Filha da Lua escrita por Bia Kishi
Notas iniciais do capítulo
Bem meninas, conforme pedido da amiga Rafhaela aqui está... a visão de Demetri sobre o capitulo "REENCONTROS". Espero que vocês gostem, porque eu amei escrever... bjs
Agora que tudo havia acabado, eu não sabia o que fazer, ou para onde ir. Andar pela cidade, à noite, era como rever pequenos fantasmas. Fantasmas de tempos doces e quentes, fantasmas que dançavam ao meu redor e me diziam que ela não estaria mais ali, nunca.
Eu nunca fui um homem de lamentações. De tudo que passei em minha vida humana ou em minha existência como vampiro, sempre entendi como parte da jornada. Nem mesmo as muitas guerras, nem as muitas vidas que se perderam nelas; nem mesmo a perda de meus amados pais, ou a perda de minha alma foi capaz de me fazer lamentar os acontecimentos, porque ela estava lá. E quando eu pensava em seu rosto, em seus olhos e seu sorriso, tudo estava pago, a vida não me devia mais nada.
Agora que tudo havia acabado, eu não sabia o que fazer, ou para onde ir. Andar pela cidade, à noite, era como rever pequenos fantasmas. Fantasmas de tempos doces e quentes, fantasmas que dançavam ao meu redor e me diziam que ela não estaria mais ali, nunca. A luz do sol, durante o dia, era escura e sem vida. O sol jamais compensaria a falta de minha estrela de luz, nada brilhava mais do que ela. Nada brilhava do que sua pele delicada, ou seus olhos cor de chocolate. A atmosfera me sufocava. Eu apenas esperava que terminasse logo, eu não existia mais.
Ainda que eu soubesse a verdade, ainda que existisse uma chance, eu não poderia pedir a ela que compreendesse, eu precisava entender que ela não poderia ser minha.
Eu queria ir embora, queria sair daquele castelo maldito, queria deixar aquele homem maldito para trás. Na verdade eu precisava, ou acabaria arrancando a cabeça dele. Aquele sorriso presunçoso em seus lábios quando olhava em minha direção, era como uma espada atravessando minha carne. Eu queria despedaça-lo com minhas próprias mãos, e eu poderia.
A cada dia que chegava eu suportava menos, a cada dia que ia embora, eu a amava mais.
Meu senhor me chamou, enquanto eu descansava no lugar onde as memórias eram mais fortes, onde eu a sentia mais perto. Eu me levantei e mais uma vez, eu o obedeci. Isso não era submissão para mim, era respeitar a hierarquia, e eu conhecia meu lugar.
- Sim mestre.
- Demetri, meu caro. Vamos a Forks, temo que possamos ter assuntos difíceis por lá. Espero contar com sua dedicação.
- Mestre, se não se importa, eu não sei se poderia.
Aro se aproximou de mim, e tocou sua mão em meu ombro. Desta vez, ele não queria usar seu poder para ter informações minhas, ele queria me confortar. Era a maneira dele de dizer que sentia por tudo. Eu baixei minha cabeça apenas um pouco, deixando meus olhos se desviarem dos dele. Eu nunca gostei de ser fraco, não começaria agora. O mestre continuou:
- Demetri. Você é meu melhor soldado, você é meu melhor general, e você é um grande amigo. Muitas vezes, minha vida dependeu de você, você nunca falhou. Nunca falhou comigo, e nunca falhou com ela. Deixe-a saber disso.
Foram poucas palavras, mas era como se ele dissesse tudo. Eu estava sendo idiota. Eu precisava lutar minha pior batalha. Eu precisava lutar por ela. Eu a amei desde a primeira vez que a segurei em meus braços, eu a amei sempre. Fechei meus olhos e me lembrei de quantas vezes ouvi aqueles lábios dizerem que me amavam também. Lembrei-me da noite na cabana, a noite em que ela me ofereceu seu corpo, a noite em que ela pertenceu a mim. Lembrei-me do gosto de seu sangue doce e quente. Um sangue forte e poderoso que agora fazia parte de mim. Eu abri meus olhos lentamente e então encarei meu mestre, como o general que eu sempre fui.
- Eu estarei lá.
- Perfeito! Partiremos ao entardecer.
Eu assenti com a cabeça e me retirei. Fui até meu quarto e me preparei para a viagem. Eu provavelmente ficaria alguns dias lá, mas não queria nada que me lembrasse da Itália. Peguei apenas alguns documentos e cartões de crédito, dinheiro e meu casaco de couro preto. Na mesa da escrivaninha, estava o que eu mais queria levar – a caixinha de cristal. Eu havia esperado por trezentos anos, antes de finalmente encontrar os dedos certos para colocar o que ela continha. Eu a abri e admirei – a aliança de minha avó. Era linda e delicada e ao mesmo tempo, sofisticada e imponente, como minha Satine. Fechei a caixinha e joguei dentro do bolso do casaco. Vesti meu manto cinza-chumbo e me apresentei na sala de reuniões.
Em alguns minutos, estávamos embarcando para Forks. Eu me sentei no fundo do avião alugado, sozinho. Seria uma viagem tranqüila, até que ela veio sentar ao meu lado. Eu permaneci com os olhos vidrados, não tinha intenção nenhuma de conversar com ela.
- Não acredito que vai mesmo atrás dela!
Eu não respondi, mas senti uma onda de fúria em meu corpo. Agora que eu imaginava a verdade, não conseguia nem mesmo olhar em seus olhos.
- Demetri! Não posso acreditar que um homem como você se apaixone desta maneira. Depois de tanto tempo comigo, quero dizer, depois de tudo que passamos, não posso acreditar que vai atrás dela. Sinceramente eu prefiro acreditar que o mestre o obrigou.
Eu respondi sem nem mesmo mover um músculo. Minhas mãos cerradas em punho, meu maxilar travado e meus olhos vidrados.
- Ninguém me obriga a nada.
Ela deslizou a mão por minha calça jeans, subindo até minha coxa. Eu a segurei.
- Você nunca entenderá o que eu sinto por ela por uma única razão, você nunca será como ela. Você é tão deprimente. Acha mesmo que favores sexuais me fariam mudar de idéia? Eu perdi a conta de quantas mulheres como você eu tive em minha vida.
- Mas você bem que gostava, das nossas brincadeirinhas!
- Como eu disse, satisfação física, eu encontro em qualquer esquina.
Eu virei meus olhos para ela e retirei suas mãos, segurando seus pulsos.
- Eu a tomei em meus braços e a amei. Você nunca vai entender como é, nunca vai saber o que é realmente fazer amor, o que é amar e ter o corpo de quem você ama ao toque das suas mãos. Nunca vai entender como é olhar nos olhos quando se está amando e perceber que nada mais importa, porque tudo que você quer está ali.
Félix parou ao lado da poltrona em que nós estávamos e colocou sua mão pesada sobre os ombros de Heidi.
- Bem, tudo isto é muito lindo, mas o mestre mandou não importunarmos o general. Ele precisa descansar. Além disso, acho que ele já deixou bem claro o que deseja, não é gata?
Ela se levantou e saiu com ódio nos olhos. Félix se esparramou na poltrona ao lado da minha. Ele era um bom amigo.
Eu sorri, deixando a raiva se dissipar. Eu estava feliz e queria estar bem quando a encontrasse. Além disso, Félix não tinha culpa alguma de meus erros.
Félix deu um soco em meu braço e sorriu.
Eu sempre soube que podia confiar em Félix e ele sempre confiou em mim também. Nós éramos mais que companheiros de batalha, nós éramos amigos de verdade, então, nada mais foi dito.
Quando o avião desceu, em uma pista alugada em Port Angeles. Eu fui o primeiro a tocar o solo. Era ainda muito cedo e eu me perguntei o que ela estaria fazendo. Será que ela sabia de nossa chegada? Provavelmente sim. Era impossível surpreender a baixinha dos cabelos espetados. Ela provavelmente havia visto e contado, não tínhamos mais o elemento surpresa.
Eu na verdade, não quis saber bem o motivo que nos levou a Forks. Para mim, era apenas um pretexto para estar com ela. É claro que eu lutaria, se fosse preciso, eu ainda era um general, mas eu não queria machuca-los. Se eu os machucasse, ela se feriria também.
Nós andamos pela floresta, até a grande campina. A mesma campina em que eu a havia encontrado, tanto tempo atrás. Minha Satine.
Meus sentidos me diziam que ela estava perto, mas eu não conseguia vê-la, não conseguia sentir seu cheiro ou seguir seu rastro. Ela era boa em esconder pistas, ela sempre fazia isso.
Eu continuei andando então, de repente, eu senti. Eu senti e foi como se o tempo parasse. Eu aspirei o ar com toda a força de meus pulmões, os olhos fechados. Era ela, ela estava perto.
Quando abri os olhos, eu não a vi. Todos estavam lá e então eu percebi a razão da visita, pelo olhar de Edward. Senti meu corpo pesar – eu não poderia fazer isso. Não poderia tirar a pequena de seus braços. Eu me lembrei de mim, me lembrei de Satine e do medo de que Aro quisesse destruí-la. Posicionei-me atrás do mestre, como sempre, mas hoje era por outra razão – eu não permitiria que ele ou qualquer outro machucassem a criança. Eu faria o que fosse possível para protege-la, ainda que custasse minha vida.
Foi então que ela apareceu. Eu pisquei várias vezes e pensei se não seria fruto da sede. Ela estava ainda mais linda, como se fosse possível. Seus cabelos soltos voavam com o vento, espalhando seu perfume no ar. Os olhos preocupados a deixavam ainda mais doce. Quando meus olhos encontraram seu corpo, um arrepio percorreu minha espinha e eu quase não agüentei. Ela estava esperando um filho, o meu filho. Meu coração se desfez e eu me senti um nada absoluto. Eu a havia abandonado, eu não a havia amparado. O mesmo erro, o mesmo erro que eu condenei tantas vezes em Carlisle, agora era o meu erro também. Eu a havia deixado sozinha.
Ela não olhou diretamente em meus olhos, mas eu percebi que eles correram em minha direção, ela não permitiu. Parada na frente da luta, no centro da batalha. Ela era forte e decidida e eu não me preocupei mais. Se alguém era capaz de resolver uma situação como aquela sem luta, esse alguém era ela. Enquanto ela conversava com Aro, os ânimos foram ficando menos tensos. Eu já sabia que não haveria luta, então não haveria vencedores, ou perdedores, mas eu tive minha vitória. Quando olhei para o rosto do mestre Caius, meu sorriso se acendeu – ele olhava para Satine com os olhos arregalados em sua barriga. Ela era minha e agora ele sabia disso. Eu jamais contei a ninguém o que acontecera entre ela e eu, mas agora, era visível.
Satine só precisou de alguns minutos, alguns poucos minutos para resolver a situação com um abraço em Aro. Eu precisava falar com ela, e quando todos começaram a “bater em retirada”, eu me aproximei.
Quando minha mão tocou a pele quente de seu ombro, correntes elétricas passaram por meu corpo. Ela nem fazia idéia do poder que exercia sobre mim.
Ela não me deixou dizer nada, virou-se para mim com os olhos baixos.
Eu queria abraça-la. Queria segura-la em meus braços e dizer o quanto eu estava feliz em vê-la, o quanto eu estava feliz em saber que ela esperava um filho meu. O contrário disso, eu apenas perguntei:
Deixei minha mão escorregar por seu braço, pousando de leve sobre sua barriga. Meu filho estava lá. Eu podia senti-lo. Ele se agitava com o toque da minha mão. Por um segundo eu me peguei imaginando seu rosto, como ele seria e com quem se pareceria. Por um segundo eu me lembrei de Satine em meus braços, minha pequena e frágil, Satine.
Ela tocou a minha mão com frieza e a retirou de sua pele. Satine me disse que não tinha nada a ver comigo, que era problema dela e que eu havia tomado minha decisão, embora eu nem soubesse que decisão era. Quando eu lhe disse que ela tomaria a mesma atitude de sua mãe, ela recuou, apenas um pouco. Mas aquela era minha Satine, minha impetuosa e tempestuosa, Satine. Ela não me escutou. Eu a vi se afastar com o lobo ao seu lado. Apesar de tudo, eu estava feliz que ela tivesse tantos que a amavam e cuidavam dela, enquanto eu não podia. Aquele garoto em especial, a amava muito e por isso tinha ganhado minha simpatia também. Eu a deixei ir.
Quando todos se afastam, eu permaneci. Eu, Carlisle e Marcus, apenas nós três. Eu me aproximei de Carlisle, precisava entender e esperava que ele esclarecesse as coisas.
Confesso que foi uma pergunta imbecil, eu sabia o que ele queria dizer. Mesmo assim eu tinha que ouvir de sua boca.
Eu congelei no final daquela frase – eu seria mesmo pai, seria pai de gêmeos.
Marcos tocou meu ombro de leve.
Eu ponderei por um momento as palavras de Marcus. Ele tinha razão, como sempre, aliás. Marcus era um homem sábio e decente. Eu concordei.
Eu os deixei e fui para a floresta. Agora que eu havia sentido novamente seu cheiro, ele me guiava para onde ela estava. Não foi difícil achar. Eu a vi caminhando até a fronteira e esperei que ela voltasse, eu não queria desrespeitar nenhum tipo de acordo que Carlisle tinha com os lobos.
Eu a observei pelo resto do dia, de longe.
Quando a noite caiu, eu acompanhei até a casa. Uma linda casa, onde provavelmente ela estava morando. A casa ocupava o mesmo lugar de nossa cabana. Eu a vi se despir para dormir, eu a vi deitar na cama, mas Satine não dormiu. Eu vi uma lágrima brilhar em seu rosto, contra a luz do abajur. Ela estava triste e eu me segurei para não entrar por aquela janela e a tomar em meus braços. Enquanto eu a observava, uma mão pequena tocou minhas costas, eu me virei em sobressalto, mas acertei apenas o ar – Alice!
Alice segurou em minha mão e me fez descer da árvore.
Nós descemos e caminhamos para a floresta. Alice sentou-se no tronco de um carvalho caído e eu me sentei ao seu lado. Ela não era de muitos rodeios, então foi direto ao ponto.
Eu não pude deixar de sorrir. Deixei meu rosto cair entre minhas mãos e alisei o cabelo para trás.
- Esse é o problema Alice. Eu a amo tanto que não sei o que fazer. Tenho medo de por tudo á perder. Eu não suportaria existir sem ela.
Alice me abraçou, paralisando minhas defesas. Depois de alguns segundos, eu retribui. Ela encostou a cabeça em meu peito e eu deslizei minha mão entre seus cabelos espetados.
Alice se desfez de meu abraço e me encarou com os olhos decepcionados.
Alice se foi e eu voltei para perto da casa. Satine estava com o garoto, em sua cama. Confesso que senti ciúmes, mas ela precisava de apoio, e eu não estava lá.
Quando amanheceu, ele a deixou dormindo e foi até a cozinha. Eu aproveite a abertura da janela e entrei no quarto. Ela estava deitada de lado, com as mãos na barriga. Os cabelos bagunçados caindo no rosto. Eu não resisti, e a toquei. Deslizei minha mão suavemente em seu rosto, desci pela linha do pescoço, ombros, quadril e parei em sua barriga. Os bebês se agitaram, Satine também. Eu só tive um segundo para sair sem que ela me visse. Ela sorriu e olhou para a barriga. Levantou-se sonolenta e caminhou até a cozinha, ajeitando o cabelo. Eu queria dizer a ela o quanto ela estava linda, o quanto eu a queria naquele momento, mas não podia.
Fiquei observando a conversa e percebi que ela sairia sozinha – era minha chance.
Ela se vestiu e se penteou e saiu caminhando pelo gramado. Satine foi muito longe, até o rio. Sentou-se de frente para a margem e brincou com os pés na água. O sol refletia o brilho suave de sua pele. Seus cabelos dançavam com o vento e eu me aproximei.
Ela estava absolutamente maravilhosa, sorrindo e conversando com os bebês. Eu a fiquei observando. Então, o vento me traiu, levando meu cheiro até ela. Ela aspirou o ar com delicadeza.
Eu não pude resistir ao comentário.
Ela não se virou. Não se mexeu. Eu novamente não resisti. Aproximei-me mais e flexionei os joelhos para que minha boca chegasse mais perto de seu ouvido.
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