Malchiki escrita por SatineHarmony
— O que houve?
Essas três palavras ditas foram por Lelouch naquela sua voz grave e baixa — uma melodia para os ouvidos de Suzaku —, porém, no momento o garoto japonês estava angustiado demais para apreciá-la. Tentou disfarçar o seu nervosismo fingindo estar concentrado nos livros abertos à sua frente:
— Nada. — respondeu, fugindo do olhar violeta alheio. Este, por sua vez, franziu os lábios ao escutar tal mentira, mas limitou-se a deitar na sua cama. Ao sentir a cabeça repousar sobre os travesseiros, soltou um suspiro cansado.
— Você está bem? — Suzaku deixou transparecer uma leve preocupação em sua pergunta.
— Sim. — fechou os olhos, sentindo a exaustão deixar o seu corpo. — Estava na aula de Educação Física.
— Entendo. — assentiu, parecendo não querer aprofundar o assunto.
Lelouch virou-se de costas para o moreno, reprimindo um estalar de língua. Diferente de si, Suzaku não tinha o dom da dissimulação — qualquer um notaria que ele estava escondendo algo pela forma que estava franzindo as sobrancelhas, parecendo não saber o que fazer. No entanto, decidiu não pressioná-lo, afinal, sabia muito bem como o garoto agia quando sentia-se nervoso — ele começava a gaguejar, e fugia antes que fosse forçado a dizer uma única palavra.
Um constante farfalhar de papel podia ser ouvido, causado pelo tamborilar dos dedos de Suzaku contra o seu caderno. Lutava para focar-se no dever de casa, por mais que não tivesse o costume de fazê-los — esta era a primeira vez que verdadeiramente tentava. Manteve em mente o pensamento de que, se Lelouch conseguia resolver esses enfadonhos exercícios diariamente, ele também seria capaz.
Uma vez que conhecia o seu amigo de infância muito bem, não acreditou nem um pouco na falsa respiração ritmada que escutava vinda da cama — girou a cadeira na qual estava sentado, criando um alto rangido ao arrastar a madeira contra o assoalho.
— Hmmm? — fez o outro, fingindo estar sonolento.
— Por que você está agindo esquisito? — característico de sua personalidade, Suzaku foi direto. Lelouch virou-se para encará-lo. Seus olhos transpareciam coisa nenhuma, porém isso não significava nada — inexpressividade era um dos seus maiores dons.
— Eu passei as últimas duas horas correndo de Villetta. — fez uma careta, esquivando-se da verdadeira intenção da pergunta que lhe fora feita. Ao ouvir isso, o moreno tocou a ponte do nariz, frustrado. Suspirou internamente — aquele gesto era uma espécie de senha que Suzaku criara para "vamos ficar sérios agora". E percebeu o quão certo estava antes mesmo deste começar a falar:
— Nós já conversamos sobre isso, Lelouch. — começou, num tom suave. Então levou a cadeira até o lado da cama, aproximando-se do menino. — Você prometeu que se abriria mais para mim. — seus lábios se contorceram em um bico infantil.
— Você também prometeu. — bufou, sentando-se na cama e adotando uma postura tensa. — E eu estou assim porque você está assim. — deu um sorriso afetuoso, condenando-se mentalmente — por que ele era tão eloquente quando vestia a máscara de Zero, mas falhava com as palavras sempre que se tratava de Suzaku?
— Agora a culpa é minha? — resmungou de brincadeira. Fechou os olhos ao sentir os dedos macios de Lelouch afagarem-lhe uma das maçãs do rosto.
— Claro, mal entro no meu quarto e já o encontro estranho desse jeito... — disse, com falsa desaprovação. Sua mão subiu, passando a dedilhar os fios do seu cabelo castanho. Seu outro braço envolveu a cintura de Suzaku, puxando-o para o seu colo.
— Pois saiba que eu também estou assim por culpa sua. — cedeu às esquivas do outro, mas continuou evitando vê-lo nos olhos.
— O que eu fiz? — tentou usar um tom descontraído, porém foi possível ouvir a sua preocupação sincera.
— Nada, não foi bem você que fez algo... — hesitou. Eram em momentos raros como este em que o moreno não sentia vontade de ser honesto. Ele tinha consciência de que Lelouch fazia isso constantemente consigo — faltava-lhe com a verdade —, mas tentava ao máximo abstrair esse "detalhe", sabendo que, para o garoto, era algo quase natural. — Droga, Lelouch, por que você tem que ser assim? — exclamou, exasperado, empurrando o tronco dele contra o colchão. Este estava simplesmente atônito; já Suzaku exibia uma fisionomia imatura, parecendo lutar com as palavras.
— Ser assim como? — sua expressão tornou-se afetuosa diante da sua falta de jeito para se expressar, permanecendo imobilizado pelo menino sobre a sua cintura.
— Carismático, sei lá! — trincou os dentes, tentando formular alguma frase coesa. — Por você ser atraente, assim — Lelouch corou diante dos elogios ao avesso —, todo mundo gosta de você! — confessou, sua voz subindo alguns decibéis.
— Suzaku, você está tendo uma crise de ciúmes? — reprimiu um sorriso.
— Claro, todas essas garotas se aproximam de você com segundas intenções — lançou-lhe um olhar enviesado —, e você nem percebe. — revirou os olhos, e o outro teve a sensação de que aquilo fora um insulto. O menino franziu a testa, parecendo finalmente entendê-lo:
— Quem foi? — perguntou, tentando acalmá-lo. Escutou-o estalar a língua:
— Shirley. — abaixou a cabeça, não deixando-o ver o seu rosto.
— Oh. — piscou os olhos, pasmo. Sim, aquela não fora uma das coisas mais inteligentes a se dizer, mas ele não pôde evitar.
— Ela pediu conselhos para mim... — franziu as sobrancelhas — Conselhos sobre você.
Lelouch interrompeu o seu raciocínio, apoiando os cotovelos sobre a cama para levantar parcialmente o seu tronco. Seus lábios roçaram contra a orelha de Suzaku, e ele foi capaz de ouvi-lo suspirar com o seu toque.
— Sabe, você não facilitou nem um pouco as coisas para o meu lado. — comentou, impedindo-o de continuar falando. — Quando Shirley se declarou para mim, eu não soube ao certo o que fazer.
— Aposto que você ficou vermelho de vergonha. — sorriu o moreno, sentindo-se melhor. Seus dedos acariciaram levemente o rosto do outro, de modo apaziguador. Realização pareceu chegar aos seus olhos: — Então é por isso que você estava estranho?
— Palavras dela: "Eu pedi ajuda a Suzaku, mas ele ficou quieto..." — balançou a cabeça em desaprovação — Aquilo foi o suficiente para saber que você não estava bem. Tentei voltar para cá o mais rápido possível, com medo de que você tivesse tido uma ideia errada acerca disso tudo.
O garoto procurou forças para falar:
— Você rejeitou a Shirley? — isso saiu em um murmúrio.
— Claro — deu de ombros —, afinal, eu não estou com Suzaku? — perguntou retoricamente — Eu não esperava que Shirley nutrisse sentimentos como aqueles por mim, admito, mas isso não é grande o suficiente para nos separar. Não é, Suzaku? — ergueu uma sobrancelha, zombeiro.
O outro bufou em resposta:
— Por que no final das contas eu sempre termino sendo consolado? — lá estava aquela expressão de criança mimada de volta ao rosto do moreno.
— Porque você pensa demais. — sentou-se propriamente sobre a cama, envolvendo a sua cintura com as pernas de forma carinhosa.
— Eu penso demais? Eu penso demais? — o japonês revirou os olhos. Decidiu mudar de estratégia: — Compense.
— Compensar? — ficou confuso — Compensar pelo que?
— Compense pelo medo que eu senti nas últimas duas horas. — respondeu na lata.
— Huuum, quais seriam as suas intenções? — Lelouch foi debochado. Suzaku abriu um sorriso maldoso:
— Não sei, vamos descobrir?
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