Cartas Que Nunca Foram Entregues escrita por Pikenna


Capítulo 6
Dumbledore para Grindelwald


Notas iniciais do capítulo

Fanfic não revisada escrita na madrugada em uma inspiração súbita. Espero que gostem. Albus não entregou essa carta porque ele não teve coragem, guardou-a um bom tempo em sua gaveta até o dia que resolveu mandá-la e Grindelwald havia morrido, ai não tinha mais jeito. :/



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Cartas que Nunca Foram Entregues

Por Rebeca/Pikenna

Albus para Grindelwald

Eu pensei em milhares de formas de começar essa carta, mas nenhuma delas me pareceu satisfatória o suficiente. Então eu resolvi largar os padrões e quebrar os paradigmas, mesmo que se trate de uma simplória carta. Afinal, nada que se trate de você ou para você deva ser considerado como normal. Seria um ultraje a sua pessoa que é tão incomum quanto raios de sol numa manhã de inverno predestinada a apenas nos receber com seus diversificados flocos de neve. Penso diante dessa minha afirmação que de fato o conhecia, mais do que a mim mesmo, mais do que qualquer outra pessoa que teve o infortúnio de me encontrar em alguma encruzilhada da vida. E por tê-lo conhecido tão bem que sinto sua falta, um verdadeiro sacrilégio se refletirmos sobre o nosso último encontro, em que duelamos até nossas energias se esvaírem de nosso corpo, um simbólico adeus que demos um ao outro. A partir dali, da sua fuga, da morte de Ariana, eu sabia que não haveria retorno, que não haveria reconciliação, que não haveria mais eu e você, a soma perfeita. O orgulho foi o nosso maior algoz. Para O Bem Maior, não era?

Um aluno célebre de Durmstrang. Um aluno célebre de Hogwarts. Um encontro em Godric’s Hollow. Arrependimento que levarei comigo para o túmulo. Me arrependo de várias coisas que fiz na vida em prol de falácias que enlaçavam e atavam meu desejo pelo poder e pela glória, enlevando meu espírito até cegar-me por completo. Mas, o arrependimento que supera a todos os que carrego é o de tê-lo conhecido. Porque você me embriagou com ideias para formar “Uma Nova Ordem Mundial”, fiquei embebido em suas palavras, que nada mais fizeram que despertar o brio em meus olhos pelo anseio de alcançar o topo com as Relíquias da Morte. Eu queria a pedra da ressureição para trazer meus pais mortos de volta à vida. Você queria para criar um exército de Inferi. O quão estúpido eu fui por acreditar em sua falsa oratória? Impossível mensurar. Se eu não o tivesse conhecido, se nossos caminhos não tivessem se cruzado, tudo teria sido diferente. Talvez Ariana vivesse um pouco mais para ver as flores desabrocharem na primavera. Mesmo magicamente instável e perturbada, minha irmã podia enxergar além do que nossos olhos comuns podem ver. Talvez Aberforth não carregasse por mim o ódio, sentimento pesado e que consome a alma aos poucos, envenenando-a. Ele sempre me alertou sobre você, mas eu nunca o escutei, porque quando amamos, nos tornamos cegos e surdos ao mundo.

Eu o amei. E você usou o meu amor para seu proveito, me manipulando. Contudo, eu não percebia, pois só existia você e o nosso sonho em comum, um sonho vil ladeado por sentimentos e vontades negativas, egoístas e cruéis. A ambição exacerbada me destruiu naquela época. Agora eu tento reparar meus erros do passado, auxiliando Harry Potter, a última esperança do mundo bruxo, a se manter no caminho correto, a não cometer deslizes como eu cometi. Poderia ter sido brilhante. Talvez eu tivesse de fato sido. Mas não passei de alguém desprezível, do qual sinto vergonha em expor. Hoje me dizem que sou um bruxo excepcional e Harry inclusive tem orgulho de mim. Me defende mesmo sem saber de fato quem um dia fui, quem agora sou. Um menino muito bom. Tudo o que eu definitivamente não fui.

Sinceramente? Não sei porque estou perdendo meu tempo correndo a pena nesse pergaminho. É certo que não o enviarei essa carta, mesmo que eu a esteja escrevendo. Foi uma necessidade maior que minha força de vontade e meu orgulho. Precisei dar vida aos meus sentimentos que se mesclam uns aos outros, nunca me permitindo entende-los com a nitidez almejada. Eles estavam me sufocando. Após esses anos todos, eu finalmente consegui criar coragem para expor minha dor a mim mesmo, porque ainda que o destinatário aluda a você, na realidade, ele sou eu. Estou escrevendo para mim. Para espantar meus fantasmas. Para poder partir em paz. Estou morrendo Grindelwald, estou morrendo por causa de uma horcrux. Pedi a Snape que me ajudasse a ir embora com serenidade. Que minha morte não fosse dolorosa como minha vida inteira tem sido. A sua ausência, o seu desprezo, a sua rejeição são as cicatrizes que carrego comigo por onde eu for. Cicatrizes de uma invisível Cruciatus, tortura. Amá-lo abriu em mim feridas enormes que até hoje me deformam, não ao olho nu, mas visível para aqueles que são capazes de enxergar além dos olhos, bem no fundo da alma.

Eu o amei. Você nunca correspondeu verdadeiramente. Seu amor era uma mentira para me manipular, para me usar como uma marionete. E isso me fez sangrar. Me fez chorar. Me fez perder meus irmãos, seja para a morte física, seja para a morte metafórica. Por tê-lo encontrado, eu me perdi. Por sentir saudades suas, eu me puni. Por amá-lo, que me odeio. Estou me libertando de você, liberando as correntes de memórias que me prendem a um passado obscuro que preciso esquecer. Estou me livrando dos fantasmas com seu rosto que me assombram cotidianamente nos meus mais íntimos e profundos sonhos. Estou caminhando para a morte para abraça-la de frente como uma igual, assim como no conto dos Três Irmãos. Eu não quero mais enganá-la e vencê-la, quero aceita-la. E assim, esquecê-lo para sempre. Eu te amei de verdade, Grindelwald, como nunca amei outrem. Então, por tê-lo amado, que estou me despedindo de você.

Adeus, meu maior inimigo e meu único amor.

Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore.


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Notas finais do capítulo

Dumbledore não entregou a carta por não ter coragem o suficiente para fazê-lo, guardando na gaveta.



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