Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 14
14




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14

"...Take me away, a secret place
A sweet escape, take me away
Take me away, to better days
Take me away, a hiding place

I got a pocket, got a pocketful of sunshine
I got a love and I know that it's all mine, oh
Do what you want but you're never gonna break me
Sticks and stones are never gonna shake me, oh..."

Acabando de colocar a bagagem no porta malas, a menina entra no carro e bate a porta com força atrás de si. Bufa de leve, ajeitando os shorts curtos, puxando-os para baixo, sem jeito, incomodada pelo calor.

–E aí? Conseguiu escapar dos seus pais? - A voz grave chama sua atenção, e ela se vira, sorrindo, apenas inclinar-se para o lado, para trocar um beijo curto com Jacob, antes de voltar para o lugar. Com isso, ele apenas sorri, parecendo revigorado com sua presença.

–Eu disse que ia pra praia com a Jane... - E põe o cinto. - Faço isso o tempo inteiro.

–Mentir para seus pais onde você realmente está?

Ela o olha incrédula, mas ele apenas a encarava de volta, com uma sobrancelha erguida, esperando a explicação.

–Claro que não né? - E ele ri, e ela percebe que ele brincava, despertando uma pontada de irritação em si - Idiota! - Murmura entre dentes, fazendo a risada dele aumentar, maliciosa.

Jane e seus pais tinham uma casa na praia, que Nessie e a loira usavam constantemente. A menina, inconformada como estava, não teve problema nenhum em emprestar para a amiga a casa por um fim de semana.

Isso sendo feito, não fora nada difícil pedir para os pais um fim de semana afastada. E, embora quisesse aquilo imensamente no momento, o peso da culpa era grande em seu peito, e até um pouco amedrontador, coisa que a menina tentava, a todo custo, manter afastada de seu raciocínio, pois achava que, se sentisse menos, o sentimento diminuiria, ou iria embora. Estava enganada, e gostava de mentir para si mesma. A tranquilizava, e no atual momento, era tudo o que queria.

Sem dar muito atenção ao que fazia, liga o rádio, e abraça as pernas, deixando a mostra o tênis All Star que usava. O carro andava e, pelas janelas abertas, podia sentir a brisa agradável contra o rosto. Cantarola de leve a música, colocando a mão para fora, para sentir o vento. Jake só a olha com o canto dos olhos e sorri de leve.

Embora não pudesse ler a mente de Jake, os mesmos pensamentos se passavam em sua cabeça. Continuava repetindo em sua mente que era adulto e não precisaria esconder nenhuma espécie de relacionamento, mas traía-se, pois quando imaginava contar tudo o que acontecia para Bella, temia por sua reação, e embora quisesse fazê-lo imediatamente, lá no fundo, sentia-se bem com a protelação que Nessie colocava ao assunto. Ainda assim, sua força maior o propulsava para a verdade. Não iriam muito longe se tivessem de esconder o que acontecia durante muito tempo.

Ainda tinham duas semanas, teoricamente. O inevitável se aproximava.

Enquanto isso, pensava em como poderia aproveitar a pequena viagem sem se aproveitar demasiadamente da companhia que escolhera. Aquele podia ser outro problema que deveria ser tratado de forma delicada.

–Gosto dessa música! - A empolgação da menina e o movimento violento e repentino de se jogar para frente, ligando o rádio, quebra sua linha de raciocínio. Tocava Crawling da banda Linkin Park.

–Você gosta de Linkin Park? - Pergunta, só para fazer conversa.

–E quem não gosta? - Ela responde simplesmente - Acho que até hoje não conheci quem não gostasse. Pelo menos, não nessa época. - E indica a música que tocava. Ele concorda com um aceno de cabeça.

–E além deles? - Ao ver a expressão estranha que ela lhe lançava, sorri - Preciso saber se nossos gostos musicais são compatíveis, afinal, como poderia ficar com alguém que não gosta das mesmas musicas que eu?

Ela revira os olhos, mas ri de leve da resposta.

–Gosto de tudo um pouco, sem preconceitos, mas rock principalmente. - E volta a abraçar as pernas - E você?

–Rock principalmente - Ele imita, mudando a expressão para uma mais malandra, mexendo as sobrancelhas para cima e para baixo, como quem dizia 'olha só'.

–Ufa, fico feliz que tenhamos tirado isso do caminho! - E os dois riem durante alguns instantes.

Depois disso, se calam por um tempo, cada um com seus pensamentos, a estrada começando, alguma vegetação podendo ser vista no caminho para a praia. Precisariam passar em algum lugar para reabastecer logo mais.

–Sabe o que eu andei pensando - Jake retoma, chamando atenção da menina que novamente parecia compenetrada em algo mais, mas logo redireciona sua atenção para ele - Como faremos isso depois? A gente se preocupa tanto com seus pais, mas e depois deles? Eu morando lá, em Forks, e você aqui? Você vai fazer uma faculdade ainda não vai? Já chegou a pensar como a gente vai ver isso?

O que ele queria dizer, mas não chegava a fazê-lo é que um mau agouro rondava o relacionamento dos dois, que tinha tudo para dar errado, e quase nada para dar certo, além do fato de os dois se gostarem. É certo que todos os relacionamentos são assim, mas esse só se complicava a cada momento, era a idade, o segredo, a distância, a faculdade.

A menina respira fundo. Na verdade, o pensamento cruzara sim a sua mente, mas o repreendera, pois não queria ter algo a mais para se preocupar além do que a incomodava atualmente.

–Não é por nada, mas acho que por enquanto, o jeito vai ser ir se preocupando com uma coisa de cada vez, e quando a gente estiver mais próximo, se preocupar com isso. Com tudo que a gente tem para frente, ir mais longe ainda, a meu ver, é desnecessário.

É a vez dele respirar fundo e calar-se, olhando para a estrada durante um longo tempo.

–Você está certa - Ele diz, e depois disso, ficam calados até chegarem a posto de gasolina. É só lá que o momento de tensão parece sumir, aos poucos, voltando a uma realidade mais tranquila.

–O que você pretende fazer quando chegarmos lá? - Nessie pergunta, quando voltavam para o carro - Vamos direto para o mar ou comemos alguma coisa antes?

Ele sorri.

–A menos que você tenha algo contra, preferia deixar a comida para depois. Estou morrendo de saudades do mar.

A menina abaixa o rosto. Por um momento esquecera-se que ele vivia ao lado do oceano. Aquilo de certa forma a entristecia, pois não conhecia a casa dele, ou nada sobre sua vida, pessoalmente, as pessoas que faziam parte dela, seu passado, nada.

–Queria conhecer sua casa - Ela murmura, mas ele ouvira e lhe lançara um olhar rápido, com o canto dos olhos, sem que ela percebesse. Gostaria de leva-la para conhecer a reserva, seus amigos, o local onde passava a maior parte de seu tempo, com os carros, a praia, seu pai...

Afasta o pensamento da mente, porque agora não era a hora de se pensar a respeito daquilo, pelo menos não de acordo com a filosofia de Nessie. Agora era hora de tentarem aproveitar o que tinham, o tempo juntos.

–Você vai conhecer - Ele diz de súbito, surpreendendo-a. Ela sorri de leve com a perspectiva.

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A menina olhou em volta, mal acreditando que estava ali. Espreguiça-se, sem pressa, soltando o ar de seus pulmões. O sol batia forte em seu rosto, e teria de passar protetor solar se não quisesse ficar queimada e com sardas. Podia sentir a areia debaixo de seus pés, quanto tempo desde que sentira isso uma última vez?

Logo atrás de si, dando direto para areia do mar, estava a casa de Jane, onde Jake simplesmente descarregava a pouca bagagem sem muito cuidado, por estarem apressados para entrarem na água, feito duas crianças.

Mal tinham terminado, já colocaram suas coisas sem valor em um ponto, roupas que usavam por cima das de banho e protetor solar, já corriam areia adentro, apostando corrida para quem chegasse primeiro. O contato com a água foi gelado e violento, quando entraram apressados, jogando água salgada para todo lado.

A menina ri alto com a empolgação de Jake, que se vira, também rindo e joga um pouco de água nela, fazendo-a soltar gritinhos baixos. Seguindo isso, vieram as típicas cenas onde ela subia nos ombros dele, e ele a derrubava, eles tentaram afundar um ao outro e assustarem-se, nadaram para o fundo e voltaram, apostaram corridas de natação, até que finalmente, no final de muitas horas, cansados, voltaram para a margem, onde sentaram-se na areia e puseram-se a observar o sol, que começava a despedir-se, devagar e lento, preguiçoso.

A menina boceja e espreguiça-se, espantando o cansaço, já sentindo algumas dores pelo corpo pelo esforço e pela agressividade do sol.

Mais tarde resolvem comer, cansados demais para fazer qualquer outra coisa, agora o dia já se despedira, dando lugar para uma noite abafada e quente, a brisa quase imperceptível. Escolheram um pizzaria simples, perto de onde estavam mesmo, onde podiam se sentar em mesas que ficavam na calçada, as luzes amarelas e baixas do lugar dando um clima agradável para a refeição e conversação. E mesmo que o lugar tivesse uma janela de vidro grande, e que pudessem ver o lado de fora de alguma mesa lá dentro, de alguma forma, o exterior parecia mais agradável, o burburinho agradável de algumas conversações das mesas ao redor, o mar indo e voltando ao longe, as ondas acabando na areia, o cheiro natural da maresia.

–Você realmente queimou - Jake comenta, notando o quanto o rosto da menina ficara corado. Em resposta ela lhe mostra a língua, traquinas, mostrando um inconformismo que não sentia. Ele sorri e abana a cabeça, enquanto terminavam de fazer os pedidos.

Olham em volta por durante algum tempo, reparando na paisagem agradável.

Antes de virem comer, passaram na casa e tomaram um banho, colocando roupas leves só para poderem entrar em algum restaurante sem olhares de reprovação. Tudo tinha um ar leve e agradável.

–Senti falta desse lugar - A menina comenta, para ninguém em especial, olhando em direção ao mar, longe um pouco de suas vistas, mais para baixo de onde estavam, a direita, para a calçada, mas ainda assim visível. Nisso, ajeita o vestido branco e fresco que usava, com as alças finas, o decote em formato de coração, indo até a altura de seus joelhos.

Sem pensar muito no que fazia, ele deposita a mão dele sobre a dela, acariciando-a suavemente, surpreendendo a menina, que encabula-se por um instante.

–Se divertiu hoje? - Ele pergunta, com a voz um pouco mais aveludada, preocupada que o normal. Ela ri da pergunta, deliciada, o riso dela era agradável aos ouvidos, como uma música com uma sonoridade que se pode escutar o dia inteiro.

–É claro que sim - E trocam um olhar estranho aos dois, fazendo-a abaixar o rosto de embaraço. Era totalmente estranho estar ali, dividindo aquele momento com Jake, algo tão inusitado.

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Naquela noite, a moça toma o cuidado de passar bastante hidratante, não querendo que a pele acordasse seca no dia seguinte, não gostava de senti-la desconfortável, como se não pertencesse a si mesma.

A casa em que estavam agora, a casa de férias da família de Jane, era uma casa simples a beira da praia. Todas as paredes eram brancas, e seu interior tinha poucos móveis, tinha três quartos, uma sala, uma cozinha, um banheiro e um pequeno espaço dos fundos, onde era a lavanderia.

Na sala, havia apenas um sofá e uma mesinha de centro, na cozinha, uma geladeira, um fogão, uma pia e uma mesa alta, de centro, que servia de apóio se alguém quisesse cozinhar alguma coisa. Os armários no alto raramente eram usados, pois quem vinha tendia a trazer talheres e pratos de plástico, que ficavam na mesa, durante todo o tempo.

Em cada um dos quartos, apenas uma cama, um armário ou cômoda pequena, e uma mesinha ao lado da cama. Era realmente um lugar para se passar as férias, sem se preocupar muito com o conforto.

A ruiva já não pensava mais em nenhuma daquelas coisas enquanto penteava o cabelo em frente ao espelho, demorando-se, com os nós já desembaraçados, agora pelo simples prazer de escova-los. Jacob entra, assustando-se um pouco com a presença dela.

–Achei que você estava no quarto - Comenta, usando apenas a calça do pijama, fazendo-a negar com a cabeça rapidamente, os olhos correndo apenas por um instante pelo corpo definido, antes de voltarem-se para o espelho.

Ele deposita a escova de dentes sobre a pia, e passa a observa-la, repetindo os movimentos longas e demoradas vezes. Ele quase analisava o movimento, percebendo, pela primeira vez, o quão mulher ela parecia fazendo-o, a beleza agora completa e irradiante, de uma adulta completa.

Ela sorri de leve, e o canto dos olhos o focam, antes de voltar para o espelho.

–O que foi? - Ele balança a cabeça negativamente em resposta, aproximando-se devagar, e abraçando-a pela cintura, depositando um beijo na junção de seu pescoço com o colo, suavemente, apenas para se afastar um pouco, parando logo atrás dela, massageando seus ombros cansados, com as mãos firmes e determinadas.

Ela o observa pelo espelho, como os olhos vívidos, fixos e intensos. Ele pára o que fazia, e eles voltam a se encarar, através da superfície reflexiva. Então ele volta a lhe puxar devagar, dessa vez forçando-a a se virar, dando um sorriso de lado, torto, e fechando as distâncias entre eles, abaixando-se até ficar da altura dela.

A moça sorri no encostar de lábios, apenas uma pressão, enquanto ela largava a escova, que faz barulho enquanto caía dentro da pia, para enlaçar o pescoço moreno a sua frente. Era um contato agradável, um sugar leve, e a menina percebe que praticamente não o haviam feito no dia de hoje.

Ainda entregue, entreabre os lábios, permitindo que a língua dele escorra em sua boca, tomando o espaço dentro do espaço pequeno e quente. Ela suspira e ele a empurra devagar, forçando-a a encostar-se a pia atrás de si, em um baque mudo. Ele a segurava com força contra a sua cintura, enquanto acariciava suas costas, delicadamente, causando-lhe arrepios.

Ficam assim durante muito tempo, pequenas pausas, apenas para voltarem a se beijar, perdidos no momento, antes de voltarem a realidade, e decidirem que já passara da hora de dormirem. A verdade é que sentiam-se os dois um pouco embaraçados, pois nunca antes haviam se perdido um no outro com tamanha intensidade, deixando-se levar pelo momento.

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A menina arrumava a calma, esticando os lençóis, a janela a sua frente entreaberta, permitindo uma forte brisa entrar e passear pelo quarto, divertindo-se. Sentia-se cansada pelo dia longo que tivera e tudo o que desejava agora era jogar-se na cama e sentir como se tivesse desaparecido, até o dia seguinte.

Suspira, sorrindo para si mesma, o momento de instantes atrás deixando seu rosto quente. Tenta se distrair, mas o sorriso não saia de seus lábios delicados de boneca. Nisso, as luzes piscam algumas vezes, assustando-a, fazendo-a largar o travesseiro e soltar dois gritinhos curtos, para cair na risada em seguida, surpresa mais consigo mesma, do que com a luz falhando.

Começa a chover e ela percebe o motivo das interrupções de luz. Ela olha para fora por um instante, firmemente, e algo muito distante em sua mente parece florescer, algo simples, que já fazia parte de si, mas que procurava se esquecer. Um raio, um trovão.

–Nessie? - A parte superior de Jake entra no quarto e a analisa por um instante - Tudo bem? Te ouvi gritar.

A menina lhe lança um sorriso, mas este estava distante, antes de confirmar com a cabeça, sentando-se a cama e passando a morder o lábio inferior suavemente, como se estivesse lembrando de algo distante. Ele nota, estranhando e entra no quarto, sentando-se a seu lado na cama, permanecendo em silêncio, entre perguntar e deixar que ela decidisse o melhor momento para se abrir. No final de alguns instantes, o homem não consegue aguentar e volta a perguntar.

–Nessie? Tudo bem mesmo? - E toca suavemente seu rosto, chamando sua atenção, acariciando-o com o polegar, apenas para acariciar os cabelos vermelhos em uma carícia branda, colocando-os para trás, os fios macios debaixo de suas mãos.

Ela vira-se para ele, e afasta-se um pouco, encostando-se a cabeceira da cama, suas costas em contato com o metal gelado, apenas um tecido fino de pijama entre elas. Ele a encara intensamente, analisando cada um de seus movimentos. Para variar, aquilo a deixa sem graça e ela olha para o lençol abaixo de si, passando a remexer nele, comedida, evitando seu olhar, ainda que continuasse a senti-lo em si.

–Tudo sim, acho simplesmente que lembrei de coisas que deveria esquecer. - Comenta, e relanceia de novo para a janela, onde agora a chuva aumentara, caindo tão fortemente que impossibilitava a vista de um palmo a sua frente, mesmo para quem estivesse do lado de fora.

Ele limpa a garganta e ela lhe lança um olhar rápido. O moreno aproxima-se devagar, novamente, agora colocando uma mão suavemente sobre seu joelho, que ela trouxera para frente do corpo, mantendo-os rentes, as pernas apertadas contra os seios.

Era uma pergunta muda. A menina respira fundo, e por incrível que pareça, nunca antes sentira-se tão em paz quanto naquele momento, no meio de toda aquela tempestade que caía lá fora, parecendo destruir o exterior, castigando fios e pessoas desavisadas, parando a cidade, agressiva.

–Eu não gosto muito da chuva, principalmente dias como esse. - Ela parece se concentrar, como se uma imagem estivesse se formando em sua mente. Eram fragmentos de memória que ela recolhia dos recônditos mais profundos de si mesma. - Uma vez, quando eu era pequena, pequena o suficiente para confundir as coisas ainda, cheguei em casa, não sei exatamente onde eu estivera, acho que estava lá embaixo brincando. Era uma época que meus pais não tinham dinheiro, e trabalhavam mais do que podiam simplesmente para manter um apartamento minúsculo e ter comida na mesa, além de estudarem. Eu ouvia um barulho alto quando entrei em casa, pela porta aberta. Andei sem fazer barulho, extremamente assustada, vendo tudo debaixo, ainda não alcançava a luz nas paredes. Lá fora acabara de começar a chover forte, como hoje. Meus pais estavam na sala brigando, eles gritavam tão alto como nunca mais os ouvi gritar, a sala estava revirada. Fiquei alguns segundos ali, apenas ouvindo-os. O que me lembro é, tínhamos sido assaltados, e grande parte de nossas economia tinha ido embora. Não podíamos pagar nossas dívidas e também não poderíamos economizar para nos mudar, minha mãe gritava de volta, pedindo para meu pai ser razoável e pedir a ajuda aos pais dele, que sempre se mostravam disponíveis. Meu pai e seu orgulho, talvez sua própria dignidade eram incorruptíveis a seus próprios princípios. Eles gritam um pouco mais e meu pai sai, furioso de casa, passando por mim no corredor, sem nem ao menos notar que eu estava a li e bate a porta ao sair, apenas mais um estrondo no meio da tempestade. Minha mãe se deixa cair na poltrona atrás de si, apoiando o rosto nas mãos, seus soluços perdidos no barulho alto dos trovões. Eu me aproximei e encostei-me a sua perna, com todo o meu peso, tentando ver seu rosto, sua expressão. Ela levantou o rosto suavemente, e pareceu surpreender-se ao me ver parada a li, olhando para ela, com uma expressão curiosa. Ela me abraça com força e implora por desculpas, dizendo que não podia me dar uma vida melhor. Eu não entendo e olho pela janela, a água escorrendo sem preocupações, límpida, agindo conforme seus desejos, cinza, e eu simplesmente pensei que aquelas lágrimas que escorriam lá fora nunca seriam tão salgadas quanto as que eu sentia agora no rosto da minha mãe. Um pensamento que só tomou um outro sentido para mim anos mais tarde. Eu tenho consciência de tudo que meus pais fizeram por mim. Não quero ser ingrata ou insensível, eles sacrificaram o tanto que puderam para que eu estivesse aqui hoje, bem...

Jacob ouvia a tudo calado, atento.

–Eu sei que não é nada demais, mas aquilo me marcou, me definiu, mostrou o que eles tiveram de fazer para que estivéssemos aqui hoje. Foram só alguns anos depois, quando meu pai recebeu a proposta de uma empresa internacional, que a nossa sorte mudou. Depois disso, minha mãe também pode se dar ao luxo de trabalhar com o que queria, e eventualmente ficamos bem, nos estabilizamos. - Ela o encara, e é sua vez da visão ficar imóvel, perdida no rosto másculo a sua frente, a mandíbula larga, os olhos profundos e preocupados - Desculpa estar te contando isso, não era da sua conta, nunca contei isso para ninguém - Tenta rir de si mesma - e nem é nada demais, é só...

E nisso sua voz falha, uma lágrima furtiva escapa de seus olhos e ela engasga, contendo o choro. Tristeza com a memória, culpa talvez, ela mesma não saberia dizer. Agora estava mentindo para quem fizera tudo aquilo por ela, isso também a matava um pouco, não era como ela queria ser, era o que sempre pesava como era como costumava ser, com as festas e a diversão transviada, preocupando seus pais a toa. Sempre havia aquele peso dentro de si, e justamente quando se livrava dele, outro o substituía.

Ele mostra um complacente sorriso torto, compadecido. Ele então senta-se a seu lado, abraçando-a devagar, forçando o corpo dela contra o seu, puxando sua cintura, passando conforto e ternura em seu toque.

E naquele momento, percebeu que tudo o que desejava era poder estar do lado dela, para protegê-la de tudo que ela fosse passar, só para ter certeza que ela nunca passaria por aquilo novamente.

Ele lhe beija o rosto com cuidado, os olhos úmidos, a testa, afagando-lhe os cabelos, cuidadosamente, como se ela fosse a mais importante e frágil porcelana. Por fim os lábios, amenamente, apenas para voltar a acariciar seus cabelos. Ela apoia o rosto em seu peito e suspira.

Com ele, tudo sempre parecia ficar bem, sempre prometia ficar bem, com ele tinha podia ter a certeza disso...

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A menina acordou sentindo-se confortável. Podia ouvir o barulho pacífico do ventilador, o vento agradável que ele formava, contra sua pele exposta, os shorts e a blusinha do pijama. Permanece imóvel, sentindo a sensação confortável dos braços de Jake envolvendo sua cintura. Não sabia exatamente quando adormecera no dia anterior, mas estava com tanto sono que provavelmente não fora muito depois da conversa que tiveram.

Abre os olhos devagar, esses abrindo-se para a janela, que tinha as venezianas cuidadosamente fechadas. Ainda assim, a moça podia ver que garoava, o som produzindo um fundo quase melódico, batendo no telhado, com um véu que os cobrisse.

A moça sorri. Nunca antes contara para ninguém o que contara para Jake ontem. Nem ao menos sabia porque havia lhe contado, tudo simplesmente pareceu sair, escapar de si, naturalmente. Era algo pessoal demais para ser compartilhado, pelo menos, sempre se sentira assim, e sempre que lhe perguntavam o que se lembrava de sua infância, fazia questão de mencionar que não se recordava de muito.

Morde o lábio inferior e vira-se, com cuidado, passando a encarar o homem deitado a seu lado, que agora ressonava, em um sono profundo. Ela o encara bem, colocando as duas mãos debaixo do rosto, enquanto o fazia, estudando-o devagar, cada linha de seu rosto, de seus ombros, descendo suavemente até os braços que repousavam em si, abraçando-a.

Por que sentia-se tão segura ao lado dele? Por que sentia que se estivesse com ele, tudo poderia dar certo, independente do que fosse? Que confiança era aquela que ele lhe passava?

Tem ímpetos de esticar a mão e toca-lo, em seu rosto liso e firme, acaricia-lo, sentir sua textura, mas contem-se, a expressão serena dele a segurando. Não queria acorda-lo. Pensando assim levanta-se, com cuidado, fazendo careta quando o estrado da cama range. Jacob permanecia imóvel, adormecido.

A menina sente-se subitamente esgotada e deduz que deveria ser o calor, a pressão baixa talvez, e resolve tomar um banho fresco para acordar melhor. Espreguiça-se e separa a roupa que usaria, o mesmo vestido do dia anterior, jogando-o na beirada da cama, seguindo para o banheiro, os pés descalços tocando o chão liso.

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Jacob acorda, e sente-se estranho, um pouco tonto. Respira fundo e engole em seco algumas vezes, antes de abrir os olhos, tentando umedecer os lábios com a língua, sentindo-a seca demais para isso. Lembra-se de onde dormira e por alguns instantes pergunta onde Nessie se encontraria. A resposta é obtida quando ouve o som do chuveiro, vindo de longe.

Ele boceja e senta-se na cama, ainda entorpecido. Volta a deitar-se, mas estica o braço, alcançando a garrafa de água, ao lado da cama, bebendo grandes goles. O dia acordara mais fresco que o anterior, e é então que ele percebe que ainda garoava, estragando grande parte do passeio do dia.

Estala os lábios, um pouco contrariado. É quando seus olhos repousam na peça do vestido branco, que Nessie usara ainda no dia anterior, jogado no final da cama, o tecido um pouco amassado pela falta de cuidado.

Jacob o observa firmemente, com olhos cegos e pensativos. A imagem do vestido lhe fazia voltar a pensar.

Conseguia ver Nessie usando-o, o corpo longilíneo, curvilíneo. Não conseguia tirar os olhos dela, mesmo que ela não passasse de uma miragem em sua mente. O sorriso sensual, mas inocente, verdadeiro. Os olhos castanhos e jovens, amendoados, os cabelos longos e cacheados, caindo-lhe pela cintura, pelas costas finas.

Ela era fascinante. Lembra-se então de como a vira no dia anterior e isso o faz estremecer de leve. Ela tornara-se mulher. Rapidamente, seus pensamentos se voltam para ela quando a conhecera, a menina rebelde, o potencial que tinha. Era estranho pensar, mas ela de alguma forma, estava diferente, mais forte, ainda que mais vulnerável, equilibrada.

Sentia-se, incontestavelmente atraído por ela, mas agora percebia que era diferente, algo mais, ele gostava não só dela, mas do jeito que ela o fazia sentir-se, das reações que ela causava nele, gostava até de coisas aleatórias como ela ser um desastre para aprender a andar de moto, ou ainda o pequeno cachinho dourado que ser formava perto de sua orelha, que ela costumava enrolar distraidamente com o dedo.

Prestava atenção em cada fala, cada gesto, cada pensamento. De alguma forma, sentia-se mais completo quando ela estava por perto, era como se ela o completasse, suprisse suas inseguranças, lhe tornasse uma pessoa melhor do que jamais havia sido. E é então que lhe ocorreu. Ele a amava.

A notícia parecia natural, mas ainda assim o surpreendeu, dando-lhe uma sensação de nervoso, pois, por mais normal que fosse, nunca sentira aquilo por alguém, com aquela intensidade. Gostaria de estar sempre lá para protegê-la.

Aquilo volta a lembra-lo dela no dia anterior, e em o quão quebrável parecera. O segredo os estava destruindo, devagar, letal. Precisariam conversar novamente, pois já passara do tempo em que deviam contar o que acontecia.

O pensamento o faz suspirar, preocupado.

Faria de tudo para poder ficar a seu lado.

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A menina demorava-se no banho, esfregando suavemente partes repetidas do corpo. Sentia-se estranha, como se no dia anterior, tivesse exposto demais de si mesma, e agora devesse se esconder, retrair-se. Só o pensamento a fazia corar extremamente e xingar-se mentalmente por isso.

Não queria sair do banho, não queria voltar a encara-lo, no momento, tudo que desejava era adiar isso o máximo possível. A água já não era algo agradável e parecia agredir o seu corpo, mesmo em sua temperatura refrescante.

Seus pensamentos rodavam, sempre em torno do mesmo eixo, sempre em torno de sua situação atual. Ainda assim, por mais que se sentisse à mostra, lembrava-se dos olhos escuros do rapaz, atenciosos, profundos, fitando-a com sua costumeira e cortante intensidade, prestando atenção a tudo o que ela dizia, parecendo digerir cada palavra.

Seu olhar lhe causa um arrepio pela espinha, e ela agradece por estar debaixo da água fria no momento. E isso também a remete a diversos outros toques, outras situações. Ela deitada com ele essa manhã simplesmente parecera tão certo, e imagina-se fazendo aquilo todos os dias, simplesmente acordando a seu lado.

O pensamento a agradava. Suspira, querendo que aquilo se tornasse real. Os braços dele em torno de sua cintura, eles se beijando de maneira tão íntima no dia anterior, o ciúme que sentira de Victoria, as pegações no hotel, as lições de moto e por que não, de autocontrole, a amizade, e por fim até se conhecerem, a impressão forte que tivera dele, aquele homem alto, másculo, parecendo até um pouco selvagem.

Se soubesse a volta que sua vida daria por causa dele. Agora, de alguma forma, ele parecia ser o centro de seus problemas e resoluções. O queria por perto, não só por agora. Ele a ajudara a melhorar, a ajudara a ver o vazio que antes sentia em si, que tentava tão desesperadamente preencher com alguma coisa, qualquer coisa. Ele a fazia uma pessoa melhor.

Sorri de leve com o pensamento, desligando o chuveiro sem perceber. Mal acreditava que ele a havia escolhido, justo ela, tão mais nova do que ele, tão menina e imatura. Sai do banho e enrola a toalha ao corpo, ainda pensativa.

O amava, o amava mais do que já amara qualquer pessoa. Fica ali alguns instantes, paralisada por sua própria força, o sentimento e a percepção dele a prendendo no chão. E não era de uma maneira imatura, de menina. Tudo o que mais desejava é que ele fosse feliz, estava toda confusa e bagunçada novamente.

Olha em volta, apenas para notar que esquecera o vestido no quarto. Praguejando e amaldiçoando-se veste a roupa de baixo e volta e enrolar o corpo na toalha, apenas para sair par ao corredor, atenciosa, prestando atenção ao movimento em volta. Ela teria de ter muita sorte para Jake ainda estar dormindo.

–O que está fazendo? - Assusta-se e dá um pulinho, virando-se, para encara-lo do começo do corredor, da cozinha, o cenho franzido, contendo um riso. Ela respira fundo.

–Esqueci a roupa - E corre para o quarto, segurando a toalha o mais firme possível contra si - Desculpe... - Murmura, mas tem certeza que ele não pode ouvir. Veste-se apressada, sempre temendo que ele fosse surpreende-la entrando no quarto. Ele não o fez.

Sai do quarto vestida e o encontra na cozinha, fazendo um sanduíche qualquer para matar a fome. Ele a encara rapidamente antes de voltar para a comida. Ela faz o mesmo.

–O que vamos fazer agora? - Pergunta, assim que terminam a refeição. Tão distraída que estava, ainda em seus pensamentos anteriores, a menina é pega de surpresa.

–Não sei, está chovendo - E dá uma pausa, tomando ar, quase gaguejando, perdendo-se nas palavras - Não acho que há muito que a gente possa fazer.

Falara de maneira igual a mãe, mas ele não comenta, sabendo que ela não apreciaria a comparação. Ele levanta-se, imponente, os ombros fortes e angulosos.

–De qualquer forma, vou me trocar, qualquer coisa a gente dá uma volta antes de voltar para casa - A menina concorda com um leve aceno de cabeça, embora parecesse distante. A chuva acaba parando afinal, e os dois saem, sentindo-se estranhos. Era como se estivessem em uma realidade diferente da normal, uma onde poderiam fazer qualquer coisa, pois tinham a liberdade de agir assim.

–Olha, ela dirige melhor que você! - Jake comenta, uma menina pequena passando em cima de um carrinho de bateria. Ela lhe acerta o ombro, fazendo-o gemer baixo e lhe mostra a língua. Os dois riem e dão as mãos.

Era gostoso andar na praia, estava fresco, o mar indo e voltando contra as pedras, gelado e brávio. E agora, por um momento, com os dedos quentes entrelaçados, por um momento, podia acreditar que não eram nada mais de um casal de namorados.

Andam durante um longo tempo, calados, aproveitando a companhia silenciosa um do outro, satisfeitos por dentro com essa, o vento batendo em seus rostos. Volta e meia a menina saia da areia e pulava na água, quando ela vinha em sua direção, espirrando-a um pouco, apenas para voltar a caminhar.

Ficam passeando, sem nenhum lugar especial para ir, apenas para passear até começar a escurecer. Quando isso acontece, comem um cachorro-quente, e depois passeiam em uma feirinha ao ar livre, sabendo que logo, logo a ilusão acabaria e teriam de voltar para casa.

Jake já tinha o braço em torno dos ombros da menina, e eles conversavam, animados agora, as luzinhas da feira brilhando amarelas, bem de frente para o mar, no acimentado. Eram geralmente coisas feitas a mão. Estavam mais preocupados um com o outro do que propriamente dito a exposição, mas isso não impedia que olhassem uma coisa ou outra.

Finalmente Jake acha uma coisa interessante, peças antigas, desde peças de relógio a algumas peças de carro. Ele a solta, levemente e aproxima-se para observar. A menina vai para a loja ao lado, observar as bijuterias.

Passa os olhos por elas, sem interesse real, até que uma peça capta sua atenção.

–Vê alguma coisa que gosta? - A voz da senhora de idade, os cabelos dourados e o sorriso tenro chamam sua atenção. Ela só aponta de leve, e a senhora pega o anel, mostrando-lhe. Era feito a mão, mas ela nunca diria. Era de tamanho capricho que ela mal acreditou. Com um sinal para a vendedora, a menina aproxima-se das costas altas do namorado, encostando nele suavemente, fazendo com que ele se virasse. Ela então lhe sorri e toca seu braço, mostrando o anel que usava no dedo, feliz. Era um anel que lembrava um pegador de sonhos, só a parte de cima dele, toda embaraçada, as penas sendo dispensadas, feito em um prateada, bem fino e delicado.

Jacob sorri, e, sem uma palavra a mais, compra o anel. Por isso ainda tem de ouvir algum protesto depois, mas não se importou, pois viu que a menina havia ficado feliz, e isso era tudo que importava.

Pegam a estrada quando já estava escuro, mas conversam a maior parte da viagem, então não se preocupam muito com isso, não estavam cansados como no dia anterior, não haviam se desgastado muito. Quando pareceram chegar a cidade, Jacob podia jurar que Nessie sabia mais de suas ex-namoradas do que qualquer um de seus amigos.

Ele a deixa perto de casa e a observa sair do carro, mas não antes de fechar a distância entre eles, e entre uma respiração entrecortada e outra, desejar-lhe boa-noite com um beijo quente e molhado. Ela enroscara os dedos na gola de sua blusa e arranhava suas costas devagar. Ele se continha para não fazer o que realmente queria, e limitava-se a sentir os seios dela pressionados contra seu peitoral. As mãos grandes dele passando pelas costas dela, ouvindo-a gemer baixinho.

–Te vejo amanhã? - Ela sussurra.

Sai do carro e corre para casa. Ele sabia que teria de sair dali antes de ela entrar, recebida pelos pais, muito embora sua vontade fosse de ficar ali, assisti-la, até que ela desaparecesse de sua vista. É então que percebe. Não conversaram sobre falarem com eles. Precisariam fazê-lo urgente. Ele via o quanto aquilo a estava machucando. Já era mais do que na hora de terminarem com aquilo. Vendo-a parada na soleira da porta, liga o carro e dá a partida, arrependido por não vê-la em segurança.

Agora não havia mais nada que os pudesse separar, eles eram como ímãs opostos, sempre atraídos um pelo outro, movendo-se dentro da órbita um do outro, e não havia nada que pudessem fazer a respeito, agora era tarde para voltar atrás.


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Notas finais do capítulo

Terminada em: 01.03.2012
Publicada em: 01.07.2014

Gostaria de agradecer imensamente a senhorita Co-Star, pois sem ela, esse capítulo jamais teria existido, porque ele não sairia por bem (já não o fez naturalmente) - Então muito, muito, muito obrigada Dona Nique, você me ajudou horrores a desatolar! Serei eternamente grata!
Obrigada!

E agora? As coisas se aprofundam e cada vez será mais difícil separa-los. Como a situação vai se acertar?!

A música do começo é 'Pocketful of Sunshine' da Natasha Bedingfield. :)
Olá meninas e meninos! Há quanto tempo, não?
Na verdade, andava extremamente desanimada e queixosa, não andava escrevendo, nem desenhando nada, muito menos com ânimo para revisão. Agora que comecei a trabalhar então, mal olho para o papel, coisa que com certeza não deveria estar fazendo.
Estou tentando lutar contra isso, então aqui está mais uma atualização (não revisada cof cof, sorry).
Espero que gostem e obrigada pelo carinho e por não desistirem da história, ela só existe por causa de vocês :)
XoXo

Suss.



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