E mais uma vez parecia que ninguém naqueles corredores me via, ou reparava no meu jeito. Aquilo já não era um grito de socorro? O silêncio em minha volta, o jeito com que minha cabeça fica abaixada evitando o contato visual, ou a simples ideia de ver aquelas pessoas diariamente. Minhas roupas cinzas e largas. O fato de ter me afastado de todos? Não é visível que não quero fazer parte de nada? Quem sabe o meu enterro. Talvez esse seja o problema. E se eu quero fazer parte? Se quero que reparem no meu silêncio ensurdecedor, na minha dor, e na minha tristeza que só aumenta a cada dia? Diziam que eu era bonita, mas agora nem mesmo reparam em mim.

            Quando me afasto do meu armário quase bato em um dos meus “colegas”.

            — Desculpe – Digo e desvio dele, para seguir em frente.

            Mais uma vez sou ignorada. Como se não estivesse acostumada com isso viro-me e acabo encontrando o olhar dele. Clay Jensen. Lembro-me do jeito dele no ônibus ontem. Um pouco transtornado, mas quem sou eu para questionar o jeito das pessoas? Gostaria que todas desaparecessem, ou que eu fizesse esse favor a elas e parasse de trombar ou dizer “oi” nas horas erradas. Ele é uma das únicas pessoas que não me fazem querer vomitar. Não somos amigos, eu não os tenho mais. Não entendo muito bem o que significa amizade, quando aqueles em quem confiamos são os que mais nos magoam e os que mais podem arrasar com a nossa vida.  Sinto que talvez o Clay não seja desses que destroem a vida dos outros, ele é calado e tranquilo.

            Mas também não sinto que ele seja daqueles que podem salvar a vida de alguém.

            Estamos nos encarando, enquanto eu penso tudo isso sobre ele e também sobre mim. Talvez eu queira que ele sorria e não fique apenas me olhando. Exatamente como antes. Seu olhar é analisador. É assustado. Como se ele estivesse enxergando algo que eu não via, algo que ninguém mais via. Ele estava parado, mas eu precisava continuar a andar, então dei as costas finalmente, voltando para o meu mundo quieto e sozinho.

            Nos últimos anos eu tenho aprendido a evitar as pessoas. Todos. Tenho evitado as conversas. Evitado a sensação ruim que algumas dessas pessoas deixaram em mim. Não precisa-se muito para fazer com que alguém sinta. E muitas vezes não é um sentir positivo. Eu não devo culpar a eles pelas vezes que me senti sozinha ou perdida, mas eu culpo. Não quero impor minha presença àqueles que não a sentem.

            E diariamente eu me sinto vazia. Sem amor, sem piedade, sem. Simplesmente o nada tomando conta da minha vida.

            Escuto passos próximos aos meus, e uma respiração um pouco ofegante. Não quero voltar a virar, não quero voltar a sentir outro olhar questionador sobre mim. Mas de repente algo me levanta como que por um cabo de aço e a voz dele me atinge em cheio.

            — Skye...

            Eu me viro. E novamente aqueles olhos.

            Clay está muito perto de mim, e seu olhar não é mais o de antes. Brilha de um jeito diferente, e quando desvio os olhos percebo seu sorriso.

            — Oi... – Digo confusa e nós dois estamos parados no fim do corredor.

            — Será que poderíamos conversar? Não estou afim de ir para a aula hoje, e poderia jurar que você também não.

            —Pode ser... Para onde vamos?

            — Eu conheço o lugar perfeito... – Clay diz enquanto começa a andar e voltar a olhar para mim como se dissesse “Vamos”.

            Sigo ele, e caminhamos lado a lado.

            Uma nova sensação começa a tomar conta de mim, e de repente penso que meu vazio pode estar começando a ser preenchido. E que Clay Jensen possa salvar alguém. Ainda existe uma esperança. Pequena e quase nula, mas ela vibra em um cantinho bem escondido dentro de mim. E por esse segundo não odeio ser Skye Miller.