***Effie Trinket

Devo estar com uma aparência péssima, afinal, Katniss me olha constantemente. E cá pra nós, eu estou mesmo me sentindo péssima. Péssima e confusa.

Há algumas horas, eu estava no meu apartamento na Capital, pensando em como seria difícil rever Haymitch depois de todo esse tempo. Agora, estou no Distrito 12, na casa de Katniss e Peeta, minutos depois de brigado com Haymitch porque vou me casar com Plutarch. Contando com o pequeno detalhe de que nos beijamos no carro enquanto ele dizia para mim que iria estar do meu lado para cuidar de mim. Confusa, confusa, confusa!

Olho para a minha mão e vejo aquele anel com um enorme brilhante e me sinto péssima, afinal traí Plutarch. Nosso noivado pode não ter o menor amor, mas é errado fazer isso com ele. Eu beijei Haymitch! Como pude?! Effie, Effie, a quem você quer enganar, foi o melhor beijo da sua vida. Cheio de paixão e carinho. Nunca havia imaginado que iria beijar Haymitch de novo. Só eu sei o quanto senti falta de seus lábios nos meus. Ah não, tenho que parar com isso. Plutarch não pode nem imaginar que isso aconteceu. Não devia ter feito isso com ele. Péssima, péssima, péssima.

“Effie você quer comer alguma coisa?” pergunta Katniss. Estamos só nós duas na casa, Peeta foi ver como Haymitch está. Eu e Katniss nunca nos demos bem realmente. Nas conversas sempre foi eu e Peeta, Katniss e Haymitch. Somos muito diferentes. Mas mesmo diferentes, tenho muito carinho por ela e sei que é algo mútuo. Todos nós aprendemos a gostar uns dos outros. E no meu caso, até demais, assumo. “Effie, quer conversar sobre o que aconteceu?”

“Não sei. Mas o que aconteceu afinal?” tento disfarçar, afinal não acho que Katniss vai entender nada disso. Cá pra nós, ela sempre foi péssima em relação a sentimentos. Eu também não sou muito boa. Talvez seja bom conversar.

“Ora, como o que aconteceu? Você e Haymitch chegando completamente estranhos da estação de trem, você com aquela cara de choro e aquela ceninha de ciúmes do Haymitch quando soube que você ia se casar com Plutarch, por exemplo.” Disse Katniss com um sorriso de canto.

“Bom, eu não tenho culpa se ele teve essa reação, mas em relação à estação de trem, garanto a você que não houve nada.”

“Tem certeza, vocês dois chegaram aqui com uma cara bem estranha...”.

“Sério mesmo?! Parecia mesmo que havia acontecido algo?”

“Sim. E aconteceu?”

“Ah Katniss, eu pensei que poderia esquecê-lo, mas não consigo. Eu tentei apagar ele da minha mente, mas eu não posso. Pensei que se me casasse eu ia conseguir tirar ele da minha cabeça, mas não dá.”

*** Katniss Everdeen

Effie estava gritando coisas que não faziam o menor sentido. Então quer dizer que Peeta realmente tinha razão, Effie e Haymitch realmente tinham alguma coisa. Só ele mesmo pra enxergar uma coisa dessas. Eu ainda continuo achando tudo muito surreal. Effie e Haymitch. Um casal. Sério, ainda é muito difícil de acreditar.

“Effie você pode me explicar direito, eu não estou entendendo nada.”

“É verdade, devo estar deixando você muito confusa não é queridinha? Mas então, eu e Haymitch não tivemos, bem, alguma coisa. É difícil de explicar.”

“Bom, se você não quiser falar não tem problema, afinal, eu não tenho nada haver com isso.”

“Não, não, eu quero falar. Preciso desabafar com alguém sobre tudo.”

*** Haymitch Abernathy

Não, não e não. Minha cabeça está girando e parece que vai explodir. Como assim Effie vai se casar com Plutarch? Isso não pode acontecer. E logo com ele. Plutarch que se dizia meu amigo, que me ajudou a salvar Effie da Capital, que sabe o quanto eu gosto dela. Traidor! É isso que ele é! Um grande traidor!

“Preciso de uma bebida.” Vou até ao armário e pego uma garrafa de whisky, a mais forte que encontro. Quero apagar qualquer vestígio desse dia de merda, pelo menos por enquanto. Me jogo em uma poltrona imunda e dou o primeiro gole. Fico tonto. A primeira imagem que vem a minha cabeça é a de Effie jogada no chão, com o rosto vermelho e uma expressão de medo, os olhos já brilhando devido a lágrimas que já estavam chegando. Eu a machuquei. Como pude fazer isso? Mais um gole. Ela deve estar me odiando com todas as forças com certeza. Primeiro eu a beijo e logo depois jogo ela no chão com raiva de algo que não me diz respeito. Ela tem todo o direito de me odiar. Dou mais um gole.

“Que mulher iria querer você?”

É a voz de Effie, mas eu não entendo...

“Eu jamais olharia para você, bêbado imundo.”

“EFFIE!!” grito para o nada. “Isso não é verdade, é coisa da minha cabeça”.

“Eu jamais sentiria algo por você a não ser pena.”

“CALE A BOCA!!”

“Eu tenho nojo de você. Nojo do seu cheiro. NOJO. EU ODEIO VOCÊ!”

Me levanto e sinto tudo girar, caio no chão e escuto o barulho de vidro quebrando. Sinto um gosto amargo na boca e vomito tudo que bebi.

“Eu odeio você Haymitch. ODEIO.”

Aos poucos sinto que estou perdendo a consciência, mas antes, vejo um conhecido par de olhos azuis.