Mutant World escrita por Jenny Lovegood


Capítulo 52
Escura Madrugada


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouquinho para postar, eu sei. Desculpem! Muitos trabalhinhos da escola, trabalhinhos importantes até, então não tive como.

Aqui estou eu. Não digo com 100% de certeza, mas esse é nosso penúltimo capítulo.
(Com exceção, é claro, da surpresa que preparei pra vocês. - Ops, eu não devia ter dito!)

Soundtrack quando aparecer o asterisco *
https://www.youtube.com/watch?v=BGR2GYep9CUO



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O anoitecer da ilha era um tanto mais assustador. Em meio à escuridão, vultos podiam ser vistos e até mesmo confundidos com a brisa fria que corria pelas matas e pelas folhagens que caiam das árvores. O mar agitado da praia em decorrência da tempestade era um sinal de que no fim daquela noite, tudo estaria para mudar.

Hermione torcia para que tudo desse certo. Ela voava com o máximo de precisão que podia, suas asas batiam em suas costas o mais rápido que podiam; e só o que a garota pensava era em conseguir ajudar seus amigos e suas famílias. A morena já estava há uma distância significativa da ilha, suas asas batiam muito rapidamente e ela sabia que já estava livre daquele lugar infernal. Ela estava livre, mas seus amigos ainda não.

Mesmo receosa de que aquele plano pudesse dar errado, Hermione se empenharia em fazê-lo dar certo. Mesmo correndo o risco de chegar na delegacia e não encontrar o policial de quem Fleur se referia, acabar sendo presa e ficar totalmente sem comunicação com os outros mutantes, Hermione faria o que Fleur disse. Ela não conhecia a policial, mas sabia que, se a mulher quisesse matá-la e a seus amigos, já teria feito. Além disso, Hermione conseguia ver uma pureza no olhar de Fleur, conseguia também sentir as vibrações do corpo da policial. Fleur era do bem, e só queria ajudar; disso Hermione estava certa.

A preocupação com Rony não deixava de afluir os pensamentos da mutante. Ela se lembrava a todo segundo de que ele estava se arriscando dentro do laboratório ao lado de Fleur e Cato, e o medo de que algo acontecesse com o ruivo era inegável no rosto de Hermione. Ela voava em uma altura consideravelmente alta a olhos nus, o vento batia forte contra os olhos castanho-amendoados dela, enquanto suas asas guiava seu corpo para longe das nuvens que lhe deixava com pouca visibilidade do céu.

Das poucas vezes que Hermione voara em sua vida, ela havia guardado a emoção dentro de seu peito. Era inexplicável a sensação de estar há incontáveis metros de distância do chão, sem absolutamente nada segurando-a, ou dando suporte ao seu corpo. Suas asas eram incrivelmente fortes pois aguentavam sem dificuldades o peso da morena, e ela nunca sentia como se fosse cair, como se pudesse cair. Pelo contrário, Hermione sentia-se extremamente segura no céu. A habilidade mutante dela era extraordinária.

E ela, bem próxima das nuvens, bem dentro do céu, pedia para Deus cuidar dos seus amigos, de Rony, e fazer com que tudo acontecesse da forma que devia acontecer. Hermione acreditava em Deus, sim. Claro que da forma com que sua vida foi conduzida depois da descoberta dos mutantes, depois do sequestro e da prisão na ilha, depois de tudo o que teve de enfrentar, a garota se questionava se Deus estava realmente no céu, olhando por ela e por todos na Terra. Ela tinha a certeza de que Deus existia, mas não sabia se ele olhava por ela e por quem buscava paz na vida. Mas ainda assim, Hermione nunca deixou de perder a fé. Ela sabia que no fundo do poço sempre haveria esperança, e no fim do túnel sempre havia luz. Se não houvesse, por quê arriscar tudo o que ela e seus amigos estavam arriscando, desde o momento em que fugiram de suas casas para lutar por sua sobrevivência?

Ela tinha esperança de que as coisas dariam certo, mesmo apesar de todas as coisas ruins que rodeava sua vida nos últimos tempos. Mesmo com as lutas, com os ferimentos, com as dores e o medo da perda, as coisas poderiam sim dar certo. As coisas poderiam dar certo porque ela acreditava, e as pessoas que acreditam sempre alcançam seus objetivos. Hermione acreditava que tudo mudaria no fim daquela longa noite. Ela voltaria a enchergar as cores no mundo, ela voltaria a ter paz, e ela viveria feliz, porque era assim que Hermione enxergava seu futuro. Ela não deixaria nenhuma médica maluca arruinar sua vida, e a vida das pessoas que ela amava.

* Quando Hermione avistou as luzes da cidade de Manchester muito abaixo de seu corpo, ela sentiu a chama da esperança invadir seus sentidos. Ela estava em casa de novo, e se dependesse dela, em poucas horas seus amigos e sua família estaria ali com ela. O plano só precisava dar certo.

"Tem que funcionar, tem que funcionar."

Ela voou por mais um tempo, até avistar um caminho onde ela sabia que a levaria até a delegacia. A mutante nunca precisou ir até lá, até mesmo porque seus pais a privavam de ir a inúmeros lugares, inclusive a sair fora de casa em ocasiões festivas, onde haveria muita gente. Mas sim, por sorte Hermione sabia onde ficava a delegacia da cidade, e isso a ajudaria muito. Afinal, ela sabia que quanto mais rápido encontrasse o policial Bill e explicasse pra ele o que estava acontecendo, mais rápido eles encontrariam uma força de resgatar o resto do grupo que ficou na ilha. A ilha estava bem mais perigosa por causa da invasão dos policiais no laboratório e da fuga dos mutantes de Bellatrix. Hermione sabia que seus amigos precisavam sair de lá o mais rápido possível, assim como as outras mães e Katy e Gabriela.

O som do bater das asas da garota foi cessando na medida em que ela diminuía a velocidade do voo, enquanto pousava numa rua deserta e escura. Havia alguns poucos carros estacionados próximos ao meio fio, e só um poste de luz estava aceso. Já era madrugada.

Atentamente, Hermione pousou na calçada e andou um pouco atrás dos carros para se certificar de que a rua estava realmente vazia. Se alguém a visse de asas abertas ali àquela hora da noite, se desesperaria e chamaria logo a polícia; e Hermione certamente sabia que metade da delegacia estava contra os mutantes.

Tendo a certeza de que estava sozinha, Hermione pôde respirar fundo. Ela olhou em volta. Estava tudo exatamente como estava antes. A cidade parecia calma, tranquila, como sempre fora. Entretanto, tudo estava diferente, a mutante era capaz de sentir. Ela fechou suas asas e saiu da calçada, caminhando ao redor de um carro cinza e olhando o vidro da porta do motorista. Sem encostar no carro, com receio de que houvesse um alarme ali dentro, Hermione forçou seus olhos para visualizar dentro do veículo. Existia um relógio digital ao lado do volante, e então a garota soube que eram 1:17 da manhã.

Hermione respirou fundo mais uma vez e se afastou do carro. Ela não tinha mais tempo a perder, sabia que não.

Seus passos para encontrar a delegacia eram largos e rápidos. Ventava um pouco e o cabelo da garota voava sobre suas costas. Ela sempre girava a cabeça para ter a certeza de que ninguém estava atrás dela, para ter a certeza de que ninguém sairia de sua própria casa àquele horário e encontraria uma mutante que tinha seu rosto estampado em jornais e noticiários, e para ter a certeza de que ninguém a impediria de chegar até a delegacia.

A delegacia ficava há dois quarteirões dali. Hermione poderia chegar lá voando, mas se arriscaria demais para os policiais e ela não tinha muita vantagem naquele momento. Sendo assim, ela optou por correr pelas ruas de Manchester até chegar lá.

Um arrepio percorreu o corpo de Hermione quanto ela pisou na calçada da porta da delegacia e leu as enormes siglas em aço inox "DECOMM". A garota não precisou de um mínimo esforço para traduzir aquelas siglas, ela soube imediatamente que se tratava da Delegacia de Controle de Mutantes de Manchester.

"Antigamente não costumava ser assim.", ela pensou.

Hermione soltou um suspiro quando levou a mão até a maçaneta da porta. Ela sabia que estava super tarde para alguém trabalhar naquele lugar, mas também sabia que muitos policiais sempre faziam plantões na cidade, provavelmente em maior quantidade desde que os mutantes foram descobertos.

Ela girou a maçaneta, abriu a porta e baixou um pouco rosto ao entrar na delegacia. Haviam dois homens sentados frente a uma mesa cheia de papéis espalhados em cima. Um dos homens usava farda e o outro não, e esse que estava sem farda tomava um café em uma xícara branca. Não parecia existir muito movimento ali. Assim que Hermione entrou, a atenção dos policiais se voltaram para a garota. O homem que tomava café arregalou um pouco os olhos quando estudou a aparência da garota; ela não a reconheceu como mutante, mas se assustou com os restos de sangue esparsos pelo corpo e pela roupa dela.

– Garota, o que aconteceu com você? - O policial largou a xícara de café sobre a mesa e se levantou da cadeira, o seu parceiro fez o mesmo. Hermione, mesmo de olhos um poucos baixos, prestou atenção nos traços dos homens. O que se dirigiu à ela era alto, um pouco magro e tinha cabelos escuros. O outro homem, que há poucos analisava um dos vários papeis jogados sobre a mesa, era mais forte, tinha uma mancha azul-esbranquiçada em um de seus olhos e se cabelo era castanho. Hermione deduziu que nenhum daqueles policiais era Bill, e isso a fez ficar nervosa.

– Quem é você? O que houve com sua perna? - O policial do olho manchado se aproximou e Hermione recuou três passos. Os dois homens se olharam, estranhando.

– Estou bem. - Hermione sibilou e respirou fundo. Ela tentava não encará-los; não podia ser reconhecida.

– Você está sangrando, o que houve? Algum mutante atacou você? - O homem magro arqueou as sobrancelhas enquanto fixava o olhar em Hermione, analisando-a profundamente. Hermione sentiu sua boca tremer um pouco e então ela desviou o rosto.

– Preciso falar com o policial Bill. - Hermione sentiu a aproximação dos dois policiais. Ela já estava próxima à porta.

– Você conhece o William? - O policial fardado começava a estranhar a garota. - De onde?

– Quem é você, garota? - O outro policial também estava estranhando.

– Eu só preciso falar com Bill. Só isso. Ele está aqui? - A mutante continuava sem encarar os policiais, mas sabia que eles estavam analisando-a de cima a baixo.

– Se você quiser falar com ele, primeiro terá que nos dizer quem é você, e o que está fazendo nessa delegacia à essa hora, com o corpo sujo de sangue. - Foi o policial do olho manchado quem disse.

– É, o que aconteceu com você? Matou alguém? - Hermione sentiu frieza nas palavras do homem.

– Ela não seria idiota de matar alguém e aparecer na delegacia, Caleb. Ou seria? - O homem de farda lançou um olhar questionável para Hermione, que teimou em não olhar de volta.

– Realmente. - Caleb deu uma olhada para a mesa onde ele e seu parceiro estavam sentados há pouco. Ele franziu a testa e caminhou até a mesa, então começou a passar a mão por sobre os papeis bagunçados sobre ela. - Então, ou ela foi atacada por um mutante... - Caleb rangiu os dentes ao encontrar uma foto suspeita sobre um dos papéis, que na verdade eram fichas de mutantes. A foto era de uma garota que tinha cabelos castanho-amendoados, e um volume aparente nas costas. Na descrição constava: Hermione Granger, 19 de setembro de 1986, Asas. - ou você é uma mutante. - O policial voltou estupefata para perto do outro, Grégore, e entregou a ficha da garota para o colega. A foto era de uma garota bem mais nova do que aquela que havia entrado na delegacia, mas no momento em que Hermione se assustou com sua descoberta e inconscientemente olhou os dois policiais, os traços dela foram associados imediatamente com os traços da garotinha da ficha mutante.

– É uma mutante! Desgraçada! - Grégore bufou e correu até Hermione no instante em que ela tentou abrir a porta da delegacia e fugir. A garota foi agarrada pela cintura e gritou, tentando se livrar. Ela deu vários chutes fortes sobre a porta de vidro fumê enquanto agarrava os braços do policial com as mãos, e cravava suas unhas na pele dele.

– ME SOLTA! - Hermione se debateu, sendo arrastada pelo policial para próximo de Caleb, quem havia corrido até um dos armários da delegacia e pegado uma das armas de lá. Hermione tentava acertar com chutes o corpo de Grégore, mas sem sucesso.

– Como se atreve a vir até a delegacia? - Grégore apertou as costelas de Hermione e a garota gemeu de dor. Caleb correu até os dois com a arma em suas mãos, apontadas para a mutante.

– BILL! - Hermione gritou, torcendo para que fosse ouvida e torcendo ainda mais para que o homem lhe ajudasse a sair daquela enrascada. Droga, ela sabia que estava se arriscando demais!

– Cala a boca ou eu atiro! - Ordenou Caleb, furioso.

– BILL, A FLEUR ME MANDOU AQUI! - Sem se intimidar, Hermione continuou gritando, porém já não se debatia mais contra o corpo de Grégore. Ela estava imobilidade por ele.

– Aquela piranha. - Grégore praquejou. A pele das costas da mão do policial estava irritadiça e sangrava um pouco, em decorrência das unhas de Hermione que o feriu sem dó.

– Fleur mandou uma mutante aqui? - Caleb tinha sua arma mirada em Hermione. - É uma traidora mesmo.

– Vocês são uns miseráveis. - Hermione cuspiu as palavras e tentou mais uma vez se livrar dos braços de Grégore, mas Caleb foi mais rápido e encostou a arma na testa da mutante, que paralisou na hora. O peito da garota subia e descia de forma descontrolada.

– Você não devia ter fugido da ilha, viu? - Caleb foi frio e sarcástico. - Agora acho que vamos ter que te mat...

– Larguem ela, agora! - Subitamente surgiu entre eles um policial de cabelos alaranjados, da mesma cor do cabelo de Rony. Hermione soube imeditamente de quem se tratava. Bill tinha um revólver apontada em direção a Grégore.

– Quer dizer que você também é um traidor, William? - Grégore continuava a prender Hermione.

– Essa delegacia está cheia de traidores. - Caleb repousava sua arma na cabeça de Hermione. - Esses traidores não merecem estar aqui.

– Vocês é que não merecem ser chamados de policiais. São manipulados tão facilmente e só sabem fazer merda, sem olhar a quem, não é mesmo? - Bill estava extremamente sério.

– Cala a boca, William. Acho melhor você dar o fora daqui, ou vai sobrar pra você. - Caleb ameaçou, embravecido.

– Se não soltarem a garota agora, eu vou ser obrigado a machucá-los. - O policial de cabelos ruivos estava irredutível. Caleb e Grégore trocaram um olhar misterioso enquanto analisavam mentalmente a possibilidade.

– E por que faríamos isso? Ela é uma mutante. Nós caçamos mutantes. O nosso trabalho é caçá-los e despejá-los longe da sociedade. - Grégore bufou.

– Não. O nosso trabalho é interrogá-los e investigar a história da criação ilegal de seres geneticamente modificados. - Bill disse sensatamente. - Mas não precisamos mais fazer isso, não é mesmo? Porque eu e Fleur já descobrimos tudo. Já descobrimos que os pais dos mutantes não estão envolvidos em nenhuma mínima parte dessa história, e também descobrimos que os mutantes não precisam ser caçados. Muitos precisam de terapia e de cuidado, pois viveram em condições precárias que os fizeram ficar revoltados contra os humanos. E muitos não precisam de nada, só de viverem em paz.

– Você fala demais e pensa de menos. - Caleb menosprezou. - Nenhum deles precisava de nada disso. Eles são aberrações e precisam ser mandados pra ilhas e viverem isolados lá pro resto de suas vidinhas miseráveis.

– Não quero saber o seu ponto de vista. Você é um idiota. - Bill sorriu ironicamente. - Mas eu quero que vocês dois soltem a garota, e então podemos conversar sobre tudo isso.

– O problema, William... - Caleb soltou um riso debochada, descolou a arma da testa de Hermione e mirou em direção ao policial William. - ou, como você gosta de ser chamado pela namoradinha Delacour, Bill... o problema é que eu não estou nem ai pro que você quer ou deixa de querer.

– Eu vou contar até cinco. -Bill colocou seu dedo no gatilho, mirando o revólver para Caleb.

– E eu até três. - Caleb destravou sua arma e mirou para Bill.

Hermione estava dispersa do que acontecia naquele momento. Os olhos vagos dela denunciavam um pensamento longe, e as mãos dela longe dos braços do policial que a prendia indicavam falta de reação. Ela estava sem reação e só no que conseguia pensar era em seus amigos. Ela se lembrava dos momentos de perigo que tiveram de enfrentar na ilha, e se lembrava mais precisamente do que eles sempre precisavam fazer no final. E ela lembrava das exatas palavras de Scorpius, quando eles ainda procuravam pelo laboratório na ilha:

— Temos que torcer pra não encontrarmos nenhum policial lá. — Disse Rony, com seriedade.

— E se encontrarmos? — Hermione olhou o ruivo por sobre o ombro. Encontrou o olhar dele, e por um instante, achou que ficaria sem resposta.

— A gente mata. — Rebateu Scorpius, atraindo a atenção dos mutantes, que pararam de caminhar pela mata e o olharam, de súbito.

— A gente mata? — Hermione se assustou ao mesmo tempo em que demonstrou indignação. — Desde quando somos assassinos?

— Se fosse o contrário, eles matariam a gente. — Continuou o loiro, sem se abalar com os olhares perplexos dos amigos.

E no final das contas, Hermione sabia que Scorpius tinha total razão do que sempre dissera. Eram os mutantes ou os policiais naquela guerra, e Hermione não iria morrer. Não naquela noite, não daquele jeito, não sem libertar seus amigos do inferno da ilha.

Reagindo subitamente depois de ouvir a voz de Scorpius martelar aquelas palavras duras em sua cabeça, Hermione chutou o meio das pernas de Grégore e o policial gemeu de dor, soltando-a no mesmo instante. A garota avançou sobre Caleb o mais ágil que pôde, agarrou a arma nas mãos do policial e puxou para si, deixando o homem estupefato. Então Hermione agarrou Caleb pelo pescoço e encostou a arma sobre a cabeça do policial, fortemente.

– E eu não vou contar nada. - A morena sibilou suas palavras por trás do corpo de Caleb e não hesitou em disparar o gatilho da arma. O sangue voou do outro lado da cabeça do policial e manchou parte do braço esquerdo da mutante, que se afastou no instante em que o corpo de Caleb perdeu equilíbrio e caiu no chão, provocando um baque. Grégore estava em choque e Bill tinha a boca entreaberta, um tanto pasmo. Hermione respirou fundo várias vezes enquanto olhava Caleb morto no chão. A arma na mão direita da morena ficou bamba, já que os dedos de Hermione estavam um pouco trêmulos. Ela simplesmente tinha feito o que não queria fazer em hipótese alguma: ela matou um humano. Não era um mutante, era um humano. Mas ela também não podia seguir suas hipóteses, e sim, sua razão.

– Sua desgraçada! - Grégore, pasmo, começou a praguejar. Ele tentou avançar sobre Hermione mas Bill surgiu rapidamente entre os dois e mirou seu revólver para o policial. Grégore recuou no mesmo instante, bufando alto.

– Desculpe, eu tive que fazer.. - Hermione respirou fundo quando recebeu um rápido olhar de Bill. Ele assentiu, e não parecia furioso com ela.

– Eu sei. - Bill tranquilizou-a, e voltou a olhar Grégore.

– Vai me matar também? - Grégore estava revoltado.

– Não. - O ruivo negou. - Mas você vai ficar atrás das grades até eu e a garota resolvermos o que temos para resolver.

– Você só pode estar de brincadeira. - Grégore rangiu os dentes, estava entorpecido de ódio.

– Vou precisar te levar a força até a cela? - Bill franziu a testa e Grégore fechou os punhos, mas sem se opor. O policial do olho manchado deu as costas para Bill e Hermione. - Fleur te mandou até aqui? - Bill se dirigiu à Hermione, sem perder a visibilidade em Grégore.

– Sim, ela disse que você sabe do que se trata. - Hermione respirou fundo e olhou o homem ruivo, que tinha uma energia diferente da de Grégore de Caleb. Ele era como Fleur, era do bem.

– Eu sei. Vou trancar o Grégore em uma das celas e já volto para que a gente possa conversar. Fique tranquila que não tem mais ninguém na delegacia. - Avisou Bill, e Hermione assentiu. - Mas não largue a arma, e se precisar se defender, faça isso.

– Eu vou fazer. - Hermione garantiu, olhando a arma em sua mão. Bill logo saiu da vista da mutante e ela pôde soltar uma respiração pesada. Hermione só torcia para que tudo aquilo valesse a pena. Será que seus amigos estariam bem, ou estariam correndo perigo, igual ela correu há poucos minutos?

xx xx xx xx xx xx xx

O laboratório já estava devastado. Já não existiam mais mutantes presos em suas celas, todos estavam libertos dentro daquele labirinto macabro; muitos estavam mortos, muitos atacaram os policiais e alguns deles também estavam mortos, e muitos estavam em fuga pela ilha, atacando o que quer e quem quer que fosse.

Com a ajuda de Rony, que tinha habilidades especiais fantásticas aos olhos de Fleur, a policial conseguiu os explosivos que precisava para detonar o laboratório, e era Cato quem estava na missão de espalhá-los pelas celas. Graças a super-velocidade do loiro, ele conseguiu fazer isso sem dificuldade.

Fleur, Rony e Cato acabaram tendo de enfrentar dois mutantes que surgiram furiosamente em seu caminho. A luta ocasionou um corte no braço de Rony, um ferimento no rosto de Fleur e um dedo quebrado em Cato, que foi jogado no chão e caiu em cima sua própria mão. Sortudo demais ou poderoso o suficiente, Cato não precisou de um sequer minuto para a recuperação de seu dedo, que regenerou surpreendentemente seu osso em questão de segundos.

Cato acabou encontrando a mochila de Rony em uma das celas onde ele deixou as granadas e as dinamites. Rony havia perdido sua mochila quando invadiu o laboratório junto dos amigos, no sequestro de Luna. Infelizmente, Cato só conseguiu encontrar a mochila de Rony. As do restante do grupo se perdeu laboratório a fora, e eles definitivamente não tinham tempo para procurar.

Fleur reconheceu o corpo de um policial repleto de ferimentos de estilhaços de vidro enquanto passava pelos corredores junto de Cato e Rony, na corrida de volta para a cela onde eles escapariam do laboratório. O corpo do policial era de Lewis, e o chão embaixo do homem estava extremamente ensaguentado. Lewis tinha literalmente se ferrado.

Em menos de vinte e cinco minutos, a policial e os dois mutantes voltaram para a cela onde Draco havia aberto parte de teto com seus poderes, e então eles se apressaram para escapar do laboratório. Em pouco tempo, aquele lugar iria a baixo.

xx xx xx xx xx xx

Hermione foi guiada por Bill até uma sala da delegacia, onde havia um armário grande, uma mesa de escritório, com umas pastas organizadas umas sobre as outras por cima. Havia também uma lixeira ao lado da mesa, uma cafeteira de parede ao lado da porta, e uma cortina persiana que cobria a janela atrás da mesa onde Bill se sentou.

Hermione ficou analisando o local, um pouco dispersa. Ela estava um pouco abalada com o ato que teve de cometer para salvar a ela, e ao policial que estava prestes a ajudá-la.

– Você pode se sentar. - Bill apontou para a cadeira que estava por fora da mesa. Hermione o olhou e assentiu, então, se sentou. - Está tudo bem com você? Tem muito sangue no seu corpo...

– Eu estou bem. - A mutante evitou entrar em detalhes sobre tudo que havia acontecido no laboratório. - Sinto muito ter matado o policial. Sei que vocês trabalhavam juntos. - Hermione repousou suas mãos sobre a mesa e respirou fundo.

– Não se culpe. - Bill olhou-a. - Não acho que matar é a melhor solução, mas vivemos em tempos difíceis. E ele era cruel.

– Todos que me atacaram eram. - Hermione torceu os lábios.

– Eram? Estão mortos? - O policial ruivo franziu a testa.

– Alguns deles estão. - A mutante disse. - Outros eu não sei.

– E a Fleur? Como ela está? - Bill demonstrou preocupação. - Ela está viva, não está?

– Ela está sim. - Hermione tranquilizou-o. - Ela foi sequestrada por outros policiais e levaram ela pro laboratório, onde eu e meus amigos também estávamos.

– Filhos da mãe. - Bill bufou. - Esses caras estão sem controle... e pensar que trabalhávamos bem antes.

– É, eles parecem bem doentes. - A morena balançou a cabeça.

– Manipulados. Todos eles. - O policial constatou. - Mas enfim. Suponho que você esteja aqui porque Fleur começou a executar o nosso plano, certo?

– Sim, e ela disse que vamos precisar de você. - Hermione segurou na barra da mesa e olhou o policial nos olhos, ansiosa.

– Ela tá certa. - Bill assentiu e abriu uma gaveta do lado esquerdo da mesa. Ele analisou o que estava lá dentro, mas não retirou nada de lá. Hermione o observou, atentamente. - Aquela maluca não devia ter ido pra ilha sozinha, é muito perigoso, eu a avisei. Mas se ela está bem, vamos ao nosso plano então.

– Por favor, vamos logo com isso. - Hermione pediu, demonstrando nervosismo. - Meus amigos estão lá, eles precisavam escapar. Tá tudo um caos naquele lugar.

– Eu posso imaginar. - Bill deixou a gaveta aberta e voltou a olhar Hermione. - Você sabe se a Fleur conseguiu colocar os explosivos no laboratório? Ela explicou isso pra você, não é?

– Aham, ela explicou. Quando eu fugi de lá, ela estava indo colocar as granadas e a dinamite no laboratório. - Hermione viu Bill arregalar os olhos.

– Ela foi sozinha? - Ele ficou notoriamente preocupado. Não pouco, muito.

– Não, ela foi com a ajuda do Cato e... - A morena começou automaticamente a explicar, mas parou de falar quando foi se referir a Rony. O que ela poderia dizer? Ele era tudo pra ela. - do meu Rony.

– Ótimo, ela não está sozinha. - Bill se alivou. - Ótimo, ela não está sozinha.

– Então... o que eu preciso fazer pra ajudar meus amigos e minha família a sair de lá? - Hermione mordeu a boca.

– Há quanto tempo você saiu de lá, faz alguma ideia? - Bill então retirou um aparelho de dentro da gaveta e por fim a fechou. Colocou sobre a mesa o aparelhinho que cabia na palma da mão, e possuía uma botão vermelho em seu centro. Hermione arqueou as sobrancelhas no mesmo instante.

– Eu acho que voei durante 40 minutos. - A morena parou um pouco pra pensar, e Bill ergueu os olhos para olhá-la. O homem abriu um fraco sorriso ao ouvir a palavra que escapou dos lábios da garota. Ele já sabia quem era ela, ele já sabia que aquela garota sentada em sua frente era uma pessoa geneticamente modificada e que possuía um par de asas em suas costas. Mas era simplesmente fantástico as coisas que muitos dos mutantes conseguiam fazer. A maior parte que fora criada no laboratório era de assustar, mas não deixava de ser impressionante. Mas os mutantes pacíficos, aqueles eram sensacionais. As experiências genéticas eram sim terríveis e fora de lei, mas os resultados... eram realmente extraordinários. - E faz mais ou menos meia hora que eu cheguei na delegacia.

– Então já faz mais de uma hora que o plano foi colocado em prática. - Bill voltou a analisar o aparelho sobre a mesa.

– E o que isso quer dizer? - A morena pareceu ficar confusa.

– Quer dizer que temos vinte minutos para apertamos esse botão aqui. - O policial pegou o aparelho e apontou o dedo para o botão vermelho.

– Isso quer dizer que... - Hermione já iria perguntar, em decorrência da sua confusão. Mas ela não precisava de muito para associar um detalhe no outro. Fleur comentou sobre os explosivos, pediu para que Hermione voasse e encontrasse Bill, e disse que ele saberia o que fazer. Tirando suas próprias conclusões, Hermione soltou um suspiro profundo. - que faltam vinte minutos para o laboratório explodir completamente.

– Exato. - Bill assentiu, e viu Hermione ficar tensa. - Você tem certeza que foi esse o tempo certo? Desde que você saiu de lá?

– Tenho sim. - Ela assentiu, convicta.

– Certo, porque esse plano precisa acontecer com exatidão. Todos precisam sair do laboratório, principalmente a Fleur, os seus amigos, as mães que ficaram presas lá, e os mutantes que foram criados no laboratório. - Bill explicou seriamente.

– Não acho que todos vão conseguir fugir. - Hermione contradisse, nervosa. - Eu digo, os mutantes e os policiais também.

– Vamos torcer para que os mutantes consigam. Mas os policias eu aposto que vão. Somos treinados para situações como essa. Eles vão saber o que está acontecendo. - Argumentou o homem.

– Lá está uma bagunça. Tem muito mutante perigoso solto por lá. Eu não acho que eles vão escapar. - A mutante foi sincera, e Bill ficou pensativo. O policial respirou fundo.

– É a única forma. Não temos outro plano, e nem tempo. - Bill soltou o aparelho na mesa e se levantou da cadeira. - Eu queria que tivesse outro jeito, aliás, eu não queria que tantas pessoas estivessem se machucando nessa batalha toda. As coisas não poderiam ter chegado a esse ponto.

– Desculpa, mas isso é culpa dos policiais e da Bellatrix. - Hermione rebateu, indignada.

– Eu sei disso. - Bill concordou enquanto rondava a sala, lentamente. - E Bellatrix, você acha que ela vai escapar? Fleur e eu iríamos capturá-la mas tudo saiu do controle, como você pôde perceber, senhorita.

– Ela está com a gente, a Bellatrix. - Hermione girou a cadeira para olhar o policial Bill.

– Ótimo, ela é a nossa criminosa. Precisamos prendê-la. - O homem disse para a garota.

– O que vai acontecer com quem fugir da ilha? - A garota finalmente perguntou o que estava incomodando-a. - Vocês vão prender os mutantes?

– Não. - Bill tranquilizou-a. - Bom, pelo menos os inofensivos, não. Os que foram criados no laboratório vão ser recolhidos e supervisionados por profissionais para lidar com o distúrbio de fúria deles.

– E os policiais? Eles tentaram nos matar milhões de vezes. Não podem ficar impunes. - Hermione colocou uma madeixa de cabelo para trás da orelha.

– Eles serão presos, não se preocupe. Temos outros policiais aliados a mim e à Fleur. Todos foram discretos, foi só a Fleur que acabou transparecendo sua revolta. Então, os outros policiais acham que apenas ela é a traidora. - Explicou o policial, torcendo os lábios. - Bom, e agora, eu.

– Eu ficaria revoltada também, se fosse ela. - Hermione se levantou da cadeira. - Esses policiais fizeram da minha vida um inferno, e dos meus amigos também. Sequestraram nossas famílias, mataram os nossos pais.

– Eles são uns infelizes, eu sei. - Bill percebeu a revolta na voz da mutante. - E eles vão pagar.

– O que vai acontecer depois que o laboratório explodir? - Hermione se aproximou da mesa e analisou o aparelho que Bill retirara há poucos da gaveta.

– Eu esperarei no máximo 15 minutos, e então ligarei para os outros policiais que estão juntos comigo e Fleur nesse caso. Eles vão estar comandando alguns helicópteros, então irão até a ilha. Não vão demorar a chegar. Nas armas deles vão conter dados tranquilizantes, que eles usarão contra os mutantes do laboratório, e provavelmente contra os outros policiais daqui da delegacia. Então eles trarão todos para cá. - Bill disse e Hermione respirou fundo.

– Avise a eles para não atirar nos meus amigos. - Ela pediu, olhando o policial nos olhos.

– Nós conhecemos a ficha de vocês. - O homem ruivo sorriu fracamente. - Eles não atirarão.

– Certo. - A garota respirou fundo e esfregou as mãos umas nas outras. Enfiou os dedos entre os fios de cabelo acastanhado e respirou fundo mais uma vez.

Ela e o policial agora tinham menos de 15 minutos para apertar o botão daquele aparelho que faria os explosivos detonarem dentro do laboratório, e Hermione só torcia para que Rony saísse de lá de dentro logo. Ela não podia imaginar disparar aquele aparelho com Rony dentro do laboratório. Ela não queria imaginar. Além de tudo, Hermione sabia que, quando os mutantes e os policiais começassem a escapar de lá de dentro, a ilha se tornaria um pesadelo ainda maior, e seus amigos e sua mãe estariam em perigo de novo. Num perigo ainda maior.

– É você quem vai apertar esse aparelho, não é? - Depois de longos minutos de silêncio, Bill se dirigiu à Hermione. Ele sabia que ela estava aflita, e não a culpava sequer por um instante. Até porque, ele também se sentia da mesma forma. Fleur estava no laboratório, e ele não sabia o que estava acontecendo com ela. Não sabia se ela escaparia há tempo. Bill não podia imaginar sua vida sem ela. - É você quem precisa finalizar esse plano. - Bill viu Hermione erguer o olhar do chão. Os olhos castanhos da mutante lacrimejavam e o peito dela subia e descia rapidamente. Ela tentava respirar fundo, mas estava nervosa demais para conseguir controlar alguma coisa. A sensibilidade sobre-humana da mutante estava afligindo-a completamente.

– Eu sei. - Por fim, Hermione concordou. Ela sabia que o policial estava certo. Não tinham outra maneira, não existia outro jeito. Algo forte acabaria no fim daquela madrugada, e Hermione torcia para que fosse tudo de ruim que estava preso em sua vida, e na vida de seus amigos. - Quanto tempo temos? - Ela fixou seus olhos no homem, e este soltou uma respiração pesada. Bill caminhou até a mesa e pegou o aparelho; ele voltou até a garota e entregou o aparelho para ela.

– Pouco tempo. - Avisou Bill, seriamente.


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Notas finais do capítulo

Gostaram da Hermione nesse capítulo? Eu simplesmente achei ela fantástica.
Comentem, por favor. Leitores fantasmas, a fanfic está próxima do fim. Vocês realmente vão ficar sem deixar uma opiniãozinha? Vamos lá, hein...

XX, Jen



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