Uma Vida Feita De Contradições escrita por my world
Joana acordou mais cedo do que o normal e com mais dores do que normalmente mas em vez de chamar a nossa mãe veio até ao meu quarto.
- Mana, dói-me muito aqui...apontou para a garganta.
- Já tomaste a medicação?- perguntei levantando-me rapidamente.
- Não. A mãe estava a dormir, não a quis acordar.
- Tudo bem. Anda comigo.- respondi pegando nela ao colo e voltando para o piso inferior.- Onde costumam estar os remédios?
- Naquele armário, bem por cima das louças.- respondeu com o olhar para a porta da cozinha.
- Fica aqui. Já venho.- sorri enquanto a sentava num dos sofás do hall de entrada.
Rapidamente voltei com a medicação. Dei-lha e esperei que ela se sentisse melhor. Geralmente costumava demorar horas mas naquele dia ou com a intensidade da dor ou com o cansaço ela adormeceu no meu colo.
- Bom dia ladies.- devo ter adormecido também pois só me lembro de acordar com a minha mãe a olhar para nós com um olhar de orgulho.
- Bom dia.-sorri reparando que Joana ainda dormia.
- Vai ser díficil ela sair daí.- sorriu de volta.
- Não se preocupe mãe. Tenho o tempo todo.
- Deixa, podes ir arrumar-te. Eu fico com ela.
- Está bem, mas depois trocamos.- pisquei com um sorriso.
- Tudo bem. Aproveita e liga para o Henri. Avisa que talvez chegues atrasada.
- Nem pensar. Vou avisar de que não vou.
- Tens a certeza?
- Sim. Não te preocupes, vou organizar as coisas lá na casa nova e se der vou até aos escritórios.- sorri antes de lhe voltar as costas para voltar para o meu quarto.
Vesti umas calças jeans, calcei umas vans vermelhas e vesti uma camisa da mesma côr. Fiz um rabo de cavalo com o cabelo e não precisava de mais nada.
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- Henry?- perguntei assim que o telefone foi levantado do outro lado da linha.
- Sim. Eu mesmo. Bom dia.
- Sou a...
-Sophia, sim eu reconheci.- interrompeu com um leve sorriso no tom de voz
- Bem, era para avisar que hoje não vou trabalhar. Vou estar em mudanças e quero estabelecer-me certinho, depois, se acabar antes do horário de fecho do escritório, eu ainda passo por aí.
- Não precisas de passar Sophia.
- Eu sei...mas acho melhor. Não é por ti, mas temos tanta coisa por fazer...
- Ok, enquanto minha patroa vejo-me obrigado a aceitar. Aliás, nem me devias estar a dar explicações.
- Não vamos começar tio...-sorri.- sabes a minha opinião.
- "és muito mais experiente no trabalho do que eu. Estamos de papéis trocados"- ele fez uma imitação da minha voz horrível. E eu ri muito.- Vá, vai lá ajudar a tua mãe. Manda um beijo á minha rica irmã e outro para a Joana.
- Serão entregues. Adoro-te tio, obrigada.
- Também te adoro.
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- Sophia...- Joana chamou-me quando estávamos quase a sair.
- Diz.
- Tens visitas...-sorriu e naquele momento eu olhei para a porta da qual estávamos prestes a sair: Tiago.- Eu vou saindo com a mãe. Encontramo-nos lá fora.
Sorri e senti orgulho. Ela era tão nova e já sabia tanta coisa!
- Desculpa, não consegui vir mais cedo...- falou enquanto olhava o chão.
- Esta é a parte em que te encolhes e eu começo aos gritos?- gozei da reação dele.
- Não estás zangada! Ufa, boa notícia.-ele sorriu
- É...acho que se estivesse, tinhas a marca de um prato nessa testa.- sorri
- Ui, tenho de ter cuidado no futuro.
- Yes, you should.- sorri
- Esse inglês...
- Tá uma bosta eu sei...desde que os meus pais nos ensinaram português não falamos mais inglês entre nós...
- Sorte minha ser de Portugal.- ele sorriu
- É...
- Sim...quem sabia que era numas férias de Verão que eu ía encontrar o amor da minha vida?-sorriu animado
- Engraçadinho...
- Pois pois..
Ficamos ali quietos, a olhar um para o outro. Desde que o namoro começara que tínhamos muitos momentos silenciosos. Tiago sempre assim fora. Quando o conheci era uma miúda com apenas 16 anos e ele um rapaz de 18, com o seu grupinho de populares escolares. Eu andava na turma de modistas e tínhamos lá alguns rapazes, Geremy, era um deles e tornara-se o meu melhor amigo. Até ter ido para a América e termos cortado os poucos contatos que por fim tínhamos. Tiago e o seu grupinho viviam a atormentar-lhe a vida. Na verdade, apenas íam todos atrás de Heitor. O "deus" deles.
(Voltando no tempo)
- Estou farto destes idiotas!- Geremy queixou-se mais uma vez.
-Isto tem de acabar!- respondi um pouco furiosa.- E vai ser agora!
- O que vais fazer?- Geremy perguntou assustado.
- Salvar a nossa dignidade.- respondi já em direção ao Heitor.
- E o que é que a senhorita quer?- Heitor riu assim que me viu na sua direção.
- Saber o que tens contra Geremy.
- Para além de ele ser uma vergonha para o meu sexo? Hum...nada, acho eu.- respondeu com um sorriso idiota.
- Então porque és assim com ele?
- Porque gosto!
- Porque gostas? Mas tu não tens mais nada para fazer?- respondi zangada
- Olha...olha...a menina sem pai enervou-se.
Fiquei calada. Ouvi tudo o que ele disse, os nomes que chamou a Geremy, até mesmo a parte em que falou no facto de o meu pai ter falecido. Calei tudo. Até ele se calar e olhar bem nos meus olhos, mostrando realmente o medo que ele tinha nos olhos.
- Pois é Heitor...é muito bonito aquilo que tu fazes. Mas não sabes o que é ter a tua mãe a fazer papel dos dois pais. Não tens necessidade de ceder os teus caprixos por causa de uma irmã mais nova. E queres saber que mais? Ficas a saber que o Geremy consegue ser muito mais homem do que tu. Sabes porquê? Porque consegue respeitar as pessoas e apesar de ser gozado por idiotas como tu, ele é feliz á sua maneira e adequa-se ao mundo em que vive, tentando não dar muito nas vistas. Agora tu...tu e esses cambadas... - foi quando o meu olhar e de Tiago se cruzaram a primeira vez.- só têm a sua horinha de fama por causa de raparigas sem dignidade que ainda gostam de ser usadas por vocês e depois jogadas fora. Fui!
Virei costas e voltei para junto de Geremy, com a certeza de que aquele moço com quem eu tinha trocado olhares ainda ía fazer muita história comigo.
(tempo actual)
- Sophia, desculpa incomodar mas a mãe diz que temos de ir.- Joana abriu a porta e respondeu com um sorriso timido.
- Sim, eu já vou.- respondi com um sorriso direcionando-me para junto das minhas malas.
- Deixa. Eu levo...- Tiago afastou-me e carregou as malas até ao carro.- Penso que é aqui que passamos a nos ver com menos regularidade...
- Sim, acho que sim...- respondi um pouco triste
- Ei mocinha, não fiques assim! A vida é curta, e além do mais tu mesma disseste que nos podemos visitar. Isto é apenas mais uma experiência.
- Mas tu sabes como são os relacionamentos á distância quase...
- Connosco é diferente. Eu prometo.
Sorri, não podia dizer mais nada perante essa promessa!
-Anda Sophia! Despacha-te!- Joana não se acanhava e mostrava o quão estava radiada com a mudança.
- É melhor ires...é...mesmo...- Tiago sorriu fraco.- a tua irmã está super empolgada.
- É. Era uma das coisas que ela sempre quis fazer.- sorri enquanto ele me ajudava a colocar as malas junto á bagagem da minha mãe e da Joana.
- Compreende-se. Isto é sempre uma óptima sensação...
- Quem sabe se um dias destes não a sentes também?- respondi com um sorriso depois de ter uma ideia.
- Ui, o que estás a pensar?
- Eu venho trabalhar todos os dias. Quem sabe se na hora de almoço...sei lá...era bom estar contigo..
- Eu ía gostar...- ele sorriu e cruzou os braços.
- É lindão...vê se não me trai!- brinquei.
- Esse brasileiro...-sorriu.- Seria incapaz de um fazer.
- Eu sei.
Cruzamos um beijo curto, daqueles que ambos já estávamos habituados e entrei dentro do carro ao mesmo tempo que ele se montou na mota.
Sorrimos. O carro começou a sua viagem.
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- Estás bem maninha?- perguntei com um sorriso a Joana
- Estou fantástica. Nem pareço doente!- ela piscou com um leve sorriso
- Que é isso rapariga? Nada de desgraças enquanto estiveres na minha companhia. Vamos ser loucas durante uns tempos por lá...- sorri e ela sorriu de volta.
- Ei, mas calma mocinhas, ok? Ou ainda são internadas num hospicio as duas. E eu não vos tiro de lá.- a minha mãe alertou-nos pelo espelho retrovisor.
- E se formos só um bocadinho loucas?- Joana perguntou com uma voz de menina de 3 anos super fofa.
- Só um bocadinho?- a minha mãe perguntou
- Sim, só um bocadinho...
- Então está bem- sorriu.
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