Epitáfios escrita por Roxanne Evans


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Presente de amigo secreto para Leila, realmente espero que você goste!



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Everytime I try to fly
I fall without my wings
I feel so small
I guess I need you baby
And everytime I see you in my dreams
I see your face, it's haunting me
I guess I need you baby"

Pode ser que, com uma profissão como a sua, muitas pessoas viessem a estranhar seu trabalho, mas, além de não ser o tipo de pessoa que se importava com o que outros pensam, adorava o que fazia!

Era uma tarefa que incluía, entre outras coisas, pesquisas, dedicação, escrita e, ainda por cima, sua parte favorita, conhecer pessoas de uma forma que ninguém mais as conhecia.

As conhecia sem mentiras, sem que pudessem lhe esconder nada, ouvindo geralmente, só o que essa pessoa fizera de bom, por isso, sempre acabou sendo uma profissão que exercia com carinho. Por que agora isso iria mudar?

-/-

Remexia nos papeis a sua frente, a procura de uma referência que tinha certeza que fizera. Onde a poderia ter largado?

Nunca fora uma pessoa bagunçada, o que só provava que o papel deveria estar em algum lugar por ali. Começa a olhar o chão em volta, achando que o vento da janela aberta poderia ter trazido o papel ao chão de seu pequeno escritório.

–Com licença – A voz grave, imperativa masculina, a fez se levantar imediatamente, passando a encarar o homem que acabara de entrar.

–Preciso contrata-la – Ele volta a falar, quebrando o transe em que havia entrado, fazendo-a sorrir de leve, escondendo sua vergonha.

–Creio que já vivi todas as experiências necessárias que alguém precisa viver e agora a única que me falta é a morte – Volta a levantar o rosto, tirando seus cabelos pretos do caminho. Ouvira direito? – Preciso que escreva minha lápide.

–Você está brincando, certo? – Pergunta, apontando-lhe o dedo, deixando escorregar o lápis de sua mão, fazendo-o cair na mesa em um baque mudo. Ele ainda estava inalterado, começando a preocupa-la. – Você quer que eu escreva a lápide de um suicida ainda vivo? E que eu colabore com ele? – A voz se esganiçara de leve na última sentença, mostrando que estava começando a se exaltar de verdade.

–Não é suicídio se eu já tiver vivido minha vida – Resmunga ele, cruzando os braços, um olhar teimoso que mostrava que estava acostumado a ser obedecido. Ela leva a mão à cabeça, desconcertada.

–Sinto muito, não posso fazer isso – Recupera a compostura, ajeitando-se, alcançando o prendedor de cabelo na extremidade da mesa de madeira no modelo de escritório, colocando-a presa entre os dentes, enquanto passava a segurar o cabelo, para prende-lo.

–Qual a sua implicância comigo? – Murmura, assim que tem os dentes livres, a blusa branca, regata a ajudando a lidar com o calor do fim de tarde. Ele não responde, passando a encara-la de maneira firme.

Ele finalmente suspira, irritado.

–Nenhuma quantidade de dinheiro seria o suficiente para isso – É a resposta amarga dela, abrindo o laptop que estava debaixo de seus papéis, a sua frente, na mesa, disposta a ignora-lo completamente.

–Dizer o que? – Falha, levantando os olhos para voltar a encara-lo, deixando de lado a beleza estonteante, que para ela, agora, lhe parecia extremamente irritante.

Ela dá um suspiro indignado, soltando o ar pelo nariz, voltando a cruzar os braços. Devia ser bom ser assim, rico, perfeito e ter tudo o que sempre quis na vida, a única coisa que lhe faltava era noção, e uma porção dela.

–Qualquer quantidade – Ele reafirma, dessa vez remexendo as mãos de um jeito nervoso, como que esperando para ter certeza de que fisgara um peixe. Ela tamborila os dedos na mesa, entregando-se a seus pensamentos.

–Vou ter de pensar no caso – É o que diz finalmente, fazendo com que ele desmontasse sua postura, impaciente.

–Boa sorte com isso. – E isso finaliza a conversa.


–Achei que não fosse mais sair – Ouve uma voz atrás de si e exalta-se, dando um pulo, virando-se. Ele a encarava, sorrindo, maldoso. Ela se irrita, os olhos dele, brilhantes, a tirando do sério.

–Não te disse que ficaria até te convencer? – Ele soava inocente, o que a fazia ter ganas de esgana-lo.

–Acho que poderia considerar isso um progresso, não acha? – E dá uma piscadela.

–É assim então que você trata seus clientes? – Podia ouvir a voz dele de longe, embora agradecesse internamente que ele permanecesse no lugar, não a seguindo.

Nem se dá ao trabalho de acariciar a gatinha que dormia no sofá, indo direto para o quarto. Sentia como se houvesse algo muito errado e só a brisa da noite, fria, tivesse lhe revelado.

Por que?

Remexe-se, inquietando-se. Por que?

Se tivesse toda essa quantidade de dinheiro, o que faria?

Tem vontade de se bater. Iria desistir? Depois de tudo que dissera para ele, simplesmente iria ceder, e ajuda-lo a se suicidar? Estala os lábios, irritada com tudo, com a situação, com ele por tê-la colocado lá, consigo mesma por não ter conseguido se decidir.

A idéia não soou mal a seus ouvidos, na verdade, era perfeita, podia saciar sua estúpida curiosidade e também, adiaria os planos daquele rico desmiolado. Satisfeita, vira-se sentindo o conforto do travesseiro atrás de si. Sentia que aquela seria uma ótima noite.


Talvez devesse ter seguido o conselho de Sango e contratado uma secretária, afinal, lhe seria extremamente útil em horas como estas.

Irrita-se, virando com violência.

–Eu disse que viria, até que mudasse de idéia – Diz, dando de ombros, como se não fosse nada – E então, mudou de idéia?

–Um sorvete! – Diz, indicando com a mão – Depois tenho que voltar, pois ainda tenho muito trabalho que fazer, certo?

Obstinada, mas lutando-se para conformar-se consigo mesma, apanha sua bolsa que deixara jogada no sofá, ao lado da entrada, saindo, sem sequer olhar para trás, ou espera-lo. Ele a segue, o que facilita seu trabalho.

–Para onde vamos? – Pergunta, resoluta, parecendo finalmente ter cessado a briga consigo mesma.

Leva as mãos as têmporas, massageando-as, inconformada, como alguém podia ser tão irritante, sem nem ao menos tentar?

–E então, já se decidiu? – ele retoma a conversa, ela ouvindo o barulho de seus passos próximo a si, logo a seu lado.

Por um momento, a morena esquece suas preocupações, apenas aproveitando o frescor do local, extasiada.

–Que devia ir embora – Mas não faz menção de se mover, o calor lá fora sendo algo que não queria enfrentar. Ele continua com seu ar zombeteiro e ela se conforma. Provavelmente ele de fato tinha uma péssima personalidade – E então, o que vai querer?

–Você não ia embora? – Continua provoca-la, parecendo disposto a conhecer seus limites. Ela respira fundo, abaixando as opções de sua vista.

Aquilo tinha sido o suficiente para ela que se voltar para os sorvetes. Só porque ele estava acostumado a ter tudo, não significava que poderia trata-la daquela maneira e estava disposta a mostrar-lhe isso.

Embora permanecesse calada, as palavras ainda pareciam voar em sua mente. Por que alguém que tem tudo iria simplesmente acabar com sua vida? O que ele queria dizer com 'ele já tinha vivido?' Se referiria as decepções, as grandes experiências, grandes amores?

Sem perceber, o encara com olhos vazios. O que ele teria passado para pensar daquela forma. Seria sua vida tão entediante a esse pondo?

–Nada, me desculpe. – As idéias, a curiosidade estava cada vez mais viva em sua mente, e antes que pudesse se conter, suas opiniões tomam forma em palavras – Eu tenho uma proposta para você.

–Se conseguir me convencer em no máximo duas semanas de que está certo, que já viveu tudo que há para ser vivido, eu te ajudo, mas se não, terá de desistir disso, o que me diz?


Iam a parques aquáticos, de diversões, circos e os lugares mais ordinários que se poderia ir e, para dizer a verdade, no final de cinco dias, Kagome já estava enxergando o problema com InuYasha, ele definitivamente não sabia se divertir, e embora ela sempre se colocasse animada, para os passeios mais infantis, ele sempre parecia cortar sua felicidade, mostrando uma cara de tédio.

Ele a dava nos nervos.


Ela andava na frente, o vestido que ia até um pouco acima dos joelhos, de cor amarela batendo contra a sua pele pelo seu passo apressado, o sorriso quase preso ao rosto, costurado.

–Faremos um jogo – Diz alto, chamando a atenção do de cabelos prateados, se arrependendo pela maneira como ele a encarou, fazendo-a sentir-se sem graça, a blusa branca que ele usava deixando impossível não perceber seu corpo bem definido.

–Que jogo? – Ele se aproxima, parecendo verdadeiramente interessado.

–Está bem – E dá de ombros, ela parecia mais animada. – Quer começar?

–Eu começo então. Você vive sozinho? – Não olhava para o rosto dele e sim para algumas flores grandes, brancas de pétalas compridas, espalhadas pelo chão.

–Você tem de fazer uma pergunta agora – Ela diz, revirando os olhos.

Dessa vez há uma pausa maior, enquanto a menina parecia pensar.

Ela o ouve respirar, bem próximo a si e sente um arrepio passar por suas costas, mordendo o lábio inferior como resposta. Vira-se, apenas para ver que ele estava a seu lado, os corpos extremamente próximos, uma expressão indecifrável nos olhos dourados.

Estavam tão próximos que podiam sentir as respirações um do outro. Kagome já não tinha nenhum controle do que fazia, enquanto se aproximava, praticamente colando os corpos.

O que fora aquilo?

–Por que? – Sente a voz trêmula, a garganta rouca não contribuindo, enquanto olhava para os pés dele, sem coragem de levantar o rosto. – Por que tudo isso? Por que querer morrer se há tanto ainda para se viver?

–Eu... – Quase leva um susto ao ouvir a voz dele, grave, parecendo etérea e distante de onde estava – Na verdade... – Ouve-o suspirar forte, resignado, aproximando-se devagar, parando bem em frente dela – Olhe para mim enquanto eu falo... – Pede, baixo.

–Quando meus pais morreram, eu já tinha treze anos, mas eu prometi para mim mesmo que não faria como eles, não morreria de um acidente, deixando todos que se importavam comigo para trás, e também prometi que viveria tudo o que eu pudesse viver, cada experiência, não querendo deixar nada interminado...

–Mas, quanto mais eu vivia, quanto mais eu tentava, mais eu percebia que a vida era vazia, que simplesmente vamos passando, cortando teias, tentando, nadando, até morrermos, não há nada de diferente em cada experiência, no final, todas são as mesmas...

–Você é idiota? – Ele levanta o rosto, espantado com a reação – Era óbvio que isso ia acontecer se você vivesse sua vida, pensando que cada coisa que acontecia como uma experiência! – A voz se exaltava, subindo de volume – A vida é para ser vivida e não pensada! Fora que, do jeito que você faz, nunca encontrou ninguém mais importante para você, aposto, afinal, tudo não passa de uma experiência! Você é cego? No final, a vida só é importante, se tivermos pessoas importantes nela e não uma coleção de fatos diferentes – Respirava fundo, pesado, sem fôlego, olhando-o, incrédula consigo mesma.

–Obrigado! – Ele exclama, colocando a mão de leve no ombro dele, antes de continuar a andar, ainda rindo. A morena ainda permanece alguns segundos parada, tentando entender o que acontecia, sem sucesso.


Enquanto penteava os cabelos para dormir aquela noite, se perguntava o que estava fazendo, primeiro, porque só tinha concordado com toda aquela loucura para saber de onde ela viera, por curiosidade, não é?

Sentia-se confusa, o coração estranho no peito, parecendo remexer-se.

–Sango? – Reconhece o número na bina, e sorri ao ouvir a voz da amiga do outro lado, aliviando-a, tirando sua mente das preocupações atuais.

O dia chega fresco e, pela primeira vez em vários dias, sentia o peito leve, como se tudo estivesse em ordem na sua vida.

Teria de se encontrar com InuYasha, antes de tudo.


InuYasha percebe que Kagome estava especialmente distante aquele dia. Parecia aérea, não prestando atenção no que faziam, ou em qualquer tentativa de conversa que tentasse.

–O que você está fazendo? – A voz já estava levemente alterada, não sendo capaz de controla-la, nem seu temperamento. Aquilo parece trazer a moça de volta a realidade.

–Você não está prestando atenção em nada! – Agora a reclamação parecia um muxoxo, o que faz a morena sorrir do tom infantil.

Ele dá um suspiro irritado, mas se parece subitamente interessado.

–Vou encontrar uma amiga. – E o sorriso volta a brincar em seus lábios, tentando o rapaz a seu lado, que a observava atentamente.

Quando a conhecera, certamente que a achara bonita, sentira atração por ela, mas nada que o fizesse sentir os pés voarem do chão, amor a primeira vista, como se tivesse encontrado sua alma gêmea, afinal, nem acreditava nesse tipo de besteira, para começo de conversa.

Cada dia mais, ela parecia mexer mais e mais com ele, de uma maneira que ninguém mais até hoje conseguira, e agora, se via constantemente pensando nela, em como seria beija-la, tê-la em seus braços por uma noite...

Talvez aquele fosse o problema do ser humano, o desejo. O desejo, o querer, o faz vulnerável, o enfraquece, o faz temente à morte.

E é assim que se perde, a partir do momento que se deseja o que não se pode ter.

–Quando você tem de encontra-la? – Pergunta, subitamente, exaltando-a. Kagome coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha, ela parecia inexplicavelmente delicada enquanto o fazia.

–Posso ir com você? – Diz simplesmente, fazendo-a exaltar-se, a proposta pegando-a desprevenida.


–Sango! – A menina corre de encontro à amiga, dentro do shopping center, abraçando-a, o sorriso grudado na face feliz.

–Kagome! Como está? – E pega a menina pela mão, rodopiando-a para dar uma melhor olhada nela. – Você está ótima! Qual o seu tratamento?

–Sango, este é InuYasha – E os indica com as mãos, apresentando-os. A morena sorri, mostrando-se simpática, mas ele permanece a encara-la, como se a analisasse.

–E o Miroku? Vocês já brigaram de novo? – Com a menção do nome do namorado, a de cabelos castanhos revira os olhos.

–Acho que se vocês brigassem só um tiquinho mais, não poderiam ser chamados de casal, porque nunca estariam juntos – E sorri, traquinas – Então sim, é óbvio.

–Sério Kagome – E a menina a encara, estranhando, surpresa – O que é esse cara? – A menina revira os olhos com a pergunta.

–Ele é estranho – Comenta, como se um arrepio passasse por si – Maass é bonito também – E sorri.

–Não tem nada na sua cabecinha não?

Nisso, ele volta, fazendo-as se calarem por um momento, constrangedor, antes de voltarem a rir de si mesmas.

–O que foi isso? – Pergunta, seca, irritada. Ele apenas levanta uma sobrancelha, em resposta. – Não sabe ser educado não? Ou o dinheiro te traz tudo?

–Qual o seu problema? – E já ia embora, quando ele a segura pelo braço, firme, fazendo-a engolir em seco, puxando-a para perto de si, virando-a de volta com brusquidão.

–Eu—nã-ão... – Mas não termina, pois se sente ser empurrada contra a parede, ficando presa entre o rapaz e esta, sentindo-a fria em suas costas. Um arrepio forte percorre sua espinha, os olhos de mel dele a sua frente, tão próximos, parecendo derreter, prontos para escorrer das orbes.

Tinha certeza que aquilo era errado, mas sua mente simplesmente nada processava, os sentimentos, as sensações, confusas, fundindo-se. Queria simplesmente parar com tudo aquilo, mas não conseguia.

As sensações, muito maravilhosas para que tivesse algum controle, um branco em sua mente, apenas sentindo, mole, excitante.

Sentia as pernas bambas, o corpo inteiro quente, correspondendo as carícias sendo feitas.

–InuYasha – Ela o empurra suavemente, fazendo-o encara-la, confuso.

–Preciso ir... – Diz em um fio de voz, virando-se com violência, sentindo uma vontade de chorar, apressando alguns passos em direção de volta à multidão. Ele também parece acordar do transe, encarando-a cm um pouco de desespero no olhar.

Chega em casa quase entregue ao desespero, jogando-se no sofá, deixando que as lágrimas lhe rolassem pelo rosto fino, fazendo seus olhos vermelhos.

O que era aquele sentimento que começava a tomar conta de si?


Engole em seco, sentindo a garganta seca, insegura.

Resmunga, baixinho, queixando-se.

Sente o peito apertar, porque ele não podia simplesmente desistir? Desistir por ela. A idéia soou irônica a seus próprios ouvidos, como que zombeteira. Era uma tola.

–Sim? – A voz era indiferente, e de alguma forma, totalmente estranha a ela.


No caminho, sua mente parecia um furacão de pensamentos. Teria coragem de fazer o que pretendia? Seu maior medo, se ele concordasse com o que queria e procurasse outra pessoa para escrever para ele, será que ela conseguiria continuar em frente, sabendo que agora vivia em um mundo que ele não mais existia?

Ri de si mesma, sentindo-se enlouquecer um pouco. Como uma pessoa, em menos de duas semanas, conseguira revirar sua vida de cabeça para baixo daquela forma, ela não sabia.

Talvez a idiota realmente fosse ela, fosse ela por não perceber que isso podia acontecer. Morde o lábio inferior. Quanto mais cedo aquilo estivesse acabado, melhor... Pior...

Engole em seco, intimidada pelo local, mas arrastando-se, forçando a si mesma a entrar.


Algo forte o prendia aqui no presente.

Nisso, ouve o telefone, alto, interrompendo-o, bruto. Levanta-se, amaldiçoando o aparelho por o interromper no meio de suas meditações, mas se arrependendo ao ouvir o motivo da ligação. Ela estava ali, apenas esperando para subir.

–Mande ela subir – Foram as palavras que lhe escaparam dos lábios, inexplicavelmente. Pausa, olhando para o telefone por um instante. Por que tinha feito aquilo?

Calça jeans velha e camiseta branca seriam!

–Kagome? – A garota lhe sorri fraquinho, e logo de primeira vista, vê que a algo a incomodava. – Entre.

–Precisamos conversar – A voz dela tremia de leve enquanto dizia essas palavras. Sério, ele se senta, de frente para ela, passando a encara-la, seus olhos mantendo contanto. Nenhum dos dois ousava quebrá-lo, aquele momento parecia durar uma eternidade.

–InuYasha – o nome saiu em um fio de voz – Não posso mais fazer isso – E é quando ela quebra a conexão de olhares, abaixando o rosto, terminando o momento. – Eu...Eu não posso mais fazer isso – Sem motivo, sente-se tendo de segurar a vontade de chorar. Não posso assistir sabendo que eu posso perder, eu não posso— E não completa a sentença. Eu não posso te perder.

Ela tenta sorrir, falhando, voltando a encarar o chão, deixando-se contaminar pela densidade do momento. Queria lhe pedir que desistisse, queria pedir para que ficasse, gostaria de dizer que ele poderia achar nela um motivo para continuar, assim como ela achara nele, uma explicação para algum dia ter vindo a nascer.

Se ela fosse o que o faria desejar viver, isso não teria que ser o seu desejo, e sim o dele, e sobre isso, nada ela podia declarar. Engole as palavras, como se engolisse veneno, sentindo os olhos começarem a doer, como se areia estivesse neles, as lágrimas ficando mais difíceis de controlar.

Levanta-se, apressando-se, não querendo olhar para trás, não querendo se arrepender, procurando, desesperadamente, fugir de sua realidade.

–Kagome! – Ele a chama, mas ela não queria se virar, relutante, sentindo o corpo tremer, se virasse, estaria perdida. – Kagome! – Ele a chama de novo e, dessa vez, a moça se apressa, percebendo a aproximação do outro corpo, abrindo a porta.

–Eu não posso, me desculpe... Eu não posso... – E com isso, ultrapassa para o corredor, ouvindo quando a porta batendo atrás de si.

Não vê quando ele se encosta a porta, cerrando a mão e os dentes, sentindo o coração sangrar, desejando desesperadamente para que ela voltasse.

Não conseguia mais ver o que estava a sua frente, a visão ficando nublada pelos diamantes que tentavam se libertavam de dentro de si. Soluça devagar, tentando desesperadamente se segurar, parando em frente às portas de metal, apertando o botão.

O elevador chegou.

O olhou, vendo a pergunta nos olhos dele como a que estava dentro de si. Seria capaz de viver com uma pergunta, uma dúvida nunca respondida, para o resto de sua vida?

Bate na porta, as batidas ecoando pelo corredor encarpetado. Ouve-a abrir com violência, no rosto que a encarava de volta, alívio, um sorriso leve, de felicidade genuína, enquanto InuYasha a puxava de volta para dentro, voltando a fechar a porta atrás deles.

–Kagome... – Ele diz, baixinho, rouco.

Ela deixou-se beijar, o beijo quente, marcando-a, fazendo-a perder o ar, as línguas juntas, entrelaçadas em uma dança sensual, o ar começando a pesar a seu redor, algo entre suas pernas começando a formigar.

Só essa noite, se fosse só essa noite, tudo estaria bem.

E enquanto ele lhe acariciava o rosto com cuidado, as peles se encontrando ardentes, carinhosas, enroscando-se, lágrimas lhe vieram aos olhos. Aquela era a última vez, sabia, podia sentir, não queria. O segurou com força, como se o ato o mantivesse preso junto a si para sempre, memorizando a textura de sua pele, a marca de seu cheiro, o calor de seu toque.


Acorda, sentindo-se atordoada, a cabeça girando devagar. Senta-se, olhando ao redor do quarto escuro, demorando em reconhecer onde estava.

Sua vulnerabilidade parece explodir ao vê-lo deitado a seu lado. Não podia encara-lo, o que fizera no dia anterior pesando em seu coração. Levanta-se, ouvindo grunhir baixo, sem acordar, apenas revirando-se na cama de hotel.

E embora agora pudesse chorar, sem vergonha, sentia-se seca por dentro, morta, incapaz de fazer qualquer coisa além de desistir. Talvez InuYasha estivesse certo, afinal, o que haveria de tão encantador no mundo?


O de cabelos prateados acorda, ainda grogue, o lençol escorrendo por seu corpo, até repousar em seu colo, quando se senta. Sentia-se bem, melhor do que se sentira em toda a sua vida. Lembra-se do que aconteceu no dia anterior, a fragrância feminina, de alguma forma, ainda parecendo presa junto a si.

Percebe algo fora de lugar, e quando olha em volta, não a vê a seu lado. Onde ela estava? Respira fundo, balançando a cabeça de leve. Levanta-se, a insegurança crescendo em si. Para onde ela poderia ter ido?

–Sim senhor InuYasha?

O homem pareceu hesitar por um momento do outro lado da linha, pigarreando.

A verdade é que no tempo em que ela viera, não conseguira uma resolução clara. O que ele queria? O que desejava? Desliga o eletrônico sem agradecer, sua cabeça parecendo girar.

Devia isso a Kagome, e devia isso a si mesmo, não importasse quanto tempo acabasse levando.


Estava gelada por dentro, a pele fervendo por fora.

Onde tinha ido parar, no que aquele amor a tinha transformado?

E de alguma forma, naquele momento, enquanto prendia os cabelos para trás, ainda umedecidos pelo banho, sabia que havia mudado e que, de alguma forma, tudo estava diferente, embora permanecesse exatamente o mesmo.


Olhava o movimento da rua, desanimada, o calor latente fazendo-a sentir-se esmorecida, desanimada.

–Senhorita? – O homem a chamou de volta, quebrando seu devaneio.

Não conseguia deixar de ficar feliz com a preocupação.

–Eu sei exatamente como você se sente – E ele sorri, simpático – Se minha esposa estivesse aqui, diria que você precisaria de chá, biscoitos e uma porção de tempo – A morena sorriu ante ao comentário. Sentiu-se culpada, afinal, era errado mostrar dor quando todos que ali vinham sentiam-se como ela.

Apóia o rosto na mesa a sua frente, suspirando. Por que tudo tinha de ser tão difícil para ela? Por que uma vez em sua vida não podia acontecer tudo certo e como planejara?

–Kagome – A voz chamou sua atenção, como que por magnetismo, fazendo-a levantar o rosto com violência.

–Estive parado a última hora na frente da porta, me decidindo se devia ou não entrar. Quando o senhor saiu, finalmente tomei coragem.

–Deixe-me fazer isso como deve ser feito. E por favor, ouça até o fim.

–A família de meu pai nunca aprovou o fato de ele ter casado com a minha mãe, e por isso, sempre nos olhou com maus olhos, eu e ela. Quando ela morreu, primeiro tentaram não enterra-la ao lado dele, no cemitério da família, mas a resistência fora inútil, uma vez que à vontade de meu pai estava em seu testamento. Então, como último sinal de resistência, eles se recusaram a usar o nosso usual serviço funerário, que sempre fazia tudo para a família. Eu tive que correr atrás de tudo, e, no meio da bagunça, eu contratei você. Nunca me esqueço das palavras que você usou, elas mostravam que alguém, mesmo que não a conhecesse, se importava com ela, e naquele momento, era tudo que eu precisava. – Ele dá uma pausa, sorrindo de leve, encarando-a, os olhos parecendo embebedar-se um mergulhando no outro – Foi a partir daí, na verdade, que me apaixonei por você. Eu devia ter visto, mas eu não sabia, era inconsciente. Eu estava obcecado. Depois que te conheci, você não saía da minha cabeça, tudo o que havia era você, e foi então, depois que você me deixou aquele dia, que percebi que mesmo que o mundo não valha a pena, mesmo que nada valha a pena, você vale! E tenho certeza de que todos os caminhos que tracei, todas as escolhas tomei, tudo o que vivi, me trouxe até aqui, até seu escritório onde te conheci, me levou a onde estou parado agora, tudo me levou a te conhecer, e então, tolamente, percebi que tudo valeu a pena, mesmo que, nos momentos em que passava, não percebesse.

–É por isso que sempre, só podia ser você e ninguém mais e todas aquelas experiências sem importância, que eu tanto desprezei, todas tem significado a seu lado Kagome, e por isso é aqui que eu decidi ficar, até onde o tempo me deixar, quero ficar com você!

–InuYasha... - Não precisavam mais de nenhuma palavra, todas já haviam sido ditas.



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Notas finais do capítulo

Feito de presente de amigo secreto 2010 no Mundo dos FF :)



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