A Rosa De Masyaf escrita por Akiel


Capítulo 3
Sangramento




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A Rosa de Masyaf

Sangramento

- Anna? – Ezio diz como se quisesse se certificar do nome.

- , messere. – a jovem responde fazendo uma pequena mesura.

- Anna chegou de Veneza há alguns dias. – La Volpe começa a explicar – Ela veio acompanhar Rosa, que assumiu o lugar de Claudia no Rosa in Fiore, como você sabe.

- . – Ezio diz ainda observando a jovem com um pouco de desconfiança – Mas eu não sabia que Rosa havia trazido alguém com ela.

- Peço desculpas pelo modo como me comportei. – Anna diz em um tom de voz calmo, controlado – Eu não deveria ter fugido e atraído sua desconfiança.

- Está tudo bem. Se La Volpe a acha digna de confiança... – o assassino se vira para o ladrão, que assente, confirmando as palavras ditas – Então você tem minha confiança.

- Grazie, messere. – a jovem agradece com um sorriso nos lábios vermelhos.

- Venha, Ezio, vamos conversar. – La Volpe chama envolvendo o braço do assassino com os dedos e guiando-o até um ponto mais calmo.

- Você realmente confia nela, Volpe? – o líder da Irmandade questiona com o olhar ainda atento à Anna. Há algo nas íris azuis que deixa o assassino inquieto e essa sensação é facilmente reconhecida por Desmond. É a mesma inquietação que ele vem sentindo desde a dessincronização.

- Anna é um pouco rebelde, mas digna de confiança. – Gilberto responde – Ela é habilidosa e Rosa e Antonio a treinaram bem.

- Então ela pode servir à Irmandade, é isso que está dizendo? – Ezio pergunta.

- Não. – La Volpe responde com o começo de um sorriso nos lábios – Ela pode ser útil, é claro, mas você teria muita dificuldade em convencê-la a trabalhar para e/ou com a Irmandade. Anna está aqui apenas por Rosa.

- Em outras palavras, a lealdade de Anna é apenas para com Rosa. – o assassino diz.

- E para com a Guilda de Veneza. – Volpe completa – É compreensível. Você não seria completamente leal a sua família? Não apenas àqueles que você considera como família, mas também aqueles aos quais você está unido pelo sangue?

- O que está dizendo, Volpe? – um franzir de sobrancelhas acompanha as palavras de Ezio.

- Anna é filha de Rosa. – o ladrão explica surpreendendo o assassino.

- Filha?! – Ezio diz, o olhar voltando para a jovem que, agora, se encontra conversando com alguns ladrões. Em Anna, o assassino pode encontrar algumas semelhanças com Rosa, mas ele nunca imaginaria que ambas pudessem ser mãe e filha.

- Não são muitos o que sabem desse parentesco. – La Volpe comenta – E, se eu fosse você, não me preocuparia muito com esse detalhe.

Sem nenhuma outra palavra, La Volpe se afasta e, alguns segundos depois, Ezio deixa o La Volpe Addormentata, seguindo pelas ruas de Roma com passos rápidos e calculados. O objetivo do assassino é o Rosa in Fiore, onde Rosa provavelmente está.  Só que, conforme Ezio caminha, as sombras feitas pelas nuvens aumentam, envolvendo o chão e o ar até que tudo se transforme em escuridão.

xACx

- Lucy? – Rebecca chama um pouco hesitante.

- O que houve? – a loira pergunta se aproximando – Desmond está dessincronizando de novo?

- Não. Isso é que é estranho. Ele está sincronizando.

- Pensei que esse fosse o objetivo. – o historiador comenta sem sair do lugar em que se encontra.

- Não é isso, Shaun. – Rebecca diz – Desmond não está sincronizando com Ezio, mas com outra coisa.

- Outra pessoa? – Lucy questiona e os três trocam olhares preocupados.

xACx

A primeira coisa que Desmond sente ao lentamente recuperar a consciência é dor. O assassino sente o corpo tenso e dolorido, exausto de permanecer na mesma posição por um longo período. Conforme a visão começa a focar, Desmond se depara com um chão estranho, repleto de papéis e telas. Ele levanta o olhar, se encontrando uma mesa ainda mais bagunçada.

- Não que eu não aprecie, mas pensei que, como não estamos mais em Veneza, você pararia de usar meu ateliê como uma rota de fuga. – uma voz calma e bem-humorada comenta atraindo a atenção de Desmond.

- Alguns hábitos são difíceis de perder. – Desmond diz se levantando e não reconhecendo a própria voz – Ainda assim, sou grata pela sua hospitalidade, Leo.

Assim que termina de falar, Desmond é surpreendido pela imagem de Leonardo Da Vinci se aproximando com um caloroso sorriso nos lábios. O artista ri por um momento e estica a mão. Desmond pode sentir o toque suave e carinhoso do pintor em sua face.

- Sabe que sempre será bem-vinda, Anna.

Anna. Em um segundo, realização cai sobre Desmond. Ele é Anna agora. Mas como? Um segundo atrás, ele estava como Ezio e agora... O assassino dirige o olhar para a janela, notando que o sol está começando a se pôr. Era ainda manhã durante a última memória que ele lembra ter revivido como Ezio.

- Você deveria ir. – Leonardo diz atraindo a atenção do assassino – Ou Rosa sentirá sua falta.

Através dos olhos de Anna, Desmond vê Da Vinci se sentar à mesa, mas a imagem logo se torna embaçada e desfocada como se sombras brancas tomassem conta dos contornos e os borrassem. Demora alguns segundos para que a visão se estabilize e sobre a imagem de Leonardo trabalhando, Desmond e Anna veem Altaïr em sua mesa, o diário à sua frente e o olhar focado na Maçã.

O assassino sírio estica a mão na direção do artefato e Anna faz o mesmo, mas antes que os dedos da ladra possam relar na imagem desfocada da Maçã, o pulso fino é envolto por um toque firme. A imagem de Altaïr se desfaz e o que sobra é apenas Leonardo segurando Anna firmemente, o olhar claro brilhando com preocupação.

- Anna, você está bem? – o pintor pergunta sem soltar o pulso sob seu toque e dando a volta na mesa, se aproximando da jovem.

- Sí, maestro. – Anna responde respirando fundo e encostando o rosto no ombro de Leonardo, que envolve o corpo da jovem em um abraço protetor.

Em sua mente, Desmond ouve ecoar o pensamento de Anna. Perché, Altaïr?

xACx

Desmond desperta para se encontrar desconectado do Animus. O rapaz se levanta, saindo da cadeira e dando alguns passos, a mente ainda presa às últimas lembranças revividas. O sorriso desafiador oferecido por Anna à Ezio contrastando com a suavidade da voz dela ao falar com Leonardo. A inquietação despertada em Ezio, a confiança depositada em Da Vinci.

- Desmond?

- Sim, Lucy? – o assassino responde, voltando o olhar para a companheira.

- Você está bem? – Lucy pergunta.

- Sim. Só estou pensando no que vi.

- É, pudemos descobrir que Anna fazia parte da Guilda dos Ladrões de Veneza e era filha de Rosa. – Shaun comenta – Pelo menos isso dá pistas do por que você é capaz de reviver as lembranças dela.

- Como assim? – Desmond questiona olhando para o historiador.

- Fui só eu que percebi a possibilidade de Anna ser filha do Ezio? – Shaun pergunta olhando para todos.

- Isso faz sentido. – Lucy comenta atraindo a atenção de Desmond – Sendo filha do Ezio, Anna também é sua antepassada e, sendo assim, a memória dela estaria naturalmente guardada no seu DNA e muito ligada à memória do Ezio.

- E sabemos que Ezio e Rosa tiveram um caso durante o tempo em que ele esteve em Veneza. – Shaun completa.

- Então Anna é filha de Ezio e Rosa e por isso posso reviver a memória dela? – Desmond questiona tentando compreender.

- Sim e não. – Rebecca responde.

- Explique. – o assassino pede.

- O fato de Anna ser filha do Ezio a liga a você pelo sangue, mas tem outra coisa. – Rebecca começa – Quando você dessincronizou do Ezio, você automaticamente sincronizou com Anna. Eu analisei os dados, Desmond, foi algo natural. Seu inconsciente não precisou ser guiado para sincronizar com a memória da Anna, ele encontrou o caminho sozinho. É quase como se ele buscasse a memória da Anna, agora que sabe que ela está lá para ser encontrada.

- Então eu, de alguma forma, busco as lembranças da Anna? – Desmond pergunta.

- Como eu já disse, reviver a memória do Ezio despertou a memória da Anna guardada no seu DNA. – Rebecca explica – E agora que essa memória está despertada, ela parece ser o caminho que seu inconsciente toma sozinho. Algo em você busca ou reconhece algo em Anna.

- O quê?

- Isso eu não posso dizer, Desmond.

Perché, Altaïr? O pensamento volta a ecoar na mente do assassino trazendo consigo a imagem de Altaïr sobreposta a de Leonardo. Estou no caminho certo? Desmond se recorda da pergunta feita por Anna quando a viu na Vila Auditore. Gostaria de compreendê-lo, Altaïr. Anna busca Altaïr. Será que é por já ter revivido as lembranças do assassino sírio que Desmond se sente tão inclinado a sincronizar com as lembranças de Anna? Desmond se lembra do modo como Anna tentou alcançar a Maçã em sua visão, espelhando o movimento de Altaïr.

O olhar do assassino cai sobre a imagem de Altaïr no Santuário. Por alguns segundos, Desmond observa a face escondida pelo capuz e então seu olhar desce, encontrando a imagem de Anna. Do mesmo modo como na Vila, Anna parece um fantasma. Sem ter consciência de seus movimentos, Desmond se aproxima, notando o modo como Anna toca a estátua de Altaïr e ouvindo os sussurros que ela parece oferecer ao nada:

- Essa não é a minha vida. Eu não sou uma assassina. Por que eu o vejo? Há algo que você quer me mostrar?

- Desmond! – três vozes dizem ao mesmo tempo trazendo o assassino de volta à realidade.

- Ela o vê. – Desmond diz lentamente e o olhar escuro volta a ser focado na face oculta de Altaïr – É assombrada pela imagem dele.

- Isso é algo que ainda não conseguimos compreender. – Shaun diz – Por que Anna é capaz de ver Altaïr? Você o ver ou a Ezio é compreensível por causa do efeito de sangramento, mas ela... Ela não tem nada disso.

 - E como ela sabia quem Altaïr foi? – Rebecca pergunta – As lembranças que Desmond reviveu só mostram Anna como filha da Rosa e membro da Guilda dos Ladrões. Não há nada que indique que ela era uma assassina. Então como ela poderia saber sobre Altaïr?

- Ezio? – Desmond questiona lentamente.

- Ele não sabia quem Anna era. – Lucy diz – É provável que Ezio só tenha descoberto de sua ligação com Anna depois de conhecê-la. E, ao que tudo indica, nessa época, Anna já via e sabia sobre Altaïr.

- Então, eu não vejo outro caminho para respondermos essas questões do que revivendo as lembranças de Anna. – Shaun diz.

- Parece ser o único caminho. – Desmond comenta.

Para o assassino, a ironia não passa despercebia. Ele busca por Anna e ela busca por Altaïr, alguém que Desmond já encontrou. É quase um círculo de buscas e conexões. Todas baseadas em sangue.


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Notas finais do capítulo

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