Filha da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 22
Capítulo 22 - Reencontros - A Visão de Demetri


Notas iniciais do capítulo

Bem meninas, conforme pedido da amiga Rafhaela aqui está... a visão de Demetri sobre o capitulo "REENCONTROS". Espero que vocês gostem, porque eu amei escrever... bjs

Agora que tudo havia acabado, eu não sabia o que fazer, ou para onde ir. Andar pela cidade, à noite, era como rever pequenos fantasmas. Fantasmas de tempos doces e quentes, fantasmas que dançavam ao meu redor e me diziam que ela não estaria mais ali, nunca.



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Eu nunca fui um homem de lamentações. De tudo que passei em minha vida humana ou em minha existência como vampiro, sempre entendi como parte da jornada. Nem mesmo as muitas guerras, nem as muitas vidas que se perderam nelas; nem mesmo a perda de meus amados pais, ou a perda de minha alma foi capaz de me fazer lamentar os acontecimentos, porque ela estava lá. E quando eu pensava em seu rosto, em seus olhos e seu sorriso, tudo estava pago, a vida não me devia mais nada.

Agora que tudo havia acabado, eu não sabia o que fazer, ou para onde ir. Andar pela cidade, à noite, era como rever pequenos fantasmas. Fantasmas de tempos doces e quentes, fantasmas que dançavam ao meu redor e me diziam que ela não estaria mais ali, nunca. A luz do sol, durante o dia, era escura e sem vida. O sol jamais compensaria a falta de minha estrela de luz, nada brilhava mais do que ela. Nada brilhava do que sua pele delicada, ou seus olhos cor de chocolate.  A atmosfera me sufocava. Eu apenas esperava que terminasse logo, eu não existia mais.

Ainda que eu soubesse a verdade, ainda que existisse uma chance, eu não poderia pedir a ela que compreendesse, eu precisava entender que ela não poderia ser minha.

Eu queria ir embora, queria sair daquele castelo maldito, queria deixar aquele homem maldito para trás. Na verdade eu precisava, ou acabaria arrancando a cabeça dele. Aquele sorriso presunçoso em seus lábios quando olhava em minha direção, era como uma espada atravessando minha carne. Eu queria despedaça-lo com minhas próprias mãos, e eu poderia.

A cada dia que chegava eu suportava menos, a cada dia que ia embora, eu a amava mais.

Meu senhor me chamou, enquanto eu descansava no lugar onde as memórias eram mais fortes, onde eu a sentia mais perto. Eu me levantei e mais uma vez, eu o obedeci. Isso não era submissão para mim, era respeitar a hierarquia, e eu conhecia meu lugar.

-           Sim mestre.

-                       Demetri, meu caro. Vamos a Forks, temo que possamos ter assuntos difíceis por lá. Espero contar com sua dedicação.

-           Mestre, se não se importa, eu não sei se poderia.

Aro se aproximou de mim, e tocou sua mão em meu ombro. Desta vez, ele não queria usar seu poder para ter informações minhas, ele queria me confortar. Era a maneira dele de dizer que sentia por tudo. Eu baixei minha cabeça apenas um pouco, deixando meus olhos se desviarem dos dele. Eu nunca gostei de ser fraco, não começaria agora. O mestre continuou:

-           Demetri. Você é meu melhor soldado, você é meu melhor general, e você é um grande amigo. Muitas vezes, minha vida dependeu de você, você nunca falhou. Nunca falhou comigo, e nunca falhou com ela. Deixe-a saber disso.

Foram poucas palavras, mas era como se ele dissesse tudo. Eu estava sendo idiota. Eu precisava lutar minha pior batalha. Eu precisava lutar por ela. Eu a amei desde a primeira vez que a segurei em meus braços, eu a amei sempre. Fechei meus olhos e me lembrei de quantas vezes ouvi aqueles lábios dizerem que me amavam também. Lembrei-me da noite na cabana, a noite em que ela me ofereceu seu corpo, a noite em que ela pertenceu a mim. Lembrei-me do gosto de seu sangue doce e quente. Um sangue forte e poderoso que agora fazia parte de mim. Eu abri meus olhos lentamente e então encarei meu mestre, como o general que eu sempre fui.

-           Eu estarei lá.

-           Perfeito! Partiremos ao entardecer.

Eu assenti com a cabeça e me retirei. Fui até meu quarto e me preparei para a viagem. Eu provavelmente ficaria alguns dias lá, mas não queria nada que me lembrasse da Itália. Peguei apenas alguns documentos e cartões de crédito, dinheiro e meu casaco de couro preto. Na mesa da escrivaninha, estava o que eu mais queria levar – a caixinha de cristal. Eu havia esperado por trezentos anos, antes de finalmente encontrar os dedos certos para colocar o que ela continha. Eu a abri e admirei – a aliança de minha avó. Era linda e delicada e ao mesmo tempo, sofisticada e imponente, como minha Satine. Fechei a caixinha e joguei dentro do bolso do casaco. Vesti meu manto cinza-chumbo e me apresentei na sala de reuniões.

Em alguns minutos, estávamos embarcando para Forks. Eu me sentei no fundo do avião alugado, sozinho. Seria uma viagem tranqüila, até que ela veio sentar ao meu lado. Eu permaneci com os olhos vidrados, não tinha intenção nenhuma de conversar com ela.

-           Não acredito que vai mesmo atrás dela!

Eu não respondi, mas senti uma onda de fúria em meu corpo. Agora que eu imaginava a verdade, não conseguia nem mesmo olhar em seus olhos.

-           Demetri! Não posso acreditar que um homem como você se apaixone desta maneira. Depois de tanto tempo comigo, quero dizer, depois de tudo que passamos, não posso acreditar que vai atrás dela. Sinceramente eu prefiro acreditar que o mestre o obrigou.

            Eu respondi sem nem mesmo mover um músculo. Minhas mãos cerradas em punho, meu maxilar travado e meus olhos vidrados.

-           Ninguém me obriga a nada.

      Ela deslizou a mão por minha calça jeans, subindo até minha coxa. Eu a segurei.

-                      Você nunca entenderá o que eu sinto por ela por uma única razão, você nunca será como ela. Você é tão deprimente. Acha mesmo que favores sexuais me fariam mudar de idéia? Eu perdi a conta de quantas mulheres como você eu tive em minha vida.

-           Mas você bem que gostava, das nossas brincadeirinhas!

-           Como eu disse, satisfação física, eu encontro em qualquer esquina.

      Eu virei meus olhos para ela e retirei suas mãos, segurando seus pulsos.

-                      Eu a tomei em meus braços e a amei. Você nunca vai entender como é, nunca vai saber o que é realmente fazer amor, o que é amar e ter o corpo de quem você ama ao toque das suas mãos. Nunca vai entender como é olhar nos olhos quando se está amando e perceber que nada mais importa, porque tudo que você quer está ali.

Félix parou ao lado da poltrona em que nós estávamos e colocou sua mão pesada sobre os ombros de Heidi.

-           Bem, tudo isto é muito lindo, mas o mestre mandou não importunarmos o general. Ele precisa descansar. Além disso, acho que ele já deixou bem claro o que deseja, não é gata?

Ela se levantou e saiu com ódio nos olhos. Félix se esparramou na poltrona ao lado da minha. Ele era um bom amigo.

-                     Então, o que ela fez para lhe irritar tanto?

Eu sorri, deixando a raiva se dissipar. Eu estava feliz e queria estar bem quando a encontrasse. Além disso, Félix não tinha culpa alguma de meus erros.

-                     O de sempre, sabe como as mulheres são comigo!

-                     Eu costumava saber, até uma certa “meio-vampira” aparecer entre nós!

-                     Eu vou pedi-la em casamento.

-                     Puxa! E eu que achei que não viveria para ver uma cena dessas!

-                     Félix não tem graça. Além disso, você não está tecnicamente vivo.

Félix deu um soco em meu braço e sorriu.

-                     Desculpe-me. Eu sei o quanto você a ama. Vá em frente, lute por ela. Vocês dois merecem.

-                     Obrigado, meu amigo.

Eu sempre soube que podia confiar em Félix e ele sempre confiou em mim também. Nós éramos mais que companheiros de batalha, nós éramos amigos de verdade, então, nada mais foi dito.

Quando o avião desceu, em uma pista alugada em Port Angeles. Eu fui o primeiro a tocar o solo. Era ainda muito cedo e eu me perguntei o que ela estaria fazendo. Será que ela sabia de nossa chegada? Provavelmente sim. Era impossível surpreender a baixinha dos cabelos espetados. Ela provavelmente havia visto e contado, não tínhamos mais o elemento surpresa.

Eu na verdade, não quis saber bem o motivo que nos levou a Forks. Para mim, era apenas um pretexto para estar com ela. É claro que eu lutaria, se fosse preciso, eu ainda era um general, mas eu não queria machuca-los. Se eu os machucasse, ela se feriria também.

Nós andamos pela floresta, até a grande campina. A mesma campina em que eu a havia encontrado, tanto tempo atrás. Minha Satine.

Meus sentidos me diziam que ela estava perto, mas eu não conseguia vê-la, não conseguia sentir seu cheiro ou seguir seu rastro. Ela era boa em esconder pistas, ela sempre fazia isso.

Eu continuei andando então, de repente, eu senti. Eu senti e foi como se o tempo parasse. Eu aspirei o ar com toda a força de meus pulmões, os olhos fechados. Era ela, ela estava perto.

Quando abri os olhos, eu não a vi. Todos estavam lá e então eu percebi a razão da visita, pelo olhar de Edward. Senti meu corpo pesar – eu não poderia fazer isso. Não poderia tirar a pequena de seus braços. Eu me lembrei de mim, me lembrei de Satine e do medo de que Aro quisesse destruí-la. Posicionei-me atrás do mestre, como sempre, mas hoje era por outra razão – eu não permitiria que ele ou qualquer outro machucassem a criança. Eu faria o que fosse possível para protege-la, ainda que custasse minha vida.

Foi então que ela apareceu. Eu pisquei várias vezes e pensei se não seria fruto da sede. Ela estava ainda mais linda, como se fosse possível. Seus cabelos soltos voavam com o vento, espalhando seu perfume no ar. Os olhos preocupados a deixavam ainda mais doce. Quando meus olhos encontraram seu corpo, um arrepio percorreu minha espinha e eu quase não agüentei. Ela estava esperando um filho, o meu filho. Meu coração se desfez e eu me senti um nada absoluto. Eu a havia abandonado, eu não a havia amparado. O mesmo erro, o mesmo erro que eu condenei tantas vezes em Carlisle, agora era o meu erro também. Eu a havia deixado sozinha.

Ela não olhou diretamente em meus olhos, mas eu percebi que eles correram em minha direção, ela não permitiu. Parada na frente da luta, no centro da batalha. Ela era forte e decidida e eu não me preocupei mais. Se alguém era capaz de resolver uma situação como aquela sem luta, esse alguém era ela. Enquanto ela conversava com Aro, os ânimos foram ficando menos tensos. Eu já sabia que não haveria luta, então não haveria vencedores, ou perdedores, mas eu tive minha vitória. Quando olhei para o rosto do mestre Caius, meu sorriso se acendeu – ele olhava para Satine com os olhos arregalados em sua barriga. Ela era minha e agora ele sabia disso. Eu jamais contei a ninguém o que acontecera entre ela e eu, mas agora, era visível.

Satine só precisou de alguns minutos, alguns poucos minutos para resolver a situação com um abraço em Aro. Eu precisava falar com ela, e quando todos começaram a “bater em retirada”, eu me aproximei.

Quando minha mão tocou a pele quente de seu ombro, correntes elétricas passaram por meu corpo. Ela nem fazia idéia do poder que exercia sobre mim.

            Ela não me deixou dizer nada, virou-se para mim com os olhos baixos.

-                     O que você quer, Demetri?

Eu queria abraça-la. Queria segura-la em meus braços e dizer o quanto eu estava feliz em vê-la, o quanto eu estava feliz em saber que ela esperava um filho meu. O contrário disso, eu apenas perguntei:

-                     Não tem nada para me dizer?

-                     Não!

Deixei minha mão escorregar por seu braço, pousando de leve sobre sua barriga. Meu filho estava lá. Eu podia senti-lo. Ele se agitava com o toque da minha mão. Por um segundo eu me peguei imaginando seu rosto, como ele seria e com quem se pareceria. Por um segundo eu me lembrei de Satine em meus braços, minha pequena e frágil, Satine.

-                     Porque não me contou?

Ela tocou a minha mão com frieza e a retirou de sua pele. Satine me disse que não tinha nada a ver comigo, que era problema dela e que eu havia tomado minha decisão, embora eu nem soubesse que decisão era. Quando eu lhe disse que ela tomaria a mesma atitude de sua mãe, ela recuou, apenas um pouco. Mas aquela era minha Satine, minha impetuosa e tempestuosa, Satine. Ela não me escutou. Eu a vi se afastar com o lobo ao seu lado. Apesar de tudo, eu estava feliz que ela tivesse tantos que a amavam e cuidavam dela, enquanto eu não podia. Aquele garoto em especial, a amava muito e por isso tinha ganhado minha simpatia também. Eu a deixei ir.

Quando todos se afastam, eu permaneci. Eu, Carlisle e Marcus, apenas nós três. Eu me aproximei de Carlisle, precisava entender e esperava que ele esclarecesse as coisas.

-                     Carlisle, porque você não me procurou, porque não me contou?

-                     Demetri. Tenho certeza de que você e Satine tem muito a conversar, mas infelizmente, eu não posso lhe dar as respostas. Satine me fez prometer, e eu não quebraria a promessa. Só posso lhe dizer que eles não vão demorar a nascer.

-                     Como assim eles?

Confesso que foi uma pergunta imbecil, eu sabia o que ele queria dizer. Mesmo assim eu tinha que ouvir de sua boca.

-                     Satine está esperando gêmeos, Demetri. Parabéns!

Eu congelei no final daquela frase – eu seria mesmo pai, seria pai de gêmeos.

Marcos tocou meu ombro de leve.

-                     Meu caro Demetri. Eu já lhe contei a parte da armação de Caius e Heidi. Imagina o que Satine pensou, imagina o que Satine viu. Procure por ela, peça a ela que lhe explique e a faça entender que nada aconteceu. Nossa preciosa princesinha está se sentindo traída. Não permita que ela continue assim.

Eu ponderei por um momento as palavras de Marcus. Ele tinha razão, como sempre, aliás. Marcus era um homem sábio e decente. Eu concordei.

-                     Carlisle. Importa-se se eu ficar por um tempo, eu gostaria de ter uma oportunidade para conversar com ela, mas não quero forçá-la.

-                     Você sempre será bem vindo em minha casa, Demetri. Fique o tempo que precisar.

Eu os deixei e fui para a floresta. Agora que eu havia sentido novamente seu cheiro, ele me guiava para onde ela estava. Não foi difícil achar. Eu a vi caminhando até a fronteira e esperei que ela voltasse, eu não queria desrespeitar nenhum tipo de acordo que Carlisle tinha com os lobos.

Eu a observei pelo resto do dia, de longe.

Quando a noite caiu, eu acompanhei até a casa. Uma linda casa, onde provavelmente ela estava morando. A casa ocupava o mesmo lugar de nossa cabana. Eu a vi se despir para dormir, eu a vi deitar na cama, mas Satine não dormiu. Eu vi uma lágrima brilhar em seu rosto, contra a luz do abajur. Ela estava triste e eu me segurei para não entrar por aquela janela e a tomar em meus braços. Enquanto eu a observava, uma mão pequena tocou minhas costas, eu me virei em sobressalto, mas acertei apenas o ar – Alice!

-                     Ficou louca baixinha? Eu poderia ter te acertado!

-                     Queria ver você tentar! Aliás, queria ver você tentar novamente, porque a primeira você já errou.

Alice segurou em minha mão e me fez descer da árvore.

-                     Venha logo, antes que sejamos pegos. Satine é muito esperta.

Nós descemos e caminhamos para a floresta. Alice sentou-se no tronco de um carvalho caído e eu me sentei ao seu lado. Ela não era de muitos rodeios, então foi direto ao ponto.

-                     Vai dizer a ela que a ama, ou ficar só olhando de longe? Desculpe, mas nem parece que você já lutou tanto!

Eu não pude deixar de sorrir. Deixei meu rosto cair entre minhas mãos e alisei o cabelo para trás.

-           Esse é o problema Alice. Eu a amo tanto que não sei o que fazer. Tenho medo de por tudo á perder. Eu não suportaria existir sem ela.

            Alice me abraçou, paralisando minhas defesas. Depois de alguns segundos, eu retribui. Ela encostou a cabeça em meu peito e eu deslizei minha mão entre seus cabelos espetados.

-                     Ela também te ama, seu bobo. É por isso que está tão magoada.

-                     E você sabe o que ela pensa que eu fiz?

Alice se desfez de meu abraço e me encarou com os olhos decepcionados.

-                     Infelizmente, não! Essa coisa de lobo no sangue dela anula meus poderes. Isso me irrita muito!

-                     Vou conversar com ela amanhã, Alice. Eu prometo.

Alice se foi e eu voltei para perto da casa. Satine estava com o garoto, em sua cama. Confesso que senti ciúmes, mas ela precisava de apoio, e eu não estava lá.

Quando amanheceu, ele a deixou dormindo e foi até a cozinha. Eu aproveite a abertura da janela e entrei no quarto. Ela estava deitada de lado, com as mãos na barriga. Os cabelos bagunçados caindo no rosto. Eu não resisti, e a toquei. Deslizei minha mão suavemente em seu rosto, desci pela linha do pescoço, ombros, quadril e parei em sua barriga. Os bebês se agitaram, Satine também. Eu só tive um segundo para sair sem que ela me visse. Ela sorriu e olhou para a barriga. Levantou-se sonolenta e caminhou até a cozinha, ajeitando o cabelo. Eu queria dizer a ela o quanto ela estava linda, o quanto eu a queria naquele momento, mas não podia.

Fiquei observando a conversa e percebi que ela sairia sozinha – era minha chance.

Ela se vestiu e se penteou e saiu caminhando pelo gramado. Satine foi muito longe, até o rio. Sentou-se de frente para a margem e brincou com os pés na água. O sol refletia o brilho suave de sua pele. Seus cabelos dançavam com o vento e eu me aproximei.

Ela estava absolutamente maravilhosa, sorrindo e conversando com os bebês. Eu a fiquei observando. Então, o vento me traiu, levando meu cheiro até ela. Ela aspirou o ar com delicadeza.

-                     Ainda bem que ele não está aqui, porque a mamãe parece que engoliu uma melancia.

Eu não pude resistir ao comentário.

-                     Você está linda!

Ela não se virou. Não se mexeu. Eu novamente não resisti. Aproximei-me mais e flexionei os joelhos para que minha boca chegasse mais perto de seu ouvido.

-                   A mulher mais linda que já existiu, a que mais amei e amo. E a que quero ao meu lado, pela eternidade.

Eu toquei em sua pele. Ela ainda não se moveu. Senti seus músculos se endurecendo e então ela reclamou com as mãos na barriga.

-                   Está tudo bem?

-                   O que você está fazendo aqui?

-                   Achou mesmo que eu ia deixá-la?

-                   Achei. Você me disse que se fosse minha vontade, você deixaria!

Eu segurei suas mãos e olhei dentro do castanho chocolate de seus olhos, eu poderia me perder dentro daqueles olhos.

-                   Satine, meu amor. Quando olhei em seus olhos, naquela campina ontem, eu tive certeza de que não era sua vontade, assim como não era a minha também. Então, eu fiquei. Nós precisamos conversar.

Para minha surpresa, Satine concordou.

-                   Precisamos mesmo, mas não agora. Eu preciso que chame meu pai.

Peguei o celular da mão dela e o abri.

-                   É só discar o numero um, eu programei o celular dele.

-                   Amor, não tem área aqui!

Ela me olhos com os olhos assustados e ficou em silêncio por alguns segundos. Então, outra dor a atingiu e ela reclamou novamente. Eu odiava vê-la indefesa, vê-la sentindo dor, e mais que isso, eu odiava me sentir impotente diante disto.

-                   Pelo amor de Deus Satine, me diga o quer que eu faça!

-                   Quero que vá embora! Aliás, nem sei por que você está aqui.

-                   Não acredito, que no meio do nascimento dos nossos filhos você consegue pensar em brigar comigo!

Satine fechou os olhos, como se tentasse tomar coragem para falar do que lhe doía tanto.

 

-                   Primeiro, são meus filhos! Segundo, se você pode se esquecer de tudo que aconteceu e ficor com aquela, aquela... aquela desfrutável novamente, não direito nenhum de estar aqui!

Eu não consegui entender simplesmente porque não fazia idéia do que ela estava falando.

-                   Ficou maluca? Do que você está falando?

-                   Demetrius Ulrich Vendelstein, não finja que não sabe do que eu estou falando! Eu estou com muita dor para piadinhas!

Eu não resisti ao comentário. Satine raramente usava meu nome humano, embora ela sempre dissesse que o achava bonito.

-                   Puxa, meu nome humano! Devo supor que o assunto é mesmo sério?

-                   Demetri!

-                   Perdoe-me Satine, mas eu realmente não entendo. Naquela noite, em que você foi ao castelo, eu estava ferido. Lutamos contra um vampiro psíquico no sul, ele havia me tirado a consciência. Caius havia prometido que seria a última luta, por isso eu havia lutado. Quando acordei, soube de sua chegada e fui vê-la. Caius me disse que você havia mudado de idéia e pediu que eu me afastasse, tentei conversar com você, mas você não me deu chance. Você o beijou. E então eu a deixei ir.

Enquanto ela processava a informação, eu também tentei entender o que havia acontecido. Heidi havia armado para mim. As memórias daquela tarde voltaram todas em minha mente. Eu havia cordado no chão, sem camisa, embora tivesse certeza de que me deitei com ela. O chão estava sujo de sangue e eu não sabia porque, pensei que alguém tivesse se alimentado ali, mas não me passou pela cabeça que era uma cena armada. Satine levantou o rosto e me encarou.

-                   Está querendo me dizer que não esteve com Heidi?

-                   Satine, eu não estou com Heidi, desde a primeira vez que a beijei. Não existe outra mulher para mim, eu a amo, sempre amei.

-                   E a garota?

-                   Que garota?

-                   A garota morta, a que vocês sugaram o sangue e descartaram como uma coisa!

-                   Amor, eu não sei do que está falando. Eu não faço idéia. Não me alimentei de garota alguma. Na verdade nem ando me alimentando muito.

Eu sustentei seu olhar, para que ela soubesse que eu estava dizendo a verdade. Satine se aproximou e encarou meus olhos com ternura. A conversa ainda continuou, mas depois daquele momento em que seus olhos se perderam nos meus, eu sabia que ela ainda era minha. Eu sabia que Satine me amava tanto quanto eu mesmo a amava.

Eu queria segura-la em meus braços, queria aconchega-la e dizer que tudo ficaria bem, mas eu não fiz. Eu queria dar a ela o tempo que ela precisasse. Ela tocou em meu braço com a ponta dos dedos, deslizando-os sob minha pele.

-                   Eu preciso do meu pai.

-                   Quer que eu vá chamá-lo?

Ela então segurou com força, trazendo meu corpo mais para perto.

-                   Não! Por favor, não me deixe aqui sozinha.

Eu toquei em seu rosto e sorri. Eu jamais a deixaria sozinha. Segurei sua mão e trouxe seu corpo para o meu. Ela deixou a cabeça cair em meu peito, eu beijei sua testa.

-                   Acalme-se, vamos dar um jeito. Eu prometo.

Segurei seu corpo junto ao meu e a levantei em meus braços. Ela não estava bem, não era minha Satine, algo estava errado. Seu corpo se soltou em meus braços e eu senti como se meus nervos congelassem. Por mais rápido que eu corresse, tinha a sensação de que não seria suficiente e eu não conseguia sequer pensar na possibilidade de perdê-la assim.

Eu estava transtornado, quando o lobo apareceu. Achamos melhor leva-la para a cabana, já era mais perto e ele correu para buscar Carlisle.

Eu bati o pé na porta da frente e ela se quebrou. Deitei Satine na cama e sentei-me ao seu lado. Ela estava desacordada.  Eu nunca fui um homem muito religioso, mas naquele momento eu pedi. Na verdade, eu implorei, implorei pela vida dela, implorei pela vida dos meus filhos. Eu não sabia se tinha este direito, depois de tudo que fiz em minha vida, mas eu sabia que ela merecia, sabia que Deus não a deixaria. Eu pensei em minha mãe.

-           Mãe. Sei que a senhora está aí no céu, sei que está ao lado de Deus. Sei que talvez esteja desapontada comigo mas, por favor, não me abandone. Cuide dela para mim, a proteja. Veja mãe, olhe a barriga dela. Eles estão aqui! Seus netos estão aqui. Peça a Deus para ajudá-la.

Eu acariciei os cabelos de minha Satine com os dedos, e beijei sua testa, várias vezes, deixando que seu cheiro entrasse em mim.

-                   Eu não vou deixar você morrer! Eu não vou permitir!

Carlisle entrou como um raio no quarto. Ele e Edward começaram a montar aparelhos e liga-los. Carlisle tirou o vestido dela e a cobriu com o lençol.

-                   O que está acontecendo com ela Carlisle?

Ele não me respondeu, ele andava pelo quarto e a preparava para algo.

-                   Carlisle pelo amor de Deus, o que está acontecendo com ela?

Carlisle respirou fundo e segurou em meus ombros. Eu sabia que era sério.

-                   Os bebês estão entrando em estado de sofrimento. Teremos que operá-la agora.

Eu senti como se o chão sumisse. Embora eu confiasse plenamente no diagnostico dele, eu não podia imaginar alguém cortando ela.

De repente, ela acordou. Provavelmente algo na conversa a despertou. Carlisle a tranqüilizou e ela deixou que a medicação fizesse efeito.

Edward se posicionou de maneira que ficasse próximo aos instrumentos e auxiliasse Carlisle e ele continuou. Com uma lâmina afiada, eu vi a linha vermelha se formar em sua pele. A medicação não fez o efeito desejado, então ela acordou e agarrou a mão do lobo, quase arrancando. Ele protestou e eu fui até ela. Soltei sua mão e a segurei junto da minha. Ela olhou em meus olhos e eu percebi que ela confiava em mim novamente. Satine se acalmou.

Algum tempo se passou.  Tempo que para mim pareceu eterno. Um tempo que definiria a vida ou a morte. A vida venceu. Carlisle os retirou, um, depois o outro. Eles estavam sujinhos com o sangue dela e choravam muito, mas eram as coisinhas mais lindas que eu já havia visto em minha existência. Um menino e uma menina. Naquele momento, eu percebi que minha vida estava completa e pensei como havia conseguido existir por tanto tempo sem eles. Meus filhos.

Edward e o garoto lobo os levaram até ela e ela os olhos com seus olhos curiosos. Carlisle continuava o procedimento e então ela desmaiou. Ele me tranqüilizou, dizendo que tudo estava bem e que ela acordaria logo.

Edward passou a menininha para meus braços e ela sorriu. Minhas mãos tracejaram sua boquinha de coração, como a de Satine. Ela era perfeita e me lembrava minha mãe. Eu a beijei com cuidado e agradeci por tê-la em meus braços. Jacob me passou o menino. Meu pequeno guerreiro. Tão forte e seguro. Ele não se parecia muito comigo, mas tinha minha alma, minha impetuosidade. Eu o beijei também e ele sorriu.

Edward tocou em meu ombro.

-                   Parabéns!

Eu suspirei, com meus filhos nos braços.

-                   Obrigado.

O garoto lobo me abraçou e Carlisle tirou-os de meus braços. Alice chegou em seguida, e Rosalie e todos os outros. Eles pegaram os bebês e andavam de um lado para o outro. Eu só pensava nela. Todos saíram e eu fiquei. Ela estava lá, doce e linda, em seu sono forçado. Eu toquei sua pele com delicadeza e então senti duas mãos em meus ombros.

-                   Vamos cuidar dela?

Esme estava logo atrás de mim, com seu sorriso confortador nos lábios. Ela se aproximou da cama e retirou os lençóis sujos. Com uma toalha úmida, limpou o corpo de Satine e a vestiu com uma camisola de algodão. Eu fiquei observando, enquanto suas mãos gentias ajeitavam o cabelo suado de Satine.

-                   Ela não gosta de ficar despenteada! Esme disse sorrindo.

-                   Eu sei – eu respondi.

Quando terminou, Esme beijou meu rosto e saiu. Eu fiquei ao lado de Satine até ela acordar. Não demorou tempo suficiente para que eu a admirasse, ela era linda e doce. E estava especialmente linda depois de se tornar mãe.

Ela deu um suspiro e abriu os olhos. Seus doces olhos se perderam os meus mais uma vez.

-                   Como eles estão?

Ela estava agitada. Eu a tranqüilizei.

-                   Eles estão bem, meu amor, eles estão ótimos!

Satine me pediu para vê-los e eu assenti. Voltei com os dois, um em cada braço e os passei para os braços da mãe. Ela os admirou por alguns minutos. Suas mãos tocando a pele deles. Eu olhei em seus olhos e perguntei:

-                   Já pensou em algum nome?

-                   Ainda não. Quero apenas que ela se chame Marie, como eu e minha mãe.

-                   Então serão: Gavriel Ulrich Cullen Vendelstein como o Conde dos Cárpatos, meu avô. E Amellie Marie Cullen Vendelstein, Amellie como minha mãe, a princesa da Irlanda; e Marie como sua mãe, grande ancestral dos lobos.

-                   Perfeito!

Seu sorriso iluminou todo o quarto e eu percebi que aquele era o momento. O momento pelo qual eu havia esperado toda a minha vida.

Eu me ajoelhei ao seu lado e retirei a caixinha do bolso. Abri e mostrei a ela. Ela sorriu e eu a pedi que fosse minha, minha para sempre. Se eu tivesse um coração, ele certamente estaria acelerado, porque eu sentia o nervosismo em cada músculo. Ela se aproximou e sussurrou em meu ouvido:

-                   Sim!

Então o mundo parou. Nada mais era importante. Eu tinha tudo.

Outros entraram no quarto, mas meus olhos eram de Satine, sempre. Só me desviei dela, quando Carlisle entrou, eu queria pedi-la a ele, queria que ele me aceitasse. Ele olhou em meus olhos com tanta sinceridade que chegava a doer. Disse-me que ela já era minha e que ele jamais a tiraria de mim, que ninguém tiraria e me pediu que a fizesse feliz. Depois de nossa conversa, era como se o mundo não mais existisse. Eu estava feliz. Feliz e realizado, e tranqüilo.

Quando todos se foram naquela noite, eu tomei um banho e vesti apenas minha calça jeans. Ao olhar para o quarto, eu percebi o quanto a vida havia sido boa comigo. Ela, minha amada princesa, estava em nossa cama, linda e doce em sua camisola cor de rosa, segurando nossos filhos. Olhar para o rostinho deles me dizia que enfim, havia valido a pena ser justo, apesar de tudo. Olhar em seus olhinhos inocentes e saber que eu seria um homem novo, um homem diferente.

Naquele momento eu percebi que a mudança que aconteceu dentro de mim, quando encontrei aquela cesta na campina, tinha se completado agora, quando meus olhos encontraram aqueles dois pequenos pares de olhos. As três pessoas mais importantes de minha existência estavam ali, ao alcance de minhas mãos. Eles confiavam em mim e eu não os desapontaria.

Eu andei até a cama e beijei os lábios de minha doce Satine. Deixei que nossos rostos se tocassem e parei naquele toque, sussurrando em seus lábios.

-           Eu te amo, para sempre.

            Ela apenas sorriu e eu senti seu hálito quente e entorpecente. Deitei-me ao seu lado e puxei-a para meu corpo, aninhando nossos bebês no espaço entre nós. Eu acariciei suas costas e ela descansou seu rosto em meu peito. Satine suspirou fundo e então eu entendi o que significava esta noite para nós dois. Nada, nunca mais, seria igual.

Nada, nunca mais, seria igual. Nada, nunca mais seria capaz de tirá-la dos meus braços.

                                                                                                                  


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