Trouble! escrita por MyParadise


Capítulo 14
Recaída.




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O resto da semana tinha ocorrido bem. Os dias foram calmos e me deixaram feliz. Na quarta a noite fomos ao cinema, todos nós. Sem álcool ou nada que fizesse mal. Rimos, comemos besteira e falamos muita besteira. Na quinta foi a noite das garotas e todas nós fomos para a casa de Amy e fizemos uma festa do pijama. Fazia tanto tempo que não fazia essas coisas que me senti quase uma estranha entrando em uma terra diferente. Mas confesso que me diverti, me diverti e diferente do que era com o Gregory, eu fui dormir lúcida e acordei sem nenhuma dor de cabeça ou ressaca.

Vez ou outra uma vontade quase que insuportável de fumar um cigarro me deixava um pouco doida, mas eu mastigava alguma bala e conversava com a minha mãe para aliviar um pouco.

Eu tentava quase que o tempo todo não pensar em Gregory, mas no sábado da terceira semana de agosto, era o aniversário dele. Hoje ele estaria fazendo 21 anos e não estava comigo.

— Bom dia, querida. — minha mãe estava sentada a mesa naquela manhã. — Já estou indo trabalhar, mas sem problemas o café já está na mesa.

— Tudo bem. — abri um sorriso torto e me sentei desanimada a mesa.

— O que você tem?

— Ah... Nada.

— Não é o que parece. — minha mãe passou a mão pelo meu rosto e afagou minha bochecha. Não tinha o porquê esconder.

— Hoje é o aniversário do Gregory. Nós tínhamos planejado algumas coisas para comemorar.

— Tente não pensar nele, meu amor. — dizia minha mãe. Ergueu o braço direito e olhou as horas em seu relógio de pulso. — Hm, estou atrasada. Nos vemos depois.

Assim que saiu pela porta depois de me dar um beijo no topo da cabeça, fiquei ali sozinha. Respirei fundo enquanto as lágrimas irrompiam pelo meu rosto. Mordi meu lábio, mas não havia o porquê de não chorar. Eu estava sozinha e não precisava ser forte agora. Por que ele não podia estar ali? Senti meu coração apertar, enquanto uma vontade de fumar algo ou beber me invadiu.

Respirei fundo e corri para o meu quarto. Fiquei imóvel olhando para minha cama e lembrando que esquecera as garrafas ali, tão perto... Decidi dar uma volta. Peguei meu sobretudo preto e coloquei um cachecol em volta do pescoço. Desci as escadas para a sala e saí de casa.

Andei silenciosamente para o ponto de ônibus enquanto me deliciava com o vento forte que chacoalhava meus cabelos para trás. Era até uma sensação boa caso eu me esquecesse do frio que gelava meu corpo. Devia ter vindo com mais roupa. Peguei um ônibus para o parque central e não demorou muito desci no ponto em frente ao parque. Olhei para a árvore e me lembrei de Gregory, mas também me lembrei de Jimi e do dia em que pensei por alguns segundos na morte.

A minha vida estava boa agora, eu tinha meus bons amigos de volta, minha mãe me amava e nossa relação não podia ser melhor, já era completa. Eu não precisava de Gregory, nunca precisei. Ah... Droga! Eu preciso dele, preciso do abraço dele, do sorriso, dos lábios dele correndo pelo meu pescoço. Preciso de todos os prazeres que ele sempre me deliciou, preciso dele!

Andei pelas ruas, até parar em frente ao café que tinha ido com Jimi aquele dia. Entrei no mesmo e me sentei em uma das mesas. Uma garçonete veio logo em minha direção.

— Um café expresso, por favor. — pedi com um sorriso. A garçonete retribuiu o sorriso e se retirou.

Seria agradável encontrar Jimi por ali, por um segundo me arrependi de ter jogado seu número fora. Seria bom encontra-lo e conversar. Talvez nos déssemos bem, ainda mais agora que eu estou mais calma e recuperando o equilíbrio novamente.

Ouvi a porta do café se abrindo e ergui meu olhar para a mesa. Ali estava ele. Jimi! Sim! Ironia do destino? Nem tanto, até porque ele deveria frequentar bem o café, foi ele quem me levou até lá na última vez.

— Kate! — Jimi veio em minha direção com um sorriso no rosto.

— Ei. — correspondi o sorriso e me levantei da cadeira para cumprimenta-lo. Nos cumprimentamos com um beijinho no rosto e me sentei novamente. — Sente aqui comigo.

— Ah, obrigado. — ele se sentou. — Então, como vão as coisas?

— Bem, digamos que recuperei meu equilíbrio emocional. — deixei uma risada boba escapar. — E você?

— Talvez me perguntando porque a mocinha não me ligou. — ele fez uma cara um tanto séria, mas depois abriu um sorriso. — Estou brincando. Mas é sério, por que não ligou?

— Estive ocupada reestruturando minha vida, desculpe. — respondi calmamente. Ele assentiu com a cabeça e me fitou admirado.

— Tudo bem, não tem problemas. Você precisava mesmo de um tempo. — ele disse. No mesmo instante a garçonete voltou a mesa e deixou meu café sobre a mesa. Jimi pediu um cappuccino e a garçonete deu a volta novamente. — Mas você está ótima, Kate.

— É, foi um tratamento intensivo, digamos assim. Me livrei de tudo que é ruim. — respirei fundo e tomei um gole do café. Estava uma delícia. Aquela bebida era incrível, incrível o modo como me deixava calma e tranquila.

— Esqueceu o rapaz?

— Ah, ele ainda está aqui trancafiado em algum lugar obscuro. — dei risada. — Mas deixe-o pra lá. Da última vez que conversamos você me disse que gostava de ler, vamos continuar o assunto.

— Sim, não gosto, mas amo. Ler e escrever é a minha vida. — Jimi tinha um sorriso tentador no rosto, sua expressão era calma. Ele me passava sua calma e eu me sentia estranhamente confortável ao lado dele.

— Então você escreve também?

— Ah, sim. Meu sonho é ter algum livro meu publicado, mas quem sabe algum dia né?

— Pois é, nada é impossível.

O cappuccino de Jimi chegou e demos continuidade ao assunto. Ele me falou que morava sozinho e seus pais moravam em outro estado. Falou sobre a faculdade e comentamos os pontos positivos e negativos do ensino médio. Ele era bem inteligente, as vezes me sentia até intimidada, mas era algo que se esvaziava rapidamente. Depois que nossas bebidas acabaram, ele pediu um expresso e eu pedi um cappuccino. Era engraçado o modo com que o assunto fluiu. Quando ele perguntou da minha família, contei que meus pais se separaram há pouco tempo e que morava apenas com minha mãe.

— Caramba, já são 3 horas! — Jimi arregalou os olhos e peguei meu celular do bolso para verificar também. E ele estava certo. — Por sorte hoje estou de folga.

— Que chato, está perdendo o precioso tempo da sua folga comigo. — fiz um biquinho e demos risada.

— De maneira alguma. Eu estou adorando sua companhia. Estava ao ponto de te convidar para uma caminhada no parque.

— Tá falando sério?

— Não. — Jimi deu risada e dei a língua a ele, rindo também. — Mas caso você queira...

— Não vejo mal nenhum. Vamos?

— Se você estive disposta a aguentar o frio doido que está fazendo lá fora.

— Nada que um pouco de café não resolva.

Fomos para o parque depois de uma longa discussão para quem iria pagar a conta, na qual decidimos rachar ao meio. Levamos mais dois copos grandes de cappuccino para fora. O ar estava gelado, mas no primeiro gole de cappuccino já senti meu corpo se esquentar por dentro.

— Isso aqui vicia sabia? — perguntei, erguendo o cappuccino. — Culpa sua, estou me viciando em café.

— Não há vicio melhor, pode ter certeza. — Jimi sorriu, enquanto fomos andando pelos cascalhos do parque. Várias árvores imensas estavam a nossa volta, era um lugar maravilhoso.

— Estou vendo... — senti minha voz enfraquecer. Meu corpo estava um pouco fraco e parei de andar por um momento. Na minha direção vinha nada mais nada menos do que os amigos de Gregory e junto deles aquela vizinha vadia.

— Está tudo bem, Kate? — Jimi tocou meu braço e me fitou preocupado.

— É...

— E aí, Kate! — Lorelay gritou. Eles pararam na nossa frente e Jimi arregalou os olhos. Todos estavam com cigarros na mão e garrafas de bebida.

— Oi. — acenei com a cabeça. Meu Deus, o que Jimi deveria estar pensando?

Todos me cumprimentaram com beijinhos no rosto. Chris, Michael, Richard e Michelle. Menos a vizinha vadia.

— Vejo que já se recuperou do Gregory. — era ela. Como aquela vaca se achava no direito de se dirigir a mim?

— Devo mesmo te responder? — abri um sorriso irônico a ela, que revirava os olhos.

— O Gregory esteve aqui ontem a noite e pediu para te entregar isso. — Lorelay me entregou um envelope branco. — Eu ia te entregar segunda na escola, mas por sorte te encontrei aqui, então... Entregue.

— Ele esteve na cidade ontem a noite?— perguntei com as sobrancelhas arqueadas.

— Na cidade, na minha cama... — a vizinha deu uma risada sarcástica.

— Cala a boca, Melanie. — Richard deu um empurrão nela e me olhou preocupado.

— Ah, então a galinha tem nome? Melanie, um nome bem de puta mesmo. — abri um sorriso forçado, enquanto ela avançava pra cima de mim, bem na hora que Richard segurava seu pulso.

— É melhor irmos andando.

Segurei o envelope contra meu corpo, me segurando para não abri-lo ali naquela mesma hora. Respirei fundo, enquanto o pessoal seguia no sentido contrário ao meu e de Jimi. Jimi! Sim, ele estava ali. Havia me esquecido por completo. Aliás, eu não sabia exatamente o que pensar. Só que o Gregory estivera na cidade mais uma vez e nem pensou em me procuro. Muito pelo contrário, passou o tempo transando com aquela nojenta.

— Kate, você conhece aquelas pessoas? — Jimi me perguntou.

— Conheço, me desculpa, não quero que tenha uma ideia errada de mim. Eu as conheci quando conheci o Greg.

— Não tem problemas. Vem cá, senta aqui. — Jimi me segurou pelo braço e me puxou lentamente para nos sentarmos em um banco entre duas árvores. De repente o frio já me dominava por completo e lembrei do cappuccino em minha mão. Tomei um gole e senti meu corpo se aquecer um pouco, mas eu ainda permanecia naquele transe.

— Eu... Ele esteve aqui, Jimi. — respirei fundo, mas já era tarde, eu estava chorando. Minha mão tremia. Jimi notou e pegou o cappuccino da minha mão. Deixou o meu copo e o dele em um canto do banco e voltou sua atenção para mim.

— Ele te abala tanto assim?

— É que hoje é o aniversário dele, ele faz 21 anos. Eu não entendo como ele não sente necessidade de me ver. E só me deixou isso... — olhei para o envelope em minhas mãos, mas não podia abrir ali com Jimi.

— Imagino que não vai querer abrir o envelope comigo aqui. — Jimi abriu um sorriso torto. Passou o dedo pelo meu rosto e secou minhas lágrimas gentilmente. Senti minha respiração pesar. Sua mão estava fria, mas tinha me passado uma sensação gostosa. — Talvez seja melhor você ir pra casa agora.

— Tem razão. — assenti. — Me desculpa, eu só...

— Não precisa se desculpar, Kate. Tá tudo bem. — Jimi sorria pra mim de uma maneira completamente encantadora. Apesar de sua gentileza não podia deixar de me sentir mal. — Vamos, te acompanho até o ponto de ônibus.

Concordei e fomos andando em silêncio para o ponto. Minha garganta doía e eu não via a hora de chegar em casa para poder ver o que tinha no envelope.

— Sabe, eu adoraria ter um carro pra poder te deixar em casa. — Jimi deu risada e eu não me contive, ri também.

— Não se preocupe. — respondi.

Paramos no ponto de ônibus e decidi pegar novamente o número de Jimi. Não podia perder contato com ele de novo.

— Eu perdi seu número, tem como me passar de novo?

— Perdeu? — Jimi franziu as sobrancelhas me fazendo rir. — Tudo bem.

Entreguei meu celular a ele e lhe pedi que anotasse seu número ali. Ele me passou seu celular e fiz o mesmo. Pronto, nós dois já tínhamos um o contato do outro. Assim que terminamos de trocar os celulares, o ônibus que me levaria para casa estava vindo. Dei sinal para que ele parasse.

— Desculpa por hoje. Até depois. — lhe dei um beijo na bochecha e andei para entrar no ônibus.

— Fique bem, Kate.

A volta para casa não tinha sido tão calma como estar com Jimi. Eu me sentia inquieta e nervosa, ansiosa, sensações que só com Greg eu podia sentir. Era um medo quase que perturbador. Eu precisava tê-lo ali comigo mais que tudo. Me segurei para não abrir o envelope ali mesmo no ônibus. E quando parou no ponto, corri para casa.

Irrompi dentro de casa e a noite já começava a dar seus sinais. O céu já começava a escurecer e o frio a piorar. Entrei e subi depressa para o meu quarto. Tirei meus sapatos e os joguei em qualquer canto do quarto. Me joguei na cama e agilmente rasguei o papel do envelope. Havia um papel. Abri o papel e no mesmo instante rolou algo caindo diretamente no meu colo. Era um cigarro. Não era um cigarro qualquer, era um cigarro de maconha. Engoli o seco formado em minha garganta e tentei não me preocupar com isso agora.

“O Greglindo sente a sua falta, Kate. Espero que tudo esteja bem. Estou te enviando um presentinho. Divirta-se, princesa.”

Meu coração não estava quebrado, nem doía. Ele estava dilacerado, machucado e sangrando. Eu podia sentir novamente as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Como ele conseguia dizer que sentia minha falta se nem ao menos vem me ver? Aquela carta era uma piada! Por que ele fazia isso? Por que ele tinha a necessidade de me machucar? Aliás, como ele conseguia me machucar mesmo estando longe de mim? Mordi meu lábio inferior e me joguei na cama para trás. Puxei o cobertor e me cobrindo até a cabeça chorei como não chorava a muito tempo. Deixei as lágrimas me corroerem, me machucarem muito mais. Ele era um filho da puta, miserável. Deveria ter se divertido muito com aquela Melanie na noite passada, mas mesmo assim precisava levar embora o único resquício de felicidade que existia em mim.

— Volta, por favor, volta! — murmurei para mim mesmo, aquelas palavras não podiam ser mais inúteis.

Me levantei e lembrei do cigarro. Respirei fundo e o coloquei na boca. Me inclinei olhando para debaixo da cama e puxei a caixa que tinha minhas garrafas e algumas coisas a mais. Ali tinha um isqueiro, o peguei. Acendi o cigarro e dei a primeira tragada. Soltei a fumaça para cima, enquanto as lágrimas continuavam a sair. Eu o odiava com todas as minhas forças, odiava o fato dele me controlar mesmo a distância, odiava o fato de me sentir tão submissa, me odiava.

A brisa começou a me invadir, eu não precisava do Gregory quando tinha aquilo. Era uma delícia. Respirei fundo e inalei toda a fumaça. Foda-se, foda-se tudo.


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