- Três e meia - disse a repórter sorridente, cujo cabelo tomava o foco da notícia (pois este era de um rosa vibrante) - Espero que todos estejam sintonizados para saber quem serão os três voluntários. Ou melhor, candidatos, ao posto de Soldado dessa Terceira Guerra.

Três?

Ah, me lembrei que seriam três voluntários. Mas apenas um seria o soldado.

A repórter, do cabelo rosa (o qual eu não conseguia parar de olhar), desapareceu, seguida do símbolo do jornal local. E então a TV se desligou - nem sei por que ainda tínhamos uma TV, era um aparelho ultrapassado, e ninguém assistia nada naquela casa.

Ainda era uma hora da tarde, e o resultado do sorteio só saíria ás três e meia.

Levantei do sofá e peguei o celular. Joguei tudo dentro da bolsa e coloquei no ombro indo rumo a garagem.

Ficar naquela casa vazia era monótono demais. Seth passava o dia em sua casa com os irmãos mais novos - que ficavam apenas no quarto -, não havia mal algum em lhe fazer companhia.

Dirigi o mustangue (que havia ganho de presente quando fiz dezesseis anos e ganhei a carteira de motorista) até a casa de Seth. Poderíamos fazer companhia um ao outro e ver o anúncio pela TV dele - também não sei por que ele ainda tinha uma.

Cheguei em cinco minutos, já que ele não morava muito longe.

A casa era grande e com paredes de vidro. Como eles tinham privacidade? Fácil. A internet e tecnologia avançada ocupa a vida dos desocupados.

Pude ver Seth sentado a mesa em frente a um holograma, o qual mostrava notícias da guerra, como listas de nomes de soldados mortos, de cidades atacadas, de armas usadas, etc. Toquei a campainha e esperei que ele me notasse, pois parecia muito concentrado.

- Oi, Alex - ele disse abrindo a porta - O que está fazendo aqui?

- Vim ver o anúncio com você. Três e meia. Você não assiste o noticiário? - era uma pergunta idiota, é claro, pouca gente assiste o noticiário. Não sei nem por que eu assisto o noticiário.

- Sim. E estou esperando o resultado - ele respondeu - Eu já estava cansado. Não tem nada para fazer nessa casa.

Nem as famílias conversavam mais. Tecnologia acaba com a vida social das pessoas. Fato.

Sentamos no sofá e ficamos conversando sobre coisas inúteis até que o tempo passou como um raio.

Não sei como, mas eu havia esquecido que também havia me inscrito. Eu sou uma idiota mesmo.

O que aconteceria se eu fosse escolhida? Parte de mim não acreditava que isso era possível, mas a outra dava lugar a possibilidade de que isso acontecesse.

De qualqier jeito eu estava preparada.

A luz da TV ligou e a imagem do prefeito apareceu. Era um homem alto com barba escura e cabelos negros. O sr. Hamilton começou um discurso longo e entediante o qual eu não fiz questão de prestar atenção. Até que finalmente anunciou:

- Agora, vamos aos nomes dos corajosos voluntários do estado de Los Angeles - ele disse.

Senti um arrepio na nuca. A ansiedade tomava conta de mim e eu tentava falhadamente me controlar.

Seth não estava melhor. Mais um pouco e ele estaria fazendo a casa inteira tremer de nervosismo.

- O primeiro: Josh Triffin, 16 anos, escola Sony Anderson - ele anunciou.

Sony Anderson. Uma escola particular para mauricinhos preguiçosos. Como ele se livraria de ser morto em uma guerra?

- A segunda: Carly Kramer, 17 anos, escola Summer Park.

Fiquei surpresa e aliviada. Summer Park era uma escola pública que tinha preferência por garotas mimadinhas, minha mãe já quis me mandar para lá uma vez.

Agora seria o último. O último nome. O nome dele se repetia frenéticamente em minha cabeça.

- O último, o terceiro voluntário, mas não menos importante... - dizia o prefeito.

Ele não, ele não, não...

- Seth Carlyle, 17 anos, escola Murray Sams.

Senti um frio na barriga. O que eu mais temia aconteceu. Seth foi escolhido.

Me virei para ele engolindo em seco.

A expressão dele era de incredulidade, ansiedade e...orgulho. Não sei dizer o que ele estava pensando. A vista era como se mil coisas passassem pela cabeça dele.

E eu. Bem, eu estava desmoronando. Meu melhor amigo foi escolhido para ir a uma guerra sangrenta, era impossível disfarçar minha insatisfação e desgosto. Não queria perder Seth...

- Eu fui escolhido, Alex - ele disse levantando de súbito. Ele parecia elétrico.

Me levantei lentamente tentando não encará-lo.

Não sei o que era pior. Seth ir para uma guerra, ou o fato de que eu havia me inscrito também.

Eu entendia a satisfação de Seth. Eu sabia o que ele estava sentindo. Ele queria poder fazer algo pelo país dele, salvar sua geração e as futuras também. Mas no fundo eu também queria isso.

Não é inveja. É simplesmente o fato de que tudo pode acontecer a ele, mas ele tem seus irmãos, seus pais, sua família.

Já eu. Meus pais nunca aparecem e não tenho irmãos. Eu tenho a mesma vontade de Seth em mudar as coisas, mas diferentemente dele, ninguém sentiria minha falta caso eu não conseguisse.

É difícil explicar. Mas era mais ou menos isso.

- Parabéns - eu disse indo abraçá-lo. Era como se eu o estivesse vendo pela última vez - Promete que não vai fazer nada estúpido?

- Alex, não fica assim. Eu não estou morrendo. Eles nem sequer escolheram o soldado ainda - ele disse.

- Só me promete isso - eu pedi.

Ele respirou fundo e eu pude sentir seu coração batendo acelerado.

- Prometo - ele disse finalmente.

Me afastei dele respirando fundo.

- Acho...que vou voltar para casa. Meus pais vão vir para o jantar, eu acho - eu disse pegando minhas coiaas desajeitadamente.

- Tudo bem. Tchau, Alexandra - ele disse um pouco abalado como eu.

- Er...Tchau.

Engoli em seco tentando não chorar.

Liguei o carro e dirigi até a minha casa sentindo o peito doer, como se uma cratera estivesse se formando. Mas era quase como um mal pressentimento. Como se algo ruim estivesse prestes a acontecer...