— “Não é nada”? Como assim “não é nada”? Por que você estava chorando Yoko?! — Indagou preocupada.

— Eu... Eu só... — Ela fungou, passando as mãos nos olhos. — O livro da mamãe... O livro... da mamãe... — A garota começou a fungar mais intensamente. — Elas... — Yoko agarrou a blusa de Sumire olhando para Sumire. — O livro... — Seus olhos aos poucos começaram a brilhar, lagrimejando com a garota prestes a chorar. — Da mamãe... — As lágrimas quentes começaram a descer do rosto avermelhado de Yoko e a mesma se abraçou a Sumire chorando intensamente.

A antes mal-humorada agora estava pasma. “Yoko... Está chorando porque perdeu aquele... livro?”.

Ok... Ela estava chorando por um livro. Tinha o perdido, alegado que era de sua mãe. Mas... Realmente aquilo era tão importante para a garotinha a ponto de ela chorar? Deveria ser e agora Sumire teria de arranjar um jeito de se livrar daquele livro, automaticamente fazendo cair nas mãos de Yoko.

Ela poderia levá-lo até os achados e perdidos do colégio e fazê-la ir parar lá, mas em um modo que não mostrasse preocupação com o livro de Yoko. Meio impossível... Poderia usar Sho, ou não. Sumire poderia entregar o livro ali mesmo para Yoko, mas teria certeza que tudo soaria pesado. Passaria por uma série de interrogatórios e não tinha paciência para aquilo.

Definitivamente não sabia o que fazer.

Tentou tirar os braços de Yoko que estavam envoltos ao seu corpo, mas a tentativa foi em vão. Ela segurava firme e chorava mais alto. Aos poucos as pessoas entravam na sala de aula e olhavam para Sumire com um grande ponto de interrogação estampado no alto da cabeça. Sem esquecer-se dos outros que tiravam proveito da situação e faziam piadinhas de mau gosto.

O professor iria chegar e fazer com que Yoko sentasse em sua classe, ou saísse da sala para tomar uma água e se acalmar.

Sumire só não conseguia entender o porquê de a menina chorar tanto por um livro. A não ser que... Talvez aquele monte de papel não fosse apenas um livro. Talvez fosse algo a mais... Possuísse um valor maior a Yoko. Na verdade... Tal valor já estava sendo comprovado com as lágrimas quentes derramadas.

— Por que esse livro é tão importante para você Yoko? — Perguntei de vez.

— É que...

“— Yoko, querida! — A mulher falou.

— Mamãe!

Era mais um dia comum. O sol refletia fortemente, deixando o clima quente... Mas a brisa batia levemente em seus rostos, amenizando o calor. Havia uma grande árvore, com folhas caindo por causa da primavera. Duas cordas estavam amarradas a um tronco da árvore e, logo abaixo, um pedaço de madeira, amarrado às duas cordas. Yoko concentrava-se ali, com as mãos ao lado do pedaço de madeira, observando sua mãe contar uma história.
— Waah! Uma raposa mamãe? — Ela saiu correndo ao encontro da mulher. — Qual era a cor do pelo dela?— Perguntou animada.

— Ah... A mamãe ainda não decidiu. Que cor você prefere minha pequena?

— Waah! Laranja, laranja! — Sugeriu olhando para as mãos habilidosas que desenhavam da Sra. Kurumada.

— Laranja?— A mulher soltou uma risada. — Ok! Laranja será! — Disse a mulher simpática.

— Yaay! — Comemorou a menininha levantando as mãos. — Mamãe, vai colorir o livro depois que terminar mamãe? — Indagou observando curiosa os traços que o pincel fazia na folha.

— Hum... — ela articulou pensativa — Não seria mau. Se Yoko quiser... podemos fazer isso junta depois, não é? — Perguntou passando a mão sobre a cabeça da garota que estava com a face numa expressão maravilhada para a mãe.

— Waah! Sim, sim! Sim mamãe! — Disse ao mesmo tempo em que não parava de sorrir”.

— “É que...” o quê, Yoko? — Perguntou a morena com as mãos nos ombros da pequena.

— É que... — Ela virou o rosto com o olhar baixo.

“Sua mãe retomou o conto. Yoko mal prestava a atenção, pois se perdia olhando para sua mãe. Em como ela lhe fazia bem e em como gostaria de estar ao lado dela para sempre. Ela tinha uma expressão serena enquanto concentrava os olhos no livro, faltava pouco, muito pouco para concluí-lo.

E quando terminou, olhou para a filha por um tempo, sorrindo:

— Vamos colorir, mamãe? — perguntou a menina, ansiosa.

— Sim! — a mulher se levantou parando em frente à Yoko. — Vamos colori-lo lá na sala... E... Quem chegar por último vai ter que dar um banho no cachorro!

Yoko arregalou os olhos e não demorou em começar a correr em direção a casa. Ela estava ganhando, até tropeçar no degrau e cair. Machucou levemente o joelho. Sua mãe disparou a frente, mas percebeu que a filha não vinha. Voltou para trás e deparou-se com ela chorando:

— O que houve, filhinha?

— E-Eu caí — ela fungou.

— E machucou o joelho... — concluiu. — Vem aqui, mamãe vai dar um beijinho e logo vai sarar esse machucado.

Ela o fez. Pegou a filha pelas mãos e a conduziu para a sala:

— M-Mamãe... Eu vou ter que dar um banho n-no cachorro?

Ela ponderou, sorrindo:

— Daremos nós duas juntas, o que acha?

Yoko sorriu. Abriu o livro e puxou um lápis de cor laranja”.

— Não é nada... — Ela repetiu.

Sumire bufou e o professor entrou na sala. Logo que o senhor Sakai colocou suas coisas na mesa Sho apareceu na porta e olhou para aquelas duas.

— Sho Nakamura! Não pense que não te vi! — O Sr. Sakai alarmou enquanto pegava seu giz branco.

— Não tem problema. — Ele respondeu e sentou na primeira carteira que avistou. — Vim assistir sua aula. — Argumentou sentado.

Colocou uma das mãos no queixo e olhou novamente para as duas garotas... De fato, parecia disposto a fazer o que disse. Tinha caderno e caneta em mãos. Contudo... Por que? Por que ele estava ali? Por um motivo qualquer ou sem nenhum? Estava preocupado ou coisa do tipo?... Ninguém sabia. Entretanto, ele continuava ali. Sentado... Olhando para as duas.