Sem Direção escrita por Renan Suenes


Capítulo 19
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PARTE 2

19

Eu ainda não conseguia ver absolutamente nada, estiquei os braços para tentar alcançar algo ou achar um interruptor, mas a agonia de escapar das pessoas que nos atacavam me deixava ainda mais nervoso.
Beatrice entrou em seguida, esbarrando nos meus pés, Jessie pedia socorro, sua voz parecia abafada, ela engatinhava para adentrar e alguém segurava sua calça por trás. Fixei o olhar no que estava acontecendo, sai para ajudá-la e chutei a pessoa que prendia ela do lado de fora.
– Galera, vamos logo! Precisamos fechar a porta! – gritava Beatrice.
– Onde está o Ben? – interroguei tossindo, a areia do chão começou a subir, como se alguém estivesse a jogando para o alto.
– Corre seu verme! – disse Daniel me empurrando.
A cena que se formou na minha frente foi basicamente inacreditável, todas aquelas criaturas que tínhamos visto na cidade tentando nos comer, estavam paradas a alguns metros de distância de mim. O silêncio que se formou foi assustador, ninguém falava, nenhuma respiração podia ser ouvida. Tentei me mover vagarosamente para a porta andando para trás, mas o que eu comecei a ouvir me fez parar no mesmo instante.
Passos largos, pisadas fortes, uma pressa indescritível, e uma luz de lanterna apareceu no meio de toda aquela multidão. Era uma luz fraca, amarelada, segui com meus olhos na direção dos movimentos, se localizava no teto, depois no chão, e depois para mim, até que foi se abaixando, se posicionando no queixo de uma pessoa que eu já conhecia.
– Bu! – disse Sarah.
Todos os doentes correram para cima de nós, entrei apressadamente pela porta e a encostei , botei a mão no bolso para pegar a chave, o bando empurrava com força a entrada, e todos aqueles braços amigáveis ao meu redor, bloqueavam a passagem daquela multidão de esfomeados.
– Não deixem que eles passem, estou tentando fechar a porta! – berrei, provocando uma leve dor na garganta. O desespero era tão grande, que eu tinha perdido a noção do volume da minha voz. As batidas frequentes, os rosnados e barulhos que vinham do outro lado me faziam tremer ainda mais.
– Rápido com isso, seu burro! A gente não tem todo o tempo do mundo pra ficar aqui. – falava Daniel.
Arregalei os olhos, acho que o adjetivo prestado por Daniel se adequava perfeitamente para mim. A chave estava do lado de fora da porta, eu não tinha a pegado de volta! Uma quentura subiu pelo meu pescoço e o único jeito de sair dali era correndo.
– Não consigo achar a chave! – menti – temos que correr, vamos seguir em frente!
– Eu não acredito. Você é mesmo uma anta. – bradou Daniel. – Eu estou com a perna machucada, eu não consigo nem caminhar direito.
A minha vontade de socá-lo estava ao extremo, quanto pior a situação, mais ele sabia provocar.
– Peter, por favor... – murmurou Jessie perto do meu ouvido. – Eu sei que você pode fechar a porta, faça o que for preciso.
Minhas mãos suavam, o pedido que eu iria fazer em seguida me deixou enrubescido.
– Eu esqueci a porcaria da chave do lado de fora... Soltem a porta, eu vou pegar essa droga e assim poderemos escapar. – demonstrei irritação.
Todos largaram as mãos e a entrada foi grosseiramente invadida por milhares de pessoas. Fui pisoteado, ergui o braço e botei meus dedos na maçaneta, puxei a chave e coloquei-a no bolso. Uma gosma escorreu pelo meu ombro, mesmo não enxergando nada, esperneei para afastar qualquer tipo de criatura para longe de mim.
Me levantei, empurrei a porta com muita força – entretanto, havia algumas pessoas ainda querendo ultrapassá-la – e tranquei-a, ou pelo menos achei que tinha feito isso.
– Peter, vem! – berrava Beatrice.
– Onde vocês estão? – perguntei já correndo na direção oposta da entrada, passando ao lado das pessoas em disparada sem enxergar nada.
– Apenas corra e siga a minha voz.
– Não pare de falar comigo!
– Eu não vou parar. Você conseguiu fechar aquela droga?
– Sim... Eu fechei. – meus pés começaram a doer.
– Não pare de correr. – ela falou ofegante.
– Calem a boca, aqueles monstros devem estar ainda atrás da gente. – disse Daniel.
– Eu sinto que vocês estão perto agora. – falei, aumentando ainda mais a velocidade.
– Sim, eu também sinto você se aproximando, e...
Tropecei em alguém, provavelmente era a própria Beatrice, rolei no chão e mais uma vez arrastei meu rosto naquela areia grossa.
– Não parem, não parem – gritava Jessie.
– Você está bem? – indaguei.
– Sim Peter, vamos. Não podemos parar.
Continuamos seguindo reto, suspirávamos de cansaço, cada um respirava de um jeito, meu baço me incomodava e minhas pernas suplicavam por um momento de descanso.
– Mas que m... – disse Ben. – eles ainda estão por aqui? Todo esse barulho são eles?
– Suponho... Que... Sim... – replicou Jessie, fazendo pausas.
– Galera, olha lá. É uma saída? O que é aquilo? – falei.
Era outra maldita porta, por baixo havia uma luz, alguma coisa havia por trás daquilo.
– Peter – alertou Beatrice. - já pegue a chave!
Finalmente comecei a identificar as coisas desde o momento que descemos para o subsolo, o rosto de cada um mostrava medo, desordem. Botei a chave no furo, girei duas vezes e empurrei a porta com meu corpo.


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