Iridescent escrita por Miwa Mazur


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Oioie gente!
Então, espero que tenham aproveitado muuuuuito os feriados de final de ano! Eu os passei com a família, na beira de uma piscina, torrando com esse sol de lascar que tá aqui! USHAUSHUAHSUHAD



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–- Largue-a, Cameron. – Tatiana ordenou em uma voz impaciente, tirando um dos lençóis brancos de cima de uma mesa longa e de vidro. – Rose, não me entenda errado. Acredito que eu e você temos o mesmo objetivo.

–- E qual seria esse? – Resmunguei logo após o guardião me soltar. Eu esperava que minha vida se resumisse em voltar para a Corte, planejar um ataque concentrado, e guerrear contra os Strigoi que tentavam derrubar a Corte, mas não. Era simples demais para mim.

–- Proteger a princesa. – Ela disse. Quando mencionou Liss, parei de analisar tudo ao meu redor tentando encontrar uma forma de sair dali caso necessário, e prestei alguma atenção nela. – E, obviamente, os Belikov.

–- Como isso seria possível? – Perguntei, tentando levantar a sobrancelha e falhando miseravelmente. Um truque a se aperfeiçoar, pensei.

–- Seria possível com uma caçada. – Tatiana respondeu. Então, fez sinal para que Cameron saísse do cômodo, e, tirando outro lençol branco, sentou-se numa poltrona de veludo vermelho. Mesmo com minha mente trabalhando para juntar suas informações e em quanto tempo estávamos perdendo ali, não pude deixar de ponderar quanto dinheiro era gasto em lugares como esse.

–- Contra os Strigoi? – Ao ver que ela ainda me olhava sem nenhuma alteração, continuei. – Impossível. Eles saberiam de cara que sou eu. Na verdade, eles esperam por isso.

–- Exatamente. Eles esperam por você. – Ela concordou. – E é por isso que Rose Hathaway tem que morrer.

–- Como é que é?! – eu praticamente gritei. Ao mesmo tempo em que a hipótese soasse totalmente absurda, eu começara a entender onde ela queria chegar. Se eu fosse caçar o inimigo e descobrir o que realmente estava acontecendo, não podia ser eu mesma. E para não restar dúvidas, eu deveria forjar minha própria morte.

Mesmo que isso significasse que ninguém mais saberia. Inclusive Dimitri e Lissa. Mesmo que isso fizesse-os sofrer, contanto que permanecessem salvos.

–- É só uma hipótese. – Ela disse, projetando o corpo para a frente. – Mas é a melhor hipótese que temos. Cameron poderia jogar o carro de um penhasco, e, para todos, teria sido um mero acidente com combustão instantânea, e ninguém encontraria seu corpo. No entanto, o atestado de óbito seria instantâneo.

–- O que me deixaria livre para assumir outra identidade e enviar informações para a Corte.

–- Na verdade, nós enviaremos informações a você, por meio de um contato em comum. – Ela decretou, analisando o esmalte. Era como se já tivesse especulado sobre esse tópico por horas e horas a fio.

–- E quem seria esse? – Vários nomes passaram pela minha mente. Poderia ser um dos guardiões reais, bem como Adrian, que teria uma facilidade enorme de se locomover devido à influência que exercia. Só que, se fôssemos considerar pelo quesito influência, até mesmo meu próprio pai poderia fazê-lo.

–- Você verá. – Tatiana murmurou. – Mas digamos que ele já sabe da hipótese. E espera que você concorde com tal.

Analisei o local ao meu redor, dando conta de uma coisa: Tatiana não criaria um lugar como esse para si, ele funcionava mais como um esconderijo. Um esconderijo para alguém com uma identidade falsa. Olhei para a parede atrás de mim; nela, havia uma porta que, sem sombra de dúvidas daria para um arsenal de armas.

Aquele lugar fora mobiliado por uma razão. Ou melhor, para alguém. E esse alguém era eu.

–- E então? – Tatiana perguntou em tom impaciente. – Você cooperará ou não?

–- Só se você me der o nome de quem sabe disso. -- Declarei. Eu poderia me juntar, mas não sem antes saber no quê estava me metendo. – E... eu quero que você os ajude e os mantenha na Corte. Os Belikov, quero dizer. Todos. A partir do momento em que a caçada começar, me ligarão a eles pelo passado e eles se tornarão os primeiros alvos.

Tatiana assentiu, parecendo mais do que satisfeita em ouvir minhas condições:

–- Tudo isso já foi providenciado. Eles irão para a Corte após alegarem que há um grupo que pretende invadir sua casa. Os manterei nas acomodações de visitantes, e bancarei suas despesas enquanto isso – ela pronunciou a palavra como se fosse uma catástrofe – durar.

–- Também quero me explicar o que acontecerá depois. E o que você quer exatamente de mim. – Exigi.

–- Quero que você se infiltre. Darei a você o nome de três pontos de informação, em que você deve ir se quiser chegar a algum lugar com os relatórios que exigirei semanalmente. Para isso, deixarei um e-mail privado que somente eu terei acesso em meu escritório pessoal. Quero informações sobre quem comanda a rebelião, qual o objetivo, e o nome de quem está infiltrado na Corte.

–- Por que você acha que há alguém infiltrado? – Questionei, puxando outro lençol branco que descobria uma poltrona semelhante à de Tatiana. Coloquei a mochila no chão e me sentei em frente a ela.

–- Sabiam todas as informações do voo, Rose. Sabiam quando vocês chegariam e qual seria a escala. O que mais me surpreendeu foi saberem qual casa vocês estavam. Eles praticamente hackearam vocês. – Ela lançou um olhar demorado a mim, examinando-me. – Sei que isso não quer dizer nada, mas durante a viagem, vocês encontraram ou receberam algum objeto suspeito? Que pudesse conter uma escuta ou qualquer mini dispositivo?

Eu estava pronta para responder que não, é claro que não, mas então parei e refleti sobre o voo. Na nossa para em Dublin, quando paramos para lanchar e fazer a escala, havia um cara cantando no meio do pátio. E ele deu uma rosa a mim. Ele não examinou as mulheres na multidão, procurando uma para premiar. Simplesmente andou até mim no meio da canção, e a entregou.

A rosa havia sido o objeto que havia nos entregado. A escuta estava nela. Abri minha mochila rapidamente, tentando saber se minha localização atual também não era um problema, quando me lembrei de que eu a havia deixado cair em algum ponto da viagem.

Mesmo assim, havia sido suficiente para pegar a principal rota para Baia, e pior ainda, para Moscou, que foi o que dedurou que de fato estávamos na Rússia.

Ah, diabos. Parecia que de agora em diante eu teria que desconfiar até mesmo de um cara que cantasse na praça em busca de algum trocado. Porque fora assim que havia recebido a maldita rosa.

Contei a história para Tatiana, que adquiriu um brilho estrategista no olhar.

–- De fato, eles foram espertos. Muito espertos. – Admitiu. – E isso nos leva a outro tópico: O de humanos estarem trabalhando com os Strigoi. Desde que isso começou, tentamos refrear a ação, mas de nada adiantou. Portanto, se agora você cruzar com qualquer um deles – me lançou um olhar severo –, mate-o.

–- Como é? – Cravei as unhas no braço da poltrona. Assassinar humanos?! – Tatiana, as ordens eram claras. Sempre foram. Nós. Só. Matamos. Strigoi!

–- Eles escolheram, Rosemarie! – Ela elevou a voz. – A partir de agora, um traidor será poupado de qualquer misericórdia e serão tratados como querem: como inimigos. Eles estão trabalhando juntos, e um humano não pouparia esforços em matar a princesa se essa fosse a condição para tornarem-se mortos vivos.

Meu sangue ainda fervia, mas tinha que admitir que Tatiana tinha razão. Eles não hesitariam em me matar, ou a Dimitri, ou à Lissa. Então, eu não deveria hesitar também.

–- De qualquer forma, quero você se infiltre. Do mesmo modo como me mandará relatórios, ligarei para você todas as vezes em que tiver alguma notícia que possa ser usada, e mandarei os progressos na pesquisa que estamos fazendo.

–- E esse amigo em comum? A função dele não seria essa?

–- Oh – ela ponderou sobre isso, mas em seguida descartou a pergunta como se fosse algo estúpido –, para que mandar uma pessoa fazê-lo, quando há um sistema tecnológico tão avançado à nossa disposição? Nosso amigo em comum irá te ajudar na caçada. Essa pessoa está desaparecida há algum tempo devido ao meu pedido, e virá morar com você. Trabalharão juntas.

–- Quem é ela, afinal? – Perguntei, cansada de toda essa enrolação. Sinceramente, eu preferiria ter um nome do que continuar a falar em códigos.

–- Natasha Ozera. – Arregalei meus olhos. É verdade que não havia ouvido falar sobre ela em algum tempo, mas mesmo que Tasha quisesse trabalhar defendendo a Corte e lutando por si mesma, era impossível pensar que ela e Tatiana poderiam estar tendo essa mesma conversa. Afinal, elas sempre tiveram uma relação de puro ódio. – E ela chegará pela manhã, o que te dá algumas horas para se decidir e preparar-se.

–- Eu topo. – Concordei. Se Tatiana podia proporcionar uma boa vida para todos os Belikov, e manter Lissa protegida, bem como aos meus amigos, não havia razão para que eu discordasse do assunto. Seria algo vantajoso, até.

–- Só há uma coisa – ela continuou. – Você não pode voltar a trás. E ninguém, ninguém mesmo, pode saber disso. Ou que você está viva. Haverá um funeral, Rose. Seu nome entrará para um livro sobre guardiões lendários, como a garota que desafiou o sistema e mesmo assim foi capaz de defender a uma princesa de um perigo que a própria gerência ignorava. Rose Hathaway morrerá até o fim dessa batalha.

–- E você sabe quanto tempo ela durará? – Perguntei com um aperto no peito. Eu sabia o motivo de todas aquelas exigências e até mesmo concordava com elas, afinal, se as pessoas que amo soubessem disso, não valeria de nada meus esforços para protegê-las, mas isso não as tornava menos dolorosas.

–- Isso depende de você. Poderia durar anos, mas estou apostando todas as minhas fichas em seu temperamento impulsivo, porém determinado e astuto. Eu diria que meses.

Meus olhos se arregalaram de novo. Tatiana não era do tipo que demonstrava confiança ou até mesmo certa admiração por ninguém além da imagem refletida no espelho, porém ela havia mesmo dito aquelas palavras a mim. A mim. A jovem rebelde e impulsiva que tinha o costume de infligir regras e até mesmo fugiu da Academia.

–- No seu quarto, há uma pasta sobre a cama com todas as informações necessárias. No computador, as contas já estão abertas. O guarda-roupa está lotado, e há uma bolsa sobre a mesa de cabeceira com cartões de crédito e talões de cheque de uma conta que abri em seu nome. A papelada já está toda preenchida, você não precisa fazer nada, além do que faz de melhor: caçar demônios.

Então, ela se levantou, estendendo a mão a mim em um cumprimento.

–- Eu manterei contato, Rose. Apenas mantenha-se sã e salva, e temine isso o quanto antes. Por mais que possa oferecer conforto e segurança para as pessoas que você mais ama, não posso oferecer-lhes conforto pela sua perda, mesmo que temporária. Até porque o único conforto para isso seria ter você de volta. – Ela suspirou, enlaçando os dedos. – Ah, e a partir de agora, seu nome será Julieta – me deu um sorriso afetado. – Cuide-se, Rosemarie. Espero vê-la em breve.

E então saiu, fechando uma grande porta de madeira antes de abandonar completamente o prédio. A partir de agora, eu estaria por minha própria conta, e nem mesmo pude me despedir de Dimitri ou Liss.

E eu estava finalmente me entendendo com Dimitri...

Em outra vida, eu me sentiria completamente ofendida a respeito disso. Quer dizer, todos merecem um final feliz, então por que eu não conseguia alcançar o meu?

Só que esses eram novos tempos, e por mais que me resolver com Dimitri me fizesse feliz, eu ainda teria que lidar com essa batalha, e a ameaça iminente que eu me tornaria com o decorrer do tempo. Estar perto dele só traria problemas, ainda mais com a aceitação de todos da Corte para com ele.

De fato, mantê-lo salvo e perto de sua família era o melhor que eu poderia fazer. Ele protegeria Liss enquanto eu estivesse longe, e eles ajudariam um ao outro. Era isso o que importava.

Contanto que as duas pessoas que eu mais amo no mundo estivessem salvas, eu não me importaria com o que acontecesse comigo.

–- Certo, Rose. – murmurei após alguns minutos. – Comece a explorar sua nova vida como Julieta.

E foi o que fiz.

Após tirar o lençol de todos os móveis e jogá-los num saco preto que encontrei no canto da área de serviço, me espantei com o luxo com que Tatiana havia decorado o lugar. Os móveis eram refinados, e tudo exalava conforto e tranquilidade. Era como um porto seguro após uma batalha ameaçadora, exatamente o que ela gostaria de proporcionar para mim e Tasha nesse momento.

Por um segundo ou outro, uma sensação de culpa por ter comparado Tatiana com uma vaca por tanto tempo passou por mim, mas logo tratei de espantá-la. Ela estava sendo gentil comigo? Sim. Mas só porque eu agora era um de seus peões, e começar uma caçada contra pessoas que querem a minha cabeça acima de tudo – até mesmo de sangue fresco, sendo que esse poderia muito bem ser o meu – era declarar seu próprio atestado de óbito.

Ainda bem que eu trabalhava muito bem sob pressão.

Segui para o que supus ser o meu quarto – após avaliar ambos os aposentos, julguei que o decorado em tons de azul era o de Tasha devido à cor de seus olhos, e o decorado em tons de vermelho era o meu, já que em toda a minha vida foi-me dito que vermelho era a minha cor – e após examinar os documentos na bolsa, concluí que estava certa.

Bem como me chamava Julieta Mazur, e meu pai era, de fato, Ibrahim Mazur. Ou seja, se meter comigo não seria uma boa opção para qualquer Moroi que soubesse dos feitos de um declarado “mafioso”. E isso também me levava a acreditar que ele sabia sobre esse disfarce.

Ele sim, minha mãe não. Imaginei a encrenca que isso criaria quando eu voltasse para casa.

Havia um celular de última geração na bolsa, e me perguntei por que Tatiana havia gasto tanto dinheiro assim comigo. Talvez simplesmente quisesse uma desculpa para torrar alguns milhões guardados há anos nas contas reais.

Anotei meu número em um pedaço de papel, caso precisasse passá-lo para algum outro peão que ainda não fora sido nomeado – ou pescado no ar, como fiz com Abe.

Abri o guarda-roupa, deparando-me com diversas roupas. Vestidos de balada ficavam no canto, mas na maior parte minhas roupas consistiam em jeans e blusas que me deixassem confortável o suficiente para estaquear morto-vivos. Os calçados se dividiam entre saltos e botas. Nenhum tênis. Parece que eu deveria aprender as maravilhas que um salto pode fazer numa luta.

Na penteadeira, havia alguns frascos de perfume – inclusive Amor, amor – e estojos de maquiagem. Mesmo não tendo aberto minha pasta, desconfiava que uma boate era um possível lugar para onde teria que ir caso quisesse conseguir alguma informação concreta.

Abri a gaveta da mesma penteadeira, e me deparei com um álbum de fotos. Abri, e me deparei com fotos que eu guardava em meu quarto, na Corte. Parecia que Tatiana havia pegado alguns objetos que eu considerava de valor antes que fossem jogados fora ou repartidos entre meus amigos após meu suposto funeral. Fiz um lembrete mental de agradecê-la mais tarde.

Após contemplar a vista que meu quarto tinha – para a praça principal de Novosibirsk – respirei fundo e caminhei até minha cama, puxando a pasta que Tatiana havia mencionado para o meu colo.

Lá, continha toda a “minha” história, bem como os já descobertos líderes dessa “rebelião”. Uma mulher chamou minha atenção por ter sido usuária de espírito antes de se tornar uma Strigoi influente. Li seu histórico com mais atenção que dos demais, e logo constatei que ela, Diana, era a minha “sósia”. Só que, para esconder os cabelos loiros e olhos verdes, fez com que encantassem um cordão com espírito e se passou por uma dhampir bem parecida comigo.

Em sua avaliação psicológica que fora feita antes que se transformasse por escolha própria – exatamente como Sonya Karp – estavam as palavras “estrategista” e “age a sangue frio”. Não duvidei nada disso. Normalmente, eu tinha um faro aguçado para as pessoas ao meu redor, porém ela havia conseguido me enganar bem demais.

Puxei o meu suposto histórico, lendo ali que eu havia sido abandonada na porta de Ibrahim, e como ele havia acabado de ser impedido de entrar na vida da filha biológica, me adotou e me deu todo o conforto e luxo possível, mesmo que suas governantas tomassem conta de mim na maior parte do tempo. Ou seja, eu deveria agir como se boates, jantares de gala e reuniões fossem coisas normais para mim, um entretenimento barato. Perguntei-me se Tatiana também exigiria que eu comparecesse a clubes de golfe e coisas do tipo.

Por mais que Tasha fosse da realeza, desconfiei que ela teria a mesma reação que eu.

Permaneci lendo por algum tempo, até que meu celular começou a tocar. Olhei, espantada, para o visor, até que vi o nome de Dimitri na tela.

Haviam começado a procurar por mim.

Ponderei quanto tempo levaria até que Tatiana avisasse sobre o tal acidente, e declarassem que eu estava morta. Pensei em me desfazer do celular, jogá-lo pela janela ou qualquer coisa do tipo, mas preferi mantê-lo. Algo me dizia que eu poderia precisar dele em determinado momento, mesmo que fosse apenas para ouvir algum recado de voz codificado ou coisa do tipo.

Joguei o aparelho sobre a colcha, e mantive a leitura. Havia estudado nos melhores colégios possíveis, e Tasha era uma amiga que havia conhecido num intercâmbio e, após ela perder um filho recém-nascido, e eu uma desilusão amorosa – muito engraçado, Tatiana. Muito mesmo, levando em consideração que ela dera a entender que sabia sobre Dimitri e eu –, havíamos concordado em sair da América e recomeçar num lugar totalmente desconhecido. Ou seja, a Rússia.

Passei para a lista de lugares a ir, e um deles era uma boate, como havia suspeitado. O outro, era um asilo, com direito a um nome e um quarto, e o outro era um clube de elite, em que, surpreendentemente, eu era membro há dois anos – segundo como constaria no sistema – mas havia me ausentado devido a um mochilão ao redor do mundo.

Aparentemente, eu deveria agir como se tivesse a vida dos sonhos. A vida que eu queria para mim, contanto que a parte da desilusão amorosa não existisse, e que, ao invés de ser Tasha no quarto ao lado, fosse Lissa ou Dimitri.

Bem, isso poderia esperar.

Quando o celular finalmente parou de tocar, olhei para a janela. O sol nasceria a qualquer momento.

Levantei-me, e fui até a cozinha, checando todos os armários e a geladeira. Todos impecavelmente preenchidos com comida americana.

Peguei um pote de macarrão instantâneo e, após rasgar a tampa e jogá-la fora, busquei um garfo e comecei a comê-lo, junto com uma lata de coca-cola que havia encontrado na porta da geladeira. Ouvi o celular chamar ainda mais incessantemente, até que um alarme soou – o que dizia que eu tinha uma mensagem de voz.

Fui até o aparelho, esperando até que começasse a tocar novamente. Nada. Tatiana deveria tê-los avisado, afinal.

Perguntei quantas horas haviam se passado desde que eu havia me separado dos demais, e constatei que, no mínimo, umas oito, mais do que suficiente para que sentissem minha falta na primeira escala e chegassem à Corte, deparando-se com Tatiana e seu jatinho.

Peguei o celular, levando-o para o balcão da cozinha, onde havia deixado minha refeição, e apertei o botão que me levava a ouvir a mensagem. Coloquei o pote vazio de lado, e me concentrei na voz de Liss, que soava um tanto histérica:

–- Rose, onde você está? – Ela fez uma pausa, como se tentasse controlar a si mesma. – Me diz que você está bem. Retorna a ligação, me manda uma mensagem, qualquer coisa! Estão especulando sobre você nunca ter chegado ao aeroporto, sendo que nos disseram que você iria em outro avião por medidas de segurança. Qual é a verdade, Rose? E... cadê você? Dimitri está desesperado, tentando entender qual é o propósito disso tudo, e porque você não atende o telefone! Só dê um sinal, qualquer coisa que mostre que você está bem.

Senti meu estômago se revirar. O sinal não chegaria nunca – pelo contrário. Vi que tinha uma nova mensagem de voz, e comecei a ouvi-la também. Dessa vez, Liss não tentava se controlar, e isso partiu meu coração:

–- Rose... É verdade, Rose? Você realmente- –- ela parecia estar sem ar, como se não conseguisse digerir a verdade – você se foi? É isso? Mas Rose, eu mal pude conversar com você! Nós simplesmente nos abraçamos e eu agradeci por você estar sem nenhum arranhão, mas não tinha ideia de que aquilo era uma despedida. Deus sabe como eu queria que não fosse. Você não pode ter ido, não assim, num acidente qualquer... Ah, Rose! Você é forte demais para morrer por mera coincidência. Não pode ser, não é... Você não pode estar morta! – ela praticamente gritou as últimas palavras. – Você é Rosemarie Hathaway. Você me prometeu estar ao meu lado pela vida toda... Você – ela engasgou – você prometeu! Ah, inferno. Eu amo você, Rose. Por que você se foi? Por quê?

Fechei o telefone antes mesmo de consultar se havia mais ou não. Não importava. Eu não voltaria para ela, não por um bom tempo.

Aliás, se eu quisesse fazê-lo da forma mais rápida possível, deveria estar enfiada naqueles papéis e me preparando para incorporar Julieta Mazur. Eu deveria estar lá. Assim como eu devia isso à Liss.


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Notas finais do capítulo

ENTÃO: Preciso adiantar que Iridescent terá 20 capítulos (19, na verdade. O vigésimo será o epílogo), e já tenho tudo programadinho e bonitinho! Se tudo correr como espero, vocês terão reviravoltas ainda maiores, principalmente da parte de Dimitri! UAHSUHAUHAUD
Queria agradecer ao apoio de todas vocês! Muuuito obrigada por estarem sempre comigo! E um obrigada MUITO especial pra minha sis de ♥, a Lacie aqui do Nyah, que além de ser uma autora incrível, também me atura quando surto após escrever os capítulos dessa fic.
Bjsbjsbjs e até a próxima!
(não me matem por esse final! USHAUSHUAH)