, Bella a seu lado.

–Olha quem eu achei! - E a morena parecia animada, mas muda um pouco o tom, voltando sua atenção para a filha. - Nessie, tudo bem? Você está pálida!

–É Nessie, tudo bem? - E a voz ácida de Jake a faz arrepiar-se, mais e mais culpa acumulando-se em todos os seus poros. Ela acena de leve. De alguma forma, sentia como se Jacob a tivesse pegado fazendo algo muito errado. Sabia que não deveria ter a impressão, mas por ele não estar a seu lado, parecia que ela estivera fazendo tudo escondido.

Não deveria divertir-se tanto e tão levianamente com Seth, quando na verdade, era comprometida. Era ciúme o que lia nos olhos negros e intensos a sua frente. Ele percebe que ela o analisava e desvia o olhar, já começando a andar. Automaticamente Nessie levanta-se, sem se dar conta do sorvete que escorria por seus dedos.

Bella o seguia, um pouco distraída, olhando para a tela do celular, provavelmente a procura das meninas.

–Nessie! - A voz de Seth chama a anteção dos que estavam a frente - Olha o que está fazendo, menina distraída! - E pega um guardanapo, passando-o pelos dedos finos. A menina engole em seco, relanceando Jake, sem coragem. O olhar dele era fixo e rígido sobre si, ela podia ver sua mandíbula contrair - É melhor você passar no banheiro para limpar isso.

Ela concorda e apressa-se. Tudo para sair das vistas de Jake. Podia sentir seus olhos queimando em suas costas enquanto se distanciava. Fica no banheiro mais do que o necessário, limpando as mãos e depois se olhando no espelho. O coração batia forte e descontrolado. Se possível, sentia-se ainda pior, não queria sair do banheiro.

Sabia que Bella, Rosie e Alice achavam que ela fazia um bom par com Seth e estavam tentando deixa-los sozinhos. Não queria acrescentar Jake àquela receita. E o pior? Não poderia falar com ele, explicar-se enquanto elas estivessem ali. Seria insuportável a tarde inteira daquilo.

–Renesmee Cullen, você consegue fazer isso, você é forte o bastante - Apoia-se na beira da pia e olha sua imagem refletida, fixamente, se repetindo o mantra algumas vezes, a fim de convencer-se. Desiste na quinta tentativa, respirando fundo. Como se não pudesse ficar para sempre no banheiro, sai hesitante, como fazia tempo não se sentia, apenas para encontrar Seth do lado de fora, ao lado do bebedouro, encostado a parede, as mãos na jaqueta bege de couro, esperando-a, sorrindo.

–E aí? Tudo bem? - Ele parecia uma mistura de preocupação, divertimento e curiosidade. Ele confirma com a cabeça sorrindo. Ele se aproxima, mas abaixa-se um pouco, enroscando o braço dela no dele, o sorriso maroto se esticando quando aproxima-se do seu ouvido - Relaxa, está tudo bem, é bom para o Jake aprender a controlar o temperamento! - E Seth ri um pouco, Nessie não consegue evitar relaxar um pouco também e sorrir da maldade do menino, mas tudo volta a dar um giro de cento e oitenta graus quando Jake coloca os olhos em si.

Sente-se mal, subitamente. Seth a cutuca, fazendo sua cabeça dar uma guinada. As memórias do dia anterior voltam vivas, com a raiva lívida.

–Venha Seth, a gente tem mais o que fazer - E ela comenta e sorri, sem encarar o mais velho, puxando o amigo pelo braço, que levanta as duas sobrancelhas, em surpresa, sendo puxado pela mão. Ele ainda tem tempo de relancear um olhar de desculpas a Jake, que não tirava os olhos das duas figuras. Ela o ouve suspirar, alto, mas o ignora totalmente.

Seth a olhava sem saber o que fazer.

–O que você está fazendo? O que eu te falei lá atrás, eu estava brincando, você sabe né? - A moça lhe direciona um meio sorriso, rápido.

–Desculpa, estou usando de improviso. Não estou muito a fim de pensar nisso, aliás, estou com uma tremenda dor de cabeça - Não mentia, já estava com ela antes, mas agora começava a tornar-se insuportável - Será que a minha mãe se importa de eu ir para casa?

–Não acho que ela vá se importar não. Eu vou contigo - E ele dá um soquinho no ombro dela com o próprio ombro, rindo maldosamente - Além do mais, ela tem companhia. - E disso Nessie não consegue evitar rir abertamente, divertida.

A menina liga para a mãe, que apenas a diz para voltar com cuidado. Ela e Seth voltam de ônibus, conversando, animados. Marcavam uma segunda sessão de jogos, a empolgação parecendo de duas crianças pequenas.

–E quanto a apostas? - A voz dele era curiosa, mas ela lhe dá um tapa com força. - Auch, pra que isso?

–Você quer me assaltar, que parte de enferrujada você está ignorando? - Ele revira os olhos.

–Droga, e eu achando que ia ser dinheiro fácil! - Os dois voltam a rir, parecendo dois pivetes em uma loja de doces. O telefone celular da moça toca e ela atende, sem olhar o número, o vestígio de sorriso ainda em seus lábios sumindo rapidamente.

–Hey... - E ela soava hesitante.

–Hey... - E os dois ficam em silêncio. A de cabelos cor de cobre parava em frente de casa agora, tendo descido no ponto, Seth a seu lado, agora dando alguns passos para o lado, para lhe dar privacidade. Nessie era péssima em pedir desculpas, embora soubesse que deveria fazê-lo, era péssima com o orgulho.

–Podemos nos ver mais tarde? - E dessa vez o silêncio torna-se desconfortável. Nessie remexe-se no lugar ao perceber isso e afasta o telefone da orelha por um instante, para arrumar o cabelo.

–Claro, por que não? - E sua voz saía fraca e rouca. Recrimina-se a si mesma por isso.

–Então...Até lá...

–Até lá... - E os dois desligam.

Nessie ainda fica um tempo estagnada, olhando para o aparelho celular em sua mão, tomando algumas notas mentais, alheia a realidade, Seth encosta em seu ombro, fazendo-a ressaltar e olha-lo, assustada, o cabelo batendo no rosto.

Seth ri um pouco, achando graça da situação, deixando-a irritada.

–Tudo bem? Você parecia muito longe daqui - E ele soava tão genuíno em sua preocupação, que ela se vê na obrigação de ser honesta.

–Não sei... Eu e Jake brigamos ontem a noite - Diz, tentando ser vaga, embora verdadeira. Os dois ficam alguns milésimos se olhando nos olhos, decidindo seus próximos passos.

–Imaginei - Ele completa, suspirando, quebrando o contato visual, colocando as mãos nos bolsos do moletom que usava, chutando o chão, suavemente. Ela levanta uma sobrancelha e cruza os braços, mudando o peso do corpo, esperando uma explicação, o cabelo longo e solto caindo pelo ombro com o gesto, o rosto levemente inclinado para o lado. - O Jake chegou tão estressado ontem, depois de te levar em casa, que eu imaginei que alguma coisa tinha acontecido. Ele nem disse nada, estava fora de si, resmungando e batendo em tudo o que via. Ele foi para o banheiro e eu tratei de arranjar um canto pra dormir antes de ele sair.

Aquilo chama a atenção dela, que estica o sorriso malicioso, provocativa.

–Não tinha pensado nisso, e aí, como vocês estão fazendo? Estão repartindo a cama? - Tinha uma expressão traquinas, os olhos brilhando.

–Não, esse é um privilégio só seu, relaxa - E ela murcha, emburrando, a postura mudando em segundos, fazendo-o cair na gargalhada. Ela lhe dá um tapa forte no ombro, fazendo-o até ir alguns passos para trás, pelo impacto, mas isso só o faz rir mais. Ela enruga a boca e cruza os braços, meio sem jeito.

–Seu sem graça! - E ele ri com mais gosto.

Ficam assim alguns segundos, Seth tendo até de se abaixar um pouco para frente, para conseguir respirar. Ela ergue uma sobrancelha com uma expressão de desprezo clara, quando ele começa a se recuperar.

–Não... - E tenta respirar, apoiando as mãos nos joelhos, agachado - Sério agora... Ontem eu dormi no chão, hoje peguei um quarto para mim. - Ela concorda levemente, nisso o celular em sua mão vibra e ela liga a tela touch, vendo a mensagem que recebera de Jacob indicando o horário que eles podiam se encontrar e perguntando onde eles poderiam ir. Ela não sabia e respondeu que eles decidiriam na hora. Volta a atenção a conversa anterior.

–Quem está pagando a sua estadia? - Ela ponderou um tempo mínimo antes de perguntar que poderia ser ele mesmo. Isso a fez pensar em outra coisa - E como o Jake está pagando a dele?

Seth estranha ela não saber, mas não comenta.

–Eu meio que estou pagando um pedaço, outro é o pai do Jake, que me mandou, mas como eu vou ficar pouco... - Ela faz um gesto imperceptível de concordância com a cabeça. - O Jake está pagando com as economias dele, pelo que eu sabia. O pai dele até estava preocupado com isso - E depois o menino faz uma cara de desconfortável, não focando a menina a sua frente, como se percebesse que falara demais.

A culpa lhe veio certeira. Ele gastava seu dinheiro por causa dela. Ela sabia que era inevitável, mas ao mesmo tempo, não queria ser a culpada a limita-lo porque o fizera gastar todas as suas economias pagando um hotel para ficar na cidade, só por causa dela.

Morde o lábio inferior e abaixa o rosto, sentindo o gosto de bile na boca, percebendo que fora o sorvete, comera muito mal no dia.

–Desculpa, não devia ter falado isso - Ele confessa, em um sussurro. Ela ia acenar, indicando que não fora nada, mas seu telefone volta a vibrar.

A mensagem era seca e curta, talvez por ele não saber como dizê-la.

'Você ainda está com o Seth?' Era o que dizia a mensagem. A menina encara a tela por alguns segundos, descrente. O que era aquilo? Ciúme? Tinha cabimento àquela altura do campeonato? O que ele pensava que ela...

Irritada, bufa, jogando tudo o que podia dos cachos para fora de sua visão.

'E você? Ainda está com a minha mãe?' Calcanhar de Aquiles. Não se importou, desligando a tela e colocando o aparelho no bolso, decidida a não conversar mais com ele até se encontrarem de noite. Não queria se estressar e muito menos voltar a brigar com ele quando se encontrassem, precisava tentar manter a cabeça calma.

–E aí? Quer comer alguma coisa antes de ir embora? - Oferece, mas Seth nega, educadamente.

Ali, os dois se despedem rapidamente, com um sorriso e um abraço, a moça entrando em casa, ainda desconfortável, o sentimento de peso que só parecia crescer dentro de si a corroê-la cada vez mais por dentro. Imaginava que tudo aquilo realmente só acabaria dali duas semanas e, por esse lado, mal podia esperar por isso.

Sente o estômago reclamar um pouco, excessivamente ácido e come qualquer coisa que encontra na cozinha, sem realmente perceber ou pensar no gosto, só para ele parar de reclamar.

Olha rapidamente para o vestidinho leve que usava, com uma estampa florida, que ficava na altura dos joelhos e decide que não tinha necessidade de troca-lo. Ao invés disso, para passar o tempo, dormiu um pouco, a dor de cabeça voltando a repuxa-la depois de se ver sozinha. Algumas lições atrasadas que mais do que estavam na hora de serem feitas, uma ou outra pesquisa e de repente, sua mãe voltava para casa, sorrindo, com algumas sacolas na mão.

Nessie já se instalara na sala e escutava música, rabiscando alguma coisa em seu caderno de lições e levanta uma sobrancelha inquisitiva para a morena.

Bella, ainda cantarolando levanta as sacolas até a altura dos olhos, entendendo o sinal da filha.

–Alice e Rosalie, você sabe como elas são. - E larga as compras do lado da porta, indo para a cozinha pegar um copo de água. A menina tira um dos fones de ouvido, ajeitando a saia, sentada de lado, as pernas ao lado do corpo no sofá.

–E como foi o passeio? - Tem de usar o tom um pouco mais alto para a morena ouvir.

–Foi bem legal. Discutimos nomes de bebês para a Rosalie. Ela detestou todos! - E a narradora riu um pouco, fazendo Nessie ficar agradada. - Só o Jake, que estava agitado e caladão, acho que ele estava de mal humor, pouco tempo depois de vocês ele também foi embora, mesmo depois de eu ter tentado faze-lo dizer qual era o problema.

Renesmee estava subitamente autoconsciente e volta a remexer na barra do tecido, tentando disfarçar o fato.

–Vai ver ele não estava se sentindo bem - Mas a desculpa soava mal até em seus próprios ouvidos. Bella não percebe nada, ou, se nota, não diz nada, passando por cima do assunto. A ruiva resolve preencher o vácuo - E o papai, quando volta?

–Ele já deve estar quase aí, ele me disse que já estava chegando, a agitação do Emmett e do Jasper juntos é muita para alguém aguentar durante muito tempo - E as duas visualizam os dois e começam a rir.

–É porque vou dar uma saída com a Jane, só queria avisar... - E Bella parece ligar a antena, prestando subitamente muita atenção, até as costas ficando retas. A menina percebe - Não é nada demais, a gente vai no cinema ou no parque de diversões, algo assim.

Isso a faz lembrar-se do parque de diversões móvel que estava na cidade, razoavelmente perto de sua casa. Ela e Jane realmente ficaram de ir, mas a loira não parecia nada animada, então havia acontecido um cancelamento temporário até segunda ordem. Era o lugar perfeito, teriam um bom percurso a percorrer, podiam conversar.

Aliás, não sabia exatamente se a ideia era ótima ou a pior que já tivera até então. Puxa o celular do bolso e digita uma mensagem rápida, perguntando se Jake tinha algo contra parques de diversões. Ele demora para responder e ela já terminava de escrever um relatório, mais de uma hora depois, quando ele responde que não. Sorrindo satisfeita, suspira em seguida. Queria se arrumar um pouco.

Sobe as escadas calmamente, ponderando sobre o que usaria, os cadernos pendendo-lhe dos dedos finos, de cor de mármore, da mão esquerda, a mão direta carregava um lápis, que ela batia de leve no corrimão, em um ritmo de uma música qualquer.

Entra no quarto cantarolando. Não queria admitir, mas estava muito nervosa, não saberia dizer o que aconteceria quando encontrasse com Jake. Estavam brigados e teria de pedir desculpas pela ceninha que fizera.

As palavras dele ecoam um pouco em sua mente. Em principal uma frase.

Deixe de ser infantil...

Suspira. Não sabia o que esperar. Desanimada, com o estômago revirando-se na barriga, abre o armário. Ainda por cima, hoje não havia sido exatamente uma contribuição para o relacionamento deles, pelo contrário. Estala os lábios e fecha os olhos com força, chegando a ver borrões de cor quando os abre, determinada. Não pensaria nisso.

Primeiro, a roupa.

Escolhe uma calça jeans escura, rasgada em algumas partes pela perna, na parte da frente e uma blusinha vermelha, com um decote quadrado, justa em cima e soltinha embaixo. Toma um banho, veste-se e depois de muito sofrer, deixa os cabelos soltos. Ainda terminava de passar o rímel, quando seu celular toca.

'Estou aqui na frente.' Ela desceu correndo, de dois em dois degraus, beijando Bella no rosto antes de sair, abraçando-a com um sorriso, o calor agradável de mãe, antes de sair pela soleira da porta, só parando para voltar a pensar na situação quando já atravessara o jardim bem cuidado e chegava na calçada bem iluminada pelos postes da rua, Jake esperando um pouco afastado, encostado a um muro, clareado por um deles.

Travando, mas lutando contra o fato, anda na direção dele, percebendo que ele levantara os olhos do chão para encara-la quando estava chegando perto. Por um momento, não pode deixar de se indagar como ele conseguia ficar tão perfeito apenas de camiseta preta e calça jeans, mas o pensamento é obrigado a ceder lugar ao nervosismo latente, quando pára em frente a ele e o olha nos olhos. Respira tão fundo que acha que ele pode ouvir seu coração acelerado.

–Heey - E ela bate de leve o pé dela no dele, cumprimentando-o com um sorriso sem graça, cruzando os braços em seguida. Ele sorri, também parecendo tímido, relanceando o chão.

–Hey... - Responde. Um silêncio esquisito preenche o espaço entre os dois e ela morde o lábio, esperando a oportunidade de dizer qualquer coisa. Podia ver o maxilar dele flexionando, como ele fazia quando estava sem jeito. É quando ele a surpreende, desencostando do muro atrás de si, ficando frente a frente com ela, a sombra da figura dele encobrindo-a totalmente, com a altura assustadora.

Ela levanta o rosto para encara-lo nos olhos, mas ele a puxa para perto, pela cintura. Ele cola os corpos com delicadeza e lhe toma os lábios com gentileza. É um contato quente e agradável e ele fica imóvel ao fazê-lo. Ela relaxa de leve, ficando na ponta dos pés, alcançando seu pescoço. Os dois entreabrem os lábios e repartem um beijo calmo, as línguas se tocando devagar, brincando no espaço repartido.

A brincadeira não dura um minuto e ele para de beija-la, mas não a solta, uma mão suavemente por baixo de sua blusa, fazendo-a sentir arrepios agradáveis subirem por sua espinha. Se encaram nos olhos e ela percebe o que ele estava fazendo.

–Me desculpe... - Ele diz simplesmente, mordendo com força, ela vendo o maxilar tencionar-se com força. Ela sorri de leve, levando a mão pequenina para o rosto dele e o acariciando de leve, vendo-o fechar os olhos com o contato suave.

–Não, eu que deveria pedir perdão - E ela sorri, apreciando a imagem dele, fascinada. Ele sorri ainda mais e a abraça tão subitamente, com tanta força, com tanta intensidade, que ela se vê mexida, para em seguida solta-la, tão rápido que ela não tem tempo de associar o que acontecera.

Ele pensava que ela lhe era a coisa mais importante. Algo que não gostaria de perder. Algo que não podia se dar o luxo de perder, principalmente por uma mesquinharia como aquela.

–Vamos - Ele diz suavemente, esticando a mão para ela. Ela sorri, encantadoramente e pega a mão grande, os dentes perolados ainda a mostra, fazendo-o não conseguir deixar de olha-la, bobo com a beleza estonteante.

Estava completamente perdido.

Os dois chegam no parque por volta das sete da noite, ficando o percurso inteiro em um silêncio constrangido repartido. Mas o clima muda, assim que entram, Nessie dando uma corrida na frente, desembaraçando suas mãos das de Jake.

–Faz tanto tempo que eu não venho num desses! - E ri alto, dando um giro de trezentos e sessenta graus, tempo suficiente para o moreno alcança-la e voltar a enlaçar as mãos. Ela o olhou, de esguelha, enquanto os olhos ávidos percorriam tudo ao redor - Para você ter uma noção, da última vez que vim em um desses, foi nos ombros do meu pai. - E ela riu um pouquinho, agradada.

Ele abre um sorriso de lado, breve e tímido ao vê-la feliz. Não consegue evitar acompanhar sua animação com gosto. As luzes amareladas borravam o céu quase preto, luzes claras, amarelas, laranjas, pessoas para todos os lados em um abafado e eterno burburinho. Tecidos coloridos, máquinas de algodão doce, balões de gás, crianças rindo, crianças gritando na montanha-russa.

–Eu nunca vim em um parque de diversões - Ele comenta baixinho, mais para ele do que para ela, mas chama a atenção da ruiva, que o olha espantada.

–Nunca? - E sorri em seguida, descrente. Ele nega com a cabeça. - Então temos uma missão a cumprir! É uma missão inesquecível a caminho - E ela faz como quem puxava as mangas da blusa, em um trabalho árduo e ri em seguida, fazendo-o acompanha-la.

Só pela sua companhia, ele tinha certeza que seria.

Os dois percorrem o parque sem pressa, como turistas com uma máquina fotográfica no pescoço, registrando as primeiras impressões. Se beijam na roda gigante, onde ele a abraça por trás, sentindo o cheiro de seus cabelos, inebriando-se na cabine fechada, comem algodão doce, andam na montanha russa. Tudo que uma pessoa que vai a um parque deveria fazer.

O plano original, discutir o problema, parecia ter se dissolvido nos primeiros instantes, quando conversaram na calçada em frente a casa dela, agora, nunca pareceram ter tanta sincronia.

–Vamos, ninguém nos conhece por aqui! - E a menina o força a pegar sua mão, parando em uma barraquinha com alguns salgados. Ele concorda, rindo da atitude exigente dela. Era difícil lhe negar alguma coisa.

Os dois sentam-se em cadeiras de madeira, de piquenique. A moça indaga-se se as várias mesas já estariam lá quando o parque temporário fora construído, ou se havia sido trazido com eles. Não tem muito tempo para pensar no assunto, porque o movimento de Jake ao esticar a mão e cobri-la com a dele chama sua atenção.

Ele suspira pesadamente e ela sabe que ele queria dizer alguma coisa.

Permanece pertinentemente em silêncio, esperando que ele fosse o primeiro a falar, ajeita o cabelo de cachos, jogando-os para trás enquanto ele parecia organizar as ideias. As mãos dele já haviam voltado para o lugar e ela tinha as dela no colo. Ele limpa a garganta, total e adoravelmente sem jeito, bagunçando os cabelos com a mão.

–Nessie... Tem uma coisa que eu não falei e preciso dizer - Ela ficou com medo por alguns segundos - Eu não fui totalmente honesto com você... Hoje, quando eu vi você com o Seth, uma coisa horrível me passou pela cabeça... Vocês estavam ali, no meio do shopping, conversando e se divertindo na frente de todo mundo e eu tenho de ficar me escondendo para ficar com você... Como se fosse errado ou sei lá... - E engole em seco - Idiotice minha.

Ela o olha, mexida, sorrindo e puxa a mão dele de encontro aos lábios, abraçando-a com as delicadas palmas dela. Novamente tudo o que ele faz e seguir o gesto com os olhos. Começavam a se prender em uma magia indisprendível. O feitiço se intensificava, ligando-os com força. Eles sorriem, sem conseguir desviar os olhos, sem conseguir deixarem de se encarar, de se olhar.

–Não é idiotice - E sorri, embaraçada, falando fraquinho. O sorriso torto e apaixonante dele aparece, para o lado.

Não precisaram de muito mais do que isso pelo resto da noite, andando calmamente de mãos dadas pelo parque, em uma sincronia tão genuína e agradável que algumas pessoas comentavam do casal.

–Eu aposto que você não consegue pegar um daqueles bichinhos de pelúcia para mim! - E ela aponta, animada. Ele olha os animais de relance.

–Então é assim é? Sem desvantagens para Nessie Cullen? Bom saber - E a menina ri, pilhéria. Ele desvencilha as mãos e acaba por conseguir um pequeno tubarão de pelúcia, que rende aos dois umas boas risadas por um bom tempo, pelo tipo incomum do animalzinho que parecia tão fofo, em seu tamanho miniatura.

Estavam quase saindo, quando Nessie avista uma última coisa que precisavam fazer. Ela puxa a mão do namorado com força, fazendo-o virar-se para ela, inquisitivo.

–Você nunca antes veio a um parque, certo? - E ele concorda - E não temos nenhuma foto juntos, isso é perfeito! - Exclama, puxando-o para que a seguisse. Uma cabine de fotos instantâneas era o que roubara sua atenção e dessa vez o quileute ri, sem graça, o sorriso estonteante.

–Eu não sou muito bom com fotos, se é que você me entende - E ele diz, abaixando o rosto, mas ela o cutuca, com força, fazendo-o gemer e olha-la feio, mas divertido.

–Para que isso?

–Não é óbvio? Não vejo como você - E o sinaliza todo - Com tudo isso, poderia vir a ficar feio em uma foto, então cale-se...Podemos ir duas vezes, aí cada um pode guardar algumas fotos para si. E ela estica o sorriso meigo e, diante dele, Jake suspira, não sendo capaz de ir contra ela.

Os dois entram na máquina depois de esperar em uma pequena fila, e ela logo se senta arrumando os cabelos, como toda a menina, rindo um pouco, ele se senta a seu lado, sem saber o que fazer. Ela ri dele e as fotos começam pouco depois. As quatro primeiras estreavam eles se divertindo um pouco, ele rindo da careta que ela fazia para a câmera, ela o cutucando, ele tentando fazer alguma careta e ela rindo parecendo uma menina, seguido pelo segundo lance que eles ativaram em seguida. Os dois normais, ela beijando a bochecha dele, os dois se encarando e um beijo final. Afinal, nenhum set era considerado completo sem o beijo final.

Depois disso, ainda permanecem alguns minutos dentro da máquina, sem conseguir se desvencilhar um do outro, fechando as distâncias entre si, permitindo que a respiração ali dentro se tornasse algo difícil de alcançar. Isso rende a Nessie uma segunda marca no pescoço.

Nessie saiu satisfeita, sentindo-se nas nuvens, e, quando Jake a deixou perto de casa, fez questão de puxar-lhe para um novo beijo lento, agradável, com ela enroscada em seu pescoço e bagunçando seu cabelo, sentindo as mãos quentes dele por dentro de sua blusa, segurando-a firme contra si. Mais um selinho e ela sorri, acenando e pondo-se em corrida para dentro de casa.

Entra em casa batendo a porta e encostando-se a essa com um suspiro risonho, suspeito. Ainda levemente histérica, sobe para o quarto, sem pausar para procurar pelos pais, indo para o quarto. Se sentia tão bem, que, atualmente, nada poderia ou conseguiria estragar seu humor. Volta a abraçar o tubarão pequeno contra o peito, jogando-se na cama. Sentia-se tão bem que parecia mentira.

Solta um risinho e beija o bichinho. Estava amando.


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Notas finais do capítulo

Terminado em: 06.12.2012
Publicado: 08.09.2014

A música do começo é Treacherous (Taylor Swift)

Olá pessoal! Long time no see!
PS - Desculpem-me os erros, o texto não foi revisado hihihi

Xoxo
Suss.



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