A Rosa De Masyaf escrita por Akiel


Capítulo 8
Maçã




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/378193/chapter/8

A Rosa de Masyaf

Maçã

Os passos dele através das ruas de Monteriggioni são silenciosos. A mente confusa repassa as últimas imagens vistas, a visão de olhos azuis e nublados, um nariz sangrando. Quem era aquela garota com quem Desmond sonhou? Em um primeiro momento, o assassino poderia dizer que era Anna, mas havia algo errado. Os olhos da ladra italiana não são tão escuros ou sombreados por tristeza. Há tristeza e hesitação sim em Anna, principalmente quando a Ordem e Altaïr são citados, mas não como nos olhos que ele viu. Há algo familiar neles.

Desmond permite que um suspiro escape por entre seus lábios e escala a parede de uma casa, subindo no telhado e pulando para outro e mais outro, seguindo sem rumo. Algumas construções à frente, o assassino avista uma conhecida ladra correndo. Ele a segue e ela, aparentemente se sentindo perseguida, para e aguarda. Quando o assassino se encontra a apenas dois passos da ladra, ele sabe que aquela que vê é Anna.

– Você. – Desmond diz notando as diferenças presentes na filha de Ezio.

Anna está mais velha do que nas vezes que ele a viu na sala do Códex, mas não tanto quanto na primeira memória, em que ela falou em árabe com Ezio. Ela sorri e o assassino se encontra sorrindo de volta.

– Já faz algum tempo, Desmond. – a ladra comenta e ouvir o próprio nome deixando os lábios da italiana faz com que um arrepio corra pelo corpo do assassino – Três anos, certo?

– Para mim, se passaram apenas alguns dias. – Desmond responde e observa a ladra abaixar o olhar. Olhando-a agora, o assassino tem certeza de que mesmo com as semelhanças, a garota que viu, de olhos nublados, não era Anna – O que está fazendo aqui? – ele pergunta.

– Pensei que se eu viesse aqui mais uma vez, poderia ver mais, aprender mais. – a veneziana responde levantando o olhar e oferecendo um pequeno sorriso – E talvez... Eu poderia ver você novamente.

– E por que você iria querer me ver de novo? – o assassino questiona.

– Você é diferente de Altaïr. – Anna responde dando um passo a frente e olhando nos olhos escuros de Desmond – Você não me faz temer minha própria mente.

É fácil para Desmond compreender as palavras da italiana, pois de todos os fantasmas já vistos pelo assassino moderno, Anna é ó único que não o incomoda. Ela apenas o inquieta, mas não de uma maneira que ele consideraria prejudicial.

– Como você sabe sobre Altaïr? – o americano questiona de modo suave.

– Eu pedi a Antonio para que me contasse sobre a Ordem dos Assassinos. – a ladra explica – Quando ele falou sobre Altaïr, de alguma maneira, eu soube que ele era o homem que eu tinha visto. Que eu vejo.

– Queria que estivesse viva... – Desmond diz sem pensar levantando a mão na intenção de tocar o rosto de Anna.

– Mas eu estou viva. – a filha de Ezio diz inclinando o rosto na direção do toque do assassino – Assim como você.

– Tirando todos os séculos entre nós. – as palavras do americano fazem a italiana rir.

– Quais séculos? – Anna pergunta deslizando as pontas dos dedos pela lateral do rosto de Desmond – Aqueles que são apagados para os que carregam as mensagens Daqueles Que Vieram Antes?

Surpresa se desenha na face de Desmond ante as palavras da ladra.

– Como você pode saber sobre eles? – o assassino questiona dando um passo a frente e eliminando qualquer espaço que poderia estar separando ele e Anna.

– Meu pai me contou sobre eles. Ele achou um artefato, uma... Maçã. É assim que ele o chama. – uma pausa e os dedos da veneziana seguem o contorno da mandíbula de Desmond – Quando o toquei, senti que há algo que eu preciso encontrar. É quase a mesma sensação que tenho quando vejo Altaïr. De que, de algum modo, ele está tentando me mostrar algo. Algo que eu preciso encontrar e passar adiante. Talvez para você.

– Desmond? – a voz de Lucy soa no comunicador – Está amanhecendo. Seria melhor que voltasse.

Assim como a voz de Lucy silencia, a imagem de Anna desaparece. Desmond suspira e olha para o lado, vendo os primeiros raios de sol tocando os muros de Monteriggioni, perguntas ecoando em sua mente. Seria esse o motivo por trás da habilidade dele de poder reviver as lembranças de Anna sem o auxílio do Animus? Há algo que ela deve passar para ele? Se sim, o quê? O que ele, Shaun, Lucy e Rebecca procuram é a Maçã do Éden de Ezio, portanto reviver as memórias do assassino seria o suficiente para encontrá-la. Então o que haveria de tão importante a ser encontrado nas lembranças da filha dele?

O assassino moderno respira fundo e desce do telhado, correndo em direção à entrada do Santuário. Durante a corrida, Desmond percebe um pequeno detalhe nas palavras de Anna. Ela se referiu a Ezio como ‘pai’, o que poderia ser considerado normal caso em todas as memórias que Desmond viu, Anna se referisse a Ezio dessa maneira, mas não é o que ocorre. A ladra sempre se refere ao assassino como ‘messere’ e até mesmo na primeira memória, quando ela fala em árabe, ela diz ‘Ezio’ e não ‘pai’.

O detalhe faz com que uma breve risada deixe os lábios do assassino. Talvez, nesses três anos, Ezio e Anna tenham se tornado mais próximos como pai e filha realmente. Desmond imagina se Ezio casou em algum momento da vida e se sim, se Anna teria aceitado ter uma madrasta, irmãos, quem sabe. Nesse momento, Desmond para subitamente sem nem ao menos perceber que se já encontra dentro do Santuário.

Irmãos. A palavra ecoa na mente do assassino e ele coloca a mão sobre os olhos. Como ele pôde não perceber?! Um grunhido camuflado é ouvido e chama a atenção de Lucy. A assassina chama por Desmond, mas não obtém uma resposta. Como ele pôde ser tão idiota?! A resposta estava ali, na frente dele, mas ele foi cego demais para perceber, para reconhecer. Aqueles olhos azuis. Iguais e ao mesmo tempo diferentes dos de Anna. O jeito da ladra italiana de lutar, tão familiar. Como ele pôde não perceber?! Há anos ele não vê aqueles olhos, não assiste aquele jeito de lutar, mas ainda sim ele deveria saber reconhecê-los!

Desmond? – Shaun chama percebendo a respiração rápida e descompassa que levanta e abaixa o peito do assassino.

–Desmond? – Lucy chama de modo suave tocando o ombro do rapaz.

O assassino abaixa as mãos e respira fundo. Por um momento, ele apenas olha para os colegas como se os estivesse vendo pela primeira vez. Lucy. Shaun. Rebecca.

– Anna... – ele começa, mas é interrompido por Shaun.

– Você a viu novamente? – o historiador questiona.

– Sim e não. – o assassino responde quase sem fôlego e de modo desesperado, como se estivesse implorando para que os outros o compreendessem.

– Como assim? – Lucy pergunta.

– Eu sonhei com alguém semelhante a Anna. Alguém que eu conheço. As duas têm a mesma cor dos olhos, o mesmo jeito de lutar.

– Quem, Desmond? – Lucy questiona – Com quem você sonhou e que é parecida com Anna?

Sophie. – Desmond responde.

Diante do nome, confusão nasce nas faces de Shaun e Rebecca. Lucy respira fundo. Os olhos claros da assassina mostram apenas cautela.

– Que ‘Sophie’? – Shaun pergunta – De quem você está falando?

Sophie Miles. – o assassino moderno responde – Minha irmã.

– O quê?!

– Você tem uma irmã?!

Shaun e Rebecca fazem as perguntas ao mesmo tempo. Lucy morde o lábio inferior.

– Você deveria descansar um pouco, Desmond. – a assassina loira diz guiando o rapaz até um dos sacos de dormir.

xACx

Desmond segue o conselho de Lucy e dorme um pouco, mas nem de longe o rapaz tem um sono tranquilo. Memórias de Anna e Sophie se misturam na mente do assassino. Ainda adormecido, Desmond vira de lado e se encolhe no saco de dormir, a pressão das lembranças se tornando mais do que ele pode aguentar.

“Des? Você acredita que possamos mudar o mundo?” ele ouve a voz distante como um arquivo de áudio corrompido. Semelhante a maneira que ele ouvia a voz do Dezesseis nos arquivos escondidos no Animus. “Você acredita?” Desmond ouve a própria voz da mesma maneira, “Não.” Um sorriso. “Vamos. Papai está nos chamando.”

A imagem de Sophie pulando a cerca e se afastando muda para a de Anna realizando um Salto de Fé e então Desmond desperta com o nome da irmã nos lábios.

O assassino moderno respira fundo e levanta, caminhando lentamente até onde os outros estão e tentando apagar as imagens com que sonhou. A presença de Desmond logo é notada pelos outros assassinos, que permanecem em silêncio, indecisos com o que dizer ao rapaz. A única exceção é Shaun que, sem tirar os olhos do computador, mas ainda percebendo a aproximação de Desmond, questiona:

– Olá, Desmond. Descansou bem? – sarcasmo colore a voz do historiador.

– Cale a boca, Shaun. – o americano responde seguindo em direção ao Animus. Alguns segundos se passam em silêncio. Desmond se acomoda na máquina e antes que Rebecca possa conectá-lo, a voz de Shaun volta a se manifestar.

– Ela tem uma cicatriz no pulso esquerdo? – o historiador questiona sem olhá-lo e com um tom de voz mais baixo e suave.

– Quem? – Desmond pergunta.

– Sua irmã. Sophie. – o britânico esclarece com o olhar ainda preso na tela do computador, onde um e-mail aberto pode ser visto. No campo do remetente há apenas Sophie M.

– Sim, ela tem. – o assassino responde – Como você sabe? Pensei que você não soubesse que eu tenho uma irmã.

– Eu não sabia. – Hastings responde – Mas eu conheço uma assassina que se chama Sophie e tem uma cicatriz no pulso esquerdo. – o historiador faz uma pausa e quando volta a falar, seu tom de voz retorna ao normal – Mas ela não parece ser sua irmã. Quem poderia dizer que você tem uma irmã de olhos azuis?

– Meu pai tem olhos azuis, caso você não saiba. – Desmond responde relaxando no Animus.

Shaun observa enquanto Desmond permite que sua consciência seja conectada a máquina ao mesmo tempo em que se lembra da assassina que viu pessoalmente apenas por um dia, a cicatriz capturando a atenção do historiador. O britânico volta o olhar para o nome no e-mail, um pedido por informações acerca de um lugar, nada fora do que Shaun costuma fazer para os outros assassinos. Ele se recorda de no mesmo dia em que a conheceu tê-la visto em ação. Uma excelente assassina. Talentosa ao se infiltrar, matar o alvo e sair sem ser detectada. Poderia ser realmente verdade que Desmond e Sophie são irmãos? Shaun dirige o olhar para Lucy, mas a loira parece envolvida demais no próprio trabalho para notá-lo.

xACx

Uma vez mais, Desmond sincroniza com Ezio. Dessa vez, o assassino se encontra na Isola Tiberina, reunido com os membros da Ordem que lhe são mais próximos. O Mentor se aproxima de uma mesa e sobre a superfície de madeira coloca a Maçã do Éden.

– Cesare Borgia está morto. – Ezio diz olhando para os amigos e notando o sorriso nos lábios da irmã. A morte do tio deles está vingada. O pensamento faz os olhos escuros desviarem de Claudia para a jovem sentada em uma das pontas da mesa, ao lado de Rosa. Mais uma vez, as perguntas de Anna voltam a ecoar na mente do Auditore.

Desmond, por sua vez, percebe que essa deve ser a ocasião em que Anna viu e tocou a Maçã. Ela está com a mesma aparência de quando ele a viu nos telhados de Monteriggioni. Mais velha. Mais bela. (1)

– Então Roma está livre do julgo dos Borgia? – Rosa questiona.

. – Ezio responde virando o rosto na direção da velha amiga e notando quando Anna estica a mão para tocar o artefato.

Quando os dedos da ladra envolvem o globo, o metal começa a brilhar intensamente quase cegando todos os presentes. A luz intensa dura apenas alguns segundos e então desaparece, deixando a Maçã apagada na mão de Anna.

– Anna, o que você viu? – Il Mentore questiona.

– Nada que eu já não soubesse, padre. – a veneziana responde com um sorriso.

Ela viu algo que precisa encontrar. Desmond pensa. O que ela viu exatamente? O assassino moderno pode sentir a desconfiança em Ezio, a sensação que domina o italiano de que a filha está escondendo algo. Ela está sempre escondendo algo. O pensamento do Auditore ecoa na mente do americano.

Por um momento, Desmond deseja poder sincronizar com Anna e ver o que ela viu ao tocar a Maçã. Como se alguém tivesse ouvido o desejo do assassino e tivesse resolvido atendê-lo, Desmond perde a sincronização com Ezio, porém não sincroniza com Anna. Um pulo é dado e o assassino moderno se encontra novamente sincronizado com Ezio, apenas em outra memória.

A segunda sincronização não dura muito, apenas o suficiente para que Desmond veja Ezio escondendo a Maçã do Éden no Coliseu. Assim que a memória termina e o assassino é tirado do Animus, todo o grupo se prepara e segue para o Coliseu na esperança de encontrar o artefato. (2)

Entretanto, o que nenhum deles esperava encontrar é a imagem de uma mulher da primeira civilização. Através do poder da Maçã, Desmond é controlado e levado a matar Lucy. Um segundo antes de realizar o que fez e perder a consciência, o assassino ouve uma voz chamando seu nome.

Desmond.

A voz de Anna.

%MCEPASTEBIN%


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(1) Caso alguém esteja curioso, nessa parte da história Anna está com 18 anos.

(2) Não entrei muito em detalhes nessa parte porque seria apenas uma descrição do que já pode ser visto durante o jogo.

Por favor, deixem comentários. Críticas e sugestões são sempre bem vindas. Obrigada.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Rosa De Masyaf" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.