Haunted House escrita por Haunted House, Angel of Silence


Capítulo 14
Natasha Romanov


Notas iniciais do capítulo

Por Angel of Silence



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/381464/chapter/14

"Como?"

Piscando algumas vezes para espantar o sono, Natasha congelou, a mão ainda na maçaneta. Clint estava sentado na mesa de sua cozinha, se servindo de comida chinesa e com uma carta nas mãos. A maioria das pessoas ficaria irritada de chegar em casa e encontrar o melhor amigo que apareceu lá sem ser convidado, com suas correspondências abertas e se entupindo de comida chinesa.

Mas não era como se Natasha não estivesse acostumada e não viesse fazendo o mesmo com ele nos últimos vários anos.

"Seja mais específico", ela pediu, bocejando.

"Essa coisa." Clint acenou a carta no ar. "Aparentemente, vossa p-"

"ELE APARECEU AQUI!" Rosalie - em quem Natasha ainda não tinha reparado - pulou em pé do sofá. "Do nada ele desceu as escadas com comida chinesa e começou a abrir a sua carta e eu não sei de onde ele veio."

Natasha abanou a cabeça, dispensando o assunto. "Ele faz isso. É normal, não tem problema." E se largou em uma cadeira na frente dele, sentindo os músculos doloridos do treino gritando em protesto. Ela havia pegado pesado.

"Enfim", Clint disse. "Vossa pessoa foi convidada para uma festa de calouros na Manchester University."

"Merda!" Natasha quase gritou, batendo o punho na mesa. "Ele não entende que nem bebida de graça vai me forçar a ir em uma festa de calouros!"

Ao invés de pedir uma explicação, Clint simplesmente a olhou e esperou. Natasha soltou um suspiro e começou a explicar. "O diretor dessa bosta, bem, ele também tem um grande negócio de advocacia. E todo mundo adora advogados. Um belo dia, esse idiota meteu o nariz inexplicavelmente grande em assunto que não era dele, e resumindo a história, eu fui encarregada de salvar a vida inútil desse energúmeno." Outro suspiro, esse extremamente irritado. "Ele insiste em me recompensar de algum jeito, e parece que não entra naquela cabeça enorme estufada de bosta que eu não suporto ele e que só quero que ele me deixe paz."

Clint estava sem se mexer, o garfo cheio de frango xadrez esquecido em sua mão. "Entãããããão, você não vai."

Natasha sacudiu a cabeça, pegou o garfo e o prato dele, e deu cabo no que Clint havia deixado para trás em algumas poucas garfadas cheias. Ela não havia percebido o quanto estava faminta até os primeiros pedaços de frango caírem em seu estômago e seu corpo imediatamente começou a exigir mais.

"Claro que não", ela disse, enquanto raspava os restinhos das bordas. "Um monte de gente bêbada e desconhecida em cima de mim? Nem sendo arrastada. O que quer dizer que eu e você vamos assaltar um bar e ficar bêbados até cair enquanto elas" e apontou para Rosalie e Helen no sofá - a loira lendo alguma coisa e a outra assistindo TV - "fazem o mesmo, só que em meio a estranhos e usando roupas chiques."

Clint anuiu. "Diversão crua e pura."

Natasha se recostou na cadeira. "O que você veio fazer aqui, de qualquer jeito?"

Ele deu de ombros. "Escalei a janela da biblioteca. Fiquei no seu quarto. Assisti James Bond na Netflix no seu computador. Saí. Comprei comida. Voltei pela janela da biblioteca de novo. Desci. Meia hora depois você apareceu."

*

Sozinha em seu quarto, Natasha encarou a tela de chamadas recebidas do telefone. O número que vira na noite anterior não estava lá. Quando ela levara o telefone à orelha, após decidir atender a ligação, não ouviu nada. Nem um pio do outro lado. Tudo a levava a crer que ela havia imagino o incidente - não seria difícil - mas ela não conseguia se separar do sentimento de suspeita e medo que havia se instalado nela desde então.

Se fosse ele... Natasha não cometeria o mesmo erro duas vezes. É melhor você rezar para nunca mais me ver, porque eu estarei lá para te matar. Suas próprias palavras ecoaram na sua cabeça, e aquela fora a verdade pura e simples, mas o homem estava sangrando tanto... Como alguém poderia ter sobrevivido àquilo, ela não sabia.

Por tantos anos, a morte dele era um fato incontestável e final. Toda aquela suspeita e dúvida era idiota. Ela havia imaginado todo o incidente, ponto final, fim de história.

Natasha suspirou, e se levantou. Talvez tivesse sobrado alguma coisa do jantar surpresa de Clint na geladeira.

Ela desceu as escadas, de modo silencioso e discreto como lhe vinha naturalmente, só para empacar e instintivamente se colar à parede quando ouviu movimento na cozinha.

Eu ainda tenho que me acostumar a morar com outra pessoa, ela pensou, e se forçou a sair de seu canto, entrando no aposento.

Barulho de algo se quebrando, seguido por um palavrão. Era Rosalie, de costas para Natasha, agachada e juntando os restos de uma xícara.

Sem pensar - provavelmente porque quebrar alguma coisa durante a infância de Natasha sempre resultava em punição - ela fechou a distância entre as duas e se ajoelhou ao lado de Rosalie, silenciosamente ajudando-a a recolher os cacos. 

Quando a ruiva se aproximou, Rosalie olhou para ela, e o coração de Natasha se apertou. Nos olhos de Rosalie, havia uma expressão muito, muito familiar. De tristeza profunda e culpa sem limites. Uma expressão que Natasha já viu inúmeras vezes espelhada em seu próprio rosto e de pessoas próximas. 

Antes que pudesse se dar conta que havia se mexido, Natasha tocou o pulso de Rosalie com cuidado e disse suavemente, "Eu limpo isso. Vai se sentar."

Claramente surpresa, mas sem contestar, Rosalie assentiu e se afastou. Natasha manteve a cabeça baixa como havia sido treinada, juntou os cacos com velocidade que só a prática poderia proporcionar, se levantou e os jogou no lixo. Sem dizer absolutamente nada, começou a se mover pela cozinha, pegando outra xícara, açúcar, colher, fervendo água e pegando saquinhos de chá. Se alguém lhe perguntasse o que diabos ela estava fazendo, ela simplesmente daria de ombros. Estava simplesmente seguindo o instinto que manteve Sammy fora de perigo por tantos anos - ou tanto quanto ele poderia estar, dadas as circunstâncias. Se fosse Sam sentado naquela cadeira, Natasha estaria tomando as mesmas providências, sem a menor sombra de dúvida. Enquanto trabalhava, resgatava da memória tudo que havia visto Rosalie fazendo desde que mudara. Não era muita coisa, já que ela passava a maior parte do tempo em silêncio. Natasha curvou os lábios em um sorriso triste. Com isso ela se identificava.

O chá ficou pronto rápido. Natasha pousou gentilmente a xícara na mesa, quase sem fazer ruído, diante de Rosalie. A loira ergueu os olhos para ela, parecendo mais confusa do que culpada e triste. "Por que você tá sendo tão legal de repente?"

Natasha deu de ombros, e estava mortalmente séria. "Porque eu conheço muito bem essa cara. Alguma coisa ruim aconteceu. Muito ruim. E você se culpa por isso. E Rosalie, seja lá o que tenha acontecido, não foi sua culpa."

Haviam muitas coisas que Natasha Romanov sabia. Uma delas era que Rosalie não era uma má pessoa. "Eu não vou te perguntar o que foi", ela disse, "porque eu já estive no seu lugar, e eu sei exatamente como você se sente agora."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Haunted House" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.