Sem Direção escrita por Renan Suenes


Capítulo 6
O homem cego




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/380605/chapter/6

6

 Acordei com os berros de Suzan batendo incansavelmente na porta do banheiro. Beatrice passou a noite lá dentro, Jessie me ajudou a levantar, me deu bom dia e um beijo na testa.
- Hoje o dia vai ser difícil Peter, Suzan e Beatrice estão brigando novamente – disse Jessie sem entusiasmo.
- Vou dar um jeito nisso – fui em direção da porta, Ryan estava tentando convencer ela a sair, toquei no peito dele pedindo que se afastasse, agachei e olhei pelo furo da maçaneta. A chave atrapalhava um pouco, mas pude ver ela aos trapos, com a mão na face, supostamente chorando. Me ergui e pedi cuidadosamente. - Beatrice não está bem, ela precisa ficar sozinha, vamos usar a água apenas da torneira da cozinha, ok?
- Você só pode estar de brincadeira comigo – disse Suzan vindo pra cima de mim – eu vou tirar ela agora daí! – disse ela num tom agressivo, como se fosse algo ruim que deveria ser morto o quanto antes.
 Ryan segurou os pulsos de Suzan mas ela reagiu rápido, pegou uma cadeira da cozinha e jogou na porta do banheiro, chutava violentamente e gritava para que Beatrice saísse logo.
- Esse é apenas o começo! Sai agora antes que eu realmente fique brava.
 Ben pediu que ela parasse com o barulho e com a desavença, mas a mensagem mal foi ouvida, Suzan pegou a chave da porta de entrada e testou na porta do banheiro, incrivelmente a mesma se abriu. Beatrice lançou um olhar surpreso, sentia que ia apanhar, mas antes que as duas pudessem fazer qualquer coisa um homem entrou na casa, bateu os pés na madeira, esticou os ombros e estralou a mandíbula. Ficamos chocados, sem reação alguma, Suzan guardou a chave vagarosamente no bolso de trás e simplesmente tinha perdido toda a coragem de minutos antes.
 O homem mancava, usava um chapéu de palha, tinha as costas tortas e uma pele esverdeada, foi arrastando o pé direito pelo chão, particularmente parecia um zumbi, mas não tinha feições de um. Uma cidade redonda, com pessoas perdidas e zumbis a solta, o que mais eu poderia esperar? Ben se encolheu no sofá colocando só os olhos pra fora do lençol, Jessie ficou paralisada na porta do quarto, eu e Suzan adentramos no banheiro junto com Beatrice, enquanto Ryan se escondeu em algum canto da cozinha.
 O indivíduo fungava e rosnava, reparei que seu olho não era igual ao nosso, um era fechado e o outro azulado, deduzi então que ele supostamente era cego. Virou o pescoço sorrateiramente e avançou encima de Ben, no mesmo segundo só pensei em uma coisa, salvar meu único amigo.
 Agarrei o homem pela camisa e o joguei pro outro lado da sala, Suzan pegou a cadeira que tinha arremessado contra a porta do banheiro e desta vez lançou em direção do malfeitor. Daniel saiu do quarto, arregalou os olhos vendo o que estava acontecendo, Ryan pulou e encravou uma faca no peito do invasor, que gemeu de dor, porém prendeu-se ao braço de Ryan e deu uma grande mordida jorrando sangue. Jessie correu pra fora da casa junto com Ben, Suzan foi em seguida com Daniel, que mancava de um jeito estranho, Beatrice ficou ao meu lado e mostrava um semblante preocupado, com sede de justiça, pegou Ryan por um lado do braço e peguei o outro. O sol era escaldante naquela manhã, o ar um pouco rarefeito, Suzan tirou a chave do bolso e trancou a porta, deixando o homem cego preso e sem saída.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!