Depois de todas as desventuras passadas naqueles dias, finalmente eu estava ali: cara a cara com o responsável.

Eu o joguei do púlpito e ele caiu arquejando.

Num salto eu estava novamente de frente para Jimmy Duncun. Os presentes não ousavam se interpor entre mim e o presidente, muitos deles deveriam saber que ele não prestava.

Me espantava que mesmo no chão ele ainda me encarasse com tamanha vêemencia.

– Façam alguma coisa! - gritou ele ao Capitão.

– Eles não vão fazer nada - eu disse.

Mais do que nunca eu estava determinada a por um fim em toda aquela história.

– Alex, não! Espera! - ouvi a voz e olhei na direção de onde ela vinha.

Seth e Charlie chegaram arfantes e surpresos.

– Não faça isso. Eles vão explodir você - disse Charlie.

– Não - respondi com uma pitada de dúvida - Eles não podem.

Ela parecia estar chateada ao balançar a cabeça e ser obrigada a confirmar.

Engoli em seco.

Eu não poderia ficar ali, se eles resolvessem me explodir eu levaria todos, incluindo Seth e Charlie. Não poderia pôr a vida deles em risco.

Olhei para trás vendo Carly me fuzilar com os olhos. O Capitão, que estava ao lado dela olhava para algum lugar. Ou melhor, para alguém. Ele balançou a cabeça assentindo uma única vez, um sinal para alguém no outro lado da praça, sinal este que eu entendi de imediato.

Ouvi uma risada que vinha de baixo, e encontrei o presidente com um largo sorriso no rosto.

– Você sabe que já acabou para você, Alexandra - ele disse de um modo tão macabro que o a temperadura pareceu cair subitamente.

Senti o coração parar.

– Então - comecei - Deixo ele nas suas mãos.

Os olhos verde e azul da garota pareceram ficar muito confusos.

– O que?

– Você sabe o que fazer - eu disse, em seguida olhei para o presidente no chão e senti meus olhos lacrimejarem, eu sabia que eles estavam ficando arroxeados. Então o senhor Duncun começou a ficar vermelho, seu fluxo sanguíneo estava sob pressão e ele começou a se engasgar.

Então me interrompi fazendo com que Jimmy Duncun voltasse a respirar. Não seria eu a matá-lo.

Andei rapidamente até Seth, uma ruga de preocupação se formava em sua testa.

– Você está bem? - ele perguntou, mas não soou como uma pergunta casual.

– Não. Me faz um favor? - pedi.

Ele balançou a cabeça assentindo. Eu ainda me perguntava o que dizer.

Seth me olhava como se esperasse ansiosamente.

– Tenta não morrer. Você é muito importante para mim - eu disse. Então me aproximei e dei um beijo em seu rosto.

– Alex? - ele estava confuso - O que está fazendo?

Então comecei a me afastar, eu estava no centro da praça. Olhei na direção da plataforma vendo Carly com um sorriso de escárnio no rosto. O Capitão estava sério, e me olhava como se lêsse meus pensamentos. Charlie estava se aproximando do presidente que parecia assustado, eu sabia o que viria a seguir. Seth me olhava com apreensão, tudo o que havia feito até agora havia sido por mim e por ele, para acabar desse jeito. Engoli em seco novamente sentindo um frio na espinha.

Fechei os olhos e dei um salto. Tudo o que senti depois foi o vento contra o meu rosto e meus cabelos. Se você me perguntar o que se sente quando está prestes a morrer, eu não sei explicar. Naquele momento eu lembrei de tudo o que havia passado em minha vida: meu último natal, com meus pais, o qual fizemos uma generosa ceia e convidamos todos os membros da família que estavam na cidade, e Seth, que havia trazido sua família. Foi uma noite inesquecível e cheia de alegria.

Aqueles últimos dias haviam sido desgastantes e deprimentes. Por pelo menos algumas horas eu tive a felicidade de encontrar e ver Seth bem. Durante meus piores momentos eu conheci pessoas que foram boas comigo, mesmo que elas tenham estado comigo por pouco tempo, como Charlie, ou por alguns dias, como Noah. Ao lembrar de Noah meu coração pareceu bater por um momento. Acho que de todas as pessoas que já conheci, Noah foi o primeiro a se tornar importante em minha vida com tanta rapidez. Desejei ter me despedido melhor dele.

Então lembrei do dia na cabana, quando Noah me beijou. Por alguns segundos foi como se seus lábios tocassem os meus novamente, mas logo foram substituidos pelo vento gélido.

Finalmente pude sentir como se meu corpo começasse a queimar, como uma forte febre. Como quando fui transformada pela Substância, foi como se meu sangue fervesse novamente. Mas ao mesmo tempo comecei a sentir frio, era como se meu corpo fosse gelo se fundindo com fogo - se é que posso descrever desse modo. Acabou, pensei.

Eu estava nos céus há mais de mil pés do chão. E estava caindo.