Descobrindo O Erro! escrita por Lizzy


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Vocês vão notar que este capítulo termina sem suspense... é porque esse e o próximo capítulo eram um só, mas como ele estava muuuuito grande resolvi dividí-lo em dois.

Boa leitura, espero que gostem!!!

AAAh! Queria que nos reviews vcs dessem idéias do que vcs gostariam que acontecesse na FIC. Eu já pensei em muita coisa, mas idéias de leitoras é sempre bom!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/382247/chapter/20

- Claro que sim! – Exclamou Julie, com um sorriso que ia de orelha a orelha.

- Ótimo. Então, já vou pedir pra que preparem o estúdio. Enquanto isso, vocês já podem ir tirando a máscara. Gostei muito da idéia, super original, mas...

Todos arregalaram os olhos, mas foi Julie quem se manifestou, dizendo: - Eles não podem.

- Como assim, eles não podem? – Perguntou Rafael, sem entender.

- Não dá. Eles têm que ficar com a máscara o tempo todo.

- Você só pode tá de brincadeira comigo...! – Se virou para Nícolas – Será que você pode me explicar isso?

Julie olhou para o namorado, pedindo através do olhar para que ele a apoiasse.

- Er... – Coçou a nuca - No começo eu tambem achei estranho, mas...

- Estranho?! – Indagou Rafael sem deixar que Nícolas concluísse – Nícolas, você sabe que eu sou um cara super sério. Como você quer que eu contrate uns caras fantasiados sem nem saber quem são? Isso poderia destruir a reputação de minha empresa.

- É, Rafael, você tem razão. Se fosse eu, também agiria assim. – Nícolas concordou com ele e Julie o fuzilou com o olhar. – O que foi? – Perguntou de forma natural para namorada.

Julie balançou a cabeça, depois se dirigiu pra Rafael – Olha, eu sei que é estranho, mas... Eu posso te garantir que a banda é boa. Se você puder dar uma chance pra gente te mostrar, eu tenho certeza que você não vai se arrepender e... – Rafael quase nem mais prestava atenção ao que Julie dizia, balançando a cabeça com desdém. Então, foi aí que, indignado, Daniel resolveu intervir.

Ele se levantou e segurou o braço de Julie que parou de falar, e se virou pra ele – Na boa, Julie, não vê que tá perdendo seu tempo?! Esse cara não tá nem aí pra o que você tá dizendo. – Olhou para o irmão com raiva – Não sei nem porque eu aceitei vim. No fundo eu sabia que isso ia acabar acontecendo. – Pausou, e se dirigiu para os fantasmas que o olhavam com cara de decepção – Vambora pessoal! O nosso tempo aqui se esgotou, aliás, a gente nunca devia ter perdido tempo de vir aqui para escutar o que a gente vai passar a vida toda escutando.

- Não! – Gritou Julie, barrando os fantasmas que se levantaram do sofá – Não. Vocês não podem desistir assim. – Ela olhou para o fantasma que já estava mais à frente - Daniel! – Ele escutou o apelo, contudo não se virou. Sabia que se o fizesse, acabaria cedendo.

Mas, quando Rafael escutou aquele nome, franziu a testa, pensativo. - Espera! – Todos pararam, e prestaram atenção em Rafael, que se dirigiu a Julie – Como você disse que se chama esse rapaz?

Julie segurou o sorriso. Sabia o que estava acontecendo. – Daniel. Por quê?

Rafael sentiu como se perdesse as forças de suas pernas. Foi até a cadeira, e escorregando, sentou-se nela. – Não pode ser. – Murmurou para si mesmo, e apoiou os cotovelos nos joelhos com o rosto entre as mãos.

Julie se agachou à sua frente, e tomando as suas mãos entre as dela, perguntou: – Rafael... você tá bem?

Daniel permaneceu parado, observando a cena. Não sabia o que fazer. “Será que seu irmão desconfiara de tudo? Não. Isso seria impossível. Então, o que era aquele gesto tão repentino?”, pensou.

Nícolas pousou a mão sobre o ombro dele, apertando-o de leve, para lhe dar força. Ele sabia de toda a história, mas, claro, nunca lhe passou pela cabeça que esse irmão pudesse ser o Daniel da banda da Julie. Seria muito azar pra ele.

- Eu tinha um irmão. – Desabafou Rafael quando levantou a cabeça, os olhos marejados – O nome dele também era Daniel. – Pausou - Eu era muito pequeno quando ele se foi, mas... Até hoje é como se sentisse ele sempre por perto. – Suspirou.

- E-Eu sinto muito. – Julie disse, com um olhar triste. Em seguida, olhou para Daniel, e percebeu que ele estava aéreo.

Rafael, virou o rosto em direção a Daniel  - Quantos anos você tem, rapaz?

Daniel baixou o olhar, e murmurou – 18.

Rafael lhe deu um sorriso fraco – Foi com essa idade que meu irmão morreu. Só falta agora você dizer que toca guitarra...? – Antes que ele pudesse concluir, Julie lhe sorriu, concordando. Então, ele franziu a testa. – Você tá falando sério? – Perguntou para Julie, que assentiu com a cabeça.

Um grande silêncio se fez naquela sala, até que, de repente, Rafael se levantou de supetão – Quer saber de uma coisa, eu vou ouvir vocês, sim. E se vocês forem realmente bons, eu vou contratar vocês. – Todos sorriram. Julie quase pulou de tanta alegria – O meu irmão nunca teve uma chance como essa. Mas, se ele tivesse tido, eu gostaria muito que o produtor dele reagisse assim como eu estou fazendo. Por isso, preparem-se meninos! Porque o sucesso finalmente está batendo à porta de vocês.

Todos levantaram, e se abraçaram. Estavam mais do que felizes, exceto Nícolas que viu quando Julie abraçou Daniel, e percebeu que aquele não era um abraço qualquer. Ficava cada vez mais desconfiado.

Todos se dirigiram para o estúdio.

*****************************************************************************

Algumas horas depois, Julie e os outros estavam voltando para sala com Rafael que não cansava de elogiar o quanto a banda era boa. No estúdio, eles fizeram questão de tocar três músicas deles. Duas mais agitadas e uma mais lenta. Rafael gostou de todas, sem exceção. Achou-os muito afinados. Claro que, como toda banda, iria precisar de uns ajustes aqui e ali, mas, sabia que em pouco tempo, aquela banda seria sua maior descoberta.

-  Então, é isso. Só vou pedir pra Glorinha providenciar os contratos para que vocês assinem e... – Rafael parou de falar quando escutou uma voz familiar correndo em sua direção.

- Papai, papai! – Era Daniela que descia as escadas na velocidade de uma foguete. E em um minuto estava agarrada em suas pernas. – Papai, a Glorinha não quer me dá mais biscoito. – Reclamou fazendo bico.

Daniel viu a cena com os olhos brilhando. Julie percebeu.

Glorinha que também apareceu naquele momento descendo as escadas, cruzou os braços – Desculpa, Seu Rafael, mas é que ela já comeu dez biscoitos. Achei que era melhor ela parar senão, com certeza, não terá fome na hora do jantar.

- É, meu amor. – Suspendeu a criança nos braços - A Glorinha tem razão.

- Mas, papai, eu só quero dois. – Argumentou Daniela, mostrando dois dedinhos.- Por favor! – Juntou as mãozinhas em oração.

- Tá bom. – Rafael não conseguia resistir àqueles olhinhos - Só mais dois. Nem unzinho a mais, tá bom?!

Daniela sorriu, vitoriosa, e abraçou o pai pelo pescoço. – Brigada paizinho! – Agradeceu ao pai com o queixinho apoiado em seu ombro. Depois, sem que seu pai visse, mostrou a língua para Glorinha, que cruzou os braços e balançou a cabeça em desaprovação.

Rafael desceu a filha – Agora... Vá cumprimentar seu tio Nícolas.

Daniela que até então, nem tinha se tocado da presença de todos ali, se virou e correu para Nícolas, se jogando em seus braços. – Tio Nícolas! – Gritou, feliz. Daniel morreu de ciúmes.

- Oi pequena! – Agachou para abraçá-la, antes de lhe fazer uma cafuné na cabeça.

No abraço, Daniela avistou Julie que estava sorrindo. Sorriu em resposta, e quando se soltou dele, correu para abraçá-la – Tia Julie!

- Oi Dani! – Agachou também para abraçá-la - Como você está? – Perguntou, encarando seus olhinhos infantis. Mas, os dela não ficaram presos por muito tempo aos de Julie, pois algo lhe chamou a atenção.

- Quem são eles, tia Julie? – Apontou, com o dedinho, para os fantasmas que, ao seu ver, não passavam de bichinhos gigantes.

Julie sorriu e aproveitou a deixa para apresentar Daniel a ela. Então, segurando sua mãozinha, Julie a conduziu até ele – Esse aqui, Dani, é o tio Daniel.

Daniel feliz como estava, se agachou abrindo os braços, mas em vez dela correr em sua direção, assim como fez com os outros,  arregalou os olhinhos, e se escondeu atrás das pernas de Julie – Eu tô com medo, tia Julie! – Murmurou ela e fechou os olhinhos.

Julie não sabia o que fazer, não esperava aquela reação. Se agachou de novo, levantando o queixinho da menina – Dani, não precisa ter medo. O Daniel, ele... Ele é bonzinho. Quando você conhecer melhor... – Julie se atropelava com as palavras. Então Daniel se levantou, decepcionado, e sem pensar duas vezes saiu correndo. No mesmo instante, Julie também se levantou – Daniel, espera! – Gritou, esticando a mão, como se assim pudesse alcançá-lo. – Daniel! – E teve a intenção de correr, mas foi impedida por Nícolas que segurou seu braço com força – Me deixa! Você não entende?! Eu preciso ir lá ver como ele está.

- Julie, isso já tá indo longe demais. – Resmungou Nícolas - Eu já tô começando a ficar irritado. – A gente precisa conversar!

 Antes de responder, Julie lhe lançou um olhar não tão amigável - Eu sei, mas agora não é hora para isso... Me solta!

Nícolas bufou, e mesmo pestanejando, a soltou. Então Julie, sob o olhar atento de todos, saiu correndo porta afora.

Sem entender nada do que estava acontecendo, e assustada, Daniela correu para os braços do pai que imediatamente a acolheu. – Meu amor, o que foi? – Ela levantou os bracinhos pedindo colo. Ele a levantou, com esforço, e ela o abraçou com muita força pelo pescoço, então para consolá-la, ele começou a balançá-la e a massagear as costinhas dela, enquanto dizia: – Papai tá aqui. Tá tudo bem, viu?! Ele já foi! Pronto, ele já foi.

Mas, com o queixinho pousado sobre o ombro do pai, a menina olhava para porta, por onde Daniel tinha passado, com os olhinhos marejados, e o nariz vermelhinho. Algo dentro dela, que ela não sabia de que se tratava, levou-a a se arrepender pelo que fez, mas já era tarde.

***********************************************************************

Lá fora, Julie correu por todo o corredor até chegar ao elevador. Apertou o botão para chamá-lo. Quando ele parou, a moça lhe perguntou para qual andar ela iria. Não soube responder de imediato. Não fazia a menor idéia em qual andar Daniel havia descido. Ele podia ter descido em qualquer um deles. Ficou aflita, pensando que podia passar o dia todo subindo e descendo o elevador, e no final,  ainda corria o risco de não encontrá-lo.

- Senhorita? – Chamou a moça, tentando lhe chamar a atenção – Qual andar, por favor?!

- Hã?! Quê?!– Atordoada, Julie andou de costas, e quando esbarrou no espelho do elevador, escorregou com suas costas nele, se sentando, abraçada a suas pernas.

A moça ficou preocupada. Apertou o botão para que o elevador não se fechasse, agachou ao seu lado, sentando-se por cima dos calcanhares, e alisando de leve seu cabelo, perguntou: – Senhorita?! Você está bem? Quer que eu pegue um copo d’água?

Julie levantou a cabeça, com os olhos marejados – Não. Eu não quero água... Eu só quero encontrar uma pessoa... Ele correu. Eu não sei em que andar ele desceu... Ele viu a sobrinha... Ela teve medo dele... Eu tenho que encontrá-lo, ele deve tá muito triste....

- Olha, eu  não entendi nada do que você disse, mas, se quiser, eu posso te ajudar a encontrá-lo. Não deve ser tão difícil assim. Me diz como ele é.

Julie baixou o olhar, pensativa, então resolveu dizer o óbvio: - Ele tava vestido de bichinho.

A moça abriu um sorriso, e se levantou sem dizer nada. Julie levantou a cabeça, e franziu a testa a espera de uma explicação, então ela apertou a botão do sétimo andar.

- Ele me disse que queria ir para um lugar onde ninguém pudesse incomodá-lo. – Julie começou a abrir um sorriso - Eu lhe recomendei o sétimo andar, porque é o único que ainda está vazio.

O elevador se abriu, mas antes de sair, Julie agradeceu: - Obrigada. Mesmo. Muito obrigada. –  A moça sorriu em resposta, e o elevador se fechou.

Ao olhar para direita, Julie viu que o corredor dava em uma janela. E para sua supresa, Daniel estava lá, sem máscara, inclinado, com os cotovelos apoiados nela.

Ela se aproximou bem devagar, e se colocando ao seu lado, apoiou seus cotovelos na janela. Depois olhou para o lado, em direção a ele, e sussurrou: - Fiquei preocupada.

Sem olhar pra ela, Daniel respondeu: Eu passei trinta anos tentando evitar isso. – Pausou – Tentando evitar que o meu irmão e a minha sobrinha tivessem medo de mim. – Engoliu a seco – Agora, em um piscar de olhos, foi tudo por água abaixo.

Julie segurou seu ombro – Eu sinto muito, Daniel. Mas, você tem que entender que... – Daniel virou o rosto de lado, e a encarou – A Daniela é muito pequena. Ela não entende e nem sabe que você é o tio dela. Se soubesse, eu garanto que teria reagido de outra forma.

Daniel suspirou e virou todo o seu corpo pra ela, que se virou também pra ele – Eu sei, mas é que... Você viu o jeito como ela abraçou o Nícolas?! Acho que ela gosta mesmo dele.

- Talvez seja porque ele é o único tio que ela conhece. E talvez, também, inconcientemente ela esteja projetando você... Nele. – Julie esticou a mão, e tocou delicadamente no rosto dele – Você viu como o Rafael ficou quando se lembrou de você? Ele ficou todo emocionado. É lógico que ele ainda se lembra de você com carinho. E sente sua falta.

Diante daquelas palavras, Daniel baixou, por um instante seu olhar, para em seguida levantar, e perceber que Julie agora o encarava com um olhar suplicante.

- Daniel, dá uma chance pra eles te conhecerem. E você vai ver que dentro de pouco tempo, eles vão começar a te amar muito. Eu sei disso porque... – Ela pausou, e olhou para o lado, corando – É muito fácil amar você. – Encarou-o, os olhos brilhando.

Daniel a encarou sem acreditar no que ouvira. Aquilo foi uma declaração?

- Vamos voltar pra lá?! – Julie perguntou lhe trazendo de volta à realidade. Ela estava com a mão esticada, só esperando que ele a segurasse.

Ele segurou. Mas em vez de acompanhá-la, puxou-a com ímpeto para perto de si. E enlaçando sua cintura, murmurou: - Por que você é assim?

- Assim como?

- Tão... – Seus olhos ficaram penetrantes - Perfeita.

Julie enrolou com seu dedo, um cachinho do cabelo dele, e disse de forma terna – Até parece.

Então, ele sorriu e, segurando seu rosto, com as mãos, diminuiu o espaço que ainda existia entre eles, fazendo com que seus lábios se encontrassem em um beijo apaixonado. Não houve língua, e não foi um beijo daqueles de tirar o fôlego. Pelo contrário, foi um daqueles para selar seus destinos.  E a emoção dos dois foi tão grande que, durante o beijo, uma lágrima escorreu dos olhos de ambos.

Depois do beijo Julie se sentiu perturbada, e percebeu que Daniel sentiu o mesmo. Olhando para ele, ela teve a nítida impressão que Daniel estava menos branco do que de costume, quase como se tivesse corado.

- O que foi? Por que tá me olhando assim? – Perguntou Daniel, arrancando Julie de seus pensamentos.

- Nada... É que... Parece que você tá... – Julie falava olhando pra ele com a testa franzida, como se o analisasse, tocando de leve em seu rosto. Mas, ela achou que pudesse ser bobagem falar sobre isso. Afinal, fantasmas não coram. Eles nem ao menos tem sangue. Por isso, desistiu de continuar, era provável que Daniel risse daquilo – Não... Não é nada. Deixa pra lá!

- Tem certeza? – Daniel  perguntou, e Julie assentiu com a cabeça – Tá bom, então. Vamos?

Julie que já estava de mãos dadas com ele, entrelaçou seus dedos aos dele – Vamos.

E eles saíram, parecendo um casal de namorados. A moça do elevador viu o clima de romance entre os dois quandos os mesmo entraram no elevador. Agora entendia todo o desespero daquela menina. No lugar dela, também estaria assim.

****************************************************************************

- Caramba, até que enfim! – Exclamou Martim quando os viu, entrar juntos na sala. Eles já não estavam de mãos dadas. Seria muito desrespeito com Nícolas que, naquele momento, se encontrava sentado no sofá com cara de poucos amigos. – Só estava faltando vocês pra assinarem o contrato. – Entregou a caneta para Daniel que foi até à mesa de Glorinha. Depois foi a vez de Julie que estava radiante.

- Julie, os meninos me falaram muito sobre uma tal de Bia. – Comentou Rafael quando se aproximou de Julie – Disseram que é ela quem ficava responsável por agendar os shows. Você poderia me dar o telefone dela? Preciso me inteirar dos próximos shows de vocês pra começarmos a trabalhar juntos.

- Claro. – Julie pegou o celular no bolso, e clicando na sua agenda, começou a dizer o número, enquanto Rafael anotava tudo no próprio celular.

Olhando de relance para mesa de Glorinha, Daniel viu Daniela sentada no colo de Glorinha. Elas pareciam estar se divertindo muito, cantando uma musiquinha infantil, enquanto Glorinha batia nas mãozinhas dela de forma alternada. Ficou parado por um momento, assistindo àquela cena. Depois se dirigiu a uma das cadeiras, sentando-se com a cabeça baixa, os cotovelos apoiados nos joelhos, e os dedos entrelaçados.

O que ele nem imaginava é que sua sobrinha não estava alheia ao seu olhar, pelo contrário, ela sabia que ele a estava observando. Por isso, quando ele foi sentar, ela virou a cabecinha para verificar aonde ele estava indo.

- Oi! – Daniela cumprimentou-o, quando chegou perto dele após ter descido do colo de Glorinha com a desculpa de que precisava resolver uma coisa muito importante. Glorinha riu de sua precocidade.

- Oi! – Respondeu Daniel de forma natural, quando seu olhar se encontrou com o olhar inocente de sua sobrinha. Ela vestia um vestidinho rosa rodado, com duas chuquinhas no cabelo, e estava com as mãozinhas para trás, balançando o corpo para frente e para trás, de forma sapeca.

- Por que você saiu correndo? – Perguntou ela, olhando um pouquinho de lado, envergonhada.

Daniel sorriu, diante da pergunta - Porque eu achei que você tivesse ficado com medo de mim.

Ela rolou os olhinhos, e colocou as mãozinhas na cintura, parecendo gente grande, Daniel pensou - Só por isso?

- É. Acredita? – Ela sorriu, divertida. Então ele segurou seu queixinho, com carinho - Eu não queria te assustar. Eu juro.

Ela o olhou com ternura, e não entendia o porquê, mas naquele momento sentiu um imenso carinho por aquele “estranho”. - A tia Julie disse que você é bonzinho. – Disse, como se aquele simples fato pudesse mudar tudo.

Daniel virou a cabeça em direção à Julie que naquele momento estava com o olhar grudado nos dois, presenciando toda a cena. Ambos sorriram um para o outro, com cumplicidade. Ali naquela sala, só eles sabiam da intensidade que estava sendo aquela conversa.

Depois ele voltou de novo o olhar para a criança – Você é muito linda, sabia?

Ela sorriu de novo, e sem que Daniel se desse conta do que estava acontecendo, ela envolveu seu pescoço com os  bracinhos. – Eu não tô mais com medo de você, tio Daniel.

Daniel sorriu, e a apertou forte nos braços. Então por baixo da máscara, sem que ninguém pudesse ver, uma lágrima de felicidade rolou em sua face.

****************************************************************************

Mais tarde, depois de saírem da empresa de Rafael, Nícolas foi deixar Julie e os fantasmas em casa. Quando estacionou, os fantasmas desceram, e correram para edícula, já não estavam mais aguentando aquelas fantasias. Não viam a hora de retirá-las. A reunião com Rafael tinha sido um sucesso. Todos estavam radiantes, principalmente Daniel que além de ter recebido um abraço terno de sua sobrinha, e de tê-la ouvido chamá-lo de tio, recebeu também, ao se despedir, um abração de Rafael e três batidinhas nas costas, assim como fez com Nícolas.

- Nícolas, a gente precisa mesmo conversar. – Julie falou olhando para frente. Ela e Nícolas ainda estavam dentro do carro. - Você não quer entrar? – Julie perguntou quando se virou pra ele.

Com o olhar perdido, ele respondeu: - Quero sim. – Desligou o carro, puxou o freio de mão, e retirando o cinto, saiu em direção à casa dela sem esperá-la.

Enquanto, Julie permaneceu alguns segundinhos ainda dentro do carro, criando coragem para o que estava por vir. Ela sabia que seria uma conversa difícil, por isso, suspirou profundamente, retirou o cinto e... Saiu com o coração apertado.

Já dentro de casa, Nícolas se sentou no sofá que tantas vezes havia sentado quando o coração deles batiam no mesmo compasso. Ficou deprimido, só esperando que Julie tomasse a iniciativa. Ela estava sentada ao seu lado, com as mãos no colo, os dedos entrelaçados.

Por fim, ela iniciou – Nícolas... Pra mim, tá sendo bem difícil te dizer isso porque... Eu gosto muito de você. Você é o cara mais gentil e legal que eu conheço. Mas, é que... Eu tenho que ser sincera com você. Eu não quero te enganar, e muito menos me enganar. – Baixou o olhar, tentando criar coragem - Eu tô gostando de outra pessoa... – Então começou a falar bem rápido, como se assim ele pudesse entender - Eu sei que isso não devia ter acontecido. Eu sei que talvez você veja isso como uma traição. E eu sei que você não merece isso. Eu sei disso, mas é que...

- Para Julie! – Falou Nícolas de supetão, interrompendo-a. – Para de falar! Sério, eu não quero mais ouvir. – Julie se sentindo envergonhada, baixou a cabeça – É o Daniel, não é?! – Julie ficou calada – Vamos, Julie, responde! É ele, não é...?

 Julie demorou um pouco para responder. Ela não queria que a conversa seguisse para esse rumo. Nícolas iria odiá-la.

- É. – Respondeu quando levantou a cabeça e o encarou - É ele sim. Desculpa. Eu sei que eu não devia gostar.  Eu sei disso. Eu preferia não gostar. Você acha que eu queria gostar de um fantasma? Não. Eu preferia mil vezes gostar de um cara assim que nem você, mas as coisas foram acontecendo e... Nícolas, eu juro que não era minha intenção te magoar. –Tentou segurar a mão dele, mas ele a retirou, com raiva. Então, depois de um profundo silêncio que se seguiu, Julie desabafou, os olhos marejados - E-eu sinto muito.

 Ele se levantou, ficando de costas pra ela. Colocou as mãos dentro dos bolsos, e sem olhar pra ela, indagou com a voz áspera:

- Você sente? – Pausou, e virou de frente pra ela, a testa franzida - O que você sente, Julie? Pena de mim? É isso? Pois, não precisa sentir. Eu vou ficar bem. Pode apostar que sim. Mas... O que eu não consigo entender é como você pode estar me deixando por um fantasma?! – Ele segurou seus braços com força, forçando-a a se levantar, e continuou - Você já conseguiu imaginar a vida que você terá daqui pra frente?! Julie, você será zoada no colégio inteiro, no bairro inteiro, aliás, na cidade inteira. – Pausou, dando ênfase a essa última frase, como se assim pudesse convencê-la - Pro resto da sua vida.

- Nícolas para com isso! – Gritou com a voz embargada, se soltando dos braços dele – O que eu faço ou deixo de fazer com a minha vida daqui pra frente é problema meu. Não seu. Além disso, o Daniel...

Nícolas deu uma risada sarcástica, impedindo-a de continuar – O Daniel? O Daniel é muito esperto. Eu devia ter desconfiado quando ele foi no meu quarto com aquela conversinha pra boi dormir. – Julie franziu a testa, sem entender – Claro... Ele já tinha um plano armado. Ele me pediu pra ir conversar com a Thalita, só pra que você nos visse juntos. Assim você teria uma ótima desculpa pra terminar comigo.

- Nícolas, isso não tem nada a ver com a Thalita. Essa foi uma decisão que eu tomei. Só isso. Será que você não consegue entender?!

- Não, Julie. Não consigo. É praticamente impossível entender isso. – Segurou seu braço com força, seus olhos como órbitas frenéticas – E eu... Não vou desistir de você, assim, tão fácil. Eu não vou perder você pro Daniel. Não vou! – Quase cuspiu essa última frase.

Julie olhou pra baixo. Estava indignada. Não gostava de como ele a estava tratando - Você falando assim parece que vocês dois estão me disputando...

- E estamos. – Respondeu seco - Sempre foi assim. Você se lembra quando ele foi no meu quarto para me assustar? Ele sabia que você gostava de mim, e mesmo assim jogou sujo comigo. Lutou por você quando eu nem sabia que estava na disputa.

Julie o encarou - Ele já te pediu desculpas, Nícolas. Esquece isso, pelo amor de Deus!

Ele apertou mais o braço dela – Esqueço. Esqueço sim, se... Você esquecer toda essa bobagem de término e ficar comigo.

Julie já não reconhecia mais ele – Nícolas, me solta! Você tá me machucando. – Sua respiração começava a ficar mais profunda. Estava começando a ficar com medo. Principalmente porque Nícolas olhava pra ela, fuzilando-a. Ele também estava ofegante. O ódio estava nítido em seus olhos. Sentiu-se traído. Sentiu-se um idiota. E quanto mais pensava assim, mais apertava o braço de Julie. Porém, o olhar assustado de Julie, conseguiu fazer com que ele  voltasse a si. E, ele acabou por soltá-la. As marcas dos dedos em sua pele. – Vai embora, Nícolas, por favor! Antes que acabe até mesmo o pouco de carinho que eu tenho por você.

Ele baixou o olhar. Estava arrependido – Desculpa, Julie. Eu não sei o que deu em mim. Eu juro que não queria te machucar.

Julie suspirou. Sabia que Nícolas não era assim. Ele agiu por impulso. Estava com raiva dela, e tinha razão. Por isso, resolveu perdoá-lo pra não fazê-lo sofrer ainda mais - Tudo bem... Mas vai embora. É melhor. Amanhã a gente se fala na escola.

Nícolas estava muito envergonhado e se perguntava, olhando de um lado para outro, o que tinha dado nele. Esticou a mão em direção ao rosto de Julie na intenção de lhe fazer uma carinho, mas ela se desviou. E ele compreendeu que ela não o queria mais ali. Pegou a chave do carro que estava em cima da mesinha de centro e, sem olhar pra trás, foi embora.

Sozinha, Julie desabou no sofá, deixando que se extravasasse todas as lágrimas que em vão tentava segurar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente é o fim do namoro!!!:D Gostaram? Deixem reviews!

Próximo capítulo muitas coisas serão reveladas, inclusive a identidade do "maluco perseguidor"

Até lá!:*