A Filha da Sabedoria escrita por Annabel Lee


Capítulo 11
Um passei pela Nova Roma


Notas iniciais do capítulo

:)



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Abri os olhos.

Antes que eu despertasse por completo, rodei o lugar que me encontrava com o olhar. Parecia ser uma enfermaria, a considerar as macas e pessoas doentes ou feridas ao meu lado. Sentei na maca e dei de cara com Jane, a garota que me encontrou no Túnel.

Agora que a vejo mais de perto percebo que seus cabelos eram loiros escuros com algumas mechas pintadas de preto. As sardas eram salpicadas pelo rosto e os olhos mais claros do que eu imaginava. Quase dourados! Ela devia ter mais ou menos 16 anos.

- Você não deveria sair por aí andando no sol... - ela comenta quando me vê de olhos abertos.

Ela segurava uma taça de néctar. Reconheço o líquido. Sempre tive que beber goles da bebida dos deuses quando caía da parede de escalada do Acampamento Meio-Sangue. Não imaginei que os romanos tivessem o mesmo acesso.

- Onde estou? - pergunto, tentando mentir da melhor forma.

- Acampamento Júpiter - ela me estende a taça - mais especificamente, na enfermaria.

Pego a taça e olho o conteúdo.

- E o que é isso?

Ela sorri.

- Néctar dos deuses. Ajuda a curar e fortalecer as energias... Você está muito fraca!

- Deuses? Isso é uma metáfora, não é?

Ela não pareceu desconfiar de nada. Bom. Ela explica para eu beber apenas um gole do néctar, se não posso acabar entrando em combustão. Tento me conter para não rir... Já ouvi tanto aquela explicação.

- Você está num Acampamento para pessoas especiais - ela diz enquanto tomo um único gole do líquido com gosto de chocolate quente - pessoas com parentesco com deuses romanos. Você pode ser uma semideusa, filha de um desses deuses, ou uma parente distante deles. Neta, Bisneta ou descendente.

Aquilo era novidade. Geralmente nós, meio-sangues, são sobrevivíamos o suficiente para ter família e filhos. Muito menos netos ou bisnetos. Tentei usar minha surpresa para outro propósito.

- Espera - interrompo a explicação - você quer me dizer que estamos num Acampamento de verão para "parentes de deuses romanos"?

Ela revira os olhos.

- Vou te levar para um tour pelo Acampamento e pela Nova Roma. Assim você pode começar a acreditar mais...

- E você é parente de que deus?

- Sou filha de Esculápio - reconheço o nome como a forma romana de Asclépio, deus da medicina e filho de Apolo - por isso passo bastante tempo na enfermaria.

- Seu nome é Jane, não é?

- É. Jane Austin. E você é Alexia Garcia. Quero saber mais de você.

Levantei da cama e fui criando uma história sobre mim que fazia uma linha mais honesta possível entre minha vida de verdade. Contei que tive a madrasta assassinada, mas não especifiquei por quem. Expliquei, com muito pesar, que meu pai me abandonou e que eu estava procurando só mais um lugar para dormir a noite.

Ela pareceu acreditar em tudo. Era boa ouvinte e só fez poucas perguntas depois da história como minha idade e se eu sabia usar alguma arma.

- Já atirei com armas de fogo - admito. Aquilo era verdade. Armas de fogo são bem assimiladas a arco-e-flechas.

- Bom, só temos armas brancas. Talvez você se dê bem com um arco.

Me forço a não sorrir.

O Acampamento era incrível. Reconheci algumas partes do mapa que estudamos: o Fórum, o pavilhão, a principia. Bem semelhante a um campo de batalha romano. Mas íamos para um lugar que não havia no mapa, a não ser por uma escritura em tinta preta:

Nova Roma.

Quando Jane Austin me explicou que, quando guerreiros pensavam em se "aposentar", eles poderiam viver uma nova vida naquela cidadela que chamavam de Nova Roma. Lá, poderiam fazer a faculdade, formar famílias e viver plenamente.

Tenho que admitir que fiquei surpresa.

Não é só o fato de Nova Roma ser incrível! Com uma arquitetura romana impecável. Sou filha de Atena, é impossível passar por um lugar como aquele sem notar.

Mas não eram apenas as colunas de mármore branco e as construções bem acabadas que me impressionaram... E sim as famílias. Vários semideuses. Casando, tendo filhos, um emprego. Sem se preocupar com monstros ou com uma morte prematura.

Aquilo valia mais que qualquer arquitetura.

- Pretende fazer faculdade, Alexia? - Jane pergunta ao me ver admirando a grande universidade.

- Pretendia - respondo sinceramente - antes de ser expulsa de casa.

- De que?

- História... Talvez Antropologia.

- Se interessa por história?

- Sim. E devo admitir que isso facilita bastante a assimilar tudo... isso - faço um gesto para toda Nova Roma.

- Sim... foi assim comigo também. Admira algum deus ou deusa romanos?

- Apolo - respondo imediatamente.. então a conversa com minha mãe se repassa em minha mente, meu ódio por ela se dissipava a cada dia - e Minerva.

Ela assente, mas seu olhar parece indicar que "Minerva" era assunto delicado.

- Respeitamos muito Minerva - ela diz - mas não a adoramos. Ela era Palas Atena, você deve saber. A deusa mais grega que existia. Totalmente patriota. Ela não fica muito do lado dos romanos...

- Diz isso como se já tivesse conversado com ela.

- Nunca conversei - admite.

Continuo admirando a cidadela. Cada nova rua é uma nova surpresa. Com árvores e construções numa harmonia que me faz querer conhecer o arquiteto daquele lugar. Passamos por uma fonte de água límpida com uma estátua de Cupido (Eros, para nós gregos).

Quando o tour termina, voltamos para os portões da cidade. Jane tinham comprado um sorvete para ela. Eu não quis. Tento ao máximo rejeitar aquele lugar romano. Quanto menos laços eu fizer com eles, mais fácil será prosseguir com minha missão.

- E agora? - pergunto a ela.

- Temos que reunir o conselho. Você ficará em probatio até que seja reclamada por seu pai, mãe ou ancestral divino.

Não entendi a parte do "probatio", mas não digo para ela que já fui reclamada. Reclamada por uma deusa "completamente grega", que não apoia os romanos.

- Bom, tenho que te apresentar aos pretores.

- Pretores?

- São líderes de guerra e do Senado romano.

Líderes. Mais ou menos como eu. Preciso conhece-los e, se puder, arrancar o máximo de informações sobre a Marca de Atena.

- Quem são? - pergunto.

- São Catherine e Júlio César. São irmãos. Filhos de Belona, deusa da guerra. Podemos procura-los na principia...

- Não precisa, Jane - diz uma voz.

Nos viramos. Havia dois jovens de pé atrás de nós. Deveriam ter 17 anos, mas pareciam mas velhos e mais experientes que Jane. Pareciam... comigo. A menina tinha cabelos no estilo "Chanel" e curtos. Era alta, e aparentemente forte. Os olhos tinham um brilho que lembrava os filhos de Ares... um brilho que seu irmão também tinha.

E deuses... o irmão!

O tal Júlio César tinha cabelos negros e o meio sorriso de derreter o coração de uma filha de Afrodite. Mas eu não me derreto tão facilmente. Seus olhos eram azuis. Azuis que deveriam pertencer a um filho de Poseidon, ao invés de um filho de Belona.

- Venha - ele diz olhando fixamente para mim - temos algumas perguntas a fazer.


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