I Will Be... escrita por Luisa Stoll, Jeane


Capítulo 4
Madrugada


Notas iniciais do capítulo

OLÁSSS, Mags here
Depois de tanto tempo...
ENJOYYY



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POV Mackenzie

Luisa bateu a porta atrás de si, deixando-me sozinha com meus pensamentos.

Suspirei e joguei-me na pilha de travesseiros de minha cama. O enorme olho azul - símbolo de minha facção – que eu havia pintado há alguns anos no teto de meu quarto me encara.

Amanhã será o grande dia de minha irmã e ela mal faz ideia do quanto a invejo. Pode parecer pouca diferença, mas um ano debaixo do mesmo teto que a dama de ferro representante da Erudição - também conhecida como Jeanine Matthews, minha mãe – é uma eternidade. Meu maior desejo é sair daqui o mais rápido que puder.

Sinto uma tênue vibração no bolso de minha jaqueta que se intensifica a cada segundo. Demoro alguns instantes para perceber que se trata de meu celular, avisando-me que tenho duas novas mensagens, que se abrem instantaneamente.

E então, ruivinha?

– J

Bufo e pressiono uma das mãos sobre a têmpora direita. Tinha me esquecido completamente disso.

Saco o celular e digito rapidamente:

Tudo bem, mas temos que ser rápidos.

Amor,

– M

Não demora muito para que o telefone vibre novamente:

Te pego á 1h30.

–J

Droga, tenho que começar a conseguir dizer não para Jace.

Estarei esperando.

– M

***

Com meia hora de atraso, avistei a luz da moto de meu namorado. Sorrio quando ele estacionou.

– E aí, sweet? – disse ele agarrando minha cintura e puxando-me para um beijo apressado e voraz. Jace me solta e me analisa de cima a baixo – Você vai assim? É sério?

Faço que sim com a cabeça:

– Algum problema?

– Você só pode estar de sacanagem, ruiva – rosna ele parecendo ligeiramente desapontado – Vamos sair com caras durões, Mackie, durões pra valer. Você não pode simplesmente aparecer lá como uma cdf qualquer da Erudição. Eu não namoro cdf’s, namoro garotas de verdade.

Uma pontada de irritação cutuca meu estômago. Umedeço os lábios.

– Bem, o problema é que eu sou uma cdf da Erudição – retruco – Pensei que você soubesse disso quando começamos a namorar.

– Quando começamos a namorar você era uma rebelde que detestava esse uniforme idiota, as regras e tudo mais que envolvesse esse sistema estúpido – sinto a raiva na sua voz, mas ele a controla – Não importa. Vamos passar em casa, te arranjo uns trapos da minha irmã – seu queixo contraído se relaxa e sua expressão de rancor se desfaz em um sorriso malicioso – Você vai ficar tremendamente sexy com as roupas da Audácia.

Suspirei, aliviada. Odeio discutir com Jace. Subi na garupa e seguimos em direção a Audácia.

***

– Já posso abrir os olhos? – indagou ele.

– NÃO! – exclamei entre risos.

– Sabe, Mackie, isso é completamente ridículo. Sou seu namorado, devíamos ter ao menos essa intimidade.

– Cale a boca ou desisto de me aprontar e coloco de novo as roupas da Erudição – ameacei. Jace se calou. Fechei o zíper da saia e sorri satisfeita. - Pode olhar – concedi.

O queixo de Jace caiu. Ele começou a bater palmas instantaneamente.

– Meu Deus, você está... está... wow – disse com os olhos arregalados.

Encarei meu reflexo no espelho. Havia desfeito meu rabo-de-cavalo tradicional e meus cabelos ruivos caíam em camadas sobre meus ombros. O traje de sua irmã coube perfeitamente em mim. Vestia um top preto provocante, uma saia de couro que deixava a parte superior de minha barriga à mostra e ia até pouco acima do joelho, uma meia-calça preta, tênis de cano-alto e jaqueta preta com detalhes em prateado. Mamãe chamaria isso de indecência, mas quem liga?

– Vem aqui, vem – Jace me chamou e eu prontamente obedeci – Você está linda – ele beijou meu pescoço – Eu te amo.

– Também te amo, Jay – corei ainda constrangida pelos elogios – Mas acho que temos de ir, não?

– Sim, sim, é melhor corrermos antes que aqueles palhaços comecem sem nós.

POV Luisa

Claro que eu não ia dormir aquela noite. Quem em sã consciência conseguiria pegar no sono sabendo que o futuro dependeria do dia de amanhã?

E aquela pressão agonizante de mamãe só contribuía ainda mais para minha insônia de ansiedade. Será que eu era inteligente o suficiente para permanecer na Erudição? Bem, sem dúvidas conseguiria sobreviver sem grandes dificuldades por aqui, mas será que minha coragem destaca-se mais do que minha sabedoria? Seria isso o suficiente para escolher a Audácia amanhã?

Gostaria que houvesse um dia experimental em cada facção. Isso tornaria o processo bem mais fácil. Mas, é claro, tudo isso não passa de um tiro no escuro. Não temos chances de experimentar nada diferente antes de uma grande decisão.

Nascemos na facção e permanecemos nela até completarmos 16 anos e termos menos de 24 horas para decidir tudo aquilo que nos aguarda.

Menos de 24 horas para decidir se ficaremos na nossa facção de origem, continuando com a mesma rotina pela vida inteira ou simplesmente nos arriscamos a ir para um lugar completamente novo e diferente, com a possibilidade de não nos adaptarmos.

Qual era o problema em ter mais que uma opção de escolha? Aquele sistema muitas vezes era ridículo...

Peguei um livro sobre a história das facções em uma prateleira sobre a minha cama e abri na parte sobre a Audácia. Será que eu conseguiria me adaptar lá? O processo de iniciação era muito mais do que simplesmente fazer trabalhos científicos e pesquisas e mais pesquisas, como na nossa iniciação.

Uma lágrima quis escapar pelo meu olho direito, mas evitei. Nem uma Erudita e nem uma Audaciosa chora por motivos como esse. Se bem que... se eu não chorasse por um possível erro no futuro... eu teria algum outro motivo plausível para eventualmente derramar lágrimas?

Fechei o livro, tentando me imaginar segurando uma arma... não sei se minha imaginação permitiria tal imagem. Fechei os olhos, tentando limpar minha mente, em vão. Só me restava esperar por horas e mais horas até o dia seguinte.

POV Mackenzie

Chegamos na sede da Abnegação rapidamente. Chegava a ser um pouco depressivo olhar para todos aqueles prédios cinzentos, as luzes apagadas e inclusive pensar na vida dessas pessoas que não pareciam capazes de pensar em si mesmas, por tamanho altruísmo.

Os amigos de Jace estava lá, na frente de um muro cinzento, com latas de spray colorido em mãos. Eu realmente achava que o que eles iriam fazer ali era pior do que pichar alguns muros, conhecendo-os bem. Um cara de cabelo verde com inúmeras tatuagens espalhadas pelo corpo faz menção de começar, mas Jace o censura com o olhar.

– Você começa, anjo - disse com um sorriso desafiador enquanto lançava uma lata de spray em minha direção.

Agarrei a lata de spray no ar e fui até o muro mais próximo, escrevendo ali, em vermelho, um "Este muro foi pichado". Sim, era idiota, eu sei, mas na hora eu não tive ideia melhor.

– Você chama isso de pichação? - perguntou Jace, cético, tirando a lata da minha mão.

– Sugere o quê, docinho? - frisei a última palavra, sugerindo uma ironia.

– Algo obsceno, ofensivo, sei lá, Mackie, tudo menos essa droga!

– Ah, por favor, não me rebaixaria assim.

– Então o que, diabos, você está fazendo aqui? - perguntou, revirando os olhos.

– Desculpe, mas não pensei que meu namorado seria imbecil a ponto de constranger de tal forma essas pessoas.

– Sabe quem está constrangido agora? - disse ele, afinando a voz no "constrangido", numa tentativa patética de me imitar - Eu. Sinto vergonha de namorar uma careta feito você. Por que não vem pra Abnegação de vez? - zombou e seus amigos idiotas riram em coro.

Não consegui controlar minha mão, que atingiu seu rosto com tudo em alguns segundos.

– Sua... sua... vadia! - falou, com ódio na voz.

Não fiquei lá para ver o que ele iria fazer. Percebi que a chave da moto ainda estava lá, e minha massa corporal menor me deixava mais ágil. Calculei o tempo mentalmente e cheguei até lá, ligando a moto e partindo para a sede da Erudição, de volta para minha casa, deixando um Jace furioso plantado na Abnegação.

Eu pagaria por isso depois, eu sabia, mas não poderia perder essa chance.

POV Luisa

Meus olhos não se fechavam, era praticamente inútil tentar. Quanto mais eu tentava me concentrar no meu sono, mais ele desaparecia. Mais eu me incomodava com quaisquer sons vindos de fora, por mais que fossem coisas como o tique-taque do relógio.

Minha preocupação era tamanha que horas e horas não bastariam para que eu conseguisse pegar no sono.

Em consequência disso, resolvi ir até a cozinha, ignorando o fato de que era quase 3 da manhã e liguei a cafeteira. Um pouco de café para me ajudar a colocar as ideias no lugar não faria mal.

Em poucos minutos, aquele saboroso e cheiroso líquido escuro estava pronto. Peguei a jarra e depositei o líquido em uma caneca com o olho aberto, o símbolo da Erudição, desenhado. Coloquei uma parte de leite e tomei, sem açúcar, como sempre. Pode me achar estranha, mas eu achava que o açúcar tirava todo o sabor que o café com leite deveria ter.

Não queria voltar para o meu quarto. Aquele lugar parecia bem mais frio e solitário do que o normal. Minha irmã provavelmente estaria dormindo, já que ela não tinha as mesmas preocupações que eu.

Bati na porta levemente, nossa batida secreta. Não obtive resposta. Não me preocupando muito, abri a porta. Mackenzie tinha um sono pesado, provavelmente não teria acordado com aquele som baixíssimo. Porém, o que vi no quarto não foi uma montoeira de cabelos ruivos sobre um edredom azul bagunçado, mas sim uma cama perfeitamente arrumada, fora as marcas de que ela esteve sentada ali.

Era fácil chegar a uma conclusão do que tinha acontecido: ela tinha fugido.

POV Mackenzie

Agora que já havia alcançado uma distância considerável, a onda de adrenalina que há poucos instantes consumia todo o meu ser começou a dissolver-se nos pensamentos angustiantes que faziam doer fisicamente até.

As lembranças, atingindo minha mente como uma onda devastadora. Nunca tinha tido o coração dilacerado daquela forma, o que é evidente, já que Jace é o primeiro e único namorado que já tive em toda minha monótona existência.

O cara mais velho, com uma pegada selvagem e doce ao mesmo tempo. O loiro dos olhos negros inebriantes que tocava músicas na minha janela.

E os planos de um ano e meio, a possibilidade de construir uma vida emocionante ao lado dele, tudo jogado fora por causa de uma simples pichação.

Até ontem tudo parecia tão certo, tão claro. Fazer dezesseis e me iniciar na Audácia, sem pensar duas vezes ou olhar para trás. Ansiava por isso. Cada toque, cada beijo, cada palavra dita com carinho. Tudo isso vindo à tona.

Mackenzie Matthews, você é a maior idiota de toda a Chicago.

As lágrimas sobem aos olhos. Minha garganta se comprime, segurando os soluços. Fungo e estaciono a moto no acostamento.

Quer saber? Que se dane. Que se dane o frio. Que se dane o perigo de uma garotinha como eu estar sozinha no meio de uma rodovia deserta no meio da madrugada. Que se dane a possibilidade de Jace me alcançar e me matar – literalmente. Vá em frente, vida, ferre mais um pouco comigo!

Continuo caminhando noite a fora, batendo os dentes devido ao frio, com os braços abraçando meus ombros encolhidos. Não faço ideia do quão distante estou de casa, mas sei que estou no caminho certo. E dane-se também se não estiver!

As lágrimas quentes e salgadas escorrem por minhas bochechas e não me dou o trabalho de tentar secá-las.

Esse é o problema da dor. Ela precisa ser sentida.

POV Luisa

Mackenzie tinha desaparecido. Tentei mandar mensagens em seu celular, para depois descobrir que ela o tinha deixado sobre o criado-mudo. Tentei resistir à tentação de pegar o celular e tentar ter uma pista de onde ela estava, mas isso seria invadir sua privacidade...

De um jeito ou de outro, guardei o aparelho no bolso traseiro da minha calça jeans e resolvi chamar Jeanine.

Mackenzie provavelmente iria me odiar por causa disso, mas eu não tinha outra escolha.

– Mãe... - chamei, batendo na porta do seu quarto. Ela provavelmente estava no 7° sono a uma hora dessas. Ou, menos provável, estava trabalhando em seus papéis estranhos do dia anterior.

Esperei um pouco até ouvir o som de passos consideravelmente pesados sobre o piso laminado.

– Acordada a essa hora, Luisa? - perguntou ela.

Seu cabelo ainda estava preso em um rabo de cavalo e sua maquiagem ainda estava em perfeito estado. Sua voz firme ainda indicava que ela sequer dormira aquela noite. Segunda opção.

– Mãe, a Mackie... - comecei.

– A Mackie o quê? - perguntou, de forma severa.

– A Mackie fugiu!

– Como assim sua irmã fugiu? Você não percebeu nada?

– Eu estava no meu quarto, tentando dormir... Aí fui na cozinha e peguei um café para organizar as ideias... acabei passando pelo quarto dela e estava vazio!

– Como ela fugiu com o tornozelo torcido? Correndo é que não pode ter sido.

– E isso importa? Temos que procurá-la!

– Que seja, pegue as chaves – ordenou mamãe colocando sua mão direita sobre a têmpora – AGORA! – gritou quando eu não me movi.

Despertei de meu curto transe e corri para pegar as chaves do carro.

Peguei a chave do carro que estava na frente na garagem, enquanto mamãe corria para pegar sua bolsa em seu quarto.

– Pra onde essa menina pode ter ido? - perguntou, assim que entramos no carro, batendo as unhas no volante.

– Não tenho ideia... - murmurei, tentando pensar em algo. - Não há a possibilidade de ela ter saído com aquele garoto da Audácia?

– Ela não ousaria... - comentou mamãe, mas eu a encarei. Ela estava apenas tentando evitar o inevitável...

– Conhecendo bem a Mackie, mamãe... Se fosse pra te tirar do sério e nos fazer arrancar os cabelos, sim, ela ousaria.

– Então para onde ela pode ter ido? - perguntou, olhando diretamente em meus olhos azuis.

– Ela pode estar em qualquer lugar da cidade. Temos cerca de quinhentos e oitenta e cinco quilômetros quadrados para procurar.

– Muito animadora, Luisa. - Jeanine suspirou, tentando se concentrar.

– Até porque não acho que ela tenha saído da cerca e...

– Não piore a situação com palavras, filha. - falou, revirando os olhos.

– Só estava considerando as variáveis - bufo irritada - E estamos perdendo tempo.

– Tudo bem, você tem razão. Vamos. - falou, acelerando mais o carro.

Não rodamos nem 2km e as luzes dos faróis de mamãe já iluminaram uma figura franzina tremendo e esfregando os braços.

– Mackie! - exclamei.

Quando chegamos mais perto, pude notar que a mesma estava com a maquiagem borrada, o nariz vermelho e as bochechas marcadas pelas lágrimas.

Meus instintos protetores de irmã mais velha se apossaram de meu ser e eu desci imediatamente do carro, sem me preocupar com os resmungos de minha mãe ranzinza. Envolvi seus ombros em um abraço e beijei o topo de sua cabeça.

– Ei, o que aconteceu? - perguntei levantando seu queixo.

Mackenzie afundou a cabeça entre os meus braços e chorou.

Jeanine desceu do carro pisando firme, a ira estampada nos olhos.

– SUA DELINQUENTE IMORAL! - esbravejou - PODE PARAR DE CHORAR AGORA E EXPLICAR QUE DIABOS ACONTECEU!

– Deixe ela em paz - disse com desprezo na voz.

– Não, Lui... - murmurou ela, tremendo. - Eu... Eu não devia ter feito isso. Fui uma tola, não mereço ser da Erudição e...

– Entre no carro. - ordenou mamãe, e puxei Mackie para o banco de trás. Peguei um casaco que minha mãe teve o bom-senso de deixar ali e coloquei sobre seus ombros.

– Mackie, diga, o que aconteceu? - falei, tentando deixar a voz morna. Ela já estava mal, não podia fazê-la se sentir pior com palavras frias.

– Eu... Eu...

– Estava com seu namorado e ele te insultou? - arrisquei.

– Mais ou menos... - Mackenzie escondeu seu rosto em meu ombro, e achei mais sensato não perguntar nada. Sua respiração pesada foi se normalizando aos poucos, e percebi que logo ela tinha caído no sono.

Mamãe estacionou o carro e subiu, com passos firmes e pesados até o seu quarto, não antes de gritar uma advertência do topo das escadas:

– Não pense que isso ficará impune, mocinha. Sorte sua que estou ocupada demais para seus dramas adolescentes.

Tive que acordar Mackie para que ela subisse também. Seus olhos se abriram lentamente quando eu chamei seu nome, e pedi para que ela subisse até o quarto.

Ela mal conseguia se manter de pé, por isso segurei em seus ombros. Quando consegui deixá-la, fui direto para o meu quarto, vendo que eram quase 6h da manhã. Tanta coisa tinha acontecido naquela noite...

E muitas mais aconteceriam naquele dia.


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Notas finais do capítulo

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