Anjos E Demônios - A Revolução Dos Invisíveis escrita por Yumi Hayama


Capítulo 9
O Filho do Demônio Branco


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, boa leitura



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Pouco depois de sairmos do labirinto e a briga de Vincent e Brian, acabamos indo parar em um vilarejo não tão longe dali. O dia logo surgiu e dava para ver claramente o ferimento no rosto de Brian, mas ele parecia não se importar quanto a isso. Any estava cada vez mais estranha, e tenho um mau-pressentimento. A adaga que Vincent havia me entregado me passava um sentimento estranho, como se algo ruim emanasse daquele objeto, todas essas marcas que eu nunca havia visto antes.

– Tome cuidado, pode ser antiga, mas é tão afiado quanto minhas garras. – Vincent ri convencido e mostra suas garras mais afiadas do que nunca.

– O rosto do Brian que o diga. – digo me sentando em uma cadeira de balanço.

– Ele mereceu mais – Vincent se senta bruscamente em uma cadeira bem próxima a mim e ri do meu comentário.

– Vincent – pego a adaga e passo a mão sobre a lâmina afiada. – Você sabe o que estas marcas significam?

– Sua mãe mencionou algo sobre elas uma vez, mas eu era muito pequeno e não me lembro claramente – sua voz estava quase falhando. –

Nós estávamos na varanda de uma pequena casa em um vilarejo bastante calmo. Dá para ver em seus olhos e perceber seu tom de voz que ele não gosta de falar da minha mãe. Recosto-me na cadeira de balanço e passei a observar o céu agora possuía uma coloração cinzenta, com várias nuvens. Vincent se levanta de repente e caminha um pouco, até que para e solta um breve riso.

– O que é engraçado? – pergunto e bocejo enquanto sou embalada pelo balanço da cadeira.

– Sabe, há muito tempo, quando eu me perdi em uma floresta como essa, acabei indo parar em uma pequena cidadezinha abandonada no meio do nada. O povo parecia ser muito supersticioso, zelando pela paz e harmonia. Chega até a ser meio patético sabe? – ele se encosta na parede e ri – Depois de uma semana naquele lugar, a minha curiosidade acabou me levando a um tipo de templo ou santuário. Você tem alguma ideia de quem eles idolatravam Juliet? Aquele que julgavam de “Deus”?

O tom de ironia quando ele disse “deus” era bem claro. Ele se aproxima de mim com um olhar distante, seus dentes pontiagudos estavam a mostra, ele puxa a cadeira na qual eu estava sentada com tanta velocidade e força que o chão de madeira havia ficado marcado e seus longos cabelos negros estavam caindo sobre seu rosto.

– White Demon? – digo assustada, eu estava encurralada, não havia como eu sair daquela situação.

– Exatamente, eles eram seus adoradores, ele lhe prometia realizar seus maiores desejos, até o mais sujo que se possa imaginar – Vincent sussurra no meu ouvido - E em troca, eles lhe faziam sacrifícios.

– Sacrifícios humanos? – sinto meu corpo tremer.

– Sim, dentre outras coisas – ele sorri e bagunça um pouco meu cabelo, sabendo que eu iria me irritar. – Mas em uma noite muito fria, eu segui o pessoal até este santuário, onde uma jovem deu a luz ao filho dele, o filho de White Demon.

– Não entendo aonde quer chegar Vincent.

– O filho ficou sobre a guarda da mulher, que acabou sendo presa em uma prisão naquela mesma cidade, onde ninguém nunca mais ouviu falar dela. Você sabe muito bem que não confio nada do que Leo diz, muito menos Brian. Meus instintos me dizem que eles estão nos enganando Juliet.

– Não é possível, Leo nunca mentiria para mim, eu... ele... – Me levanto e ando em direção à porta, mas Vincent me segura antes que eu pegue a maçaneta.

– Eu sei que é muita coisa de uma vez, eu só te peço para que os observe com bastante atenção, não confie inteiramente neles, eles não são quem dizem.

– Então para onde eles estariam nos levando? – viro-me e passo a encará-lo.

– Eu não sei, mas este com certeza não é o caminho para o paraíso. – ele me segura pelos braços. – Quer uma prova? Tente conversar com eles sobre o assunto com Leo, Any ou até mesmo o sem cérebro do Brian. Não é estranho que eles nunca tenham pronunciado nada a respeito até agora? Tem algo a mais que eles sabem, algo muito pior do que a gente imagina.

– Chega, depois conversamos sobre isto Vincent – me solto dele e saio rapidamente dali.

Ele deve estar enlouquecendo, francamente. Leo nunca me faria nada, eu o conheço perfeitamente. É, talvez Vincent deva estar imaginando coisas, eu não posso deixar ele me influenciar.

“Nós fomos criados para proteger o mundo humano contra ameaças feitas ao criador”, estas palavras ditas por Leo voltaram a tona para me assombrar depois dessa conversa intrigante com Vincent, mas talvez possa ser que Vincent tenha razão, isto até iria por um fim nas minhas dúvidas e explica muita coisa do que está acontecendo. Mas então, qual seria a ameaça que Leo está tentando enfrentar, além do White Demon?

– Senhorita, está tudo bem? – era Brian não tão diferente do normal, ouvir sua voz mansa parece me acalmar um pouco, mas não sei se posso dizer a ele, não agora.

– Eu só me sinto um pouco confusa, só isso.

Nós estávamos ao lado de fora da casa, as pessoas passavam por nós e podia sentir os olhares e escutar pequenos burburinhos, que seriam despercebidos se fosse um ser humano comum, mas infelizmente não sou, e é muito complicado ignorar isso.

– Por que não vamos beber alguma coisa? Não irei te forçar a dizer nada do que não queira – ele sorria como se nada estivesse acontecendo.

– Seu rosto... não dói? – me aproximo dele e passo a mão levemente por sua cicatriz.

– Ah, isso? – ele geme de dor baixinho e segura minha mão. – Posso não ser mais um anjo, não totalmente, mas ainda possuo o poder de regeneração, mesmo que ainda fraco. Mas eu irei ficar com a marca até o dia que eu morrer.

– Eu sinto muito pelo Vincent, ele está agindo estranho ultimamente.

– É comum, considerando que ele é metade leão – ele entrelaça seu braço ao meu e começamos a caminhar. – Você é a única de nós que ele escuta.

– É verdade, eu gostaria que ele confiasse em vocês também.

– Ei, não precisa ficar tão depressiva assim – ele fecha os olhos – Por ele ter sido ligado muito a sua mãe quando ele ela pequeno, ele se sente na responsabilidade de protege-la, não vou julgá-lo por isso. Mas ele também não tem minha afeição, e talvez algum dia eu pense em retribuir o presente – ele se refere a cicatriz em seu rosto, uma grande cicatriz.

– Sabe, você não fica tão mal assim, fica até mais charmoso.

– Você acha é? – ele ri – Bem, se é você quem diz isto, vou cuidar bem dela a partir de agora.

Pouco tempo depois nós chegamos a um bar, que parecia ser muito frequentado por todos desta pequena vila. Assim que entramos nos deparamos com vários homens embriagados, o homem no balcão que servia as bebidas estava quase dormindo, e quase foi atingido por uma faca, mas nem pareceu se importar.

– Duas cervejas – pediu Brian se sentando em uma das mesas.

Sento-me ao lado dele meio transtornada. A música era alegre, mas não havia expressão de animo no rosto de ninguém ali, para ser mais clara, eles não tinham expressão alguma, nem raiva nem tristeza.

– Então, parece que quer me dizer alguma coisa senhorita – Brian se apoia na mesa, observando as pessoas ao seu redor.

Vincent comentou uma vez comigo durante nossa viagem para cá, que além de serem ótimos lutadores, alguns possuíam algumas habilidades em especial. Brian parece ser do tipo sensitivo, ele parece poder saber o que estou sentindo só de olhar, ou simplesmente tocar em mim.

– Para onde estamos indo Brian?

Logo alguém aparece com as cervejas e nos entrega, Brian agradece e vira a caneca de uma vez, enquanto eu tomo em pequenos goles, esperando por alguma resposta.

– O que você quer dizer com isso? – ele coloca a caneca na mesa totalmente vazia e limpa os lábios. – Estamos indo atrás de seu pai, não se lembra?

– Sim claro, mas é que tudo parece estar errado, não sinto confiança nisso. Até mesmo Leo parece estar estranho, como se vocês estivessem escondendo algo de mim. – coloco o copo de cerveja na mesa, fitando Brian.

– Vincent andou enchendo sua cabeça de besteiras. – ele desvia o olhar – Como eu iria querer o seu mal se fui mandado para cá especialmente para te acompanhar e assegurar que você ficará segura?

– Me diz uma coisa, quem foi que chamou você e o Rafael para vir até aqui? E por que justo agora?

– Foi Leo, mas ele me garantiu que iria lhe levar ao seu pai, esse é o dever dele, nosso dever.

– Sabe aonde ele está? O anjo que dizem ser meu pai?

Brian fica mais pálido do que de costume, sua voz pareceu sumir, e suas mãos tremiam.

– Eu ouvi alguns boatos antes de vir pro mundo humano, mas não posso lhe assegurar que esta informação é certa. – ele se aproxima de mim – Dizem que seu pai sumiu faz mais ou menos um mês, mas como eu não tenho permissão para vê-lo diretamente não sei se é verdade, dizem até que ele voltou ao mundo humano, e nunca mais voltou. Só Leo sabe da sua localização. Me desculpe, eu não sei de mais nada.

– Eu já vou indo, não em sinto muito bem. – me levanto e começo a caminhar para fora daquele local. – Vejo você mais tarde.

– Ei, eu te acompanho – Brian se levanta.

– Ah, você está aí Brian, eu preciso falar com você – Any entra no bar e puxa Brian, fazendo-o se sentar – Espero não atrapalhar Juliet.

– Não, eu já estou de saída. – saio do local mas não vou embora, fico próxima a janela aonde ambos estavam sentados, a fim de escutar a conversa deles.

Talvez eu deva tirar algum proveito de ser uma meio-divina, afinal, estava ficando quase surda por poder ouvir os berros de todas essas pessoas a quilômetros de distância, claro que poderei ouvir a conversa deles.

– Que ideia foi essa de sumir com a garota Brian? – Any bate na mesa.

– Ela parecia confusa, eu pensei que conversando com ela em algum outro lugar a acalmaria. Vocês são amadores, não conseguem nem enganar uma simples mulher e um leãozinho irritante, francamente.

– Pelo menos eu não deixei o leão idiota me ferir, e nem deixei um demônio parasita arrancar uma das minhas asas.

– Cale essa sua maldita boca. Eu só perdi pra ele porque meus poderes foram reduzidos aos de um mero meio-divino. Você não precisa se preocupar com mais nada, está tudo ocorrendo como o planejado.

– Matar o Rafael não estava nos nossos planos.

– Ele descobriu toda a verdade cedo ou tarde iria nos prejudicar.

– Está certo, ele me irritava também. É só uma questão de tempo até levarmos esses dois até o papaizinho da Juliet. Não disse nada sobre ele, certo Brian? Não me desaponte.

– Claro que não, como se eu fosse dizer que o pai dela está preso nas prisões do submundo.

Submundo?!

– Cale a boca, os humanos podem acabar ouvindo, imbecíl.

– White Demon deve estar fazendo m bom proveito dele – Brian ri de uma forma que eu nunca havia ouvido antes.

– Já que estamos aqui, vamos beber. – diz Any, chamando o balconista.

Vincent tinha razão sobre tudo isso, eles estão nos enganando. Eu preciso sair logo desse lugar!

Saio correndo para a casa aonde Vincent estava, não era muito longe dali, mas preciso não demonstrar nada de diferente, ou então eles vão perceber e algo muito ruim irá acontecer. Leo estava em pé ao lado de fora, então imediatamente paro de correr.

– Juliet – ele vem até mim – Você viu a Any?

– E-Ela estava no bar com o Brian, devem estar conversando.

– Obrigado. – ele me olha – Você está bem? Parece nervosa.

Tenho que fazê-lo acreditar em mim, ou então tudo dará errado.

– É que, eu sinto saudades da minha vó... Não posso acreditar que aquele monstro tenha sido capaz de fazer algo deste tipo.

– Não se preocupe, muito em breve nós vingaremos a morte da Abgail. – ele dá um beijo na minha testa. – Acho melhor você entrar, parece que vai chover muito em breve, eu vou ver Any e Brian, volto o mais breve possível.

Leo sai andando, sua aparência parecia chamar muita atenção, afinal, não é todo dia que vemos um homem carregando uma espada consigo.

– Vincent! – abro a porta e começo a procura-lo por todos os cômodos, mas ninguém responde.

Abro a porta do quarto dele, e vejo tudo desarrumado, a cama virada, as janelas quebradas e ele estava jogado em meio a toda bagunça.

– Vincent, por favor, fale comigo. – o coloco em meus braços, ele estava coberto de cortes e estava totalmente inconsciente.

– Você é mesmo uma garota muito esperta. – disse a voz do demônio que matou minha vó, White Demon em minha mente.

– O que você quer? Já não teve o bastante?

– Você devia ter ouvido seu amiguinho enquanto teve tempo. Mas eu posso ajuda-la, é só você fazer tudo o que eu lhe disser...


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