Arco-íris de Fogo escrita por kharol_sn


Capítulo 1
ANOS PASSADOS




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Isso é definitivamente a coisa que eu mais amo fazer na vida. Eu estava correndo, correndo tão rápido que várias vezes sentia meus pés saírem do chão. Estava voando - por mais que eu odiasse os embaraços que ficavam nos meus cabelos cacheados com a velocidade - Continuava em disparada, sentindo toda a energia da natureza que venero, olhando cada detalhe que meus olhos pudessem capturar da floresta verde e viva que me cercava. Tentando me concentrar no cheiro que vinha do meio daquele lugar e no coração da minha presa. Mas não era isso que tornava este momento perfeito.
 Logo atrás de mim, pude escutar com clareza a respiração rápida e os rosnados resmungões que eu adorava. A fragrância que eu jamais confundira – o aroma do pêlo de lobo e o suave cheiro amadeirado e almiscarado, combinando com a cor de sua pelagem - Jacob estava perdendo de novo. Soltei uma gargalhada quando o bando de alces passou a ser visível, não precisei nem de meio segundo para encontrar o maior do grupo e atacá-lo, o animal não teve nem tempo de reagir. Quase ao mesmo tempo, Jake agarrou o segundo maior, e pronto. Lá estávamos nós dois saboreando nossas últimas presas do dia.

- Ganhei de novo! – dei uma risadinha maliciosa – Você não pode comigo Jacob Black. Tão maior que eu, e não consegue ser mais veloz que uma frágil híbrida!

Bom, meu pai (Edward Cullen) é um vampiro, e minha mãe (Isabella Cullen) também. Mas, quando ela ficou grávida de mim, ela ainda era humana. Por isso sou híbrida. Meio mortal e meio imortal. E isso me torna uma espécie raríssima. Eu tenho um amigo como eu, Nahuel e ele têm três irmãs, e pelo que sabemos, somos os únicos.

  Jacob ignorou minha provocação, até mesmo na forma de lobo ele conseguia me irritar. Quando terminamos a refeição, ele olhou pra mim presunçoso, um olhar que eu já entendia. Subi em suas “costas” bem agarrada nos seus pêlos e ele correu em disparada pra nossa campina. Quando eu e Jake caçávamos juntos – e isso era sempre – depois que acabávamos, íamos para uma campina longe da mansão Cullen (a casa onde minha família inteira passava a maior parte do tempo e que era no fundo da floresta), onde ficávamos horas conversando. Esse era o nosso momento. Nunca demorava pra chegarmos, eu brincava com ele, mas Jake corria muito bem e eu odiava ser tão rápido aquele momento em que ficava tão próxima dele, podendo sentir o seu cheiro e me acomodar nos seus pêlos. Assim que avistei a campina, pulei tirando minha mochila das costas – Eu odiava ver Jacob lobo com uma coleira no calcanhar para carregar suas roupas, então, sempre que saíamos juntos, pelo menos quando sabia que ele ia se transformar em lobo, levava minha mochila pra carregar suas roupas e isso podia aumentar a carga delas para um pouco mais além de uma calça – Coloquei minha mochila na sua boca e ele saiu em disparada na direção da mata fechada.
 
Enquanto esperava, sentei e fiquei admirando o lugar. Sentindo o cheiro de terra fresca, observando o lago que tinha bem à frente, o céu nublado de sempre, as árvores que pareciam terem sido colocadas cada uma, em uma mesma distância. A campina fazia eu me sentir mais humana, conseguia escutar meu rápido coração batendo e isso era bom. Fechei os olhos e logo, meu coração não era mais o único que eu escutava e o cheiro de terra não era o único que eu sentia.

- Demorei muito? – Perguntou-me Jacob.
- Uma eternidade. Já estava indo atrás de você. – Respondi satiricamente.

  Abri os olhos e Jake estava bem na minha frente, com uma camiseta preta e uma calça jeans desbotada. Ele deu meu sorriso querido. Sentia-me no céu toda vez que o olhava.  Aqueles cabelos escuros e até nos ombros, as sobrancelhas cheias, aquela pele avermelhada tão diferente da minha, o corpo monstruosamente grande e bem definido, ele me fazia ir para outro mundo, desde que nasci. Meu coração fazia um ritmo mais estranho do que de costume quando o via, principalmente quando aparecia o brilho nos olhos dele.

- Desculpe Nessie. – Jacob quase nunca me chamava pelo nome, Renesmee, ele tinha paixão pelo apelido que colocou em mim.
- Vou pensar em algo pra você se desculpar. E aí, quer que eu pegue um alce pra você? – Ri alto.
- Ah, eu deixei você pegar o maior. É bom às vezes ser cavalheiro.
- Claro. Principalmente quando se é um lobo. – Fiz uma careta.
- Você é tão engraçadinha quanto a sua mãe.
- Já escutei isso antes. Só que eu sou mais delicada que a mamãe, já sei.
Ele se sentou ao meu lado e eu o abracei, colocando meu rosto contra seu peito. Jacob soltou uma risada.
- O que foi?
- Nada.
- Fala Jake, que foi?
- Não é que.. É estranho escutar você... tão grande e falando “mamãe”.
Eu fiquei mais rosada do que de costume.
- Ah, Jacob. – Respondi sem graça. – Tecnicamente, eu tenho 6 anos, esqueceu?
- É, mas, todos nós consideramos que você esse ano se tornará adulta, esqueceu?! – Ele falou me imitando.
- Verdade. – admiti. – Mas, é estranho pra mim, e ao mesmo tempo engraçado. O último ano, dá pra acreditar que vou parar de crescer feito uma louca?!
- Não. – disse Jake. – Já estava acostumado com o seu crescimento quase repentino, isso era praticamente a sua marca.
Ri lembrando de algo.
- Há. Você se lembra da cara do vovô Charlie no meu aniversário de 2 anos?
Coloquei minhas mãos no seu rosto pra ele recordar a imagem que estava em minha cabeça.

Na minha família, muitos de nós Cullens, temos algum talento em especial. O meu é conseguir transmitir o que está em minha mente para a mente de outra pessoa quando toco minhas mãos no seu rosto ou pescoço. E como conseqüência desse dom, eu tenho todas as minhas lembranças intactas em meus pensamentos, cada detalhe.

Jacob riu e eu o soltei.
- Ele ficou completamente perdido, olhando pro calendário. Tentando te reconhecer e dizendo a Bella que queria te ver toda semana. A cara dele foi hilária!
- É.. Eu parecia uma criança de 8 anos.
- E mesmo assim, Alice nunca deixou passar em branco seu aniversário.

 
Minha tia, Alice Cullen era adorável. Ela achava fascinante o fato de ter motivos para dar uma festa anual. E todo ano, meu aniversário era uma comemoração. Meu 1° aniversário foi mais particular, ficamos com medo da reação de meu avô Charlie e da Sue (a esposa de meu avô e mãe dos lobisomens Leah e Seth Clearwater). Então quem comemorou comigo foi meus pais, meus tios (Alice, Jasper, Emmett e Rosalie – irmãos adotivos de meu pai), meus avós (Carlisle e Esme – pais adotivos do meu pai), meus amigos lobisomens (Seth, Quil e Embry – Leah nunca participou de nada que me envolvia, pra ela sempre foi mais difícil à amizade com vampiros) e o meu Jacob – que apesar de lobo, o considero mais que amigo. 
 
 No meu 2° aniversário, incluímos Charlie e Sue, que apesar da primeira reação que eu recordara, até estava mais à vontade com as histórias que ele sabia e não sabia sobre nós e o que tinha acontecido direito com a Bella, sua filha e minha mãe. Foi depois de um pedido meu que meus aniversários começaram a mudar. Quando estava perto do meu 3° aniversário, comentei com a minha tia Alice que estava sentindo saudades de Zafrina e dos Denali. E então a partir daí, meu aniversário se tornou um reencontro de amigos vampiros anual o que para nós, é como se nos víssemos duas ou três vezes por semana. Ou mais, já que temos a eternidade pela frente.
  No meu 3° aniversário, lá estavam todos eles. Carmen, Kate, Garrett, Tanya e Eleazar (O Clã dos Denali que praticamente eram da nossa família); Peter e Charlotte (Que iam mais pelo meu tio Jasper); Siobhan, Liam e Maggie (O Clã Irlandês que meu avô admirava); Zafrina, Senna e Kachiri (O Clã do Amazonas); Mary, Randall, Benjamim, Tia, Vladimir e Stefan (Os dois últimos eram romenos que se tornaram nossos amigos, por admirar nossa coragem de enfrentar os Volturi). Tínhamos mais “amigos” que nunca iam à comemoração. Alistair – que evaporou, não gosta de visitas e não sabemos onde está – e o Clã do Egito: Amun e Kebi, que tiveram um pequeno desentendimento com Carlisle por causa de Benjamim e Tia (que eram desse clã). Além deles, sempre em meu aniversário vinha mais uma vampira e o meu melhor amigo, Huilen e Nahuel. Todos eles já estiveram reunidos, quando tivemos que provar aos Volturi – O Clã mais poderoso de nossa espécie – que eu não era uma criança imortal. E eu amava muito a todos.

 
A primeira reunião foi inesquecível, foram muitas risadas e histórias. Desde então, meus aniversários são quase iguais. Sempre primeiro na casa de Charlie. Com ele, Sue, meus pais, a matilha de Sam e a matilha de Jacob. Fica sempre apertado com aquele monte de homens gigantes e a Leah (a única mulher-lobo), mas é bom, e meu avô se sente mais a vontade em fazer uma festa pra mim em sua casa. E mais tarde, a festa é bem diferente na mansão Cullen. Mas, minha tia sempre trata de deixar as duas festas deslumbrantes e incríveis. Na outra festa ficam sempre minha família imortal, meus vinte amigos vampiros, Nahuel e o Jacob, que mesmo incomodado com tantos vampiros, está em todos os momentos importantes da minha vida. Seth também às vezes aparecia. Duas festas, para a mesma pessoa, isso me cai muito bem levando em consideração que a partir do meu terceiro ano de vida, era como se a cada ano, eu fosse dois anos mais velha. Por isso, agora é como se eu tivesse dezesseis anos e no próximo aniversário, vou ter dezoito e não vou crescer mais segundo a nossa teoria.

- Meus aniversários são tão diferentes quanto eu. – Brinquei
- Não são tão lindos e agradáveis quanto você.
Era comum Jacob e eu trocar elogios, na verdade, não conseguíamos nos conter.
- Jake.. ah! – mudei de assunto pra disfarçar a emoção que sentia quando ele me elogiava.
- O que?
- Ahn.. agora me lembrei da primeira vez em que viemos nessa campina.
Já fazia um ano que sempre íamos lá. Ele riu.
- Disso você não precisa me lembrar. Eu lembro claramente, te trouxe em minhas costas pra te mostrar o que tinha descoberto e quando chegamos, você quase não acreditava.
- É. Achei esse lugar tão lindo, ainda acho. Ele é tão romântico.
Nos olhamos nos olhos, e ficamos de mãos dadas, com os dedos entrelaçados e um meio sorriso.
- Eu tive que me controlar para não te beijar. – disse ele.
- Não sei por que se controlou, aliás, num entendo porque até hoje se controla.
- Você sabe Nessie. – ele passou a mão em meu rosto – Sua fase de crescimento é muito complicada. Mesmo Edward e Carlisle estudando sobre isso, não temos certeza de como ocorre. Você deve se concentrar no seu desenvolvimento e não pensar em mais nada.
- Nahuel chegou à fase adulta com sete anos.
- Sim, eu sei. Mas, Nahuel não se relacionava com ninguém. É claro que é um alívio contar com Nahuel e saber que você não corre risco de vida. Mas, ele não pretende viver e nunca viveu no meio de humanos como você.
 
 Quando encontramos Nahuel, minha família ficou feliz por saber que eu não morreria por meu surto de crescimento e porque eu não representaria perigo há ninguém. Mas, como minha vida social é muito diferente, ainda existem dúvidas.
- Acho que eu conseguiria lidar com as duas coisas. – disse chegando mais perto de seu rosto.
- Eu prefiro não arriscar. Nessie, eu te amo. Se alguma coisa mudasse no seu desenvolvimento por minha causa, não iria me perdoar.
- Você e meu pai são protetores demais. – resmunguei.
- Não. Edward, Bella e eu temos medo de te perder, só isso.
- Nahuel não teve problema nenhum! Eu também não vou ter. Ele esta aí, forte e saudável com seus 160 anos.
- Ele é diferente, linda – amoleci. – Ele viveu toda a sua vida no meio da floresta. Você está cercada de lobisomens, de vampiros, de humanos. Não sabemos se isso pode afetar, mesmo você se saindo muito bem.
Parei por um minuto.
- E... – continuou. - Eu prometi...
- Você prometeu ao meu pai que não iria falar sobre isso antes da hora certa. – o interrompi. - E também que só deveria me preocupar com nosso futuro amoroso depois que meu crescimento acabasse.
- Exatamente.
- Promessa boba. Você vai ter que recompensar depois por todo esse tempo de espera.
- Como se só você não suportasse essa espera. – ele disse rindo. – Não tenho pressa de que você cresça, já esperei seis anos, agora que faltam meses não vou perder a cabeça.
 
Fiz uma cara de conformada que com certeza, não convenceu.
- Além do mais... Você vai ter muito com o que se preocupar esse ano, esqueceu?
Eu sabia do que ele estava falando.

 
 Bem, como esse ano supostamente vou completar 18 anos, decidi que não iria ficar mais somente na floresta e me limitando a ir visitar Charlie, fazer compras e passear com Jacob. Meu surto vai acabar então, provavelmente nenhum humano poderia agora perceber que sou diferente. Conversei com meus pais e eles aceitaram a idéia de eu ir pra Universidade, assim poderia ter mais experiências humanas e viveria de um jeito mais comum. Meu pai amou a idéia, quando ele namorava minha mãe tinha muito medo dela não aproveitar algumas experiências como humana antes da sua transformação. Comigo não é muito diferente, ele quer que eu aproveite tudo que eu sou. Tanto mortal como imortal, e não ficar me limitando há uma vida de esconderijos como até agora era a minha. Pretendo me matricular na Universidade da Cidade de Port Angeles, Jake terminou o ano passado à faculdade de Engenharia Mecânica lá – Claro, qualquer coisa que pudesse envolver carros ele gostava. – minha mãe não o deixou em paz enquanto ele não terminou os estudos.
 
Agora que Jake havia terminado a faculdade, estamos aproveitando todo o tempo possível juntos, enquanto meus documentos não ficam prontos pra minha matrícula. Sempre gostei de ler e estudar, foi uma forma que arrumei de fazer o tempo passar e de ser mais intelectual e humana, tudo bem que nesse quesito meu avô Carlisle é muito melhor que qualquer um de nós, mas eu estava me esforçando pra aprender com ele. Meu pai e minha mãe também eram dedicados nessa parte, talvez eu tenha puxado a eles. Já minha avó Esme e minhas tias Alice e Rosalie, se dedicavam a me deixar a mais feminina e delicada possível – o que era muito fácil, segundo elas – e inventava várias versões de minha vida que eu devia contar pros humanos, para que eles não descobrissem minha verdadeira identidade.

- É claro que não esqueci. – respondi Jake. – Fazer uma faculdade vai ser bom, testar meus conhecimentos e saber até que ponto eu sou normal pros humanos.
- A Sue, Charlie e meu pai acham você normal.
- É, mas, são todos da família e sabem que eu não sou tão normal assim.
- A sua avó Renée achou você normal.

Quando eu tinha 4 anos – ou 12, que seja – passei o verão com Renée, a mãe de minha mãe, na Flórida. 
 
 Ouvia mamãe contar algumas histórias sobre ela e achava muito legal, e também ela sentia muitas saudades da vovó. Então falei que queria conhecê-la, minha mãe e meu pai decidiram que eu iria passar um verão com ela. Bella ligou pra Renée falando que uma prima de Edward – no caso, eu – tinha ido passar uns tempos com eles, mas que eu comentei sobre a Flórida e queria muito conhecer lá. Minha avó não hesitou um minuto em aceitar que eu fosse – até porque ela passava uma boa parte do tempo sozinha, já que seu marido treinava beisebol o tempo todo – ela ficou um pouco triste quando minha mãe disse que não ia poder ir – até porque se a avó ver minha mãe depois da transformação, vai com certeza ficar louca -, mas se contentou em ver meu pai e eu. Papai só foi me levar e me buscar até a Flórida, foram dois meses maravilhosos! Mas quase morri de saudade dos meus pais e do Jacob. Renée é tão criança quanto eu, e felizmente ela ficou encantada comigo, várias vezes ela comentou que me achava parecida com a sua Bella e também com o “meu primo”, ainda bem que meu surto ajudou pra que ela não desconfiasse de nada. Quando voltei, pude amenizar a saudade da mãe contando tudo que eu e vovó aprontamos e mostrando o monte de fotos que tiramos. Eu pretendo voltar lá daqui a quatro anos, quando minha idade e minha aparência forem compatíveis pra Renée de novo.

- É mesmo! Sinto saudades dela. Talvez ela me tenha achado normal porque ela não é normal. – dei risada.
- Isso é mesmo. – ele disse rindo também – mas, tenho certeza que você não precisa se preocupar. Vai se sair muito bem na universidade.
- Hhmm... vou descobrir tudo que você fez naquela universidade!
- Nada, a não ser estudar, pensar em você e vir correndo todos os dias te ver assim que acabava as aulas.
- Ham.. sei! Vou fingir que acredito. – disse fazendo cara de desconfiada.
- Como se eu pudesse fazer alguma coisa com Leah me vigiando.
- Ah. Ótimo. É como pedir pro leão cuidar de um cordeiro.
- O que quer dizer?
- Você sabe muito bem o que quero dizer.
 
 
Quando Jacob começou a faculdade, Leah também decidiu fazer alguns cursos politécnicos. Jake me disse que ela já tinha esses planos antes, mas eu achava insuportável o fato dela ficar o tempo inteiro grudada nele. Mal acabava um curso e ela já começava outro, enquanto isso ia todos os dias pra outra cidade com o meu Jacob onde eu não podia nem sentir o cheiro de nenhum deles. Leah nunca gostou de mim e por mais que eu me esforce, ela parece se divertir me provocando. Jake diz que desde que ela começou a cuidar de algumas crianças em La Push, seu temperamento melhorou. Só se for com os outros.

- Eu não consigo entender esse seu ciúme sem sentido da Leah.
- Sem sentindo?! – disse trincando os dentes – por favor, Jake, essa mulher vive grudada em você desde que eu usava fraldas! Antes mesmo de eu nascer ela me odiava e odeia. Ela vive nos seus flancos. Você confia tanto nela que ela é sua beta! Ela só não é mais hostil comigo por falta de espaço.
- Leah sempre teve dificuldades para lhe dar com isso, Nessie. Ela é só uma amiga e uma lobisomem dedicada.
- Argh.. – bufei.
- Aposto com você que ela não tem interesse em mim, eu posso ver seus pensamentos quando nos transformamos e não tem nada do que tem na sua cabecinha.
- Lógico. Ela não vai ficar pensando nisso quando você pode escutar.
- Não sou eu quem tem um amigo que despenca de outro país o tempo inteiro, só pra saber como é que eu estou. – disse Jake com ironia.
- Do que é que você tá falando?
- Ora, do que. Do esquisitinho trançado.
 
Jacob sempre implicava com a trança que Nahuel fazia no cabelo. Meu amigo híbrido não aparecia só no meu aniversário, ele vinha pelo menos duas vezes por ano me ver.
- Nossa... Jacob. É diferente.
- Claro que é diferente! O esquisito não esconde de ninguém que ele quer você! Toda a vez que ele te olha, eu sinto vontade de quebrar a cara dele.
- É que Nahuel queria ter tido uma família como eu tenho, só isso. – menti. Realmente meu amigo sentia algo por mim, ele se declarou uma vez.
- Uma família que ele pretende ter um dia, construindo com você.
- Ah, para Jacob.
- Vai dizer que não? Você é a única fêmea da mesma espécie que ele! As outras são todas suas irmãs.
- Leah também é a única fêmea da sua espécie! Com uma linhagem tão forte quanto a sua.
- Aff! – dissemos juntos.
Depois de um minuto nos olhamos e começamos a dar gargalhada.
- Somos o casal que sofreu imprinting mais estranho que já existiu. – falou Jake ainda rindo.

 
Fazia parte da promessa que Jake tinha feito a meu pai que eu só saberia o que é exatamente um imprinting com o fim do meu surto. Eu tenho certeza que tem haver com minha forte ligação com Jacob e o fato de nos amarmos intensamente, apesar de termos que esperar o fim do meu conturbado crescimento, já o sentia em cada poro de minha pele, em cada parte de mim. Eu necessitava de Jacob tanto quanto é necessário se alimentar, nós dois precisamos um do outro. Como duas peças de quebra-cabeça diferentes que se completam, nós somos assim.

- Talvez porque você seja o único lobo que sofreu imprinting por uma meia vampira. – falei rindo também.
 Quando paramos de rir Jacob deitou no meu colo, eu comecei a mexer no seu cabelo enquanto nos olhávamos intensamente. Era incrível como quando nossos olhos se encontravam não era preciso mais nenhuma palavra. Se a eternidade fosse esse momento, jamais me cansaria dela. Depois de algum tempo Jacob ficou com o olhar distante, como se estivesse perdido em pensamentos.
- No que você está pensando tanto? – sussurrei no seu ouvido.
- Eu queria entender porque você foi a escolhida pra sofrer um imprinting comigo.
Olhei pra ele confusa.
- Por que isso agora?
- Porque tudo o que falamos aqui faz sentido. O certo era você ficar com Nahuel e eu com alguém de minha espécie... como... a... Leah.
- Jake... – respirei um pouco, controlando o nervosismo – Se nem mesmo o amor é racional, porque o imprinting vai ser? Se é que pode se comparar essas duas coisas.
- Mas, será que é o certo?
Parei tentando entender aonde ele queria chegar.
- Você tá parecendo o meu pai quando ele namorava minha mãe. Ela sempre me conta que ele falava umas coisas desse tipo.
- Edward tinha medo de escolher um destino pra Bella que não fosse o melhor.
- E você acha que o melhor pra mim é nós não ficarmos juntos? Você quer que eu fique com o Nahuel? Você quer ficar com a Leah?  – disse com medo da resposta.
- Não foi isso que eu disse Nessie. Só queria entender porque você, se isso realmente é o melhor pra nós.
- Eu não consigo imaginar um futuro que não seja junto com você. – disse um pouco triste com o rumo que nossa conversa estava tendo.
- Nem eu linda, mas não sei até que ponto isso é certo.
- Jake ainda não entendi aonde você quer chegar. – resumi.
Ele respirou fundo, finalmente ele diria o que estava pensando. Continuei mexendo no seu cabelo.
- É que eu não sei até que ponto o imprinting é certo. Por exemplo, quando Sam virou um lobisomem e sumiu, Leah não se importou. Continuou amando ele preocupada com o que ele estava escondendo dela, com o motivo do sumiço, e de repente Emily apareceu e “BUM”! Um imprinting. Sam não teve escolha, terminou com Leah e vive a maior história de amor com a sua prima. Leah não fez nada pra merecer isso, entende? Por que Sam não sofreu o imprinting com ela? Quer dizer que o melhor pra Leah foi sofrer todos esses anos? Quil teve o imprinting quando a Claire tinha 2 anos! Por quê? Nem meu pai, nem Sam sabem explicar.
- Mas, precisa ter um motivo? – disse analisando o que ele tinha acabado de me contar.
- Não sei. Na verdade só queria entender melhor.
- Tem coisas que nós não entendemos Jake. Você sabe me explicar por que minha mãe se apaixonou por meu pai? E por que motivo o meu pai por ela? Era praticamente impossível, mas aconteceu. Você achava que a mamãe não devia ficar com papai, achava que era pior do que a morte. Se as coisas tivessem acontecido do jeito que você queria, eu não existiria e minha mãe seria sua esposa!
 
Tentei manter o rosto rígido, tentando apagar da mente o que tinha acabado de imaginar. Jacob se levantou e me abraçou.
- Não me faça imaginar um mundo onde você não exista.
- Então, para de falar essas coisas, por favor. Eu sei que você se preocupa com a Leah, eu me preocupo com o futuro de Nahuel também. Mas isso não pode alterar nosso futuro, tenho certeza que um dia isso vai ter explicação, só acho que isso não importa tanto. Eu confio no que o destino nos reserva, se ele me escolheu pra sofrer esse tal imprinting com você, é porque você é o grande amor da minha vida. E Leah devia confiar no destino também, acredito fielmente que Sam não é seu grande amor.
- É, acho que importa mais pra mim porque sei o que Leah passou e me lembro de todas as lembranças que ela trazia pra mente da matilha. Talvez eu esteja me tornando um alfa muito protetor e esteja misturando os problemas de minha matilha com os meus.
- O que aconteceu com Leah não vai acontecer comigo, ela não sofreu imprinting com o Sam e não tem como algo nos separar.
- Nessie, minha linda. Eu sei disso, e não tenho dúvidas de que você é a mulher da minha vida. Eu só quero a sua felicidade, o melhor pra você e nada mais. Mesmo que não seja ao lado de um lobisomem.
 
Olhei pra ele e fiz que não com o rosto.
- Protetor demais Jacob Black. Vamos resumir, Meu lugar é ao seu lado eternamente. Mesmo você sendo um lobisomem preocupado demais com a beta de sua matilha, mesmo você sendo um alfa muito dedicado e mesmo você sendo um homem lindo, engraçado, forte e capaz de livrar uma meio humana de qualquer problema em que ela se meter. Certo? – dei um sorriso e beijei a maçã do seu rosto.
- Certíssimo. Uma meio humana linda, – ele beijou minha testa – encantadora, – beijou minha bochecha. – delicada, - a outra bochecha. – inteligente, - beijou meu nariz. – divertida, - meu queixo. – E... – disse ele tão próximo de mim que eu estava sem ar. – Completamente irresistível.
 
Ele se soltou do meu abraço me deixando quase a beijar o vento. E saiu correndo pra perto do lago soltando risos.
- Jake, volta aqui! Eu vou me vingar dessa. Aonde você vai? Ah, é? Eu vou te morder.

Saí em disparada atrás dele. Havia momentos em que eu e Jacob éramos mais crianças do que uma com a minha verdadeira idade, como agora que ficamos dando volta no lago até eu cansar e cair esparramada no chão.

- Você não pode comigo Renesmee Cullen. Há-há-há! – ele falou me provocando.
- Tudo bem, essa você ganhou. Desisto. Mas, o que você fez foi golpe baixo.
Ele abaixou pra ficar próximo do meu rosto.
- Por quê? Você não consegue se controlar quando eu estou assim, tão perto de você?
Era uma péssima hora pro Jacob dar o sorriso que eu amava tanto. Mas não me concentrei nisso. Quando ele chegou mais perto pra me provocar, voei no ombro dele, dei uma mordida tão forte a ponto de sentir o gosto de sangue em minha boca. Dei risada quando vi o rasgo que tinha feito na camiseta e na pele dele.
- AAAAAAAAAiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!! Nessie que droga!
Cheguei ao lado da sua orelha.
- Não. Eu não consigo me controlar, desculpe. Meu lado vampiro falou mais alto que o humano. Há-há-há!
- Isso foi golpe baixo! – disse resmungando e limpando a ferida que já estava cicatrizada.
- Golpe baixo? I-m-a-g-i-n-a... você que começou.
- Seus dentes estão cada vez mais fortes e mais afiados. Sua mania de me morder tá ficando dolorosa.
- Ai, Jake... Você não sangra nem por um minuto.
- Você foi bem rápida desta vez, treinou luta hoje?
- Treinei um pouco com o tio Emmett de manhã. – admiti.
- Tá explicado a força da mordida.

 
 Eu gostava de aprender a lutar, essa parte eu herdei do meu pai já que dá família ele é o melhor lutador. Nunca nos reuníamos pra treinar luta – até eu nascer e criar problema - mas como tínhamos que estar preparados para o caso dos Volturi atacar, não havia outro jeito. Meus pais me proibiram de treinar por um bom tempo. Até que quando eu tinha 5 anos, meu tio Emmett e meu pai estavam caçando e eu fui com eles. Um minuto de distração do meu, que pai foi capturar sua presa favorita – leão da montanha – e meu tio já estava me ensinando como capturar um urso pardo. Meu pai quase matou meu tio, literalmente. Ele ficou muito bravo – ainda mais sabendo que meu tio aproveitou a distância do ataque dele para que meu pai não conseguisse ler sua mente - mas eu achei legal pegar um animal tão grande e saboroso. O Sr. Edward jamais deixaria eu fazer aquilo sozinha. Quando meu pai se acalmou e percebeu que eu não tive muita dificuldade em atacar o animal, ficou impressionado com a minha força e me ensinou a capturar leões da montanha. Esse dia foi muito divertido. Tudo bem que quando contei a minha mãe e a Tia Rose – esposa do Tio Emmett – elas quase jogaram a casa em cima deles, mas depois se conformaram.
  
Desse dia em diante, tive permissão pra começar a treinar. No começo eu era péssima, meu avô que odiava lutar me derrubava em apenas um segundo, mas eu sou muito teimosa e insistente. – parte que herdei de minha mãe – Aos poucos, Tio Emmett ensinou como eu devia usar minha força, Tio Jasper ensinou as técnicas de ataque e precauções pra defesa, minhas tias me ensinavam como manter a postura feminina diante de uma luta – isso sim era difícil – minha mãe demorou um tempo pra tentar lutar comigo. Era interessante treinar luta com ela, porque tínhamos táticas muito parecidas no corpo a corpo e, além disso, o escudo de minha mãe – o seu talento – não funcionava comigo. Eu era uma das poucas pessoas que podiam entrar em sua mente. Ela estava controlando melhor esse dom, mas sabemos que pode ficar ainda melhor. No começo nosso corpo a corpo era tenso, eu tinha medo de machucá-la e vice-versa, meu pai nem assistia a luta. Apesar de meu pai ser o melhor lutador ele não consegue enfrentar a mim e a minha mãe, diz que é impossível nos enxergar como alvo, às vezes meu pai leva algumas coisas muito a sério, ele não confia muito no seu autocontrole mesmo sendo o melhor nisso também.
 
 Depois, eu e minha mãe nos divertíamos lutando, nunca nos machucamos, mas nossos pontos fracos são melhorados a cada disputa. Ainda não sou muito boa, mas como meu tio Emmett adora uma aventura sempre está bem disposto pra me ensinar, e eu pra aprender.

 
Eu ri pensando um tudo o que tinha me recordado naquela tarde, quanta coisa rápida aconteceu em minha vida.
- É. – disse – muita coisa aconteceu e eu aprendi durante todos esses anos.
- Anos passados diferentes e malucos como tudo que há em você. – ele falou brincando.
Dei um soco no seu peito rindo, e assustei quando olhei pra cima.
- Jacob. Olha o céu, está quase na hora do crepúsculo, tenho que ir pra casa prometi ao meu avô que estaria lá para o jantar antes disso.
- Ah, é. Hoje é quinta.
Fiz careta. Toda quinta feira meu avô me fazia comer alimento humano, eu tinha o direito de escolher qual das três refeições diárias importantes do dia eu seria servida. Hoje eu escolhi o jantar. Como era insuportável comer comida, ainda mais sozinha, Jacob sempre se alimentava comigo nessas refeições.
- Jakee... – disse maliciosa – lembra que eu ia pensar em algo pra você se desculpar?
Ele parou e pensou um pouco.
- De jeito nenhum! – ele entendeu o que eu queria – Dá última vez quase fui embora depois do sermão que o Carlisle me deu por ter comido a sua parte.
- Ahh! – lamentei – é muito sem graça aquela comida. Ela nem se mexe! Fica no seu prato pronta e morta, sem nem chance de reação.
Ele riu.
- Você tem que se acostumar, Nessie. E quando estiver só entre humanos, o que você vai fazer?
Pensei um pouco lembrando de como queria que meu disfarce humano fosse perfeito.
- É. Temos que ir se não vamos nos atrasar, ainda tenho que passar no chalé. Se a tia Alice me ver assim é o meu fim.
Quando eu ia caçar, sempre usava tênis – ou nada – uma calça jeans simples e uma blusa qualquer que eu não sentisse falta caso estragasse. Minha tia era absolutamente contra qualquer roupa básica, ela cuidava muito bem do meu closet e do de minha mãe.
- A Alice é uma figura. Vamos então, vou indo me transformar pra chegarmos mais rápido.
- Espere Jake!
Ele voltou meio confuso.
- Que foi? Você não está com pressa?
- Estou, mas antes quero lhe pedir uma coisa.
- O que?
- Ah... só quero que.. que... que você prometa pra mim que nunca mais vai falar sobre o nosso imprinting como hoje a tarde. Eu não sei muito bem o que é, mas num quero ouvir você falando de não estarmos juntos só porque somos de espécies diferentes.
 
 Eu abaixei a cabeça e escutei suspiro pesado de Jacob. Ele segurou meu queixo e ergueu meu rosto com delicadeza.
- Me perdoe linda, não é que eu não queira estar com você pra sempre, por favor, entenda isso. É só algumas dúvidas, nada demais. Mas, é óbvio que quanto ao meu sentimento por você não existem incertezas. Não vou nunca mais falar sobre isso, eu prometo.
- Promete mesmo?
- Juro. Você é minha amada, minha Nessie, viver sem você por perto é apenas respirar.
Dei um sorriso largo e beijei seu rosto.
- Agora eu escutei o meu Jacob. Pronto, podemos ir.
Ele riu com satisfação.
- Volto em um minuto.

 
O lobo Jake voltou em tempo recorde. Peguei a mochila de sua boca e coloquei nas costas, subi nos seus pêlos e ele saiu em disparada. Enquanto eu ia agarrada em seu pescoço relembrando cada momento de mais uma tarde maravilhosa e permitindo que ele lembrasse também, e sentisse o quanto eu era feliz por tê-lo sempre comigo.


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