Iridescent escrita por Miwa Mazur


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Oioi gente!
Então... Queria confessar uma coisa publicamente:
Eu realmente pensei em excluir Iridescent. Mas não foi por um momento ou dois, foram dias. Foi hoje. Eu realmente estava pronta para isso, já que não sei como fazer um final digno, e então... Quando entrei no Nyah... me deparei com mensagens lindas e queridas de alguns de vocês, me incentivando a continuar!
Cara, como eu agradeço a vcs!
Então... em homenagem a todos que não me abandonaram (ainda!) nessa trajetória, cá está o capítulo 18!



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Sempre me disseram para ter cuidado com o que eu desejava. Que as palavras têm poder. Que o velho ditado do desejo à estrela tinha importância, sim. Mas eu nunca acreditei muito em superstições. E muito menos em suposições, histórias da carochinha.

Bom, pelo menos, até agora.

Dessa vez, quem utilizava a sala para ter alguma conversa éramos nós, enquanto todos os demais foram para o salão de Gean analisar bem as estatísticas. Havíamos matado um bom número, mas só Deus sabe quantos mais poderiam aparecer.

Lembrei-me de todas as vezes em que desejei que Dimitri estivesse aqui – do quanto havia invejado Tasha por Ethan ter lutado por ela, ter confrontado a Rainha, e ter se oferecido para entrar no esquema, afim de morrer ao lado da amada, se esse fosse o caso.

Agora, Dimitri estava ali. E, se eu quisesse mantê-lo em segurança, deveria afastá-lo, mandá-lo embora, qualquer coisa – do mesmo modo como ele havia feito comigo naquela igreja. Me afastado para tentar me proteger de seus próprios demônios, medos e pesadelos. Mas quem disse que conseguiria? Principalmente a essa altura do campeonato.

Tanto que meu próximo movimento foi me jogar em seus braços.

Uma de suas mãos repousou na minha cintura, enquanto a outra iniciou um movimento padrão em meu cabelo, acariciando-o.

–- Eu sabia – ele murmurou. – Você é jovem demais, forte demais para morrer num mero acidente, Roza. – Então seus braços me afastaram, e uma de suas mãos, a que estava em minha cintura, ergueu meu queixo de forma que eu não tivesse outra escolha senão encará-lo. – Você realmente pensou que me manter afastado seria a solução? Eu não estaria seguro, Roza. Não de mim mesmo.

–- Yeah, - murmurei – acabei de perceber isso, camarada. Mas como, por mil diabos, você chegou aqui?

–- Fazendo o mesmo que Ethan – ele disse, me lançando um olhar como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – e confrontando a Rainha.

Ah, pensei, enquanto cruzava os braços e o analisava minuciosamente, e ela entregou os pontos assim. Claro.

Como se ouvisse meus pensamentos, Dimitri respirou fundo e passou a mão pelo cabelo, procurando algum controle:

–- Lissa acabou conversando com Mikhail e ele invadiu o sistema. Acabou descobrindo essa pasta de e-mails decodificados e... Bem, os rastreou. Então obtive seu endereço; e não se engane, no minuto que vi o conteúdo soube que era você. Tinha que ser, Roza. Tinha que.

–- Lissa sabe que você está aqui? – perguntei, incrédula. Eu não havia captado nada por meio do laço, e ela costuma ficar extremamente agitada em situações do tipo.

–- Sabe, mas concordou em ficar na Corte e ajudar a Rainha do modo como pudesse.

–- Então todos vocês resolveram se meter no que fiz questão de deixá-los de fora, uh? – Resmunguei. Eu havia controlado meus ímpetos, ignorado aquelas mensagens, me focado na missão de forma que pudéssemos terminar logo e voltar para a Corte... Tudo para proteger as pessoas que mais amava. E ali estavam elas: Indo em direção ao problema.

Exatamente como eu faria. Respirei fundo.

–- Você não esperava que ficássemos parados, não é? – Dimitri perguntou, me analisando.

–- Eu esperava que sua avó os controlasse, isso sim! – Teimei.

–- Mas foi ela que me mandou aqui, Roza! Pelo amor de Deus! – ele elevou a voz, respirando fundo e unindo as mãos como em forma de oração. – Sabe o que teria acontecido lá se eu não aparecesse? Você estaria morta. Minha avó previu isso, e essa foi a razão de ter me contado. De ter me dito que você estava viva.

–- Eu vi a cena...

–- Mas não ficou para o final, não foi? – ele perguntou. Quando assenti, suas mãos me puxaram para si, envolvendo-me. – Aquele seria seu fim, Roza. Mas, felizmente, alguns destinos podem ser alterados. E foi por isso que vim o mais rápido que pude: pra salvar você.

Analisei suas palavras. Se eu tivesse ficado por mais um ou dois minutos, teria compreendido tudo – e teria arrumado um meio de impedir meu aparente destino. E então Yeva pressentiria e não mandaria Dimitri. Mas não, eu havia me precipitado e saído da mente de Liss cedo demais; e acabara envolvendo a ambos nessa confusão.

Saí de perto de Dimitri, caminhando até a outra extremidade da sala. Eu não conseguia organizar meus pensamentos. Tudo parecia continuar se repetindo, embaralhando, dando mil e uma voltas só para apontar um mesmo resultado – um que declarava que eu estava sendo muito, muito precipitada e descuidada.

Pare com isso, disse a mim mesma, pare com isso agora mesmo, Rose! Isso é o que o espírito faz com você. Afaste-o.

Aos poucos, minha mente clareou e finalmente pude me focar na única coisa realmente sólida no meio dessa nuvem de poeira: Dimitri estava bem. E ali. E havia me salvado de um destino muito pior que a morte.

Virei-me em sua direção, enquanto passava a mão pelo cabelo castanho, e o examinei. Ele não parecia ter dormido muito bem, admiti a mim mesma.

Apesar de sua expressão cansada, e roupas que, com certeza, indicavam que só havia chegado de viagem e partido para me procurar, havia alguma energia contagiante nele. Era como se, mesmo que estivesse relaxado agora – e um tanto apreensivo pela minha reação – pudesse entrar em combate a qualquer momento.

Eu não duvidava nada disso. Aquele homem era um Deus.

–- Roza, - Dimitri disse – eu prometo que ninguém mais sabe disso. Vasilisa está segura e... Pelo amor de Cristo, Rose! Eu nunca deixaria você entrar numa batalha sem saber que me tem ao seu lado.

–- Você precisava, Dimitri – choraminguei.

–- Eu amo você, Roza – ele respondeu, fazendo com que meu coração perdesse uma batida. – O que significa que sim, eu precisava.

–- Desde... Desde quando?

–- Sempre. – Dimitri disse, apoiando-se numa poltrona. – Sempre esteve aqui, Roza. Só que era muito mais fácil ignorar, porque eu não queria essa vida para você. Não queria que tivesse de conviver com um homem que pode se transformar num monstro a qualquer momento.

Olhei para Dimitri por mais uma fração de segundos, e então cruzei o espaço que nos separava, finalmente o beijando.

Minhas mãos voaram para seu cabelo, que era tão macio quanto eu lembrava – enquanto as suas se dividiram. Uma voou para a minha cintura, erguendo-me poucos centímetros do chão, e a outra serpenteou pelo meu cabelo.

Eu não havia reparado o quanto sentia falta disso. Quero dizer, eu sabia, bem no fundo, que sentia falta de algo... Uma promessa não cumprida, que fora feita após uma noite na cabana. Eu sentia falta de ter Dimitri ao meu lado, seja treinando ou apenas provocando-o com amenidades.

Sentia falta da tensão que dizia que haveria muitos obstáculos a serem percorridos, e odiava, com todas as minhas forças, aquela que se instalou após seu retorno. A que dizia que, por mais que nos amássemos, não podíamos ficar juntos. Não quando eu era um dos demônios de Dimitri.

Mas agora? Sentindo aquela familiar onda de eletricidade percorrendo cada célula do meu corpo? Eu me sentia completa.

Bem, pelo menos, naquele instante, sim.

Desgrudei-me dele, fitando-o:

–- Você não é um monstro, Dimitri – murmurei. – Aliás, é uma das criaturas mais bonitas que já vi nesse mundo.

Ele me deu um sorriso sincero, apressando-se em colar nossos lábios. Eu entendera sua mensagem. Entendera mesmo. Ele queria dizer, ali, que eu era a única que realmente sabia quem ele fora – e que, se eu o havia perdoado, ele não tinha o direito de também não o fazê-lo.

E havia mais. Porque ele queria que eu soubesse quem ele havia se tornado após tudo isso. Ele queria que eu me tornasse uma parte do novo Dimitri, uma parte tão importante quanto eu fora para o antigo. Para seu eu naqueles dias. Para todos os seus lados.

E, bem – quem era eu para discordar?

Aprofundei o momento, tentando ao máximo absorver cada parte, cada detalhe de Dimitri. Dessa vez, não havia náusea que indicasse um Strigoi, não havia ninguém explodindo em nosso quarto e nos impedindo de ter alguma conversa que resolvesse essa bagunça que havia se tornado nossos sentimentos.

Não havia sósias, não havia demônios, não havia escuridão ou espírito ou proibições. Um dos detalhes que constava no e-mail de Tatiana era que Dimitri seria designado para Christian assim que a batalha terminasse, e eu protegeria Lissa. E juntas, traríamos quantos Strigoi fosse capaz antes dela se tornar a próxima sucessora ao trono.

Claro, essa última parte não a agradaria muito – ou a mim – mas, sinceramente? Naquele instante, tudo o que podia pensar era em como as mãos de Dimitri pareciam estar em todo lugar, enviando correntes pelo meu corpo.

E o melhor de tudo era que poderíamos ficar juntos. Sem qualquer receio. Não protegeríamos a mesma pessoa, então não precisávamos enfrentar a dificuldade que seria sobre nos jogarmos na frente um do outro, e não de Liss.

E ao mesmo tempo, ele ficaria com Christian. O que era quase a mesma coisa, já que eles não se desgrudavam. Nós ficaríamos juntos – e faríamos isso funcionar.

Era como se o universo tivesse, finalmente, feito algo a meu favor, cumprindo os planos que Dimitri e eu havíamos feito. Claro, ser transformado por um Strigoi, invadir uma prisão, e quase perder nossos títulos de guardiões não fazia parte disso, mas... Bem, tudo estava bem. Enquanto continuássemos dentro daquela bolha só nossa, tudo estava bem.

Deslizei uma de minhas mãos pelo braço de Dimitri, parando para entrelaçar nossos dedos. Então, lentamente, comecei a puxá-lo em direção do quarto onde eu estava “hospedada”, parando para trancar a porta.

Apesar de estarmos com roupas pesadas devido ao clima que havíamos enfrentado, logo nossos casacos caíram em algum canto esquecido do quarto, juntamente com o resto de nossas vestimentas.

Depois de um mundo de morte, Dimitri parecia apreciar mais o amor. E não era só isso, ele precisava daquilo. Precisava de vida. Precisava de mim – não apenas fisicamente, mas do mesmo jeito que meu coração e minha alma sempre o desejaram. Que fizemos, então, quando tiramos nossas roupas e juntamos nossos corpos, foi mais do que luxúria – embora houvesse muito disso também.

Estar com ele depois de tanto tempo, depois de tudo o que passamos... era como voltar para casa. Estar finalmente num lugar – e com pessoas – que tinham a ver comigo. Meu mundo, meu coração se despedaçaram quando o perdi. Mas quando ele olhou para mim, quando seus lábios disseram meu nome e percorreram minha pele, eu soube que aqueles pedaços poderiam se juntar de novo. E soube, com absoluta certeza, que esperar por aquilo – pela minha segunda vez – havia sido a coisa certa a ser feita. Com qualquer outro, em qualquer outro momento, teria sido errado.

Quando acabamos, foi como se ainda não tivéssemos conseguido ficar perto o bastante. Nós nos abraçávamos com força, com os braços e pernas entrelaçados, como se, talvez, encurtar a distância agora compensasse toda a distância que havia existido entre nós durante tanto tempo.

Deitei a cabeça sobre seu peito, sentindo-o completamente relaxado. Uma de suas mãos contornava meu ombro em movimentos circulares, e me peguei pensando que, em algum momento dessa viagem, eu havia encontrado algum bom senso e havia aprendido que nada, jamais, nunca, aconteceria do modo como eu esperava.

A prova? Aquele momento.

–- Então... – Dimitri sussurrou – o que falta agora? Para voltar à Corte?

Dei de ombros: -- Precisamos derrotar o chefe. E, de preferência, mandar aquele lugar pelos ares.

Senti os músculos de Dimitri retesarem. Aquele lugar era onde ele havia ficado após ser transformado num Strigoi, e também onde havia me torturado por semanas. Amaldiçoei a mim mesma por ter dado ouvidos a ele e tê-lo respondido.

–- De qualquer forma, - murmurei – não é como se eu quisesse falar disso. Não agora.

Ergui a cabeça, encarando o rosto de Dimitri. Aos poucos, ele relaxou novamente, abrindo um sorriso genuíno. Levantou o corpo minimamente, apenas o suficiente para beijar minha testa, e então se deixou afundar novamente na cama.

Voltei a repousar a cabeça nele, dessa vez na curva de seu pescoço e me peguei realmente desejando dormir. Céus – eu estava realmente exausta por causa da luta e tudo o mais.

Adormeci nos seus braços deixando a escuridão do quarto me envolver, tão acolhedora quanto o corpo dele. Deveria ter sido simples assim. Deveria ter sido um descanso tranquilo e feliz. Mas, como sempre, não tive essa sorte.

Um sonho induzido por espírito me puxou das envolventes profundezas do sono e, por meio segundo, pensei que talvez Lissa tivesse se empolgado demais e dito à Adrian onde eu estava – e com isso ele tentaria checar por si próprio, claro.

Mas não. Nada de Adrian esperançoso. Em vez disso, me peguei encarando um par de olhos com anéis vermelhos ao redor.

Uma rajada forte de vento me acertou, e instintivamente abracei a mim mesma. Eu usava as mesmas roupas de antes, e, ao fundo, podia avistar aquele hotel invadido – o mesmo em que eu fora mantida prisioneira.

Olhei ao redor, vendo o cenário se formar pouco a pouco. Era como se o elemento fosse escasso e, sinceramente, eu já estava surpresa o suficiente por ele conseguir invocar algum sonho do tipo. O cara era um Strigoi – uma criatura morta-viva que não tem alma – então, tecnicamente, toda sua ligação com o mundo Moroi deveria ter se dissipado, certo?

Ao meu redor, havia árvores. E mais atrás um galpão. Fora onde Tasha e Ethan ficaram, pensei. Aquele era o cenário em que eu havia organizado um massacre de Strigoi, e os corpos continuavam ali.

Vi a figura esguia de Robert, que não parecia mais tão lunático assim, curvar-se sobre um deles -- o que quase me matou – e sorrir.

–- Fez um bom trabalho aqui, Rosemarie – disse Robert em tom satisfatório – Muito bom mesmo. Agora sei do que você é capaz – e então ergueu os braços, fazendo um gesto que abrangia toda aquela área – que é matar todos os meus soldados de uma só vez.

–- Todos? – zombei. Reparei que minha estaca estava em mãos, o que significava que, mesmo que ele tentasse algo num sonho, eu poderia cravá-la nele e fazer com que tudo desaparecesse.

–- Você está certa. Eu tenho mais. Um exército com a mesma quantidade que este.

Um calafrio percorreu minha espinha. Se eu já havia achado duro ter que lutar contra vinte e poucos, saber que ele tinha o mesmo número sob seu poder era um tanto desanimador... E algo me dizia que não pararia até que eu o confrontasse.

–- Mas sem perder tempo com bobeiras – disse, meneando a mão. Todos os corpos sumiram, e então estávamos andando por uma rua ensolarada. Inconscientemente, parei em frente a uma casa lilás com um quintal repleto de plantas. Elas eram mal cuidadas, como se a moradora não fosse ao jardim há um bom tempo, mas a variedade era maravilhosa de se observar. – Tenho uma notícia para você.

–- E o que poderia me interessar? Ainda mais vindo de você.

–- Sonya Karp. – Robert disse. Pisquei, encarando-o, e então fitei a casa. Estávamos num local não tão distante da Rússia, pelo menos não em quesito continental.

–- Eu sei onde ela está, Rosemarie. E quero propor uma troca.

–- Para quê? – cruzei os braços.

–- Negócios – murmurou. – Preciso que você mate um Strigoi em potencial que mora aqui, e em troca, traga-a de volta.

–- Um inimigo...?

–- Donovan. Belikov saberá onde encontrá-lo, já que tem sido uma grande dor de cabeça para todos nós há tanto tempo.

Senti o chão tremer, e voltei a encarar Robert. O cenário começara a se dissipar.

–- Hey! – gritei – Como vou saber onde Sonya mora?

–- Está na sua mesa, Rosemarie. Está em suas mãos.

–- Rose, Rose.

Dimitri me sacudia e levei vários segundos para deixar de encarar aquele par de olhos com esferas vermelhas e finalmente me focar no castanho intenso que me fitava.

–- Temos que... – começou ele.

–- Ah, meu Deus – resmunguei.

–- Tasha quer que façamos o planejamento da próxima jogada. – ele murmurou, então percebeu o quão desanimada eu estava. – Aconteceu alguma coisa?

Respirei fundo, encarando minha mesa de cabeceira. Notei um papel dobrado, escrito com uma caligrafia inclinada meu nome. Puxei-o com a ponta dos dedos, desdobrando-o. Gemi. Era o endereço de Sonya.

–- Robert Doru aconteceu – Dimitri se enrijeceu. – Ele quer que eu mate um Strigoi que está em Londres. Donovan. E, em troca, me deu o endereço de Sonya Karp.

–- E o que você acha ser o certo? – Essa foi a vez de Dimitri suspirar, e então sentou-se na cama, inclinando o corpo sobre o meu.

–- Devo isso a Mikhail – murmurei, fitando-o. – Se não fosse por ele, eu não teria conseguido os registros que me levaram até você. E... bem, ele passou a vida toda lutando por isso. Eu realmente devo isso a ele.

–- Então esse será o nosso próximo passo – Dimitri concordou. – Sei como encontrar Donovan, e Oksana ficaria orgulhosa em nos ajudar, já que vem praticando com Mark desde que... Desde que disseram que eu havia voltado.

–- Sem problemas. – Assenti, me livrando das cobertas. Ao fazer isso, notei os olhos de Dimitri em mim e fiquei um tanto surpresa diante da admiração e da avidez que vi ali. De algum jeito, até mesmo depois do sexo, eu meio que esperava que ele estivesse mais distante e com sua cara de guardião, ainda mais levando-se em conta o que eu havia acabado de propor.

–- Você está vendo alguma coisa de que gosta? – perguntei, repetindo algo que lhe disse muito tempo antes, quando ele me pegou numa posição comprometedora na escola.

–- Várias – respondeu ele.

O sentimento que ardia naqueles olhos era demais para mim. Desviei os meus dos dele com o coração disparado no peito enquanto me vestia depressa.

Dez minutos depois, já havia explicado todo meu plano para Tasha e Ethan, que concordaram. Eu e Dimitri partiríamos, eles ficariam e esperariam por notícias. Tasha assumiria o contato direto com Tatiana, e, nesse meio tempo, caçaria Strigoi.

–- Só há um probleminha – ela disse, por fim. – Como você acha que ela reagirá quando souber que você deixou seu posto.

–- Ela fez com que Ethan e Dimitri entrassem nessa – rebati. – Que se foda.

–- Outro ponto é que: Robert me pediu para matar Donovan, porém deixou bem claro que ele é uma dor de cabeça ao seu exército. Ele pode saber como destruí-los.

–- Ele não sabe – Dimitri disse – mas conhece quem o faça.

–- Então conseguiremos um nome.

Tasha assentiu:

–- Arrumarei as passagens enquanto vocês fazem as malas – e então saiu ao mesmo tempo em que eu voltava para o quarto e Dimitri saía para o hotel em que havia feito check-in, dizendo que falaria com Oksana e providenciaria para que ela estivesse ali na hora exata do voo, o que quer que isso significasse.

X

Sair do meio da Sibéria para o meio de Londres não foi fácil. Eu decolei de Novosibirsk para Moscou, para Amsterdã, para Seattle, e enfim, para Paris.

Mark havia ficado – ele procuraria por informações e antigas lendas de pessoas que conseguiram destruir o comando dos Strigoi da Rússia. Aparentemente, eu não era a primeira a tentar.

De qualquer forma, cerca de vinte horas depois, havíamos alugado um carro, feito check-in num dos melhores hotéis segundo o guia para turistas, e estávamos parados numa viela qualquer que, segundo Dimitri, era onde Donovan se escondia.

Seu esconderijo era, na verdade, uma loja de tatuagem que só abre a noite. Mais alguns Strigoi trabalhavam com ele. Recebiam festeiros, garotos bêbados... O tipo de pessoa que desapareceria com facilidade – ou seja, o que os Strigoi amam.

–- A polícia vai acabar descobrindo que toda vez que alguém vai fazer uma tatuagem, desaparece – argumentei em determinado ponto da viagem.

Dimitri me deu um sorriso amargo no mesmo instante em que Oksana se ajeitou na poltrona ao lado, desconfortável com o rumo da conversa.

–- Bem, o “engraçado” é que eles não matam todos que vão lá. Realmente tatuam alguns e os deixam ir embora. Também usam o ponto para distribuir drogas.

Empurrei para fora de minha mente todos aqueles pensamentos, e passei o resto da viagem pensando em como invadir aquele lugar, trazendo-o até Dimitri, como havíamos combinado. Mas era mais do que isso: Eu queria descobrir como poderia mandar por água abaixo todo aquele domínio dos Strigoi na Rússia. E queria ser aquela que daria o golpe final.

De tanto pensar, acabei lembrando das palavras do Strigoi que quase conseguira me matar. E também que, se aquele lugar recebia jovens festeiros, a melhor conclusão seria que eu entrasse.

Mencionei isso a Dimitri assim que o carro parou e passamos a analisar a rua.

–- Não – disse Dimitri – Não pode, não.

–- Por quê? – perguntei, querendo saber se ele achava aquilo perigoso demais para mim. Eu havia forjado minha morte, afinal – e para alguém de dezoito anos, já havia me metido em mais encrenca do que um dhampir comum.

–- Porque irão saber que você é uma dhampir no instante em que a virem. Devem farejar isso logo de cara. Nenhum Strigoi teria um dampiro trabalhando para eles... Só humanos.

–- Ou uma prostituta de sangue – Oksana sugeriu, falando pela primeira vez na viagem. – Dizem que o sangue Moroi é um dos mais suculentos. Eu posso fazer isso.

–- Oksana... – Dimitri começou a rebater, quando ela o cortou com um gesto.

–- Sei me cuidar, Dimitri – ela garantiu, abrindo a mochila ao lado e tirando dali um band-aid, que colou em determinada região do pescoço – Já volto.

Então, soltando o cabelo e tirando o suéter preto, desceu do carro, caminhando decididamente até o ponto que Dimitri havia pontuado.

Saímos do carro segundos depois, averiguando a área. A vizinhança parecia estar deserta – no entanto, não me enganei. Aquele não era um lugar por onde você iria querer passar sozinho à noite. Ele gritava “assalto”. Ou coisa pior.

Após mais algumas voltas, encontramos um ponto que Dimitri gostasse. Era um beco nos fundos a dois prédios da loja. Uma cerca de arame farpado retorcida se erguia num canto, e uma construção de tijolos baixa ladeava o outro. E, como Oksana era usuária de espírito, notaria nossas auras. Ela saberia para onde os levar.

–- Podemos ter mandado Oksana para a morte – murmurei.

–- Eu sei... mas não podemos fazer nada agora. É melhor você se posicionar – ele avisou, estendo a mão para mim. Com sua ajuda, cheguei ao telhado da construção baixa. Quando eu já estava posicionada com segurança, Dimitri partiu para o lado oposto ao prédio que Oksana havia contornado. Ele se escondia logo na esquina e não restava nada a fazer senão esperar.

Era uma agonia – e não só porque estávamos prestes a lutar. Eu ficava pensando em Oksana, no que ela havia proposto fazer por nós. Minha missão era proteger inocentes do mal, não jogá-los no meio dele.

Eles vêm primeiro.

E se nosso plano fracassasse? Vários minutos se passaram e, por fim, ouvi passos e murmúrios e imediatamente uma náusea que me era familiar percorria meu corpo. Tínhamos atraído os Strigoi para fora.

Três deles passaram pela esquina do prédio, com Oksana à frente. Pararam e avistei Donovan. Ele era o mais alto – um ex-Moroi –, tinha cabelo escuro e uma barba que me lembrava a de Abe. Dimitri fez uma descrição dele para que (ao menos, era a esperança que tinha) eu não o matasse. Os capangas de Donovan pairavam atrás dele, todos alerta e em guarda. Fiquei tensa, apertando minha estaca na mão direita com força.

–- Belikov? – chamou Donovan, com uma voz áspera. – Cadê você?

–- Estou aqui – foi a resposta de Dimitri, naquela voz fria e horrível de Strigoi. Ele surgiu do contorno da esquina do lado oposto ao prédio, se mantendo nas sombras.

Donovan relaxou um pouco, reconhecendo Dimitri, mas até mesmo na escuridão a verdadeira aparência dele se materializou. Donovan se enjireceu, vendo uma ameaça de repente, ainda que fosse uma ameaça que o confundia e desafiava o que ele sabia. Exatamente no mesmo instante, um dos seus capangas olhou ao redor.

–- Dampiros! – exclamou.

Não foram as feições de Dimitri que o alertaram. Foi nosso cheiro e, suspirando, fiz uma oração em silêncio, agradecendo por eles terem demorado tanto para perceber.

Então, pulei do telhado. Não era fácil saltar daquela altura, porém, nada que me mataria. Além do mais, minha queda foi amortecida por um Strigoi.

Caí em cima de um dos capangas de Donovan, derrubando-o. Mirei a estaca no seu coração, mas seus reflexos foram rápidos. Como eu pesava menos, era fácil me arremessar. Eu já esperava isso, e consegui manter os pés firmes no chão. Pelo canto do olho, vi Oksana saindo depressa e às escondidas, já que queríamos mantê-la longe do fogo cruzado. Vi quando ela caminhou até o carro, preparando-se para caso as coisas ficassem feias, e voltei minha atenção ao Strigoi.

Donovan e seu outro capanga haviam partido para cima de Dimitri, considerando-o a maior ameaça. Meu oponente, a julgar pelo sorriso que exibia suas presas, não parecia me ver como ameaça de jeito nenhum. Primeiro erro. Ele veio na minha direção e me esquivei, mas não antes de dar um chute que o acertou no joelho. Meu golpe não parecia tê-lo machucado, só que de fato acabou com seu equilíbrio. Fiz mais uma tentativa de cravar a estaca e fui atirada de novo, caindo no chão com força. O cimento áspero arranhou minhas pernas. Ignorei a dor, me levantando numa velocidade que o Strigoi não esperava. Minha estaca encontrou seu coração. O golpe não foi tão forte quanto eu queria, mas foi o bastante para detê-lo, me permitindo, em seguida, cravar a estaca ainda mais e dar um fim nele. Sem querer sequer vê-lo cair, puxei a estaca e me virei em direção aos outros.

Eu não havia hesitado nem uma vez na batalha que acabava de lutar, mas agora, parei diante do que vi. O rosto de Dimitri. Era... apavorante. Feroz. Ele exibiu um olhar parecido com quando me defendeu do sublíder – aquela expressão de guerreiro determinado que dizia que ele era capaz de derrotar o próprio inferno. Seu semblante agora... Bem, ele elevava aquela ferocidade a outro nível. Eu me dei conta de que aquilo era pessoa. Lutar contra aqueles Strigoi não tinha a ver apenas com encontrar Sonya. Tinha a ver com redenção, uma tentativa de destruir seu passado aniquilando o mal que estava no seu caminho – ainda mais por ser alguém com que ele se relacionara antes.

Fui me juntar a Dimitri no instante em que ele cravou a estaca no segundo capanga. Havia força naquele golpe, muito mais do que ele precisava usar ao jogar o Strigoi na parede de tijolos e perfurar seu coração. Era impossível, mas dava pra imaginar a estaca atravessando o corpo e atingindo a parede. Dimitri dedicou mais atenção e esforço àquela morte do que era preciso. Ele deveria ter reagido como eu e se virado de imediato para a ameaça seguinte, já que o Strigoi estava morto. No entanto, Dimitri estava tão obcecado por sua vítima que não notou Donovan se aproveitando da situação. Felizmente para Dimitri, eu lhe dava cobertura.

Bati meu corpo contra o de Donovan, jogando-o para longe de Dimitri. Ao fazer isso, vi Dimitri puxar a estaca e jogar o corpo contra a parede de novo. Nesse meio-tempo, eu havia conseguido atrair a atenção de Donovan, e agora tinha dificuldades para me defender sem matá-lo.

Para o inferno com isso, pensei. Acabe logo com ele, Hathaway. Não hesite.

No entanto, Donovan era muito mais poderoso e forte. Tanto que, quando desferi um chute contra a lateral de seu corpo, ele cambaleou, porém, rápido como todo Strigoi, veio para cima de mim novamente e agarrou meu braço, torcendo-o para trás.

–- Dimitri! – gritei – Preciso de você!

Não pude ver o que Dimitri estava fazendo, mas, alguns segundos depois, ele já se encontrava ao meu lado. Com o que quase soou como um rugido, partiu para cima de Donovan, segurando a estaca e enfiando-a no braço do Strigoi. Foi a vez dele rugir, soltando-me, e então Dimitri derrubou o Strigoi no chão.

Suspirei, aliviada, e me mexi para ajudar a detê-lo. Então, vi Dimitri alinhar a estaca com o coração de Donovan. Havia morte nos seus olhos. Gritei, segurando seu braço e encarando Donovan:

–- Um nome – cuspi – me dê o nome de quem é uma ameaça a Robert.

O Strigoi rosnou algo inteligível para mim, então peguei minha própria estaca e pressionei contra seu pescoço:

–- Um nome! – rosnei.

–- Sonya – ele murmurou, pouco satisfeito consigo mesmo. Porém, embora eu não tivesse realmente ficado a estaca, o pequeno corte estava o queimando por dentro. – Sonya Karp.

Isso, sem dúvidas, não fora o que eu esperava. Porém, antes que pudesse questioná-lo, Dimitri puxou seu braço do meu e alinhou a estaca. Com a mesma força que usou com o capanga dele, perfurou seu peito. O Strigoi deu um grito horrível, de arrepiar, que se esvaiu quando a morte o tomou. Estremeci. Quanto tempo levaria para que alguém tivesse ouvido tudo aquilo chamasse a polícia?

Dimitri puxou a estaca e então a cravou em Donovan de novo. E de novo. Olhei fixamente com descrença e horror, paralisada por alguns instantes. Há quase um dia atrás, ele havia dado a entender que havia perdoado a si mesmo, mas agora eu via a escuridão invadi-lo, tomá-lo.

Havia uma parte em Dimitri que ainda não havia se livrado daquele trauma. Uma parte que se recusava a sair. Agarrei o braço de Dimitri e comecei a sacudi-lo, apesar de sentir que teria feito mais efeito sacudir a construção atrás de mim.

–- Ele está morto, Dimitri! Ele está morto! Pare com isso. Por favor.

O rosto de Dimitri ainda abrigava aquela expressão terrível, de fúria, agora marcada por um pouco de desespero, o qual lhe dizia que, se ao menos ele pudesse destruir Donovan por inteiro, talvez conseguisse destruir todo o mau restante na sua vida.

Eu não sabia o que fazer. Precisávamos sair dali. Tínhamos que esconder os corpos. O tempo passava e fiquei apenas me repetindo.

–- Por favor, Dimitri! Ele está morto!

Então, em algum lugar, de alguma maneira, atingi Dimitri. Seus movimentos desaceleraram e, por fim, pararam. A mão que segurava a estaca pendia, fraca, ladeando os flancos enquanto ele encarava o que havia sobrado de Donovan – uma visão nem um pouco bonita. A fúria no rosto de Dimitri deu lugar à angústia... E então isso deu lugar ao desalento.

Peguei no seu braço com delicadeza.

–- Acabou. Você já fez o suficiente.

–- Nunca é o suficiente, Roza – sussurrou ele. O pesar na sua voz me matava. – Nunca será o bastante.

–- Por agora, é – disse eu. Puxei Dimitri para mim, que largou a estaca e enterrou o rosto no meu ombro. Também soltei minha estaca e o abracei, puxando-o para mais perto. Ele me envolveu nos seus braços como se eu fosse algo precioso. Precioso, e que ele poderia perder a qualquer momento.

–- Você é a única – Ele se agarrou ainda mais a mim. – A única que entende. A única que viu como eu era. Você estava certa ontem. Você sempre está certa. Eu nunca poderia explicar isso pra ninguém... Você é a única. A única para quem posso contar isso...

Fechei os olhos por um momento, tomada pelo que Dimitri dizia. Apesar de, no começo, ele apenas ouvir Lissa e ter jurado lealdade a ela, havia guardado seu coração e seus sentimentos até me encontrar. Eu achava que ele havia se trancafiado de novo quando chegamos à Rússia, mas ainda estava ali. Sempre esteve. Aos poucos, eu via que o velho Dimitri não havia ido, como ele mesmo dissera. Estava aqui, o tempo todo... Procurando por algo, alguém, que o fizesse voltar.

–- Estou aqui – disse-lhe. – Sempre vou estar aqui para você.

–- Sonho com eles, sabe? Com todos os inocentes que matei. – Seus olhos se voltaram para o corpo de Donovan. – Ou pelo menos sonhava, até descobrir que você estava viva. Mas ainda assim... Ainda há algo que me diz que, se eu matar Strigoi o bastante, os pesadelos desaparecerão. Porque haverá um dia em que, quando eu acordar, você terá ido, Roza.

Xinguei mentalmente. O quê?

Puxei Dimitri, lentamente:

–- Eu não vou a lugar algum, camarada. – O assegurei. – Não importa quantas vezes tenha que. Já aprendi minha lição. Não vou a lugar algum sem você.

Respirei fundo, tirando uma mecha do cabelo de Dimitri que havia se soltado do elástico de seu rosto:

–- Você tem que matar Strigoi porque eles são cruéis. Porque é o que fazemos. Se você quer que os pesadelos passem, tem que viver. Esse é o único jeito. Podíamos ter morrido agora. Não morremos. Talvez morramos amanhã. Não sei. O que importa é que estamos vivos agora, Dimitri.

Ele me lançou um olhar desconfiado.

–- Descubra algo bonito – disse, lembrando-me de como Dimitri costumava me dizer que tínhamos que apreciar os detalhes. – Alguma coisa que tenha beleza. Qualquer coisa. Qualquer coisa que mostre que você não é um deles.

Seus olhos se pregaram a mim, estudando meu rosto em silêncio. Um pânico me percorreu. Não estava dando certo. Eu não estava conseguindo matar aquela parte de Dimitri que ainda o assombrava. E tínhamos que sair dali, não importando o estado em que ele se encontrava. Eu sabia que ele também iria embora. Se eu havia aprendido alguma coisa, era que os instintos de guerreiro de Dimitri ainda funcionavam. Se eu dissesse que um perigo se aproximava, ele reagiria no mesmo instante, atormentado ou não. No entanto, eu não queria isso. Não queria que fosse embora naquele estado, não sem um mínimo avanço no que ainda o perturbava.

–- Você.

–- O quê? – Por um segundo, perguntei se o que eu tinha falado o havia ofendido.

–- Você. – repetiu Dimitri. Seus olhos estavam arregalados, quase admirados. – Você é linda. Tão linda que chega a doer.

Sorri para ele, lembrando-me de como já havia me dito algo parecido.

–- Está vendo? Você não é um deles. Os Strigoi não veem beleza. Só morte. Você descobriu alguma coisa bonita. Uma coisa que é bela.

Hesitante, nervoso, ele deslizou os dedos pela lateral de meu rosto.

–- Mas isso basta?

–- Por enquanto, sim – Dei um beijo na sua testa e o ajudei a se levantar. – Por enquanto, sim.


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Notas finais do capítulo

Bjsbjs



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