Onde Ela Deveria Estar... escrita por Isa Salvatore Cullen


Capítulo 1
Capítulo 1 - Uma decisão... Uma mudança de vida...




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O que é preciso acontecer para perceber que se desviou realmente do seu destino, e que você está trilhando um caminho que não deveria ser seu?

O que é preciso ser dito para que seja possível perceber que seu futuro está muito longe dali, naqueles sonhos que você guardou em seu coração e nunca contou para ninguém?

O que o seu Anjo da Guarda precisa fazer para que você perceba que está vivendo a vida errada e que o seu futuro aguarda por você?

Talvez nada... talvez tudo...talvez qualquer coisa.

Isabella se considerava uma mulher comum. Longos cabelos negros, olhos verdes, pele branca, 1,75m, 59 kg, 25 anos bem distribuídos em músculos definidos e um sorriso discreto. Comum apenas para seus olhos tristes, pois por onde passava, com seu jeito altivo de caminhar, parava tudo ao seu redor. Os homens literalmente babavam por sua beleza, mas ela não costumava perceber esses olhares, pois não se achava linda nem tão atraente assim. Aos seus olhos, tinha uma beleza comum e que não chamava a atenção de ninguém. Sua inteligência contrastava com sua total falta de visão sobre si mesma.  Sua mãe costumava elogiar sua beleza, elegância, carisma, sua atenção com as pessoas, mas como elogio de mãe não valia como referência, ela não acreditava muito e fingia indignação quando a mãe começava a verbalizar todos os seus atributos e qualidades. Aquilo a deixava muito, muito envergonhada.

Formada em Ciências Contábeis, com especialização em Administração Financeira e Auditoria Contábil, trabalhava no departamento financeiro da Itaipu Binacional, a maior empresa geradora de energia limpa e renovável do planeta. Tinha muito orgulho do seu trabalho, se sentia muito feliz em fazer parte de algo tão grandioso, onde milhares e milhares de pessoas diariamente dependiam da sua empresa para viverem suas vidas com conforto e dignidade. Sabia que seu trabalho era uma pequena partícula daquela imensa estrutura, mas que ela procurava executar com perfeição e agilidade, sempre honrando seus prazos e até antecipando seus relatórios quando possível.

Em suas horas vagas, gostava muito de ler, dançar, assistir filmes e seriados e praticar corrida de rua, seu esporte favorito, depois do futebol, é claro. Era torcedora fanática do FEC – Foz Esporte Clube. Treinava corrida de rua a mais de cinco anos, e já participava de algumas maratonas e eventos esportivos, pelo simples prazer de competir. Enquanto corria, sua mente se libertava de tudo e simplesmente divagava sem rumo, muitas vezes perdida em sonhos impossíveis. Mas o que seria da vida se não fossem os nossos sonhos? Essa pergunta sempre era feita por sua mãe Renée quando conversavam.

Em suas divagações, ela sempre se questionava por que tinha a impressão que seu peito tinha um vazio enorme, uma vontade de continuar correndo... correndo...correndo...sem olhar para trás...sem voltar...

Por que esse sentimento? Tinha cursado faculdade como sempre sonhou, fez pós-graduação, começou na empresa onde trabalha atualmente como estagiária e foi crescendo graças a sua dedicação e seu trabalho árduo. Tinha seu carro quitado, algumas economias para comprar um apartamento num futuro próximo. Adorava sair para dançar e sair para correr. A vida era boa, não precisava de mais nada. Precisava? Boa pergunta? O que faltava então? Por que esse vazio enorme quando pensava em seu futuro?

Essas divagações ficaram em sua mente por meses. Toda vez que começava o seu treino diário de corrida, automaticamente seus pensamentos se perdiam em especulações, mas nunca chegava à decisão alguma. Nessas horas, como seria bom ter nascido em qualquer outro signo do zodíaco que não fosse a eterna indecisa libriana. Bendita balança! Benditas dúvidas...

Certa noite, ao passar pela locadora próxima a sua casa, um filme nacional chamou sua atenção: “O Palhaço”, com os atores Selton Melo, Paulo José e grandioso elenco. Eram bons atores, mas ela tinha o hábito de não esperar muito de um filme, até que pudesse formar sua própria opinião quanto ao roteiro. Na estória, o palhaço Benjamin (Selton Melo) e seu pai Valdemar (Paulo José) vivem num circo mambembe dos anos 70, de propriedade de Valdemar, juntamente com outros artistas circenses, mas Benjamin decide que quer viver outra vida, e resolve procurar um emprego comum, se tornando um funcionário assalariado. A decisão afeta a ele e a todos ao seu redor. Mas, aos poucos, ele percebe que o seu verdadeiro dom é fazer rir, que as pessoas começam a rir espontaneamente quando olham para ele, e sendo assim, ele retorna ao seu lar de origem, o Circo. Isso foi como uma bomba jogada sobre a cabeça de Isabella, entorpecendo sua visão e colocando em risco tudo que ela acreditava até então. Seria essa a resposta para todos os seus quilômetros diários de divagações? Estaria ela tão absorta e estagnada em sua rotina diária que não percebera que sua vida precisava de um upgrade urgente?

E com esse novo pensamento, suas corridas diárias ganharam um novo elemento em suas divagações? O que gostaria de estar fazendo agora? Onde gostaria de estar vivendo nesse momento? Enquanto não encontrava suas respostas, resolveu se matricular num curso de conversação de inglês, afinal, por mais que fosse fluente, ela sentia que precisava atualizar seu idioma, pois poderia precisar dele em breve.

Três meses depois, encontrou sua resposta passeando despretensiosamente pela locadora, onde resolveu locar um filme de 1997: “Los Angeles – Cidade Proibida”, com Kim Basinger, Kevin Spacey, Guy Pearce e Danny DeVito. Literalmente encantada com o enredo criado na Los Angeles dos anos 50, percebeu que ali estaria à resposta para todas as suas dúvidas. E sem pensar muito, para não se arrepender mais tarde, decidiu que em três meses no máximo, estaria mudando para os Estados Unidos, para o estado da Califórnia, para a cidade de Los Angeles.

Nem ela soube explicar a sua família o que acontecia realmente. Apenas disse que precisava buscar sua felicidade, que seu coração dizia que era a hora de mudar e se aventurar por novos caminhos, descobrir novas riquezas, explorar novos continentes. Pensamento meio clichê, com certeza, mas totalmente válido para aquela situação. Pediu demissão na empresa que trabalhou durante tanto tempo, cumpriu aviso prévio como forma de compensar seu pedido tão absurdamente inesperado, conseguiu o visto americano mentindo é claro sobre suas reais intenções na Terra do Tio Sam, disse que estaria em férias, deixou uma procuração em nome dos seus pais caso surgisse algum problema relacionado ao seu nome no Brasil, vendeu seu carro e distribuiu seu dinheiro em investimentos de forma que pudesse gastar para se manter por algum tempo, mas sem a intenção de gastá-lo totalmente. Em breve estaria trabalhando com certeza.

Acabou vendendo ou doando tudo que não fosse utilizar em sua nova vida, ficando apenas com alguns livros, CD´s e DVD´s que oportunamente seriam enviados para seu novo endereço. Organizou uma festa de despedida para os familiares e poucos amigos e exatamente, noventa dias após ter tomado a decisão mais importante de sua vida, embarcava no aeroporto de Foz do Iguaçu  rumo a Los Angeles, sua nova vida.

Como não pensou muito antes, não pensaria em nada agora, apenas pedia ao seu Anjo da Guarda que iluminasse seu caminho nessa nova fase, para que pudesse começar uma nova estória, com um roteiro muito mais elaborado do que havia vivido até aquele momento.

Nesse momento, antes de adormecer, pensou a coisa mais ridícula que poderia passar pela cabeça de alguém que está saindo do Brasil para viver nos Estados Unidos: “Deus salve a América!”. Por essa, nem seu fiel Anjo da Guarda esperava...


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela atenção...

Com carinho

Isa S. Culllen



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