A Maldição De Afrodite escrita por Rafael Piotto


Capítulo 23
Traição




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Minhas ultimas lembranças eram um pouco confusas. Eu e Marco entramos no centro de convenções, encontramos os semideuses, matamos os ciclopes... E então eu vi Marco morrer em minha frente! De novo... De novo... E de novo. Era como um loop, eu via a cena onde Marco morria perfurado por um tipo de garota morcego se repetir sem parar. Sempre que eu tentava salva-lo, alguma força me impedia de me mover. Era como aqueles sonhos onde você está correndo atrás de algo, mas fica parado no lugar. E de repente Rin estava logo a minha frente, fazendo cosplay, ao lado de Marco! Ou isso era um sonho, ou eu estava ficando louca.

                Rin veio correndo me abraçar. – Sarah! O que você estava fazendo aqui? Esse lugar é perigoso demais, você não pode ser vista! – Ver o rosto dela depois de tanto tempo me fez ficar feliz, seu rosto era idêntico ao de Len, apenas o estilo de seu cabelo era diferente e a mancha em seus olhos era trocada. Estranhamente, ela estava vestida de empregada domestica, mas não usava a mesma coleira dos outros semideuses. Não havia marca alguma em seu pescoço, mostrando que ela não tinha usado uma coleira daquelas em nenhum momento.

                Rin nos puxou para dentro de um caminhão que estava encostado logo ao nosso lado, ele tinha acabado de ser descarregado no aeroporto e havia retornado ao galpão para ser carregado novamente, assim que Rin fechou a porta, ninguém mais se aproximou assim nos deixando a sós por alguns momentos. Eles me explicaram o que aconteceu com a Hybris e como Rin nos encontrou. – Eu estava indo de encontro com Pierre, ele está em um escritório que fica logo a frente da entrada de sua casa. Ele que me faz usar essa roupa idiota quando estou limpando sua casa... Enfim, ele vai perceber se eu sumir. Não adianta eu fugir se não derrotarmos Pierre antes!

                –Nós temos um amigo lá fora, e talvez ainda tenhamos reforço do acampamento meio-sangue. – Disse enquanto colocava a mão em seus ombros. Ela estava tão linda quanto antes, mas seus olhos carregavam uma certa melancolia dentro deles. – Você se lembra como eu te contava historias sobre aquele lugar, Rin? Era nosso plano chegar lá após escaparmos de Kikuo!

                –Sim eu lembro, eu sonhava dia e noite em encontrar aquele lugar! Alias... Como está Len? – Ela parecia apreensiva enquanto falava aquilo. Talvez ela estivesse preocupada com o fato dele não estar ali conosco.

                –Não se preocupe, seu irmão está em outro lugar, lutando para poder salvar você. Sabe, existe uma maldição que...

                –Hey, fiquem quietas. – Sussurrou Marco. – Acho que tem alguém lá fora.

                De repente, a porta do caminhão foi aberta por uma dupla de ciclopes, mas esses eram um pouco diferentes dos que nós derrubamos agora a pouco. Aqueles eram ciclopes da terra, esses pareciam ser um tipo diferente de ciclope, pois carregavam armas apropriadas para seu tamanho e proteção nas pernas. Porém, seus olhos brilhavam da mesma cor dos outros. Ao seu lado, havia três harpias que pareciam bem irritadas por termos mandado uma delas ao tártaro, Pierre que estava falando no telefone e por ultimo... Silvia. Seu olhar continuava vago como sempre, mas de seus olhos escorriam lagrimas discretas e sua cabeça estava um pouco abaixada, como se ela estivesse com medo de estar ali.

                –Então você me confirma que quando chegarmos ao aeroporto, nosso avião cargueiro vai estar nos esperando? – Dizia Pierre ao telefone. Ele estava exatamente com a mesma aparência de antes, isso incluía até o chapéu de caminhoneiro. – Entendo, hoje terminarei de arrumar tudo e amanha começo a mandar os caminhões até ai, garanta que nenhum mortal ou Deus note nossa presença! Não quero nenhum problema desnecessário. – Assim que terminou de falar, guardou o celular no bolso e olhou em nossa direção. – Então eles estavam mesmo por aqui. Obrigado Silvia, você realmente nos ajudou vindo até meu escritório para contar isso! Depois eu vou atrás dos gêmeos que fugiram, eles não são tão valiosos de qualquer forma.

                –Silvia?!? – Exclamei com irritação. – Sabia que deveria ter usado meu charme em vocês, para garantir... – Eu sempre fico furiosa ao pensar naquela situação... Silvia havia nos traído, por puro medo de Pierre! Quando se é criança e tem medo de alguém você deve fugir dele, não o ajudar! Pelo seu olhar, ela parecia incrivelmente arrependida... Como se tivesse feito aquilo por obrigação, mas eu não me importava, estava furiosa. Percebi que Silvia estava novamente usando o colar de Pierre.

                –Ela apenas fez o que achava certo. Você acha que ela iria confiar em quem? Em mim, que deu abrigo e comida a ela esse tempo todo, ou em vocês que mal a conheceram?

                –Não só abrigo, você também deu umas belas cicatrizes a ela. Que belo anfitrião que você é, hein? – Gritei com ele enquanto enfiava a mão em meu bolso direito. Cutuquei Rin com meu braço e a dei um olhar nervoso do tipo “preciso de uma distração.”. Ela pareceu me entender.

                –M-meu mestre, me desculpe! – Disse Rin, tomando nossa frente. – Tudo isso foi idéia minha, quando você estava longe eu mandava mensagens de Iris aos meus amigos de fora, apenas... Puna-me como sempre! – Disse Rin com certa excitação, ela parecia com medo de Pierre, mas ainda assim havia se colocado a minha frente.

                Pierre deu uma gargalhada alta. – Ah, mas eu vou mesmo, você sabe como eu gosto de ouvir seus gritos. – Rin se encolheu um pouco ao ouvir aquilo, agora que ela estava em minha frente percebi que a parte de trás de seu vestido era transparente, existiam marcas de cortes e queimaduras por todas suas costas, diferente de seu rosto e seus membros. Percebi que mesmo que Pierre prezasse pela imagem de Rin, ela ainda era torturada como qualquer outro semideus que estivesse sobre seu comando. – Mas duvido que você seja a responsável por isso. Não... Não quando Sarah Dean está envolvida nessa historia! – Deuses como eu odeio meu sobrenome. Só Pierre e Kikuo sabiam sobre ele, eu não havia contado meu nome completo nem mesmo para Len ou Marco. Por quê? Provavelmente eu desenvolvi esse ódio pelo meu nome devido a odiar meu pai. De qualquer forma, agora todo mundo sabia. – Diga-me, minha querida filha de Afrodite. Qual foi o plano que você fez dessa vez? Eu sempre era parte de seus planos antes, fico um pouco triste de saber que você não tentou usar seu charme em mim dessa vez. – Disse ele rindo de mim, me lembrei da raiva que senti quando descobri que todas as vezes que eu usei meu charme nele no passado foram mentiras e que ele sempre se deixou ser controlado por mim para ter uma desculpa de ir contra Kikuo.

                –Ah é?  – Puxei o sinalizador de meu bolso por trás de Rin. – Engula isso então! – Apontei meu braço para cima e atirei. Como prometido, a chama lançada pelo sinalizador atravessou o teto do caminhão, assim como o teto do centro de convenções. Torci para que Franky pudesse ver isso e tentei ganhar algum tempo. – MARCO!

                Assim que gritei, Marco invocou suas chamas e lançou uma bola de fogo em direção de Pierre, que apenas se afastou do caminhão enquanto os ciclopes se jogaram na frente de Pierre. Coloquei uma flecha em meu arco e derrubei a primeira Harpia que tentou entrar no caminhão. A segunda foi cortada ao meio pela espada que Rin carregava, mas a terceira Harpia conseguiu desviar de minha flecha e se agarrou ao meu pescoço, desferindo cortes em meu rosto. Eu me defendi como podia, mas não conseguia fazer com que ela me soltasse. Marco continuava jogando fogo nos ciclopes para manter eles longe do caminhão e Rin tentava tirar a Harpia de cima de mim. Eventualmente, Rin agarrar a Harpia e jogar ela para fora do caminhão. Ela fez um giro ao redor dos ciclopes e disparou voando em nossa direção novamente.

                Antes de chegar ao caminhão, uma moto apareceu voando de repente e atingiu a Harpia, caindo sobre a Harpia e os ciclopes ao mesmo tempo. Por ser uma moto enorme, os três monstros viraram pó instantaneamente. Saímos correndo do caminhão só para ver Franky dirigindo uma Harley-Davidson, ele usava até uma jaqueta de couro. – O resgate chegou senhoritas! Subam na moto! Sim, isso também inclui você, Marco. – Disse Franky, enquanto levantava seus novos óculos escuros com os dedos.

                Eu e Marco subimos na garupa de Franky, Marco se segurou em Franky e eu fui atrás dele segurando em sua cintura. Ainda tinha um espacinho onde poderia caber mais uma pessoa, me virei para estender minha mão a Rin quando vi... Seus olhos brilhavam da mesma cor azul de antes, e em seu pescoço brilhava uma marca azul que não parecia estar lá antes. Olhando de perto agora, as luzes viam de pontos em seu pescoço que formavam algo que parecia uma constelação.

                –Rin, vamos! – Gritei, mesmo duvidando que ela me ouviria.

                –Desista mortal. Assim que alguém cai sob meu controle, ninguém pode escapar dele.

                Algo no que Pierre me disse me deixou com uma pulga atrás da orelha... Se esse é o caso, então porque os semideuses precisam daqueles colares? Se Pierre pode controlar seus escravos com tanta facilidade, então qual o propósito de usar aqueles colares para controlá-los? E era impressão minha, ou ele havia me chamado de mortal? Se esse é o caso... Então isso quer dizer que Pierre não é mortal como nós? – Por isso que você nos traiu então, Silvia?!?

                –Ah não, a pequena Silvia apenas não queria me ver irritado. – Disse ele passando a mão na cabeça de Silvia. Lagrimas escorriam por seu rosto, mas sua expressão continuava a mesma... Se ela cresceu mesmo acostumada a ser torturada e usada por Pierre e seus compradores, pode ser que ela tenha desenvolvido algo como uma síndrome de Estocolmo por ele, foi à única explicação plausível que eu consegui chegar.

                As outras Harpias viram a confusão e vieram voando em nossa direção, Franky percebeu isso e ligou o motor da moto novamente. – Sarah, vamos logo!

                Estendi minha mão novamente para Rin, mas ela me olhava com um olhar hostil. Pierre levantou sua mão, chamando a atenção de todos os monstros do galpão, assim que ele a abaixou, os olhos de Rin e de todos os outros monstros brilhavam mais forte ainda. Então Rin levantou a espada e veio correndo em minha direção, assim como todo o resto dos monstros que estavam no galpão.


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