Para ele, trabalhar sempre foi prazeroso e recompensador. Reuniões iniciais para negociar o papel principal em um filme, conhecer o pensamento do autor, entender a forma de trabalho do diretor, decorar os textos, passar horas e horas nas oficinas compondo os personagens, entrar na pele do personagem, passar meses gravando em outros países, regravar cenas quando necessário, participar das premières de lançamento do filme e ter o carinho e o reconhecimento do público e dos fãs pelo seu trabalho, feito com tanto carinho e dedicação.

Isso era sua vida desde os quinze anos, quando começou no teatro amador, embora o reconhecimento profissional só tenha acontecido realmente há poucos anos, quando um livro sobre o amor de um vampiro e uma humana virou uma febre literária, e o filme com jovens e desconhecidos atores ganhou o mundo e todos os prêmios a que concorreu na mídia mundial. E a partir daí, tudo o que se propôs a desenvolver em seu trabalho virou sucesso garantido, sua imagem vendeu milhões em todo o mundo e sua vida particular praticamente se extinguiu. O preço do reconhecimento profissional era a total falta de privacidade, tanto para ele quanto para sua amada família. O preço eram relacionamentos íntimos falsos, baseados na sua fama e fortuna. Como resolver isso? Se unir cada vez mais a família, se cercar de amigos fiéis e expor cada vez menos sua vida. Ou seja, melhor sozinho do que muito mal acompanhado.

Mas, ele demorou um pouco para aprender a lidar com tudo isso e a reconhecer as pessoas. Se envolveu com uma mulher que aparentemente era o amor da sua vida, que haviam sido feitos um para o outro. Pelo menos era o que ele achava, até descobrir pela mídia impressa que havia sido traído em plena luz do dia. Os envolvidos na traição? Um famoso diretor de cinema casado e pai de família, e a sua namorada com quem sonhava casar e construir uma família. Realmente havia sofrido muito, se isolou em uma fazenda para colocar os pensamentos em dia, tentou compor algumas músicas para aliviar sua dor, reviveu cada minuto da vida que teve ao lado dela para tentar entender aonde havia errado, o que deixara faltar para ela para que precisasse buscar atenção e carinho nos braços de outro.

A imprensa publicava tudo sobre sua separação, sua dor, a traição e toda sua vida pessoal desde que se tornara famoso. Novamente exposto sem piedade. Em meio a tanta confusão, ele precisava cumprir sua agenda com a divulgação do último filme da Saga que haviam filmado juntos, e ela estaria lá, ao seu lado, sorridente e linda, aparentando uma cumplicidade que não existia mais entre eles. Mesmo assim, seria um alívio, cumpridos todos os compromissos da agenda estaria livre para sempre.

Mas, como sua mãe sempre dizia: “Coração apaixonado é cego e muito bobo”, e quando ela pediu perdão entre lágrimas e beijos apaixonados, prometendo ser fiel e jurando amá-lo verdadeiramente ele acreditou, e voltaram a morar juntos. Acreditou que poderia esquecer tudo que havia passado e poderia dar uma chance ao amor e a felicidade ao lado da mulher da sua vida. A mídia agora publicava seu possível pedido de casamento, os filhos que teriam e toda a vida cor-de-rosa que desfrutavam juntos novamente. Tudo estava tão perfeito que ele viajara para gravar seu novo filme e por sessenta dias ele e a namorada não se encontraram pessoalmente. E nem se falaram por telefone. Ele pediu um tempo para pensar e colocar a cabeça em ordem, e ela prometeu que o esperaria incansavelmente na sua casa que já era deles. Tudo estava perfeito para a mídia, mas para ele, tudo continuava vazio e fora do lugar. Não tinha vontade de voltar para aquela vida... para aquela pessoa... para aquele lugar. Em suas orações, que na verdade eram suas composições, pedia ao Eterno para iluminar sua vida e acalmar seu coração. Algo não estava certo, não estava feliz, seu olhar não tinha mais brilho. Ele sentia falta da sua família e dos seus cachorros, mas não sentia falta dela. Por que?

Quando retornou de viagem, não sabia direito como agir, mas como estava tentando resgatar seu relacionamento, foi para a casa da namorada. Na verdade, ele queria ver seus cachorros, estava com muita saudade deles, queria abraçá-los, brincar, rolar na grama até não aguentar mais de cansaço. E assim fez, por muitas horas brincou com Bear e Bernie, até aplacar toda a saudade do seu coração. Naquela noite, inventou uma desculpa de trabalho para não ficar com a namorada e saiu para beber com seu irmão, se escondendo dos paparazzi num pub que gostava muito de frequentar e onde era possível conversar. Não queria ir embora, mas não tinha como fugir mais. Voltou para aquela casa que não era sua, e ao passar pelo portão, algo fez seu coração se apertar em tristeza. Naquela noite, dormiu dentro do seu carro na garagem.

Ele bem que tentou fugir, mas não teve como. Sua namorada queria sua presença, tentava levá-lo para a cama de todas as formas, talvez para provar para ela mesma que estavam bem e que ficariam juntos para sempre. Foi o pior sexo de sua vida. Arrependeu-se amargamente e percebeu, finalmente, após quatro anos de relacionamento, que a pessoa deitada ao seu lado na cama, não era a mulher com quem sonhava passar o resto da sua vida. E não era pelo sexo, era pela falta de atenção, carinho e cumplicidade. Aquela casa era fria assim como sua proprietária. Lembrou-se então do que seu irmão havia dito no bar: “Se ao olhar para os olhos dela, você não tiver a sensação que se perdeu naquele mar de cores, esqueça, ela ainda não é a mulher da sua vida. Ela ainda não é a dona da sua alma”. Talvez ele tivesse razão. No início do seu relacionamento, sua vida pessoal se misturou com a vida do seu personagem na Saga e isso pode ter confundido as coisas. Acreditou estar apaixonado por uma pessoa que nunca existiu, quando na verdade ele também era surreal, e com os compromissos e a agenda sempre atribulada, não teve tempo para analisar o rumo que sua vida estava tomando. Deixou acontecer e não se importou. Mesmo porque, naquela época, sua “amada” era namorada de outro, e por um bom tempo, eles se encontravam escondidos, pois ela esperava o momento certo para romper o relacionamento antigo e assumir o que sentia. Que idiota ele fora! Ela já não tinha muito caráter naquela época, e por que teria agora? Isso está intrínseco na criação da pessoa, valores passados de pai para filho.

Enquanto remoía tantos pensamentos, perdido em divagações, ouviu um barulho de uma mensagem de celular chegando. Procurou seu telefone, mas não era seu aparelho, então, numa atitude normal para ele, pegou o telefone de sua namorada e novamente sentiu a vida lhe passando uma rasteira, na mensagem que acabara de ler.

“Pequena Branca de Neve... confirmado nosso novo filme juntos para o próximo ano. Serão 6 meses de gravação fora do país. Poderemos curtir muito juntos sem a chata da minha mulher e sem o panaca do seu namorado. Não vejo a hora de te agarrar amanhã no nosso lugar. Bjs”

Feliz ou triste? Enganado ou libertado? Durante horas nosso astro traído ficou sentado no chão, ao lado da cama, remoendo aquele texto, sem saber se queria sair dali correndo de alegria ou sofrendo em meio às lágrimas de dor. Pelo menos havia usado camisinha, pensou ironicamente. Mas o que deveria fazer? Conversar? Gritar? Brigar? Levantou-se e em silêncio tomou um banho, trocou de roupa e começou a arrumar suas coisas. Colocou suas roupas em malas e sacos de lixo e foi jogando atrás da sua picape vinho que estava estacionada na garagem ao lado do seu outro carro, um Toyota chumbo novo, que ele dirigira apenas uma vez até agora. Colocou também sua bicicleta, seus livros, suas composições, sua coleção de gibis e todos os seus instrumentos musicais. A picape ficou lotada a um ponto que sua mesa de pingue-pongue não poderia ser levada dessa vez. Sem problemas, pensou, compro uma nova, é até melhor. Quando estava tudo pronto no carro, acordou a “Branca de Neve” que ainda dormia. Ela estava toda sorridente e dengosa, mas seu sorriso foi desaparecendo conforme ouvia o discurso curto e grosso.

– Já coloquei minhas coisas na picape. Vou levar os meus cachorros comigo. Mandarei alguém buscar meu outro carro e algumas outras coisas que não poderei levar agora. Não precisa devolver os presentes que te dei. O que ganhei de você será leiloado e o lucro doado para uma instituição de caridade. Não deixei nada no closet, não se preocupe. E fique tranquila, não precisa fingir nem correr atrás de mim fazendo um escândalo para a mídia. Nem precisa ficar sem comer e sem tomar banho para me fazer voltar. Não seja tão nojenta como da última vez. Vou pedir para minha secretária cancelar minha presença em qualquer evento que você esteja confirmada, e não apareça mais na minha casa e nem na minha vida. Vou indo embora cedo, para que você tenha tempo de se arrumar para o seu amante. Ele mandou uma mensagem de texto e vai te esperar hoje no lugar de vocês. Pelo jeito está bem animadinho. Por favor, diga a ele que o panaca usou ontem à noite, mas que está deixando liberado a partir de hoje, para que ele não precise ficar com as minhas sobras. Adeus.

Saiu tranquilamente do quarto, pegou os cachorros no canil, colocou-os no carro e saiu em direção ao portão sem olhar para trás. Percebeu que inúmeros fotógrafos disparavam flash em sua direção, mas não se importou, até pousou para as fotos de despedida. Sendo enganado ou não, essa era a última vez que seria fotografado saindo daquele endereço. Sua nova vida estava começando e depois de muito tempo, seu coração estava em paz novamente. E muito feliz. Escolheu uma música para curtir o momento que ficaria para sempre em sua memória... e nada melhor do que “Supermassive Black Hole” na interpretação dos seus amigos do “Muse”. A batida forte era perfeita para aquele momento.

Oh baby dont you know I suffer?
Oh baby can you hear me moan?
You caught me under false pretenses
How long before you let me go?

You set my soul alight
You set my soul alight

(You set my soul alight)
Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the supermassive

(You set my soul)
Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the 'supermassive'

I thought I was a fool for no-one
Oh baby I'm a fool for you
You're the queen of the superficial
And how long before you tell the truth

You set my soul alight
You set my soul alight

(You set my soul alight)
Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the supermassive

(You set my soul)
Glaciers melting in the dead of night
and the superstars sucked into the 'supermassive'

Supermassive black hole
Supermassive black hole
Supermassive black hole

Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the supermassive

Space shields melting in the dead of night
And the superstars sucked into the supermassive

(You set my soul alight)
Glaciers melting in the dead of night
and the superstars sucked into the supermassive

(You set my soul)
Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the supermassive

Supermassive black hole
Supermassive black hole
Supermassive black hole

I thought I was a fool for no one
But ooo baby, im a fool for you
You're the Queen of the superficial
But how long before you tell the truth?

Ooooooo-ahhhhhhh, you set my soul a-light
Ooooooo-ahhhhhhh, you set my soul a-light
Glaciers melting in the dead of night (Ooooooo-ahhhhhhh, you set my soul a-light)
And the superstars sucked into the supermassive.

http://www.youtube.com/watch?v=oPCsUJ0QVFA

Ao chegar ao portão da Mansão Cullen, pousou novamente para as fotos, mas agora tinha um sorriso tranquilo em seu rosto, um ar de satisfação e sossego. Cumprimentou os seguranças e entrou, aproveitando cada centímetro que seus olhos pudessem ver, admirando a beleza e imponência da sua casa, do seu lar.

– Senhor Cullen, que bom vê-lo! – cumprimentou o mordomo – Não o esperava tão cedo em casa.

– Bom dia Alec! Nem eu meu amigo... nem eu... Você pode providenciar o café da manhã dos meninos por favor? Pode também levar minhas coisas para dentro e organizá-las.

– Claro senhor, sem problemas. Devo preparar o closet para receber as coisas da senhorita Tanya também? Preparar alguma comemoração especial para sua volta?

– Não existe mais senhorita nenhuma na minha vida Alec. A partir de agora moro oficialmente aqui novamente, com meus dois cachorros e com vocês que são meus amigos de verdade. E não se preocupe, dessa vez, não terei nenhuma recaída. Acabou para sempre meu amigo. Fique feliz por mim!

– Se o senhor está feliz eu também estou. Embora que ainda assustado e intrigado. Vou providenciar tudo do jeito que gosta.

– Alec, peça para a Sue preparar um almoço especial hoje, e quero dividir a mesa com todos que trabalham aqui. Com exceção para a portaria, mas vamos revezar para que todos possam almoçar decentemente. Vamos comemorar minhas férias e meu novo estado civil: definitivamente solteiro. Ah! Traga meu café da manhã no escritório e diga a Rosalie que preciso falar com ela assim que possível.

– Creio que não será possível tão cedo senhor. Ela e o seu irmão saíram para comemorar ontem à noite e ainda não voltaram. Posso ajudá-lo de alguma forma?

– Acho que pode sim. Peça ao Jacob para buscar meu outro carro no meu antigo endereço ainda hoje pela manhã. Que ele leve mais dois seguranças com ele, sem questionar, quero que seja uma cena impactante mesmo. Que ele traga também tudo que for meu que ainda ficou naquela casa, menos o jogo de tênis de mesa. Ah! Diga para ele levar o controle do portão e a chave da casa e devolver para a empregada, não precisa falar com ela. Não precisa desse tipo de consideração. E a tarde, peça para ele providenciar um novo jogo de tênis de mesa aqui para a mansão. Novinho. Alec tire tudo dela que ainda estiver aqui, coloque num saco de lixo e peça ao Jacob para devolver ainda pela manhã. Não quero mais nada dela aqui, certo. Assim que a minha secretária chegar, diga para me procurar, mas não tem pressa. Vou tomar meu café da manhã no escritório e depois vou cair na piscina com os meninos. Qualquer problema me avise.

– Sem problemas senhor. Vou providenciar tudo o mais rápido possível. E parabéns pela coragem. O senhor merece ser muito feliz. Não esqueça de avisar sua família, antes que saibam através da imprensa.

– Obrigado Alec, farei isso agora mesmo.

Logo em seguida, ligou para seus pais contando o que havia acontecido. Ligou também para sua irmã, que sempre fora sua confidente e amiga, e ela não disfarçou sua alegria com a notícia bombástica. Avisou também seu empresário, pois sabia que isso poderia repercutir negativamente em sua imagem. Finalizando suas ligações, trocou de roupa e correu para a piscina juntamente com seus dois filhotes, onde passaria a manhã toda se divertindo.

Durante o almoço, com a presença de todos os funcionários da casa, informou com alívio que a senhorita Tanya não fazia mais parte de sua vida e consequentemente não frequentaria mais a mansão. Com a ajuda de seu irmão, explicou que a casa provavelmente seria o alvo dos paparazzi nos próximos dias, loucos por uma fofoca, então seria necessário dobrar a atenção e cuidado. Avisou que todos que trabalhavam na casa poderiam ser alvos dos fotógrafos, em busca de algum informação, então, pediu gentilmente que todos tomassem cuidado e evitassem comentar qualquer coisa. Terminadas as explicações, almoçaram animadamente e conversaram banalidades. Ele gostava de ter todos reunidos como amigos, afinal, se não pudesse confiar em quem trabalhava em sua casa, em quem mais confiaria?

E assim, os dias foram passando tranquilamente e sua vida estava ótima. Ele não sabia como, mas tinha suas desconfianças quanto à origem “Irmã Alice” da informação, mas a imprensa havia publicado toda a estória, dando ênfase à mensagem de texto com a traição. Agora, ele e a suposta esposa traída eram os queridinhos da América, por conta do belo par de chifres que estontavam em suas cabeças. Ficou indiferente a tudo, saindo com seus irmãos e amigos, viajando para cumprir alguns compromissos, descansando e tentando compor. Foi a alguns shows de amigos músicos também, mas a cada saída noturna com alguma amiga, era alvo no dia seguinte de inúmeras fofocas em revistas, tentando descobrir a quanto tempo estava namorando com fulana ou ciclana. Bem que ele gostaria de ter uma vida sexual tão agitada quanto às revistas publicavam, mas isso não vinha ao caso. Sempre preferiu qualidade à quantidade, e nessas horas, era melhor sozinho do que muito mal acompanhado.

Novamente, estava viajando a trabalho, gravando em outro país, em condições um tanto inusitadas. Havia aceitado um papel diferente, em uma produção menor e menos glamorosa, mas não menos importante em sua concepção. Queria mostrar seu talento de várias formas, e esse papel era perfeito para isso. O problema era passar o dia praticamente gravando no deserto, num sol escaldante, todo sujo e com dentes aparentemente podres. Mas, a ideia era incrível e ele tinha certeza que o filme seria um sucesso. Se dependesse dele, seria mesmo, pois estava dando o seu melhor. Em seu último filme, havia gravado o tempo todo praticamente num estúdio dentro de uma limusine, e agora assim, seu Anjo da Guarda devia estar mesmo de férias, pensou e acabou gargalhando alto. Após as gravações, sempre saia com o pessoal da produção para uma cerveja em algum pub e depois voltava ao hotel. Suas fãs sempre davam um jeito de encontrá-lo para autógrafos e fotos, mas isso não o incomodava, era bom se sentir amado de alguma forma, e elas eram ótimas sempre. Independente do lugar, sempre se sentia em casa e muito bem acolhido. Não era fácil ser Edward Anthony Masen Cullen, mas era prazeroso de várias formas, e ele estava feliz assim.

Mas, por conta da sua irmã, algo havia mudado nas últimas semanas. Um vídeo sobre os seus filhotes e seu primeiro dia com sua nova babá. Era para ser simplesmente a nova funcionária da mansão, responsável pelo bem estar de Bear e Bernie, mas depois daquelas imagens, de ver aquele anjo em forma de mulher muito bem delineada, cuidando dos seus filhotes com tanto carinho e amor, seu coração não teve mais sossego. Queria ver seus olhos novamente, saber tudo sobre ela, seu gosto musical, seus livros preferidos, sua cor, seus sonhos, suas decepções... enfim... tudo que tivesse algum significado para ela teria para ele também. Será que já estava apaixonado sem conhecê-la? Impossível, claro que não. Isso só acontecia nos filmes que ele gravava, e era apenas trabalho, ficção e nada de realidade. Era apenas curiosidade sobre a pessoa que tratava muito bem dos seus filhotes. Repetiu isso para si mesmo durante três dias consecutivos, tentando tirar essas ideias loucas de sua cabeça cansada.

Mas, naquela noite, não saiu com os amigos para uma cerveja. Preferiu ir direto para o hotel e aproveitou para jantar com sua secretária particular, futura cunhada e amiga Rosalie, pois não conversavam direito há alguns dias, por conta das gravações.

– Olá Rose, tudo bem? – cumprimentou a amiga com um abraço e um beijo no rosto no restaurante do hotel – Você parece cansada.

– Olá chefinho! Estou bem, não se preocupe. Fiquei acordada até tarde ontem conversando com o Emm e hoje estou com muito sono. Estou com muita saudade do meu ursão.

– Eu sinto muito Rose, eu sei o quanto é difícil ficar longe dele com tantos compromissos na minha agenda.

– Não tem problema. Eu escolhi esse trabalho e se não fosse por você seria por outra pessoa, pelo menos estamos em família e a sensação de vazio ameniza um pouco. E você como está?

– Estou cansado, mas estou bem. Acho que em dois meses voltaremos para casa se tudo der certo.

– Não estou reclamando, mas nosso retorno parece tão distante olhando por esse ângulo. E o Emm não pode me visitar, pois a situação lá anda complicada também. Os paparazzi ainda amam a sua vida pessoal Edward.

– Fiquei sabendo, mas passará rápido, você verá. E eu bem sei que vocês se “falam” por Skype toda noite, bem animadinhos.

– Não seja malicioso Edward! Seu intrometido! Não tem graça nenhuma cunhadinho encalhado.

– Tá bom... tá bom... não fique chateada. Encalhado eu? Claro que não. Apenas uma incrível falta de perspectiva sobre a minha vida pessoal, apenas isso, cunhadinha preferida e única.

– Eu sei, estou brincando mesmo. Mas você ainda encontrará sua cara metade, com um coração sincero como o seu, e que queira casar e ter aquela montanha de filhos que você sonha. Coitada dessa pessoa!

– Hei... eu nem penso em filhos ainda. Calma aí. Se eu encontrar alguém já vou me sentir o cara mais sortudo do mundo. Cada passo no seu tempo certo. Mas vamos mudar de assunto. A Alice ou o Emm te falaram alguma coisa sobre a nova babá das crianças?

– Não falei com a Alice pois está atarefada com a nova coleção. O Emm comentou que ela é incrível, trata os meninos muito bem e fica ao lado deles o tempo todo. Nem no dia da primeira folga ela saiu de casa, segundo ele, preferiu ficar em casa com os meninos assistindo televisão com desenhos de cachorros e gatos. Eu achei isso incrível, Edward. Acho que ela não existe mesmo.

– Então, eu sei que ela existe pois a Alice a contratou. E quanto a isso não preciso me preocupar.

– Que bom Edward, então não fique apreensivo, eles estão em boas mãos. O meu ursão comentou que os meninos da segurança ficaram assanhados com a presença dela, mas ele e o Jacob já deram um “peteleco” em todos, avisando que ela tinha proteção como todas as outras mulheres da casa.

– O Emmett e o Jacob sempre me surpreendendo. Fico mais tranquilo. Bom, se você me der licença, preciso muito descansar. Tente dormir mais cedo hoje. Mande um abraço para o meu irmão quando falar com ele. Boa noite cunhadinha.

– Boa noite Edward. Durma bem. Te vejo amanhã cedo no café da manhã.

Enquanto esperava o elevador para a sua suíte, Rosalie já pegava o celular para ligar para o seu ursão. Precisava contar a sua conversa com Edward para o namorado. O cunhado não havia percebido ou tentava disfarçar, mas a semente da curiosidade sobre a nova babá já estava plantada em seu coração solitário. E essa era uma novidade que não poderia esperar até mais tarde para ser divulgada a Liga da Justiça.

Já em sua suíte, nosso astro famoso andava de um lado para outro, perdido em seus pensamentos quando teve uma ideia que considerou brilhante. Pegou seu Ipad e começou a digitar um e-mail para o irmão. Tinha consciência que abriria precedentes para inúmeras insinuações por parte da família, mas a desculpa era boa, queria ver seus filhotes e acalmar a saudade. Isso era verdadeiro em partes, mas como ele negaria até a morte o real motivo, todos comentariam um pouco e o assunto cairia no esquecimento. E ele estava muito longe de casa, até voltar novamente, seu pedido inusitado estaria esquecido. Enviou a mensagem e voltou a andar pela suíte, ansioso pela resposta. Sabia que demoraria um pouco, pois Emm estaria conversando com Rosalie, então, pegou um copo e se serviu de uma dose generosa de whisky, deitando-se na cama para apreciar sua bebida. Estava tão cansado e perdido em pensamentos que nem percebeu quando adormeceu.

Nos quatro dias seguintes, as gravações foram feitas em duas cidades menores, distantes trezentos quilômetros do hotel onde ele estava, e com a viagem foi impossível verificar seus e-mails. Acordavam de madrugada e gravavam até altas horas da manhã, impossibilitando qualquer descanso, lazer ou vida pessoal. Somente quando retornou a suíte do seu hotel, pode finalmente sentar e ler a mensagem do irmão. Que confuso! Santo Deus! Fui eu mesmo que criei tudo isso? Como sou burro! Pensou já irritado e desanimado consigo mesmo. Pelo menos, a senha era de segurança máxima, pois até mesmo ele que havia vivido tudo aquilo tinha algumas dúvidas quanto às datas corretas. Mas, ao terminar de ler, ficou feliz, pois seu irmão planejava dar um grande passo em seu relacionamento com Rosalie, e isso era muito importante. Pelo menos em sua concepção, casamento era para a vida toda.

Então, resolveu se concentrar e tentar descobrir a senha de acesso a sua casa, mas o que parecia complicado ficou fácil, pois descobriu que sua memória estava funcionando cem por cento naquela noite. Em poucos minutos, já estava acessando o sistema de segurança da sua casa e não seria detectado por ninguém. Mentira, seu irmão poderia rastreá-lo a qualquer momento, mas se o fizesse, saberia quem era o invasor com a senha máster. Sorriu com esse pensamento de fugitivo e sentiu seu coração bater mais acelerado. Não entendeu essa reação repentina, e atribuiu isso ao fato de estar fazendo algo completamente fora dos seus padrões. Estava praticamente agindo como um bandido ou fugitivo dentro da sua própria casa. Nem eu como autora, me conformaria com essa total falta de noção do Edward, ao não perceber seus recentes sentimentos. Homens, sempre desligados.

– Então... vamos lá Edward! – pensou em voz alta – O que seus filhotes andam aprontando durante o dia? Vamos ver com nossos próprios olhos.