Essência escrita por AnaMM


Capítulo 18
Consciência E Inconsequência


Notas iniciais do capítulo

CHEGUEI! Estava em crise criativa aguda, mas alguma coisa acontece em meu coração... Quando a trilha perfeita encontra emoção... Ok, sem mais delongas ou Caetanos, a primeira música do capítulo foi pedido da LiDinho, que foi responsável pelo comentário de número 100 da fic!

https://www.youtube.com/watch?v=QbRopWBOgLM
http://www.vagalume.com.br/joe-brooks/til-my-heart-stops-beating-traducao.html
Trilha escolhida pela LiDinho é essa aí acima e é indicada para a cena lidinho do capítulo.

https://www.youtube.com/watch?v=BuLRZD1m14w
http://www.vagalume.com.br/rachael-yamagata/be-be-your-love-traducao.html
trilha final



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– Você decide o que é melhor pra você, anjo, mas eu acho que você vai estar se enganando se seguir com a Lia. Ela é teimosa, não vai admitir que gosta do Dinho, cabe a você dar um basta na situação antes que os três sofram. – Fatinha concluiu.

– Você tem razão, a escolha é minha. – Respondeu rispidamente. – Se vocês me dão licença, eu preciso voltar pro trabalho.

– Claro, Vitor. Valeu pela visita, e desculpa pelo acontecido. – A loira se despediu sem jeito, acompanhando-o até a porta.

Ouviram dois sons parecidos. Ricardão acabava de sair de seu apartamento. Vitor tentou ignorar a presença do vizinho da amiga percebendo, pela primeira vez, a cor do corredor em detalhes. Vozes. Seu nome. Seu nome novamente.

– Vitor! – Fatinha chamou mais alto.

– O que? Que foi? Eu não sei de nada!

– Você tá surdo, é? Relaxa, Ricardão, devem ser os chifres. – Murmurou baixo o suficiente para esperar que Vitor não escutasse.

O surfista riu, sem tirar os olhos do moreno. A funkeira observou o comportamento de seu vizinho e analisou a reação de seu amigo, que parecia tentar atravessar a parede para longe dali. Vitor enfim olhou para o homem, culpado. Tudo se encaixou tão rapidamente, que Fatinha teve de se apoiar no corredor.

– Ai, meu deus. – Exclamou, levando a mão à boca.

Deixou um riso escapar. Devia ter desconfiado... Vitor também usava Lia para fugir, para se esconder do romance que realmente queria viver. Enfim algo em comum entre Lia e o motoqueiro. Voltou para o apartamento, deixando o amigo a sós com Ricardão.

– Chifres? – O mais velho questionou tão logo entraram em sua sala.

– Você acha que ela desconfiou de alguma coisa? O que será que ela quis dizer?

– Claro que percebeu, Vitor, você tava mais roxo que a saia da Fatinha! – Ricardo zombou.

– Eu tô ferrado! Eu tô...

– É sério isso? Uma hora você vai ter que contar pra alguém, e na Fatinha a gente pode confiar. Vocês são bem amigos, não são? Mas agora me conta dos chifres.

– Não tem o que contar, Ricardo. Você lembra o que eu falei do reencontro dela com o ex? Foi isso, eles realmente tiveram uma recaída, mas por sorte ela não quis terminar.

– Sorte? – Cobrou decepcionado.

– É, sorte. Você sabe que o que tá acontecendo entre a gente, bom, não é sério. Foi uma coisa de momento. Eu quero estar com a Lia. Eu gosto de mulher.

– Aham, sei. Gosta tanto que ficou todo vermelho quando a Fatinha me viu. Gosta tanto que levou chifres e insiste nesse namoro por fachada. Vitor, se assume, que tá feio! Você vem todos os dias desde que a gente se conheceu, fica nesse chove não molha, daí quando finalmente se entrega a alguma coisa...

– Foi uma coisa de momento, eu já falei!

– Como isso agora? – Ricardão perguntou ao puxar o motoqueiro para si.

Vitor demorou a se afastar do beijo, provocando uma risada no homem.

– Se você não quer admitir ainda, tem todo o tempo do mundo, mas deveria se olhar no espelho. Você estava completamente apático quando a gente se conheceu, era triste de ver. Agora não, você tem vida!

– Eu continuo o mesmo.

– Se você insiste. Enquanto a Lia tá se entregando ao que sente, você tá aqui em negação.

–x-

Separaram-se apenas para abrir a porta para o apartamento dos Martins. Lorenzo estava em plantão, Gil havia saído com Ju. Tinham a casa para si. Voltaram a se beijar, conduzindo-se cegamente ao quarto de Lia.

– Esse você ainda não conhece. – Sorriu sugestivamente.

– Não. – Retribuiu o sorriso.

– Bom, esse agora é o meu quarto. – Apresentou contra a boca de Dinho.

– A gente tá quebrando o nosso recorde de lugares diferentes menor espaço de tempo. Aos velhos tempos! – Brandiu a garrafa no ar.

– Sem isso, Dinho. – Afastou a garrafa do garoto. Sequer sabia como o vidro havia chegado a ele.

– Só um pouco...

– Eu ou ela.

– Você já me embebeda naturalmente. – Sorriu sincero. – Me faz esquecer o mundo... – Beijou-a. – E que eu tenho que voltar à vida real...

– Depois. Vamos focar no presente, por favor. – Calou-o com o dedo sobre seus lábios.

– E se a gente não conseguir? E se a gente não se reencontrar depois da minha ida?

– Dinho... Eu te amo.

O garoto não pôde conter um novo sorriso.

– Eu te amo e o que eu mais quero é que você fique, mas eu não posso deixar que você abandone a sua família por mim... Por uma namoradinha de adolescência que você logo vai esquecer, assim que não tiver mais nada pendente.

– Lia, escuta uma coisa. – Segurou o rosto da garota fixo em frente a seus olhos. – Mesmo que a gente esteja longe, mesmo que o tempo passe, eu não vou deixar de amar você enquanto estiver vivo. Eu prometo.

– Essas promessas de novo? A gente sabe muito bem o quanto elas duram...

– Dessa vez é pra valer. Lia, eu viajei o mundo, eu cumpri meu sonho, e tudo em que eu conseguia pensar era você. Se você ainda me quiser, eu volto correndo assim que terminar o ano escolar americano, e, dessa vez, eu não vou te decepcionar, muito menos te fazer sofrer. Antes eu sair disso destruído, que te ver chorar por minha causa de novo.

– Dinho, eu vou chorar assim que você entrar naquele avião. Talvez até antes. – Ironizou.

– Você entendeu! – Respondeu rindo.

– Ok, chega. Vamos voltar antes que eu me arrependa de ter nos dado essa chance...

– Lia, olha pra mim. É agora ou nunca. Se a gente não aproveitar esse momento, vai se arrepender pro resto da vida. Eu, pelo menos.

– Continua se achando, pelo visto...

– E você continua fugindo. Vem cá. – Puxou-a de volta, beijando-a passionalmente.

–x-

Lorenzo enfim chegou em casa, depois de uma cansativa noite de trabalho. Ainda estranhava o silêncio que tomava a sala na ausência de Marcela. Checou o quarto de Gil, e então o de Lia. Abriu a porta devagar para não acordá-la. Dormir, no entanto, estava longe de ser o que sua filha estava fazendo. Mãos percorriam suas costas nuas, brincando com o fecho do sutiã. Os dedos se infiltraram ritmicamente contra os fios loiros e roxos de Lia. Cachos. A visão o atingiu como um baque. Precisava pará-la, não aguentaria aquela cena por mais um segundo.

– Lia Martins! A senhorita enlouqueceu?! – Questionou, ironia contornando o tom severo de sua voz.

– P-pai? – A roqueira se surpreendeu, rapidamente reencaixando o feixe do sutiã que por pouco ainda permanecia sobre seus seios.

– Sai daqui, Adriano. Agora!

Dinho obedeceu, pegando no ar a camiseta que Lia lhe jogara. Vestiu-a e retornou o olhar para a garota. Curvou o canto da boca em sinal de confiança. Ficaria tudo bem. Lorenzo o escoltou até a porta, empurrando-o sem tolerância.

– Olha aqui, eu não vou discutir agora, que eu acabei de voltar de um dia exaustivo no hospital, mas a gente vai voltar a se falar, e você vai ouvir. – Afirmou em tom de ameaça, ao que Adriano apenas concordou com a cabeça.

Lorenzo respirou fundo ao fechar a porta. Lia era sua filha, não podia deixar para o dia seguinte. Gil já se encontrava aos pés do quarto da amiga, curioso com o som alto e severo da voz do padrasto.

– O que aconteceu? – Cobrou confuso.

– Gil, eu preciso ter uma conversa particular com a minha filha, se você puder nos dar licença...

– Particular? E desde quando gritar é ter uma conversa particular? – A filha ironizou.

– Lia, agora não. Primeiro você vai me escutar.

– Gil? – A roqueira fez menção para que se retirasse.

De braços cruzados, e com expressão curiosa, Gilberto deixou o quarto. O médico se aproximou de onde a filha estava sentada, já completamente vestida.

– Eu pensei que você estivesse com o Vitor... – Murmurou.

– Eu estou com o Vitor, pai.

– Ok, isso faz todo o sentido... – Ironizou. – Então posso saber o que você fazia nos braços daquele idiota?

– Aquilo mesmo que você viu. – Lia respondeu impaciente.

– Então você está namorando o Vitor e traindo ele com o Dinho sem peso nenhum na consciência? Assim, na sua casa, ele podendo vir te visitar a qualquer momento e podendo ter essa mesma surpresa que eu tive?

– Pai, se você veio me dar sermão sobre moralidade, pode ir dormir, que eu já estou bem grandinha e sei como eu devo ou não me comportar. – Fez sinal com o braço em direção à porta.

– Não, você sabe que não. Por mais que eu fique com pena pelo pobre Vitor e decepcionado com o que você está fazendo, o problema aqui é outro.

– É o Dinho.

– É, é o Dinho. Lia, o que você está fazendo? O que você está fazendo com você? Porque essa não é só uma questão de eu preferir o Vitor. Eu também preferia o Gil, e você já não me dava ouvidos. A questão, minha filha, é você. Eu não quero, e não vou permitir que você sofra tudo aquilo de novo. Aquele garoto não presta! Ele vai te seduzir, como da outra vez, só pra te decepcionar na primeira oportunidade!

– Eu sei...

– Você sabe? Então por que você está se deixando levar? – Segurou as mãos da filha, preocupado.

– Pai, não é tão simples... O Dinho, ele... Eu tentei, eu juro que tentei fugir, lutar contra o que eu tô sentindo, mas eu não consigo! Eu sei que eu sou masoquista, burra, ingênua, mas eu preciso! Eu preciso dele, eu preciso estar com ele, antes que seja tarde demais. Antes que ele volte pros Estados Unidos e nunca mais volte, eu preciso me sentir viva como antes, completa, por pelo menos uma última vez. – Algumas lágrimas escaparam de seus olhos.

– Você não precisa disso, filha, você tem o Vitor! Ele é tão bom pra você, é tão educado, generoso, responsável...

– Não bota a pureza da sua filhinha em risco...

– Também.

Lia riu. Seu pai tinha cada ideia... Ainda assim, sabia que tinha razão. Era ingênua em querer se jogar em uma relação sabidamente finita, só por aproveitar o momento. Estava sendo precipitada, descuidada, inconsequente... Ainda assim, depois de tanto tempo se controlando a cada passo, medindo cada decisão, fingindo ser mais madura do que realmente era, do que gostaria de ser, sentia urgência por se deixar levar, por viver o então, por se deixar sentir, ainda que tivesse de chorar quando tudo acabasse. Um ano após a partida do ex, precisava saber o que era se entregar novamente, sem medidas. Era loucura e sabia, mas não poderia deixar a oportunidade passar, deixar sua vida passar. Estava na idade de ser maluca, descuidada, inconsequente. De errar, de sofrer, de se odiar por isso. Não era adulta, como tentava ser, tinha dezessete anos. Que o tempo depois a curasse. Preferia se arrepender do vivido a se arrepender do que deixara de viver.


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