Come up to meet you

Tell you I'm sorry

You don't know how lovely you are

       

— Você veio.

Passos lentos e silenciosos. Ela seguia em direção ao piano que se localizava no meio do palco. Do outro lado, um auditório vazio. E bem ao lado do piano, ele.

— Eu vim. Mas eu tenho apenas alguns minutos. Sinto muito, mas não posso ficar por muito tempo. — Sua voz era firme, por mais que sua expressão demonstrasse o contrário.

— Só preciso de alguns minutos. — Ele segurou a mão dela enquanto se aproximava.

— Não. — Rachel deu dois passos para trás e sentou no banco do piano. Suspirou e piscou três vezes antes de olhar dentro dos olhos daquele que a teve por tanto tempo.  

— Rachel, eu devo desculpas. Sinto muito por ter agido daquele jeito, eu perdi minha cabeça. Eu não consigo nem imaginar você com outro cara. Só de ter passado pela minha cabeça que você estava com ele... 

— Isso não é nenhuma desculpa para ter dito todas aquelas coisas horríveis. Mesmo que eu tivesse feito qualquer coisa com ele, você não tinha o mínimo direito de falar aquilo de mim. — Seu olhar estava direcionado para o canto do auditório, e mesmo que pronunciasse cada palavra com raiva, àquela expressão permanecia estampada em seu rosto.

— Eu sei. E é por isso que eu vim te ver, por isso pedi para você vir. Para pedir desculpas. E também dizer o que eu devia ter dito antes. Você tem defeitos Rachel, milhares deles. Mas eu amo eles, sabia? Amo o jeito que você sempre quer tudo exatamente do seu jeito, amo sua paixão obsessiva pela Barbra, amo como você age quando assiste algum musical. Sem contar suas cantorias no chuveiro, no carro, no quarto, na aula, no refeitório e em qualquer outro lugar. — Ele deu uma risada que ecoou pelo auditório. — Você é ridiculamente adorável.

Por um momento as bochechas dela coraram, e ela rapidamente abaixou a cabeça, fazendo com que o cabelo criasse uma cortina que impedia o olhar dele. 

I have to find you

Tell you I need you

Tell you I searched you apart

— Nunca vai dar certo. Somos diferentes demais e eu queria ter percebido antes. Eu sou uma estrela, e a única coisa que me importa agora é alcançar meu sonho.

— Você pode negar o quanto quiser, mas você sabe que nós pertencemos um ao outro. Sempre vai ser assim.

— Por um tempo eu cogitei abandonar tudo por você. E eu fui muito burra por ter achado que teria valido a pena. — Rachel retrucou rapidamente.

— Rachel, fui eu que te obriguei. Fui eu quem te colocou dentro daquele trem e te deixou livre para seguir o seu sonho.

— Livre? Eu sempre fui livre. — Ela levantou-se com raiva, dando uma risada irônica e se posicionou menos de dez centímetros à frente dele.

 — Por que é tão orgulhosa? — Finn suspirou e virou a cabeça em direção oposta. —Eu preciso de você. Não vê? A única coisa boa que eu tive só para mim foi você. É ridiculamente desesperador o quanto eu preciso de você. É por isso que eu te afastei.

— Me afastou porque é covarde. — Ela gritou, chamando a atenção dele. — Não quer admitir que tinha medo de ser trocado ou esquecido. Finn, você também era tudo para mim. Assim como o meu sonho. Eu podia conciliar as duas coisas, porém você foi covarde demais para permitir. 

— Você é uma mulher de 19 anos, solta em Nova York, milhares de quilômetros distante de mim. Como você queria que eu agisse? — Seu olhar mostrou todo o sofrimento que estava sentindo.

— Onde fica a confiança? Os anos que namoramos e dedicamos tudo uns para os outros? — Sua cabeça doía e dentro dela era como se seu coração estivesse em milhares de pedacinhos.

— A questão é que eu nunca fui suficiente para você, Rachel. E é por isso que na primeira oportunidade, eu sei que você nem pensaria duas vezes em me trocar por algum astro da Broadway. — Finn queria gritar, socar, chutar tudo que via em sua volta para liberar toda aquela raiva que guardava para si mesmo desde quando percebeu que havia perdido quem mais amou, talvez, para sempre.

      

Tell me your secrets,

And ask me your questions,

Oh, let's go back to the start.

— Finn, você é melhor do que pensa. Para de achar que eu sou tão superior quando na verdade todos nós temos qualidades. — Por sua vez, Rachel segurou na mão dele, fazendo com que seus olhares se fixassem novamente um no outro.

— Tenho tantas qualidades que ainda estou preso aqui. — Ele olhou em volta e se amaldiçoou por ter sido estúpido em acreditar que poderia ter sido aceito em qualquer faculdade do país.

— Nós nos formamos tem menos de dez meses. Você pode tentar tantas coisas. O futuro é construído a partir dos nossos sonhos e metas. Se você não pretende alcançar algo, você automaticamente ficará preso... Aqui. — Sua voz estava mais calma e agora sorria ao falar. A Rachel apaixonada pela vida e pelo show bussiness estava bem ali.

— De que adianta, hein? Eu consegui perder tudo quando coloquei você naquele trem.                              

— Você realmente acha que me perdeu? Acha que eu não te amo? Como se tudo o que aconteceu durante os últimos três anos tivessem sido apagados da minha mente só porque conheci outra pessoa?

— Me diga você. A vida é assim. As coisas começam, mas acabam e nesse meio tempo você só pode aproveitar enquanto dura. Eu queria voltar ao começo, queria tanto aqueles tempos de volta. 

Runnin' in circles,

Comin’ up tails,

Heads on the science apart.

— Você sempre volta ao mesmo argumento, Finn. Eu não te traí, nem troquei. Só queria seguir a minha vida, tornar as coisas mais fáceis para mim e para você.

— E escolheu acabar com tudo? Ótima forma de tornar as coisas fáceis.

— Olha, Finn, eu cansei. Não consigo fazer você entender o que eu quero. Acho que isso significa que esta na hora de ir. — Ela se virou, apoiando o braço ao lado da bolsa. Antes que pudesse virar de costas e voltar para onde realmente pertencia, Finn segurou seu braço.

— Parece que você ainda adora uma saída triunfal. — Ele sorriu por um segundo, pensando em como ela sempre fazia os dramas mais ridículos em troca de atenção.                            

— Acho que velhos costumes sempre voltam para nos assombrar. — Dessa vez ela também sorriu, olhando para ele.

Nobody said it was easy,

It’s such a shame for us to part.

Nobody said it was easy,

No one ever said it would be this hard.

Nobody said it was easy,

It’s such a shame for us to part.

Nobody said it was easy,

No one ever said it would be this hard.

— Sinto falta da antiga Rachel. — Finn disse em um quase sussurro.

— Ainda sou a mesma. Só amadurecida. As roupas, o cabelo um pouco diferentes, mas dentro de mim, nunca deixei de ser aquela menina ambiciosa que podia usar a roupa de bichinhos de pelúcia mais ridícula do mundo.

— Sem contar todos aqueles suéteres de cavalos, hienas, ou seja lá que animal era aquele. — Agora os dois riam.

— Você sempre amou aquelas roupas... Lembra quando eu tentei mudar meu estilo e você enlouqueceu?                             

 — Coisas boas não devem ser mudadas. Isso incluí eu e você. — Finn colou o seu corpo no pequeno e delicado dela, causando certo arrepio em Rachel.

— Não vim aqui para isso, você sabe.

            — Eu posso te fazer mudar de ideia, só me dê uma chance. – Lentamente, envolveu a cintura dela, enquanto a outra mão contornava cada mínimo detalhe daquele rosto delicado.

Ela colocou os braços envolta do pescoço dele, tendo que esticar-se um pouco. Cada centímetro mais perto causava um arrepio, fazendo com que os dois corações se acelerassem cada vez mais. Era como se fosse a primeira vez.

Finn segurou o rosto de Rachel, e seus lábios finalmente se tocaram. De imediato, apenas um selinho. Depois, o início de um beijo desesperado, urgente. Como se ambos estivessem necessitando um do outro. Rachel seguia o ritmo do beijo, aquela antiga sintonia que tanto gostava. Ele sorria toda hora, parando para respirar. Os seus pensamentos estavam a mil, querendo parar aquele momento para sempre.

Oh, take me back to the start.

Ele apoiou o corpo de Rachel no piano, se afastando dela e se abaixando para pegar algo que estava embaixo do banco. Era uma toalha de mesa, e um cesto. Estendeu a toalha no chão, tirando todas as coisas que estavam dentro do cesto. Imediatamente, Rachel reconheceu o significado daquele encontro.

— Oh meu Deus! Você fez isso mesmo?

— Entendeu o motivo de ser tão importante? Eu queria fazer algo que significasse o quanto eu te amo e tudo que já passamos... E ainda vamos passar.

Eles se sentaram ali, e o olhar dela só transmitia surpresa e alegria. Aproximou-se novamente dele, iniciando um beijo. Conforme os segundos passavam, ele ia deitando-a ali, como fez aquela vez.

— Sabe qual a diferença dessa vez? — Finn parou o beijo, olhando para ela.

— Qual?

— Agora eu tenho certeza de uma única coisa: você é o homem da minha vida, e mesmo que eu tente, isso não vai mudar.

— Isso significa que estamos juntos novamente? — Ele estampou um sorriso enorme no rosto.

— Eu te amo, Finn. — Ela riu com a expressão dele.

— Eu também te amo, Rachel. — Sussurrou, voltando a beijá-la, voltando ao início.