Volto para casa encharcado em barro, largo a pá no meio do caminho e continuo pensando comigo mesmo... Onde está Troian? O quão longe sua história esta me levando e onde ela vai parar? Eu sou uma seção paralela do que ela viveu, estou me tornando o mesmo ser que ela foi e agora ninguém mais sabe de seu paradeiro... Porque os jornais locais disseram que ela se matou?

  Jason disse que nunca mais entrou na casa desde que soube da noticia... Isso não quer dizer que ele tenha visto o corpo! Mas alguém viu... Alguém tinha que reconhecer o corpo... O que estou dizendo? Que corpo? O caixão estava vazio... Começo a vivenciar um novo conceito de insanidade.

  Presencio história cheio de pessoas vazias em uma cidade onde todos acreditam em algo que nunca viram. Troian é uma lenda morta, uma alma circulante pelos corredores daquela escola em um passado não tão longe. Alguns meses antes talvez ela estivesse se balançando no mesmo balanço que sento neste instante. A chuva não sessou. Os raios continuam desenhando linhas do céu ao chão.

  Meu corpo está rígido e eu estou batendo os beiços quando alguém que nem notei chegar me balança.

-Você está bem? –Pergunta Toddy.

  Primeiro eu dou um pulo com o susto e em seguida me sinto como Troian e tenho a vontade de socar sua face. Fico ali parado por um bom tempo enquanto penso na resposta e quando noto estou negando com a cabeça.

-Meu Deus Ethan, você está todo sujo. –Diz o capitão do time da escola.

  Levanto a cabeça por cima de seu ombro e vejo seu carro vermelho parado no acostamento com os faróis ligados.

-O que aconteceu? Você se acidentou? –Questiona ele.

  Nego com a cabeça novamente.

-Quer ir pra algum lugar.

  Eu não consigo dizer nada, por isso nego mais uma vez com um simples movimento.

-Levanta, eu vou lhe ajudar a ir pra casa.

  Olho no fundo de seu olho, e por mais que eu tema estar na presença de um possível assassino, levanto e me dirijo ao seu carro.

  Entro antes dele, o ambiente tem cheiro de comida japonesa, há uma calcinha vermelha no chão mas eu evito olhar levando em conta o grau insano que apresento.

-O que você estava fazendo aqui? Você vai congelar. –Ele liga o aquecedor e começa a dirigir. –Pegue minha jaqueta. –Ele estaciona novamente e me dá a blusa grande e vermelha. Eu sorrio.

-Eu sempre me perguntei o porque de jogadores de futebol usarem isso toda hora. –Nós dois rimos.

-É meio que hierarquia... A jaqueta deixa claro que estou no topo...

  Olho pela janela embaçada e assisto a água levar um livro velho.

-Tudo sempre se tratou de hierarquia pra você não é? –Questiono com um olhar vago, eu não lhe encaro mas posso sentir seus olhos em mim, tenho a aparência exata de alguém que acabou de fugir do sanatório. Sobrancelhas levantadas sorriso irônico e a magoa constante na voz. –Você podia ter lhe ajudado a levantar, podia ter largado o copo... Mas sujar a fama do rei da escola era demais pro nosso pequeno Toddy. Ou você poderia simplesmente ter ajudado ela com o problema da gravidez.

-Você não leu a história toda. –Diz Toddy.

  Paro de encarar o ambiente do lado de fora e lhe olho.

-Leu? –Pergunto.

  Ele enfrenta a rua com fúria dessa vez, começa a acelerar e dirige para longe de minha casa.

-Nós passamos da minha casa. –Anuncio.

-Eu tenho que te contar algo antes... –O acelerador está no máximo. –Ela nunca esteve gravida. Troian nunca engravidou... Ela estava ficando louca. Tanto quanto você está ficando por ler o diário dela.

-O quanto você sabe do diário?

-O suficiente para saber que tem segredos meus ai dentro...

-Segredos que te fariam matar? –Questiono respirando rápido.

  Ele tira os olhos da pista e procura minha alma nos meus.

-Talvez. -Sorri.

  Abro a porta do carro e rolo pela pista em um segundo. Vejo a luz do freio acender e o carro relincha, levanto esfregando o joelho e começo a tentar correr mas a dor queima a perna inteira.

  Me esfrego na grama e quando Toddy sai do carro, estou correndo para dentro da floresta. Continuo com toda minha força e sinto gosto de sangue em minha boca. Continuo em frente olhando para trás e sem notar bato em um galho.

  Minha cabeça está dolorida e eu sinto minhas costas em chamas, olho para minha perna e noto o machucado por trás do grande rasgado no jeans. A escuridão se apossa de mim e eu durmo na terra molhada.

  A dor maior vem na manhã quando o médico está enfaixando meu braço quebrado e passando antibióticos nos machucados na perna. Meu beiço está quebrado e eu tive que pegar pontos no joelho.

-O que aconteceu com você garoto? Nunca vi algo do tipo... –O doutor diz.

-Ele estava andando de skate durante a chuva e saiu da estrada quando algum louco vinha no sentido contrario. Ele saiu girando por um barranco e chegou esta manhã em casa. –Minha mãe conta.

-Continue tomando os medicamentos e volte em sete dias para retirar o apoio do braço, você teve sorte por não romper o osso, só torceu e lesionou alguns nervos, precisa ficar o mais imóvel possível, não ultrapasse os horários e muito menos os limites ok?

-Ok. –Respondo.

  Na volta pra casa paramos para comprar um chá pronto e seguimos o caminho, eu perdi o dia de aula então tenho tempo para ler mais partes do diário. Assim que entro em meu quarto, tranco a porta e deito na cama para voltar a ler e entender o paradeiro de Troian.

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18, Maio.

  Fazem dois dias desde que escrevi a ultima vez. A policia está procurando pelo paradeiro de Megan, eu realmente queria que eles descobrissem o local mas tenho medo da reação de Jhon após isso, eu estava na biblioteca quando ele passou por mim e me deu um livro, abri e logo paginei, dentro havia um bilhete escrito: “Segredos podem te fazer sorrir ou... morrer”. Eu não tinha entendido de inicio pois não achava graça nenhuma sobre o fato de termos enterrado minha melhor amiga, mas logo eu vi que não se tratava de minha risada e sim das pessoas ao ouvir eu contando a versão onde Jhon atropela Megs e me faz cavar um buraco raso.

  Então... Ele quis dizer que se eu contasse a versão verdadeira às pessoas ririam de mim e após isso ele me daria um fim parecido com o de minha melhor amiga.

  Eu não aguentava mais estar em aula até que um garoto do time de futebol veio falar comigo. Primeiro eu pensei que ele só era mais um idiota exatamente como Toddy era, mas não... Peter era...

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  Peter? Finalmente o cara da foto entrou na história, o ciclo começa a se fechar, há poucas coisas para continuar lendo... Meu universo e o de Troian se encontram acabados em mais alguns dias... O garoto que foi importante o suficiente para estar em uma foto do diário finalmente surgiu para explicar sua participação.

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  Eu não aguentava mais estar em aula até que um garoto do time de futebol veio falar comigo. Primeiro eu pensei que ele só era mais um idiota exatamente como Toddy era, mas não... Peter era engraçado e começou a me contar sobre ter chegado na cidade naquele ano e sobre ter que se adaptar em um lugar totalmente diferente do seu lar anterior. Me pergunto como seria se eu tivesse a oportunidade de sair daqui e começar novamente lá fora. Parece que a cidade inteira é um universo paralelo ao mundo real.

  Peter me fez rir quando eu comecei a me preocupar com Megs, talvez ainda há um fim de esperança pra mim. Entretanto, nunca consigo esquecer que toda vez que alguém surgiu com boas intenções, acabou saindo de minha vida com segredos amargos.

  Meu irmão está cada vez mais louco com o lance de entrar na igreja. Ele queimou seus pornôs e jogou nossa tevê no chão porque era “coisa do diabo”. Além do mais, esta manhã Francia me procurou e pediu desculpas, eu jamais lhe desculparia pelo que ela fez. Quando a aula acabou eu encontrei um bolo de pó e maconha na minha mochila. Acho que essa é a maneira de um drogado presentear alguém, como no natal...

Troian Fields.

21, Maio.

  Ter Peter comigo tem sido ótimo, ele me chamou pra ir no cinema na noite anterior e antes disso tínhamos ido á um piquenique, até bati algumas fotos com ele. Ele tem sido o meu primeiro amor em quatro dias, acho que o fato de eu estar apressando a coisa está totalmente ligado ao fato de ter ficado tanto tempo só, carente e triste.

  Não me livrei das drogas porque tinha medo de minha mãe abrir o lixo e deparar com o deposito do Bob Marley, então guardei na gaveta das calcinhas, um lugar onde jamais será encontrado. O bom, é que agora eu fico com a “xana” doidona pelo corredor da escola. Afinal, isso é um termo adotado pelo Peter. Ele meio que parece um velho tarado ás vezes. Ele tem um ótimo beijo mas sua mão sempre vai mais longe do que deveria ir. Nem todo mundo é perfeito. Certo?

Troian Fields.

22, Maio.

  Toddy é um idiota! Ele simplesmente não aceita o fato de ter saído de minha vida, ele quer se manter ali, a risca. Tenho tanto medo dele quanto de Jhon, ambos não são confiáveis... Jhon matou alguém e me ameaçou, Toddy teria toda sua carreira no time indo por água abaixo quando descobrissem do caso de estupro. Lyla seria vaiada por toda escola se descobrissem que ela tentou se matar. As pessoas não entendem a dor até que passem por ela.

  O que vale, é que você nunca nota quando alguém está sofrendo de verdade, porque este alguém pega os cacos de sua amargura e guarda dentro de si. Francia seria presa por agressão e o professor Sheldon iria pra cadeia por pedofilia.

  Quantas meninas ele pegou antes de mim? Será que os seios seriam só a passada na catraca do ônibus enquanto ir além seria continuar na viagem? Tudo parece tão confuso e desanimado, mas ai... Ele chega e me dá um tempo pra respirar em paz. Peter é o cara mais legal desse universo. Eu estou completamente apaixonada por ele.

Troian Fields.

25, Maio.

  Eu estava voltando a ler e parece que tudo se trata sobre Peter nos últimos tempos, meu Deus, eu estou parecendo uma menininha boba. Mas é tão engraçado o jeito que ele me faz sorrir só por estar ali presente. Eu tenho medo de como continuaria se ele simplesmente fosse embora.

Troian Fields.

-

  Ouço a porta do primeiro andar bater.

-Mãe?

  Ninguém responde, levanto da cama e abro minha porta que range como nos filmes de terror.

-Alguém tem que passar óleo nisso. –Falo me arrepiando.

  Começo a andar pelo corredor e olho de cima da escada enquanto a porta principal abre e fecha sozinha. Procuro alguém de um lado e de outro até que crio coragem para descer a escada e escorar a porta por trás do vento forte.

-Todos os dias assustadores ou tristes são chuvosos. Troian tinha razão. –Falo sozinho.

  Viro de frente para a escada e a luz do meu quarto está acesa. Respiro fundo e pego um abajur na sala. Começo a dar passos leves usando o objeto como uma arma e empurro minha porta.

-Achei que você fosse demorar. –Fala a figura de costas pra mim embaixo de um capuz preto.

-Como você entrou aqui? –Cuspo as palavras. –Eu vou chamar meu pai. –Nossa, isso soou horrível.

-Eu só quero me explicar Ethan. –Toddy vira de frente pra mim.

-Você é o cara que estava por baixo do capuz me vendo conversar com Lyla não era?

  Ele se mantem calado e isso me vale como uma afirmação.

-Eu não matei Troian eu jamais teria coragem.

-Não é o que suas ações dizem.

-Eu amava a Troian mais que a mim mesmo, e isso me levou a fazer o que fiz com ela no quarto, na festa de Megan e com Peter.

-Peter? –Pergunto. Começo a tremer pensando na próxima morte provável.

-Você ainda não sabe sobre Peter? –Pergunta ele.

-O que aconteceu?

-Se você acha que o dia da festa de Megan foi arrasador para Troian é porque não sabe o que houve em Junho.

-Junho? No mês que ela...

-No DIA em que Troian morreu!