A Rosa De Masyaf escrita por Akiel


Capítulo 10
Segredos




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A Rosa de Masyaf

Segredos

Mais uma vez, Desmond passa pelo portal e sincroniza com Ezio. Il Mentore se encontra no porto de Constantinopla, admirando o horizonte que possui pontas tanto na Europa quanto na Ásia. Após uma agradável conversa com um jovem estudante, o Auditore é recepcionado por Yusuf Tazim, um jovem e espirituoso assassino. O líder da Ordem é levado por um pequeno tourpela cidade e um tutorial de como usar sua nova lâmina, chamada de bico-de-águia e extremamente útil em saltos.

Durante o percurso pelos telhados de Constantinopla, Ezio tem a atenção roubada por uma silhueta negra caminhando por entre as pessoas na rua. O assassino reconhece o capuz do mesmo estilo utilizado pela Ordem, mas feito de tecido preto e muito semelhante àquele visto durante a perseguição ao capitão templário. Seria a mesma assassina? Desmond, por sua vez, reconhece a silhueta como pertencente a Anna.

– Algo errado, irmão? - Yusuf questiona notando o olhar compenetrado do Mentor.

– Não, nada. - Ezio responde sem olhar para o outro assassino. Nesse momento, o italiano percebe a silhueta roubar uma mulher. Os movimentos são feitos de modo fluído e rápido, não dando brechas para serem detectados. Uma ladra com habilidade.

Não pode ser, pode? O pensamento do Auditore faz com que Desmond tenha vontade de rir. As imagens de Rosa e Anna passam pela mente do florentino e fazem o assassino moderno imaginar a reação de Ezio ao descobrir que a sombra que domina sua curiosidade é na verdade sua filha.

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Em sua busca pelas chaves de Masyaf, Ezio faz amizade com uma bela veneziana chamada Sofia Sartor. Através da sincronização, Desmond pode sentir o quanto o Mentor se sente fascinado pela paixão da italiana por livros, atraído por sua companhia e grato pela ajuda ao decifrar as pistas deixadas pelos irmãos Polo.

Seguindo uma dessas pistas, o Auditore segue para a Torre de Gálata. Explorando os subterrâneos da torre, o líder da Irmandade encontra a porta que guarda mais uma das chaves para a biblioteca de Altaïr. Ao se aproximar para abri-la, Ezio é surpreendido pelo som de passos próximos. Usando as sombras como esconderijo, o italiano aguarda e vê a assassina de negro caminhar até a porta e abri-la.

Usando de uma rapidez que muitos julgariam que o assassino não teria por causa da idade, Ezio se aproxima da silhueta de negro e a segura pela cintura com uma mão, a outra tampando a boca. O Auditore a empurra até a parede mais próxima, virando-a de frente e obrigando-a a encará-lo. Surpresa se desenha na face do Mentor ao reconhecer os olhos azuis que o olham com um misto de raiva e medo.

Anna? – ele pergunta – O que você está fazendo aqui?

– O mesmo que você. – a veneziana responde de modo ríspido e evitando olhá-lo.

– Era você na estrada perto de Masyaf?

. – Anna responde dando um passo para o lado e abaixando o capuz.

Sem o tecido para obscurecer a face da ladra, Desmond pode perceber que Anna está mais velha do que da última vez que ele a viu. A diferença não é muita, mas é notável. (1)

– Por que você estava naquele lugar? – o Auditore questiona de modo firme e autoritário – E como descobriu sobre esse lugar?

– Podemos pegar a chave de Masyaf, sair daqui e então conversar? – Anna pergunta mudando o peso do corpo de um lado para o outro e ainda se recusando a olhar diretamente para o pai.

Ezio concorda. Juntos, ambos pegam a chave e seguem para a saída da torre. Nesse ponto, a memória termina e Desmond dessincroniza.

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Desmond caminha lentamente pela ilha, se surpreendendo ao encontrar o sujeito dezesseis encolhido em um canto. O assassino moderno se aproxima com cautela, estranhando a atitude do outro.

– Dezesseis? – ele chama.

– Desmond, pense nisso. – o rapaz responde se virando para poder encarar o outro – E se eu fosse com você?

– Comigo? – Dezessete questiona não gostando do tom do outro e do brilho nos olhos claros – Aonde?

– Poderia funcionar. – o loiro diz sentando e cruzando as pernas – Só por um tempo. Até eu encontrar uma alternativa. Outro corpo, talvez. Ou... Eu não sei... Eu só... Não quero mais ficar aqui.

– Isso... – Desmond começa dando um passo para trás – Isso não vai acontecer. Sinto muito.

– Não. – Dezesseis concorda com uma risada – Eu acho que tive minha chance. E a desperdicei. – ele completa voltando a deitar sobre a areia.

– Dezesseis? – Desmond chama de modo cuidadoso após um momento de hesitação – O que você quis dizer quando me perguntou se Sophie conseguiu escapar? Escapar da onde?

– Eles não te contaram? – a risada do rapaz loiro ecoa na mente do assassino – Antes da Abstergo conseguir colocar as mãos em você, eles pegaram sua irmã.

– O quê?! – surpresa e raiva podem ser ouvidas na voz de Desmond. Sujeito dezesseis apenas ri.

– Quem diria que uma das melhores assassinas da Ordem poderia ser sequestrada pelos Templários? – sarcasmo domina a voz de Dezesseis – Mas ela foi. Abstergo pegou Sophie e a colocou no Animus. Ela era boa. Tinha um alto nível de sincronização. Mas ela... Ela quebrou... Ela... Eu... Nós... Nós não podíamos continuar... O fim era a única chance que ela tinha...

Desmond faz menção de dizer algo, mas Dezesseis se encolhe ainda mais e some. O sujeito dezessete é deixado sozinho na ilha confuso e preocupado. O que teria acontecido com Sophie?

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Após deixar a Torre de Gálata, Ezio guia Anna até o esconderijo dos assassinos nesse distrito. Ao entrar, o Mentor percebe como a atenção de todos é imediatamente atraída para a jovem que o acompanha, vestida ao mesmo tempo igual e diferentemente de um assassino.

– Ezio! – Yusuf cumprimenta – E... Quem é essa? – Tazim questiona olhando para a veneziana.

– Sou Anna Auditore da Venezia – a ladra responde com um pequeno sorriso.

– Auditore? – Yusuf pergunta olhando para Ezio com uma sobrancelha arqueada.

– Anna é minha filha e eu espero que ela seja bem tratada.

– É claro! – Tazim concorda sorrindo largamente – A filha do Mentor é uma assassina que merece nosso respeito!

– Mas agora, eu preciso conversar com ela. – Ezio diz ao perceber Anna abrir a boca para dizer que não é uma assassina.

Assim, Il Mentore guia a filha até a sala que usa como escritório, onde ambos poderão ter a privacidade que desejam. Ezio coloca a chave de Masyaf sobre a mesa e senta na cadeira. Anna, por sua vez, senta em uma cadeira próxima, ficando de frente para o pai.

– Então, fale. – o Auditore ordena.

– Você... Você se lembra da primeira vez que me viu tendo um colapso e então me levou para o Rosa in Fiore? – Anna começa e Ezio assente em resposta – Você se lembra do que me perguntou? Como eu poderia questionar a vida de um assassino se não a conhecia? Como poderia desenhar coisa com as quais nunca tive contato?

, eu me lembro. – o Mentor responde, embora internamente pondere que se lembre mais das questões que Anna fez naquele final de tarde do que as que ele mesmo fez.

– As respostas para essas perguntas são ligadas ao acidente que tive em Veneza. – a ladra responde enquanto segue os contornos dos desenhos nas chaves com as pontas dos dedos – Desde o dia em que cai do telhado do Palazzo, eu tenho visto... – uma pausa – Altaïr.

– Altaïr? Como isso é possível?

– Eu não sei! – Anna responde com frustração na voz e jogando o corpo na cadeira – Quando eu caí, vi um homem. E um símbolo. – a ladra respira fundo – Eu desenhei o símbolo e o mostrei a Antonio, perguntei se ele o conhecia. Ele me contou que era o símbolo dos Assassinos. Então, eu comecei a questioná-lo sobre a Ordem, sua organização, sua história. E Antonio me contou sobre Altaïr. Quando ouvi esse nome, eu soube que era o nome do homem que eu havia visto.

– Você viu Altaïr somente dessa vez?

– Não. – a veneziana responde – Conforme o tempo passa, eu o vejo com mais frequência. Cada vez que eu tenho um colapso é por que vê-lo se tornou uma experiência insuportável. – uma pausa – Eu vejo fragmentos da vida dele. Foi dessa maneira que vi a Maçã. Nas mãos de Altaïr.

– Por isso estava na estrada para Masyaf? – Ezio pergunta em um tom mais suave.

– Eu estava em Masyaf. – Anna corrige – Alguns templários podem confirmar isso. Ou, melhor, poderiam. - a ladra ri baixinho e mexe o pulso direito, mostrando uma lâmina oculta.

– Como conseguiu uma dessas? – o Mentor pergunta tocando a arma no pulso da filha.

– Um dos benefícios de ter amigos na Irmandade. – Anna responde – Eu queria encontrar a biblioteca de Altaïr. Há algo lá. Algo que a Maçã mostrou que eu preciso encontrar.

As palavras da ladra chamam a atenção de Ezio, mas o assassino não as questiona. Desmond, por sua vez, sente novamente a vontade de saber o que Anna viu quando tocou o Pedaço do Éden. O Auditore envolve o pulso da filha com os dedos, atraindo a atenção dela.

– Sua mãe sabe o que você está fazendo? – ele pergunta.

– Parcialmente. – Anna responde – Ela sabe o que eu procuro, mas não como. E, provavelmente, ela está ainda me amaldiçoando por fazer essa viagem. – uma fraca risada escapa por entre os lábios da ladra – Ela me contou que tinha esse pressentimento... Que, se eu viesse para o oriente, não voltaria para casa. – Anna abaixa o rosto, encostando a testa na mão de Ezio – A chave. Eu não sabia se realmente iria encontrá-la em Gálata. Eu só segui um palpite, um instinto que me dizia para estar ali. – a italiana respira fundo – Estou cansada, pai. Dessas visões, desses caminhos que parecem levar a lugar nenhum.

Ezio não responde, apenas toca a nuca da filha com a mão livre e beija levemente o cabelo negro. O Mentor pode não compreender a habilidade de Anna de ver Altaïr, mas com certeza entende o cansaço que ela sente. Querendo ou não, admitindo ou não, a veneziana vive a vida de um assassino. E essa é uma vida que exige demais daqueles que escolhe.

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Desmond faz uma pausa entre as memórias de Ezio. Sentado em uma das pedras que decoram a ilha, o assassino observa o movimento das ondas, a mente distante, questionando, imaginando. Acerca de Anna. De Sophie. O que a filha do Mentor poderia estar procurando em Masyaf? O que Altaïr e a Maçã poderiam estar querendo mostrar a ela? E Sophie? As palavras de Dezesseis ecoam na mente do ex-bartender. O fim era a única chance que ela tinha. O que o outro rapaz poderia querer dizer?

Nesse momento, um som familiar chama a atenção de Desmond. O barulho que sinaliza uma conexão sendo realizada. O mesmo som que o assassino costumava ouvir quando os outros queriam passar uma mensagem ou deixar um aviso enquanto ele estava conectado ao Animus. Mas ao invés da voz de Shaun ou Rebecca, é outra voz que ele ouve. A voz de uma mulher.

– Des? – a voz começa de modo hesitante – Eu não sei se você pode me ouvir. Ou se você puder, se irá reconhecer minha voz. – há medo nas palavras ditas, um medo aceitado e controlado – Sou eu. Sophie. Você ainda se lembra de mim?

Sophie. – o nome deixa os lábios do assassino sem que ele possa controlar. Desmond sente o peito comprimir com saudade da irmã.

– Des, saia do Animus. – Sophie pede em um tom mais baixo, a voz falhando um pouco – Por favor. Você não pode perder para essa máquina. Você não é como eu. Você é mais forte, mais resistente. Você pode vencer. Você sempre foi melhor do que eu.

– Não... – Desmond se pega dizendo – Você sempre foi a melhor.

– Des... – Sophie tosse. Desmond sente que há algo errado. O som não é como o de uma tosse comum, mais similar a quando alguém tosse por estar fraco, por estar ferido – Não pare de lutar. Por favor. – outra tosse – Eu preciso ir. Antes que o papai acorde. Ele não pode saber que estive aqui. – uma pausa – Eu te amo e sinto sua falta, irmão.

– Sophie! – o assassino chama, mas recebe apenas o silêncio como resposta.

– Ela não pode te ouvir. – outra voz diz chamando a atenção de Desmond.

– Dezesseis. – prestando atenção no rapaz loiro, o ex-bartender percebe que ele parece mais calmo. Não há mais o brilho quase insano nas íris azuis e a voz está mais firme – Diga-me como você conhece minha irmã. – uma pausa – Mas primeiro, me diga seu nome. – as palavras de dezessete fazem dezesseis rir.

– Meu nome é Clay. Clay Kaczmarek. – ele responde – E, como sua irmã, eu era um Assassino. Seu pai foi quem me introduziu na Ordem. (2) – o rapaz desvia o olhar por um momento e respira fundo – Eu conheci sua irmã em uma missão de campo. No começo, eu não sabia que ela era filha do William. Eu apenas sabia que ela era uma assassina muito habilidosa.

– E Abstergo? – Desmond questiona.

– Isso aconteceu depois. – Clay responde – Eu já estava infiltrado como o ‘Sujeito 16’ do Projeto Animus. Um dia, Vidic interrompeu uma sessão porque havia conseguido uma aquisição muito valiosa. Quando eles trouxeram a tal aquisição, eu imediatamente reconheci Sophie.

– O que eles queriam com ela?

– O mesmo que queriam com você. – Clay esclarece com um sorriso – Você são irmãos, possuem os mesmos ancestrais. E, além disso, parece que havia certo rumor de que a mente de Sophie era diferente. Adaptável. Uma característica que pode ser muito aproveitada no Animus.

– Esses rumores estavam certos? – Desmond pergunta começando a temer saber exatamente o que aconteceu com a irmã enquanto ela esteve sob o controle da Abstergo.

– Sim. – Dezesseis responde – Sophie tinha o nível mais alto de sincronização de todos os sujeitos. Isso a fazia capaz de abrir memórias de difícil acesso, memórias reprimidas ou escondidas dentro de outras. Como Vidic disse, ela era uma aquisição valiosa para os templários.

– Mas? – Dezessete diz sentindo que há um ‘porém’ em toda essa história.

– Uma habilidade sempre vem com uma fraqueza, Desmond. – Kaczmarek diz – Nesse caso, uma mente forte vem acompanhada de um corpo frágil. Quanto mais tempo Sophie permanecia no Animus, mais o corpo dela sucumbia. A sobrecarga que o cérebro dela estava suportando estava sendo transferida para o corpo. O resultado? Bem, vamos apenas dizer que eu perdi a conta de quantas vezes a assisti tossir e vomitar sangue.

– O quê? – Miles diz incrédulo, voltando a ouvir a irmã tossir através do sistema de comunicação do Animus.

– Claro que isso não impedia Vidic de continuar as sessões. Ainda mais em um sujeito tãoadaptável quanto sua irmã. – Clay dá um passo à frente e olha nas íris escuras do outro – Ela pode não ter recebido um número, mas foi um experimento tanto quanto qualquer outro. E, pelo que parece, ela escapou. Ela sobreviveu.

– Você não tinha certeza de que ela iria?

– Nós chegamos a um ponto, Desmond, em que a minha morte se tornou a vida de Sophie. – um sorriso nasce nos lábios de Clay – Eu morria, ela escapava.

Sem nenhuma outra palavra, Dezesseis desaparece.


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Notas finais do capítulo

(1) Para os interessados, Anna está com 21 anos.

(2) Fonte sobre a vida do Clay: Assassin’s Creed Wiki.



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