Tempestade escrita por DanizGemini


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Esta fic foi originalmente publicada no fórum Need for Fic para o Tributo do Dia dos Namorados



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Sentia-se terrivelmente sozinho. Não gostava de frio. E definitivamente odiava tempestades.

Sabia que aquilo era ridículo para alguém como ele. Embora fosse muito jovem, não era mais um garoto, acabava de sagrar-se cavaleiro e não devia temer nada, quanto mais fenômenos naturais.

Sentia-se patético, mas não conseguia evitar a sensação ruim. Tempestades sempre lhe traziam péssimas recordações.

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O mal tempo fez com que os pescadores retornassem para suas casas novamente de mãos abanando. Fazia uma tempestade terrível naquela noite. O barulho dos trovões era assustador.

A criança sabia que provavelmente não teria o que comer, mais uma vez. Mas, apesar de ter apenas sete anos, já reparava que, por mais pobres que fossem o homem sempre arranjava dinheiro para comprar bebidas.

Daquela vez não foi diferente. Vivia com o pai desde que sua mãe morrera e não conseguia se lembrar dela. Não sabia nem mesmo seu nome. O pai apenas referia-se a ela como uma “vadia”, palavra que nem entendia ainda o significado, mas suspeitava, pela entonação que não fosse nada bom. Tinha passado toda sua breve vida suportando todo tipo de ofensa verbal e cumprindo ordens, no limite que seu corpo franzino podia aguentar.

Mas aquela noite foi diferente. O olhar embriagado do velho pescador não continha aquele costumeiro desprezo pelo garoto. Era ódio. O menino encolheu-se diante da ferocidade do olhar. O homem aproximou-se dele puxando-lhe os cachos loiros pela nunca. Seus olhos encheram-se de lágrimas pela dor. Pôde sentir o cheio de bebida quando o pescador gritou:

- Cada dia que passa fica mais parecido com a vadia da sua mãe. Os olhos e até o maldito cabelo é igual. Sabe por que se parece tanto com ela e nada comigo? É porque não sou seu pai. É filho de um qualquer com quem aquela vagabunda se deitou. E você sabe o que um bastardo desgraçado como você merece?

O menino meneou a cabeça negativamente, assustado. Por um momento até sentiu-se aliviado por saber que aquele homem que o maltratava a vida toda não era verdadeiramente seu pai. 

Mal teve tempo de tentar entender aquelas novas informações. A tapa atingiu sua face com tanta intensidade que o jogou no chão. Sentiu um gosto metálico em sua boca. E a surra continuou.

Para ele uma eternidade se passou, enquanto era surrado e ouvia as mais baixas ofensas contra si e sua mãe. Fechou os olhos. Sentia que estava prestes a perder os sentidos e torcia para que isto acontecesse logo, assim poderia deixar de sentir dor.

Mas, de repente, uma sensação estranha apossou-se de seu corpo. Uma espécie de fúria que jamais havia sentido antes. Abriu os olhos, encarando o seu agressor. Com uma força que não sabia que possuía agarrou o punho do velho, quando estava prestes a receber mais um tapa na face.

- Pare de xingar minha mãe, seu desgraçado!

A fúria do homem pareceu triplicar.

- Como ousa?! É agora que vou te matar, maldito!

O garoto sentiu mãos fortes pressionando seu pescoço e teve a certeza que iria morrer.

Mas alguém entrou no casebre. Com um só golpe derrubou seu algoz. Foi pego no colo delicadamente. Olhos verdes o fitaram com uma ternura que nunca havia conhecido. A voz suave chegou a seus ouvidos antes que desmaiasse:

- Não se preocupe, está em segurança agora. 

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Depois ficou sabendo que o homem que o resgatara chamava-se Aiolos. Era um cavaleiro de Athena, da elite. E com grande espanto soube que ele também era destinado a ser um destes cavaleiros. 

Era difícil de acreditar, mas se o tal Aiolos dizia que ele iria ser forte e se tornaria um grande cavaleiro, decidiu crer nas palavras de seu salvador. Daquele dia em diante, prometeu que iria tornar-se forte. Que nunca mais alguém o humilharia daquela maneira. Que iria defender os mais fracos contra qualquer tipo de injustiça.

Tinha conseguido manter sua promessa. Mas não havia sido fácil. 

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Já havia dois anos que estava no santuário e adaptava-se bem, apesar da dureza dos treinos. Saga e Aiolos comentavam que o aprendiz possuía um talento bélico inato. Terminou mais um dia cansado, porém satisfeito pelo seu bom desempenho. Foi dormir tranquilo.

Entretanto, de madrugada, houve uma tempestade. Sempre que chovia daquela maneira, ele acordava sobressaltado e não conseguia evitar as lágrimas teimosas que lhe invadiam a face. Como sempre, se encolheu sentado na cama, agarrado ao travesseiro, tentando sufocar o pranto e não acordar ninguém.

Relampejava e o estrondo de cada trovão o fazia estremecer. Aquela era a pior tempestade desde que chegara ao santuário. E novamente se sentia só e ameaçado.

Um toque suave em sua mão o fez recuar apavorado, despertando-o de suas lembranças. A luz do relâmpago permitiu-lhe reconhecer quem o tocava, no dormitório escuro. Inconfundíveis olhos azuis escuros o fitavam inquisidores:

- Por que sempre fica assim durante tempestades?

Sempre ficar? Então ele percebera? Droga! Odiava que o vissem fragilizado daquela maneira, afinal em sua cabeça, já era quase um homem aos nove anos. E quem fora perceber? Justo aquele garoto estranho, tão sério que nem parecia uma criança, que não se misturava com ninguém, nunca brincava, nunca sorria e sempre ignorava seus gracejos e tentativas de aproximação. 

- Não quero falar sobre isso, Camus. – Afirmou, tentando aparentar uma firmeza que não possuía. Mas um novo trovão o fez estremecer novamente.

No instante seguinte, braços o envolviam suavemente. Arregalou os olhos azuis, não acreditando que o menino que sempre o evitava aproximava-se daquela maneira. Deveria mesmo aparentar estar muito mal para o outro aproximar-se assim e odiava que sentissem dó dele. Cogitou afastar-se, mas ouviu a voz com o sotaque francês, falar delicadamente:

- Acalme-se, estou aqui com você, vai ficar tudo bem, Milo. – Na realidade, nem Camus fazia a menor ideia do motivo que o fazia agir assim. Simplesmente não conseguia suportar ver o outro sofrendo daquele jeito e não fazer nada.

Aquele abraço ia dando à Milo gradativamente uma sensação de paz que jamais havia sentido antes. E Camus permaneceu ali, até que o escorpiano caísse no sono.

A partir daquele dia, Camus nunca mais saiu da vida e dos pensamentos de Milo. Tornaram-se amigos inseparáveis, apesar das personalidades tão distintas. Camus suportava a energia insaciável de Milo e este compreendia o gênio sério e frio do francês. Milo se atrevia a dizer que ocasionalmente conseguia arrancar discretíssimos sorrisos de Camus. Era a única pessoa que a realizar esta façanha e tinha muito orgulho disso.

Mas tinham um dever a cumprir. Eram destinados a serem protetores de Athena e tinham que terminar seus treinamentos em locais separados. Os anos que permaneceriam afastados pareciam uma eternidade para Milo. Ao despedir-se de Camus, gostaria de abraçá-lo e dizer que sentiria uma falta insuportável dele.

Porém Camus estava mais frio e sério do que nunca. Apertou sua mão e disse que se veriam em breve, sagrados cavaleiros de ouro. Milo concordou e desejou-lhe boa sorte, na sua maneira mais firme e bélica. Esperou que o francês se afastasse para deixar as lágrimas correrem em seu rosto. Odiava que o vissem chorando.

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Quatro anos depois, estava de volta ao santuário, com a tão sonhada armadura. Não tinha dúvidas que a qualquer momento Camus também retornaria com a sua. Tinha certeza que o amigo se tornaria um exímio cavaleiro.

Amigo? Não estava certo se Camus ainda era seu amigo. Trocaram cartas durante todo o período que passaram separados, mas conforme o tempo ia passando, as respostas de Camus eram cada vez mais frias, como se o gelo da Sibéria tivesse tomado conta por completo do francês.

Sua única certeza era que a dor de estar separado de Camus era pior do que qualquer treino ou combate que tivesse que suportar. Por mais que tivesse tentado sufocar aquele sentimento insano descobriu-se apaixonado pelo melhor amigo. Como se isso já não fosse complicado o suficiente, sabia que uma pessoa como Camus nunca o corresponderia.

Socou com raiva uma das paredes de sua casa. Lá fora, uma daquelas odiosas tempestades. Graças a Deusa não havia chovido daquele jeito da ilha de Milos. Agora ironicamente, aquele temporal parecia dar-lhe boas-vindas ao santuário.

Odiava a si mesmo por ainda deixar-se afetar pela tempestade. Constatou que dentro do poderoso guerreiro ainda havia um garotinho assustado que estremecia com trovões. Que sentia uma falta tão grande do melhor amigo que chegava a latejar em seu peito. Um garoto que se transformava num homem que se culpava de seus sentimentos, pela certeza de jamais ser amado de volta. Um homem que ainda chorava, embora detestasse admitir.

Estava perdido em seu trauma do passado que se misturava com suas dores do presente, quando foi surpreendido.

Seus olhos arregalaram-se da mesma maneira que daquela primeira vez, quando braços agora fortes o envolveram. Sem se desvencilhar do abraço olhou para trás e fitou os conhecidos olhos azuis escuros. Então, teve a certeza que, por mais que quisesse lutar contra aquele sentimento, jamais poderia deixar de amá-lo.

- Senti tanto sua falta, Camus... – Milo se rendera e nem tentava mais controlar as lágrimas que corriam pelo belo rosto moreno.

Camus, entretanto, novamente o surpreendeu. Não lhe fitou com o costumeiro olhar sério e frio. Pelo contrário, o aquariano o olhou com doçura. Aqueles olhos de Milo lhe despertavam uma ternura tão grande que pareciam minar seu rigoroso auto-controle. Tocou delicadamente a face do escorpiano.

- Nunca mais permitirei que você chore Milo. Estou aqui, você vai ficar bem. Estamos juntos agora. Também senti sua falta...

Depois de falar isso enlaçou o escorpiano em um abraço ainda mais apertado.

Milo mal conseguia crer nas palavras de Camus. Será que ele poderia também sentir-se como ele? Havia possibilidade de...? 

Porém Milo não conseguia, nem queria pensar em mais nada naquele momento. Apenas deixou-se ser envolvido por aqueles braços, tendo a maravilhosa sensação de não estar mais sozinho.

Fim


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Oi! Ah, eu sei que em muitas fics e fanarts o Camus aparece com os olhos rubros. Mas no anime ele tem olhos azuis. Então, na minha cabeça, eu acabei misturando as aparências e sempre o imagino ruivo de olhos azuis escuros. XD
Fic que saiu meio que num surto, começada a ser escrita em meio a uma forte tempestade aqui em São Paulo. 
Sei que não estou à altura do casal, mas sempre quis escrever este algo sobre Milo e Camus, certamente um dos casais eternamente mais amados do fandom. É minha primeira fic com eles.

Agradeceria se pudessem comentar. Muito obrigado a todos que lerem.


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Notas finais do capítulo

Oi! Ah, eu sei que em muitas fics e fanarts o Camus aparece com os olhos rubros. Mas no anime ele tem olhos azuis. Então, na minha cabeça, eu acabei misturando as aparências e sempre o imagino ruivo de olhos azuis escuros. XD
Fic que saiu meio que num surto, começada a ser escrita em meio a uma forte tempestade aqui em São Paulo.
Sei que não estou à altura do casal, mas sempre quis escrever este algo sobre Milo e Camus, certamente um dos casais eternamente mais amados do fandom. É minha primeira fic com eles.

Agradeceria se pudessem comentar. Muito obrigado a todos que lerem.