Piano Melody escrita por Return To Zero


Capítulo 1
Can You Hear The Piano?


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, suas coisas lindas.



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Era uma vez, numa rua qualquer, de uma cidade qualquer que vivia uma era de paz, duas crianças. Muitas das que seriam o futuro do país.

A pequena Annaliese corria, segurando a saia do vestido rosado, puxando para trás os fios de cabelo castanho que atrapalhavam a visão de seus belos olhos purpura.

Logo atrás, Gilbert corria ao maximo, cravando os olhos escarlate nas costas da garota, deixando o vento bagunçar seus brancos cabelos a vontade.

Alcançando-a, Gilbert abraçou-a com a força, rindo. A garota, também rindo, tentava se livrar, levemente incomodada. 

Por fim, ela acabou desistindo. Descansou a cabeça sobre o ombro do garoto, que era pouca coisa mais alto, e contemplou o por-do-sol alaranjado, pedindo, num sussurro, que ele nunca fosse embora. Gilbert prometeu que não iria e ela voltou a sorrir, aproveitando a deixa para escapar.

Semanas se passaram, e tal promessa fora empurrada para um canto das memorias. Semanas se passaram, e Gilbert passava boa parte delas sentado junto a uma janela da casa de Annaliese. A janela da sala de música.

No começo, ria com os erros terriveis que a garota cometia ao piano. As vezes, até espiava para dentro e se compadecia quando ela começava a chorar.

Semanas essas que se estenderam para anos. Anos em que Gilbert contemplou Annaliese se tornar uma bela pianista e se tornar ainda mais distante. Era uma moça da aristocracia e talvez já não tivesse mais tempo para um jovem prussiano.

Sentado junto a janela, sob as estrelas, ouvindo uma melodia impecavel que saia dos dedos e piano de Annaliese, sentiu algo molhar seu rosto. A guerra assolava o país mais uma vez e, ele, sendo o futuro do país, devia salvá-lo dessa vez.

A melodia havia cessado mas Gilbert não percebeu. Absorto em suas lagrimas e pensamentos sobre como seria sua vida nas proximas semanas (sem sua familia, sem Annalise, sem seu belissimo piano), e apenas voltou à realidade ao sentir o forte odor de Edelweiss que Annaliese exalava.

"Gilbo?" ela o chamou, carinhosamente "Continua me ouvindo tocar, às escondidas?" perguntou, rindo

"Sempre que posso. Quase todas as noites." ele respondeu, sem desviar o olhar das estrelas.

Annaliese ajeitou a saia do vestido e, com um pequeno pulo, sentou-se na janela, de costas para a paisagem.

"Você vai pra guerra, não é?" perguntou, sem obter resposta "Eu não queria."

"Eu também não."

"Mas somos o futuro do país. Não podemos ir contra."

"Dizem que é o melhor para nós." ele suspirou "Porém, pretendo voltar e fazer o que é melhor para mim."

"Estarei esperando."

Houve um longo e profundo silencio. Ambos controlovam o choro, de forma inutil.

"Eu te amo, Annaliese." Gilbert verbalizou

"Eu sei. Eu também."

Ela desceu da janela e se inclinou para frente, tocando o rosto do rapaz. Seus labios se encontraram em um beijo longo. Se encontraram em seu primeiro e último beijo.

__________________________________________

Por alguns dias, Gilbert não soube dizer quantos anos a guerra havia durado. Ele estava apenas contente por finalmente ter saído do horror da batalha  voltar ao bucolico cenario de sua cidade natal.

Mesmo em reconstrução, a cidade lhe parecia confortavel. Andou pelas ruas, sendo saudado e aclamado pelos moradores, juntamente de outros soldados. Poderia dizer que estava orgulhoso, pois ajudou seu país a vencer a maldita guerra.

A mansão dos Edelstein tinha suas luzes apagadas e estava em um triste estado, assim como a maioria das casas da cidade. Gilbert assustou-se temporariamente com o estado abandonado em que a casa se encontrava, mas recuperou as esperanças ao ouvir a doce melodia de piano que vinha da sala de música.

Apressado, bateu com o nó dos dedos na porta, não havendo resposta alguma. Suspirou e desistiu. Tentaria amanhã.

Os dias se passaram e Gilbert sempre batia à porta, mas ninguém nunca o atendia. Entretanto sempre conseguia ouvir a melodia do piano de Annaliese, pontual como um relogio, no mesmo horario em que a ouvira pela última vez.

Cansado de ser ignorado, tomou coragem e girou a maçaneta da porta, que se encontrava aberta. Dentro, Gilbert viu seu maior temor se concretizar, ao perceber que Annaliese havia deixado-o para trás.

Não podia culpá-la. Ela era uma bela moça aristocrata e ele, apenas um soldado de familia prussiana. Ele não tinha nada de especial.

Caminhou pelos comodos vazios e pelos moveis cobertos por panos brancos e poeira. Alguns ratos e aranhas, e o cheiro de umidade juntamente a memoria da morena que lhe embrulhavam o estomago.

A sala de música ficava logo ali. O piano, no centro do comodo, continuava intacto, talvez até estivesse limpo.

Sentou-se no banquinho, levantando a tampa e colocando os pés nos pedais. Os dedos escorregaram pelas teclas de forma gentil.

"Chopin?" uma voz feminina se fez presente "Sua tristeza é Chopin?"

"É a única coisa que eu sei tocar." defendeu-se Gilbert.

"Você demorou."

"Sim. Mais do que pensei."

Gilbert meneeou a cabeça, descobrindo Annaliese ao seu lado. Palida, de vestido rosado e os cabelos castanhos presos para trás.

"Aonde esteve?"

"Aonde eu sempre estive. Aqui."

"Eu bati na porta varias vezes."

"Como pode ver, não estou apta para receber visitas." respondeu, sorrindo minimamente.

"Está morta."

"Sim. Foi pouco tempo depois de ter ido embora."

"Como?"

"Uma bala perdida." explicou "Um grupo isolado nos atacou. Uma bala na cabeça. Morri imediatamente."

"E por que ainda está aqui?"

"Disse que estaria esperando. E cá estou eu."

"Deveria estar descansando."

"Eu sei. Mas queria ter uma chance de lhe dizer algo."

"E isso seria?"

"Eu te amo, Gilbert Beilschmidt."

"Eu sei. Eu também."

Gilbert levantou-se, aproximando-se da jovem que podia sentir sua coloração desvanecer ainda mais a cada minuto, até que dela sobrasse apenas uma recondita memoria nos pensamentos de um prussiano.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei. Ficaria ainda mais romantico se eu acentuasse melhor as palavras. Mas eu sou péssima nisso.
Entretanto, presente pro Dani que (sem querer ser pretensiosa), me deu a melhor semana que eu tive em muito tempo. Grazie, amore mio ♥



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