The Dying Ladies escrita por Tamar Rangel


Capítulo 4
Carro, rua, casa, decepção


Notas iniciais do capítulo

Aí está mais um capítulo pessoal! Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/378787/chapter/4

Passava das cinco quando Emily Fields saía do seu treino de natação. Dava um leve adeus para suas colegas com um lindo sorriso estampado nos lábios. Mesmo com a volta de Jenna Marshall naquele mesmo dia, tudo parecia melhorar. Sentia-se cada vez mais achegada as suas amigas, não precisava mais esconder delas seu desejo não tão secreto – e sua paixão pela mais jovem da família Dilaurentis – e conseguia evitar Maya por todas as vezes que a encontrava pelos corredores. Aria andava bem calada, tristonha e não reforçava nenhuma opinião a respeito do seu problema, Spencer achava que Em deveria se policiar até tudo isso acabar e Hanna era a favor da verdade, da mais pura verdade. Abrir-se para seus pais e dizer “Sou gay”. Essas foram as palavras desconsertadas da moça.

Emily gostava de escutar Spencer, apesar de Hanna ter certa razão. Contudo, não procurava razão alguma, procurava apenas por um consolo, por algo a se esconder. E por falar em se esconder, assim que entrou no carro a atleta em um súbito susto quase se jogou para fora quando viu Maya escondidinha no banco de trás.

– Meu Deus! Maya, o que você está fazendo aqui?!

– Não me esperava por aqui após um beijo daquele?

– Não, eu não esperava. – bufou. – Na verdade, acho que seria melhor você ir.

– Por que não me leva até minha casa? – maliciosamente Maya foi para o banco do carona.

– Maya, por favor...

– Você não está com medo de mim. Está Emily? – ela a acariciava o rosto enquanto falava.

Desnorteada e sem ação ligou o carro e partiu em direção a casa de Maya. A mesma tentou puxar assunto durante o percurso, mas Emily sacudia a cabeça em acordo sem dar muita bola para o que ela dizia.

– Emily você não deveria fazer isso.

– Isso o que?

– Fingir ser quem não é.

O caminho da escola para casa de Maya – antiga casa de Alison – parecia cada vez mais distante.

– Eu não quero te cobrar nada, mas você simplesmente não deve ser quem não quer ser. – a insana moça então apertou de leve a coxa da motorista enquanto mordia os lábios o que a arrepiou toda.

Por sorte – ou azar – havia ali uma rua deserta virando à esquerda. E foi ali que Emily virou e beijou Maya para valer. –A provavelmente iria acabar com a vida dela, mas que se dane! Alias seu telefone já começava a tocar. Um beijo daquela mulata valia até mesmo uma morte fatal.

“Não se preocupe, você não é a única que curte um girl on girl. Acho que a sua mãe adoraria saber disso –A”

***

Passava das oito quando Pam Fields decidiu chamar a polícia em busca de sua filha. Pegou o telefone e denunciou ao atendente que Emily deveria chegar em casa o mais tardar as seis. Do outro lado da linha o homem anotava o caso nos mínimos detalhes sabendo que provavelmente era somente mais um dos famosos casos de adolescentes que fogem da escola para se divertir e chegam tarde demais – e bêbados demais. Senhora Fields tinha consciência que iriam procura-la somente após vinte e quatro horas da denúncia e isso quase a deixava em desespero. Desde o desaparecimento – seguido da morte – de Alison Dilaurentis, ela se sentia a cada dia mais insegura e completamente neurótica a respeito de perder sua filha. Era como se Emily fosse uma bonequinha frágil a qual queria proteger para sempre.

No momento que o desespero chegou como líquido em seus olhos a porta de sua casa como um bum se abriu. Correu para a porta e ao ver sua filha a abraçou fortemente. Era quase como se a mesma houvesse sido levada por um monstro e resgatada após anos de árdua procura. Um reencontro emocionante de uma mãe com uma filha que se atrasou da escola para casa. O olhar de medo da filha para com a mãe a deixava ainda mais perturbada.

– O que houve com você? – Pam analisava cada pequeno detalhe do seu rosto.

– Nada...

– Por que você demorou tanto? – perguntou esmagando-a em outro abraço.

– Depois do treino saí com uma amiga do time e acabei perdendo a hora. Desculpe.

– Só isso?

– Só.

– Tem certeza? Porque se algo te aconteceu...

– Mãe, já chega! – exclamou Emily. – Eu estou com fome, o jantar está pronto?

– Sim querida, vou esquentar para você.

Sentia o peso do mundo nas costas. Como ela poderia simplesmente dizer que parou em um motel qualquer para transar? Como ela poderia simplesmente dizer que o transar não era com um homem e sim com uma mulher? Uma mulher com cabelos feitos, cheiro gostoso e mãos delicadas. Uma mulher que a fazia tremer, de forte personalidade e caráter, aquela que tinha os beijos mais doces que experimentou. Correu até seu quarto, tomou um rápido banho e colocou roupas confortáveis, porém não antes de se encarar no espelho, completamente nua. Sentia-se suja por mentir e, principalmente, louca por saber que a qualquer momento sua mãe descobriria. E –A não iria demorar muito tempo, afinal, ela ou ele foi capaz de dar um ponto final na família de Aria.

Deu passos leves até a sala de jantar onde um grande prato de comida a esperava. Sua mãe a beijou na bochecha e Emily sorriu se sentindo o mais horrendo ser humano do mundo.

– Você realmente me preocupou hoje querida.

– Desculpe.

– Tudo bem, você é uma adolescente. – sorriu falando o óbvio. – Você tem que fazer alguma besteira de vez em quando, certo? Afinal, você nunca faz nada.

A imagem de filha perfeita se romperia tão rápido que todos os anos de campeonatos conquistados, quarto bem arrumado e notas acima da média seriam incapazes de encobrir esse pequeno e ao mesmo tempo grande erro, a sua mentirinha pessoal. Emily estava prepotente, engoliu a comida como se não a mastigasse. Ficar perto de Pam a fazia sentir cada vez mais fraca, cada vez pior, mais suja, mais emporcalhada naquele bolo de mentira que se encontrava. Assistiu meia hora de televisão junto com sua mãe e subiu alegando estar muito cansada. Entretanto, seu sono só chegou lá pela meia noite. E pelas sete horas seguidas teve os mais delirantes sonhos com Maya e os piores pesadelos com sua mãe.

Acordou dando um leve grito. Sonhou que estava trancada em seu quarto com sua amante e que as duas se deliciavam em seus maiores e melhores prazeres. Pam batia à porta procurando pela filha, chamando seu nome, berrando. As duas, porém fingiam não escutar, ignoravam a histeria da mãe e continuavam suas carícias até ela desistir e se calar. Por segundos a quietude permaneceu, deixando-as mais confortáveis, se jogando na cama sem temor, tirando suas roupas sem preocupação alguma, como se fossem elas apenas uma. Embora tudo parecesse um belo sonho se tornou um grande pesadelo quando Pam voltava a gritar junto com um barulho estranho e ainda assim elas continuavam, sorrindo entre beijos. Foi quando a porta se abriu, sua mãe e um homem as olhavam chocadas. Maya abaixava a cabeça e Emily vestia sua blusa rapidamente. A mulher que lhe deu a vida e que tanto amava chorava, esperneava e tentava se convencer que nada daquilo era real. Tudo parecia horripilante e piorou quando de repente o anônimo homem se transformou em seu pai. E seu rosto estava rígido e, ao mesmo tempo, sem expressão.

Estar face a face com seu pai seria maravilhoso, sentia sua falta. Senhor Fields era tenente do exército e quase nunca estava lá e somente em pensar em desapontá-lo doía seu coração. Checou então o relógio e colocou os pés no chão frio. Espreguiçou-se, apertou os olhos com as mãos e estalou o pescoço. Abriu então a porta do quarto que dava para o corredor. Havia ali uma surpresa para Emily que a fez recuar três passos. Deu-se conta que talvez fosse tarde demais, já decepcionou o pai.

Em frente a seu quarto um grande pôster das duas garotas em seu primeiro beijo. Seu globo umedeceu e suas mãos tremiam, chacoalhavam em súbita desesperança, desonra para aqueles que a amaram por toda vida. Respirou fundo e pensou que talvez sua mãe ainda estivesse dormindo, talvez ela ainda não tivesse visto. Correu para o último quarto do corredor, entretanto viu a pequena esperança mais uma vez se tornar desesperança e desonra. No quarto da mãe tinha o mesmo pôster rasgado no chão e na parede vestígios de que um dia houve algo colado ali. Pam sabia, sua mãe sabia.

Desesperou-se, mas tinha que ser forte. E Deus sabe da onde ela tirou forças para descer aquelas escadas e ficar de frente a sua mãe. Apenas Deus sabia!

– Mãe.

– Emily, eu acho melhor você ir se arrumar. – aconselhou fritando ovos com bacon. – Vai se atrasar.

Virou-se para Emily e isso a fez desmoronar na cadeira. Nunca fez sua mãe sofrer e agora ali estava. Os olhos dela tão vermelhos como também o nariz, o cabelo mal penteado, a roupa desleixada, amarrotada de jeito que Pam nunca deixou. Não suportava ser o motivo de sua dor, jamais poderia suportar.

– Nós precisamos conversar mãe.

– Sobre o que? – perguntou meio sonsa.

– Você nunca foi boa atriz. – afirmou. – Não finge que você não sabe.

– Querida – disse massageando a cabeça com os dedos em sinal de desgosto. – vá se arrumar.

– Tudo bem se você não quer conversar agora, mas uma hora nós vamos ter que conversar. Você não pode fugir disso mãe.

Pam bufou.

– Eu queria te fazer uma surpresa, mas há umas semanas seu pai me disse que chegaria hoje à noite. Não se atrase.

Por fim uma notícia boa. Ou seria ruim? Enquanto Emily subia para seu banheiro, seu telefone vibrava. Mais uma mensagem de sua mais nova inimiga.

“Eu disse que se você a beijasse sua mãe iria saber disso. Experimente brincar comigo novamente –A”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Dying Ladies" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.