As vezes, as pessoas mais interessantes, são aquelas que nos passam desapercebidas. A menina dos olhos claros e sinceros de quem se passou do lado ao atravessar a rua cheia de outras meninas, um senhor com cabelos brancos e um sorriso amigável de quem se ouviu um "bom dia" ao sair do café ou a menina distraída com quem se encontrou por acaso nos corredores do colégio. Menina essa que tinha nome, Lana.

Vestindo os velhos jeans claros de sempre e alguma blusa de frio devido ao tempo da cidadezinha no interior da Inglaterra; calçando o primeiro calçado que colocava nos pés e com o cabelo dourado geralmente preso em um rabo de cavalo bagunçado com pequenos e vários fiozinhos soltos, ela ainda não recebia muita atenção por onde passava. Mas isso não importava, pelo contrário, ela gostava. Era como se ela tivesse algum tipo de medo ou desconforto ao receber olhares ou estar próxima a muitas pessoas.

– Lana! Lana! - sua professora de inglês passava metade da aula tentando fazer com que ela prestasse atenção em alguma coisa.  

Ela se distraia com muita facilidade em relação a praticamente tudo e isso tendia a piorar na escola, que era um dos lugares que ela odiava. Tinha boas lembranças de quando era pequena lá, mas conforme foi crescendo, tudo que aquele lugar a trazia era uma sensação de sufoco e uma vontade repentina de chorar; ela mal chegava e já queria ir embora. Apenas um lugar ali valia a pena àquele sentimento: a biblioteca. Aquele era um dos seus lugares preferidos no mundo todo, mesmo não conhecendo boa parte do mundo; já era costume para ela matar as aulas que não gostava e ir para lá passar o tempo com as duas moças que tomavam conta dos livros e pegar alguns deles para levar para casa. Seu pai a ensinara a pegar o gosto pela leitura desde quando era pequena, quando lia para ela e a mãe nas noites frias, sentados em frente a lareira tomando chocolate quente.

Ela tinha essa paixão pelas pequenas coisas e detalhes e gostava de viver cada dia como se fosse o último porque, na verdade, nunca se sabia se aquele poderia ser mesmo o último. Ou talvez fosse porque a qualquer dia, qualquer momento pudesse, de fato, ser seu último.