Carma escrita por Ero Hime


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

OLÁÁÁÁ. Em meio a tantos projetos, resolvi reescrever essa história, que é uma das minhas preferidas de dia dos namorados. Escrevi a primeira versão há muuuuito tempo, e percebi que poderia fazer melhor, mantendo o plot original. Espero que gostem dessa nova versão.
E, logicamente, mais uma para a Bruna, que me deu a ideia genial de reaver projetos antigos e reescrevê-los, agora mais madura como escritora. Obrigada por isso.



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Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

— Fernando Pessoa

 

Hinata suspirou – talvez pela terceira ou quarta vez no intervalo daquele minuto. Paciência não era uma qualidade que ela gostava de ressalvar em si mesma, e, embora tivesse optado por ficar esperando no hall, desejou que suas vibrações mentais apressassem o dito cujo. Conhecia aquela casa como a palma da sua mão – mesmo que a designação casa fosse, de fato, ultrajante –, mas, se arriscasse subir até o quarto, sabia que não teria forças para sair dali. Desde o momento que acordara, cada célula que a compunha estava lutando para honrar seus compromissos – e não sair correndo rumo ao desconhecido, como era sua vontade. Não que adiantasse de algo. Ela sempre era encontrada.

Uma nova lufada de ar escapou de seus lábios antes que ela pudesse impedir. Com os olhos cansados, percorreu a extensão de ladrilhos cuidadosamente escolhidos pelo gosto refinado de Kushina. O lugar, milimetricamente planejado, era como colírio aos olhos, repleto do maior conjunto de obras de arte que o dinheiro pode comprar. Quando se tratava de luxo, a família Uzumaki não era conhecida por maneirar.

De qualquer maneira, mesmo que não fosse o maior exemplo de impassibilidade, Hinata orgulhava-se de ser alguém que conseguia se manter em equilíbrio na maior parte do tempo. Agia com sensatez e seguia levando consigo a premissa que todas as pessoas estavam fadadas a errar, e alguns minutos de espera não matariam ninguém. Exceto naquela época do ano.

O tempo ameno proporcionava um clima particularmente agradável na rua. As decorações saltavam, enchendo os olhos nas ruas comerciais, e toda e qualquer atenção midiática se voltava especialmente para aquele evento. Era a época do ano, no entanto, que Hinata se tornava excepcionalmente amarga e impaciente. Começara há alguns anos, e, apesar de todas suas esperanças para que melhorasse, algum tipo de existência divina claramente a odiava (há quem diga que Hinata era um tanto quanto dramática).

Ela não sabia o motivo. Talvez fosse apenas a data, onde tudo e todos se voltavam apenas para deixá-la em um estado de infelicidade. Talvez fosse o clima insuportavelmente romântico, com casais demonstrando sentimentos em excesso para pessoas totalmente irrelevantes. Talvez fosse a compulsividade do comércio para lucrar. Talvez fosse porque todas suas amigas tinham namorados e ela não. Ou, talvez – e apenas talvez – estivesse relacionado ao fato de que Hinata havia levado mais números de foras do que realmente poderia contar, e, curiosamente, todos aconteciam naquele mesmo dia.

Não era como se Hinata odiasse o dia dos namorados. Ela só sentia um completo desprezo pela data que, afinal, nem deveria ser considerado um feriado de verdade.

— Pelo amor de Kami. – murmurou, acendendo o visor do celular novamente, apenas para perceber que só haviam se passado dois minutos desde que chegara.

— Calma, já cheguei. – uma voz divertida a fez voltar os olhos para a escada, e ela teria sorrido se não estivesse imersa em pensamentos que deixavam seu humor perigosamente baixo. Embora irritada – quem sabe inconformada também –, não pode deixar de contar um suspiro e sentir as pernas bambearem.

Amigos há anos, mais anos que ela lembrava, Hinata nunca conseguiria acostumar-se com aqueles olhos azuis elétricos. Haviam outras partes que ela admirava, claro, como o rosto simétrico ou o cabelo louro que contrastava de uma maneira invejosamente boa com seu tom de pele sempre bronzeado. Mas os olhos a deixavam sem fôlego. Límpidos, sempre que a encaravam, era como se pudessem ler cada parte de sua alma. Eram sinceros e transparentes. Não havia uma só pessoa que não soubesse desvendar os sentimentos que aqueles olhos passavam.

— Até que enfim. – balançou a cabeça, corada por ter se distraído, mais uma vez, com o garoto. Este abriu um largo sorriso, de tirar o fôlego, enquanto caminhava até ela com as mãos nos bolsos. A garota revirou os olhos, mas também retribuiu o sorriso, pensando no quanto aquelas covinhas eram adoráveis. Puxou a bolsa para os ombros e se juntou a ele lado a lado, a caminho da porta – Você é pior que mulher para trocar de roupa, Naruto.

— Não tenho culpa que você é impaciente. – ergueu uma sobrancelha, prendendo o riso. Hinata resmungou alguma coisa inteligível, sem responder.

— Isso não tem nada a ver. – murmurou – Nós temos mesmo, mesmo, que ir? – suplicou novamente, mesmo achando que não havia saída, não custava tentar de novo.

— Sinto muito, Hina, mas não. – Naruto sorriu, compadecido – Nós prometemos ajudar a Ino com a decoração. – Hinata gemeu em protesto, e Naruto riu, a puxando com o braço pelos ombros.

Yamanaka Ino era conhecida por suas festas lendárias – e algumas outras características marcantes. Amiga de Hinata há um longo tempo, as garotas não poderiam ser mais diferentes, mas, de alguma forma, funcionavam juntas. A questão era que Ino era o estereótipo perfeito do que toda garota deseja ser e que todo garoto deseja ter. Linda, loura e rica, Ino não media esforços para marcar presença onde quer que fosse. Sempre bronzeada e trajando as peças mais caras de seu guarda-roupa, as vezes sua personalidade forte irritava as pessoas, mas tinha um bom coração – que ficava bem embaixo de toda a maquiagem e seus cartões de crédito.

Qualquer motivo era válido para Ino dar uma festa. E, especialmente naquele dia, havia se tornado uma tradição a tão aguardada festa dos dias dos namorados no salão de festas da família Yamanaka. No fundo, todos apenas acabavam cedendo aos esforços de Ino, levados pelo seu sempre prestativo – e incapaz de não fazer as vontades da loira – namorado, Gaara. Toda a turma de amigos havia se conhecido de algum jeito, então formavam um grupo muito amplo de amizades. Seria bem mais fácil se eles apenas seguissem as tradições e presenteassem uns aos outros com chocolate honmei, mas é claro que Ino nunca perderia a chance de chamar a atenção e gastar dinheiro.

Hinata gostava de pensar no porquê de ser amiga das suas amigas. Não que fossem más pessoas, mas sentia-se deslocada. Não gostava de festas, ou compras, ou passar horas a fio falando mal da vida dos outros. Não era como se Sakura ou Tenten também fossem pessoas ruins – as garotas eram incríveis e Hinata sentia-se grata por conhecê-las –, mas as vezes gostaria que elas fizessem algo a mais que não envolvesse agir... bem, como garotas ricas.

Lamentou-se sozinha, e Naruto a encarou curioso. Fitou seu rosto de perfil, analisando cuidadosamente cada detalhe que compunha a beleza exímia da garota. Reprimiu, ele mesmo, um velho suspiro apaixonado. Hinata era uma garota indescritível. Seu rosto estava gravado nas memórias mais profundas do Uzumaki, que gostava de reavê-las como um pequeno conforto para seu coração entristecido. Ele já havia aceito, de qualquer maneira.

Hinata era perfeita demais para ele.

Caminhavam lado a lado, abraçados. Naruto descansava o braço cuidadosamente sobre a garota, mantendo-a protetoralmente perto de si, encarando todos que ousassem olhar para ela. Enquanto isso, Hinata tentava – falhando miseravelmente – controlar as batidas desregulares em seu peito, evitando pensar na proximidade dos corpos, no calor que compartilhavam. Naruto era tão forte e confortável... acostumara-se com as noites em claro sonhando em dormir dentro daqueles braços.

Quer dizer, era loucura. Naruto e Hinata eram amigos desde sempre. Dividiram tudo ao longo de sua vida. Risadas, lembranças, lágrimas, corações partidos, segredos, inseguranças, tristezas. Não existia Naruto sem Hinata. Haviam se tornado uma dupla, quando mencionava um, necessariamente era obrigado mencionar o outro. Naruto e Hinata. Não só Naruto. Não só Hinata. Naruto e Hinata. Como as inúmeras certezas do universo, como o sol que nascia a cada manhã, como o céu que era azul e como o fogo que crepitava, queimando. Eles apenas existiam, juntos, suprindo seus sentimentos para manter o outro por perto.

Pararam em frente a um grande portão, e Hinata fitou Naruto uma última vez, fazendo sua melhor cara de pena. O coração de Naruto falhou, e ele teve que lutar com muita força para não ceder àquela cara.

— Vamos, é só um dia. Vai acabar rápido. – Hinata lacrimejou, com um bico, e Naruto riu, apertando-a um pouco mais.

Entraram, por fim. Todos já haviam chegado, sentados de forma desorganizada na sala. Haviam caixas por todo lugar, com decorações, fitas, globos, balões, cores exuberantes e tecidos embolados. Ninguém deu atenção a eles, uma vez que Ino e Gaara brigavam – novamente. Sakura estava sentada na beira do sofá, rindo, e Sasuke foi o único que cumprimentou os amigos que haviam chegado. Tenten estava confortavelmente sentada sobre o colo de Neji, alheios a qualquer coisa. Hinata ergueu uma sobrancelha. Era cedo demais para eles já estarem brigando. Geralmente brigavam quando Hinata estava presente. Gaara já fora seu namorado – o que era uma grande estupidez, considerando que eram grandes amigos. Apenas uma tentativa que não deu certo, e ambos chegaram nessa conclusão juntos. O problema é que Ino era sempre insegura, o que Hinata achava completamente fora do normal (quer dizer, Ino era como uma deusa, e Hinata era apenas... Hinata).

— Ei. – Naruto perguntou, se aproximando com Hinata. Gaara a olhou, dando um sorriso torto, e o loiro fechou a cara, assim como Ino, que continuava gesticulando a plenos pulmões, ignorando a tudo e todos.

— Oi. – Tenten quem se prontificou a responder.

— Que ótimo clima para o dia dos namorados. – Naruto comentou, fazendo com que os casais a volta rissem – O que aconteceu com os pombinhos?

— Ah, brigando por besteira de novo. – Sakura deu de ombros, ainda se divertindo – Gaara disse que Hinata ficaria melhor de mulher-gato que Ino, e ela começou a dar um escândalo. – Hinata corou fortemente, engolindo em seco, mas comemorando internamente a feição ciumenta que envolveu o rosto de Naruto.

— Festa a fantasia esse ano? – ergueu uma charmosa sobrancelha, tentando disfarçar a irritação.

— É. Tem que ser pares de fantasias, combinando. – Neji não estava com a melhor das caras, imitando Sasuke, um tanto incomodado ao seu lado.

— Perfeito. – Hinata bufou – Onde eu vou arrumar uma fantasia a essa altura do campeonato? E ainda mais um par. – estremeceu só de pensar na possibilidade. Todos, absolutamente todos, seus encontros no dia dos namorados haviam sido um completo fracasso. Começou a achar que talvez seu carma não fosse bom o bastante para aquela data.

— Você vai comigo, oras. – Naruto respondeu, com o tom firme e um pouco enciumado – Eu vou ser o melhor batman que todos já viram. – estufou o peito, e Hinata ergueu uma sobrancelha, prendendo o riso.

— Então quer dizer que nós vamos juntos. – embora seu tom de voz beirasse ao sarcasmo, suas pernas afrouxavam a medida que o calor atingia seu rosto, cobrindo-o.

— Claro que sim. Não vou deixar aqueles urubus caírem matando em cima de você. – resmungou, com um bico. Puxou Hinata para mais perto, agarrando sua cintura possessivamente, e a garota, e todos ao redor, riram.

— Obrigada por proteger minha honra. – rolou os olhos, abraçando-o de volta. Os demais se entreolharam, com caretas, perguntando-se porque, aparentemente, todos sabiam dos sentimentos que nutriam um pelo outro, menos os próprios.

Era cristalino como água. Pareciam dois cegos para não perceberem, e se tornavam particularmente irritantes quando choramingavam sobre como não era recíproco. Ambos os amigos haviam concordado em não interferir, embora em muitas ocasiões lutaram para não esfregar a cara um do outro contra eles, fazendo-os acordarem. Tratavam-se como namorados na maior parte do tempo, e a química natural era inegável. Era quase óbvio demais.

— TUDO RESOLVIDO! – assustaram-se com os gritos altos demais da loura, que vinha com um largo sorriso, a mão agarrada com força contra a de Gaara, que portava uma careta desolada. Hinata fitou a amiga com cuidado, mas retribuiu o olhar amistoso quando percebeu que tudo estava tranquilo – Já decidimos nossas fantasias, não há mais nada para brigar. – plantou um beijo melado de batom no rosto do ruivo, que gemeu em protesto.

— Em que fria você se meteu dessa vez? – Sasuke zombou.

— Rei e rainha. – Gaara resmungou, arrancando gargalhadas zombeteiras, e expressou alguns palavrões que não ousariam serem repetidos.

Os amigos começaram a conversar sobre a festa, uma vez que todas as atenções estavam voltadas para os últimos preparativos. Escolhiam o lugar de cada decoração, aparelhos eletrônicos e o bar que seria montado especialmente para a ocasião (quem precisava de limites?). Apenas Hinata permaneceu quieta, mordendo o lábio inferior. Não queria estragar a euforia de ninguém, mas sentia-se particularmente desanimada. Um novo dia dos namorados e ela sequer tinha um encontro. Havia sido assim nos últimos anos, mas a esperança que havia alimentado da sua sorte mudar a deixara um pouco pior.

— Hina, deixa as pessoas falarem também. – Sakura disse com seu melhor tom irônico, arrancando risadas divertidas. A morena apenas bufou, sem rebater a provocação.

— Essa é a data mais inútil que existe. – resmungou, e Naruto, ao seu lado, lutava para não rir da careta excepcionalmente encantadora que ela fazia.

— Isso é dor de cotovelo. – a de cabelos róseos excêntricos respondeu – Só porque você levou um fora no dia dos namorados, não quer dizer que seja uma data ruim para sempre. – Hinata pôs a mão sobre o peito, arquejando. Os demais observavam a cena, se divertindo.

— Isso é maldade, Sakura! – reclamou, com os olhos desolados – Se fosse apenas um estava bom, mas foram vários. – frisou bem a palavra – Eu tenho o pior carma romântico que existe, e não preciso de uma data para me lembrar disso, muito obrigada. – rolou os olhos. Naruto mordeu a boca, repreendendo uma frase espontânea que estava para pronunciar. Permaneceu calado, lembrando-se de todas as vezes que levantara no meio da noite, com Hinata aos prantos no telefone. Era de partir seu coração. Tivera que se segurar em inúmeros casos para simplesmente não sair atrás de cada babaca que ferira os sentimentos da Hyuuga.

Naruto apenas sentia que tinha essa obrigação – de defender Hinata a todo custo. De estar lá para ela, de ampará-la, de segurá-la. Não se lembrava quando começou a se sentir assim. Talvez mais anos que deveria. No final, ele era apenas um covarde, medroso demais para dizer à garota seus verdadeiros sentimentos. Contentava-se com a amizade, porque tê-la um pouco era melhor do que não tê-la.

— Talvez sua sorte mude esse ano. – Tenten levantou uma sugestiva sobrancelha, e Naruto engoliu em seco, desviando o olhar.

— Isso eu duvido muito. – bufou, cruzando os braços. Já estava resignada. Seria uma quarentona solteira cujos casos de amor se transformaram em histórias trágicas – Tudo seria muito mais simples se vocês apenas dessem um chocolate, como todo mundo faz. – alfinetou, ainda descontente.

— E então, nesse caso, nós nos tornaríamos velhas ranzinzas igual você. – Ino sorriu debochado antes de cair na gargalhada, junto de todos os outros, enquanto Hinata fechava a cara.

 

 

Ino poderia ter atitudes duvidosas vez ou outra, mas todos tinham que admitir – ela sabia como dar uma festa. O salão estava imensamente decorado com corações coloridos, presos a tiras transparentes no teto, que refletia as cores dos feixes de luz estroboscópicas. A pista de dança estava igualmente impressionante, contrastando diversos tons pastéis e rosa. Havia muito rosa. Rosa escuro, rosa claro, rosa salmão, rosa bebê, rosa bordô, rosas avermelhados. Absolutamente rosa. O balcão do bar também tinha alguns detalhes na cor, apesar de se manter neutro. Os barmans faziam acrobacias com copos e tinham sorrisos animados, com suas gravatas borboletas. As pessoas gritavam e riam, ou conversam em um dos imensos sofás que cobriam as paredes laterais. O palco do DJ estava disfarçado por alguns arcos de balões, mas era possível pedir alguma música se entrasse pela lateral certa. Estava tudo magnífico, e, para algumas pessoas, magnífico demais.

Hinata sabia que, se estivesse no salão naquele momento, já teria passado mal com o número de enfeites ao alcance do olhar. Sentia-se tonta quando abordada por uma quantidade homérica de coisas para processar, e definitivamente rosa não a deixava confortável.

No entanto, havia visto a decoração antes da festa começar a funcionar. Terminaram os últimos detalhes no fim da tarde, já exaustos – menos Ino. Ino jamais sentia-se exausta, como uma bateria que funcionava alimentando a si mesma com energia cósmica. Ino jamais se cansava. Haviam ido para a casa de Ino se aprontarem, e combinaram de encontrar os namorados – e Naruto – no hall da festa. Tiveram sorte de terem separado algumas horas para se arrumarem.

A Hyuuga já estava pronta há alguns minutos, e, neste mesmo intervalo de tempo, havia considerado suicídio, pelo menos, uma dezena de vezes. Gemia internamente a cada momento que olhava para si mesma, se perguntando como havia cedido. Quer dizer, Sakura tinha meios realmente convincentes quando queria, mas aquilo era simplesmente inaceitável.

Ela estava mesmo de mulher-gato.

Em um primeiro momento, riu da ideia, achando que não seria levada a sério. Mas, então, Ino voltou com duas grandes sacolas para ela, e seu olhar eletrizante dizia que não era uma brincadeira. Hinata duvidou que aquela roupa fosse mesmo entrar nela, e, quando estava pronta para fugir pelos fundos, Tenten a encontrou. Resignada, ela torceu para morrer afogada durante o banho, mas é claro que não teria tanta sorte assim do universo.

A roupa era, no mínimo, dois números menores. Incomodava em algumas partes, como se fosse rasgar a qualquer momento, e ela definitivamente não se sentia confortável com aquele decote. O couro era macio e reluzente, marcando a vácuo cada pedaço de seu corpo. Fendas generosas sobre o colo lhe faziam estremecer sempre que olhava, e, se não fosse pela máscara ao redor dos olhos, certamente estaria exibindo gritantes tons de vermelho. A bota, tinha que admitir, era espetacular, com seu salto e seus cadarços que se estendiam por toda a panturrilha, mas, com toda sua habilidade majestosa para andar, não se espantaria ao tropeçar algumas vezes quando andasse. O cabelo preso ajudou para que não morresse de calor, embora uma brisa refrescante entrasse pela sacada. Ainda assim, ela apenas não acreditava que havia se prestado àquilo. Bem, ela estava bonita, mas de uma maneira que jamais sonhou que seria.

Era óbvio que Ino era a mais estonteante entre elas. Ela poderia usar sacos de batata como roupas e ainda assim pareceria uma supermodelo. O espartilho valorizara cada mínimo detalhe de seu corpo – já ridiculamente perfeito –, e seus olhos estavam marcados por uma maquiagem invejável. A coroa no alto de sua cabeça fez Hinata prender o riso, lembrando-se de como Ino era a personificação de qualquer rainha do baile juvenil. Sakura abusou de todo e qualquer artifício para destacar o cabelo rosa, e Tenten – surpreendendo a toda e qualquer expectativa que era colocada sobre ela – estava bastante feminina com uma fantasia de sininho (que, aparentemente, era sua personagem preferida nos contos).

Quando as três meninas empurraram Hinata para dentro da limousine luxuosa (por que não?), ela soube que não tinha mais escapatória. Resmungando, esforçou-se para não trazer a tona as demais festas do dia dos namorados de Ino, onde inúmeros rapazes arrumavam inúmeras desculpas para quebrar o coração partido em inúmeros pedaços de Hinata. Suspirou. Depois de tanto tempo, somente um milagre faria mudar sua sina.

Os rapazes conversavam animadamente, ignorando suas fantasias obviamente ridículas. Visando agradarem as namoradas, não reclamaram dos collant, das capas ou das roupas absurdamente justas. Naruto mexia em sua máscara nervosamente, como um TOC, e sentia-se suando frio, por trás da roupa preta, escorrendo pelo cinto até as botas. Havia sido inconsequente ao convidar Hinata, tão de repente, para ser sua companhia na festa, mas já estava feito. Agora, ansiosa, fantasiava como a garota estaria.

Uma limousine parou na frente do lugar, já barulhento. Algumas pessoas se viraram para olhar, maravilhadas com as garotas que saíam dali, mas Naruto petrificou ao encarar apenas a que importava para ele. Caminhava com sutileza e cuidado, a aura tão absurdamente angelical que era como um pecado olhar para ela. Estava... perfeita. Naruto tomou cuidado para não babar, mas era quase impossível. A roupa de couro justa ressalvava com maestria todos seus melhores aspectos, e o loiro tomou cuidado para não olhar demais e ter um acidente indesejado com a calça apertada.

Hinata se aproximou, sem fôlego, evitando encarar os músculos enormes marcados pela camiseta justa. Corou ao perceber o olhar intenso que recebia do amigo, e o coração falhou uma batida quando ele a puxou pela cintura em um abraço apertado, fungando em seu pescoço. Fechou os olhos, evitando um gemido.

— Você está... está... meu Kami, você está sem palavras. – gaguejou no pé do seu ouvido, e ela riu, embora estivesse envergonhada.

— Você também está muito bonito. – admitiu, baixinho.

Se separaram, juntando-se aos amigos, que elogiam cuidadosamente um ao outro. Caminharam para a festa, que, precisavam admitir, estava bombando. Haviam quase trezentas pessoas, divididas nos diversos cantos do salão. Os amigos se separaram, Ino levando Gaara para cumprimentar todos seus conhecidos, e as outras duas amigas correram para o centro da pista de dança, com os garotos em seu encalço, reclamando. Hinata olhou para Naruto, percebendo que havia ficado sozinha com ele. O garoto pigarreou, também sem jeito, e se inclinou, gritando para se fazer ouvir:

— Vou buscar uma bebida 'pra gente. – Hinata assentiu, indo de encontro as amigas, que dançavam conforme a batida da música eletrônica. A Hyuuga começou a se mexer timidamente.

As amigas olharam para Hinata, se aproximando em um semicírculo.

— É a sua chance, Hina. – Sakura gritou, sem parar de dançar, e Hinata balançou a cabeça fervorosamente – Qual é! Você precisa dizer a ele como se sente! – insistiu, enquanto Tenten assentia, concordando.

— Não! Isso vai estragar tudo! – gritou de volta – Ele não sente nada por mim, é melhor do jeito que está. – avistou Naruto voltando com dois copos e um sorriso brilhante, e Hinata sorriu de volta. As amigas reviraram os olhos, se perguntando como poderiam ser tão estúpidos.

 

 

Talvez alguns pontos realmente devessem ser levados em conta – como, por exemplo, Hinata ser extremamente fraca para bebidas.

As horas pareciam ter passado muito rápido, e tudo era um borrão de cores e risadas. A garota tornava seu quarto ou quinto copo de alguma coisa muito, muito doce. As amigas a encaravam, rindo de sua fala enrolada e como ela mexia o corpo sem se importar com o ritmo ou com as pessoas ao seu redor. Apenas dançava e ria, esquecendo os problemas. Esquecendo seu carma, esquecendo seu coração partido e esquecendo seus sentimentos não recíprocos. Queria apenas dançar como se não houvesse amanhã.

Naruto, por outro lado, estava preocupado. Ficara o tempo todo do lado da garota, afastando com um olhar mau encarado cada garoto que ousava se aproximar. Hinata estava absurdamente – e, agora, com o perdão da palavra – gostosa naquela roupa, e eles sabiam disso. Balançava seu corpo tornando cada movimento sensual demais para sua própria sanidade, e as bebidas que havia ingerido não ajudavam muito. Embora Naruto também tivesse bebido, estava alerta, cuidando da amiga.

Amiga.

Com um suspiro triste, puxou Hinata delicadamente pelo braço, caminhando com ela até uma das saídas menos movimentadas, que levava a uma sacada tranquila e arejada. A garota batia o pé, reclamando por não poder dançar mais, e embolava-se, enquanto Naruto a segurava pela cintura, rindo dos seus xingamentos.

Pararam em um lugar mais tranquilo, com poucas pessoas, e Naruto a encostou sobre a parede, fazendo com que ela respirasse ar puro. A garota sorriu, um tanto alta. Ela não estava bêbada. Ela estava surpreendentemente lúcida. Tinha pleno conhecimento de onde estava, com quem estava. Podia enxergar o detalhes do rosto do outro, seus olhos angustiados, os lábios entreabertos. Ela via e ouvia tudo, mas apenas não sentia mais medo.

Naruto a encarou, gravando cada detalhe daquele novo rosto. Os lábios inchados, os olhos ardentes por trás da máscara, a pele brilhando de suor. Uma nova imagem para gravar em sua mente, tão linda quanto todas as outras. Naruto não aguentava mais. Estava corroendo-o de dentro para fora. Estar ao lado de Hinata e não poder dizer com todas as letras o quanto a amava era doloroso demais. Queria tocá-la, beijá-la, protegê-la e dizer ao mundo que ele tinha a mulher mais linda ao seu lado. E, se não fosse recíproco... bem, ele pensaria nessa parte mais tarde. Tudo que passava pela sua mente era como aquela garota, frágil e delicada, atormentava-o dia após dia.

Com o indicador, acariciou suavemente sua bochecha, e Hinata perdeu o fôlego, com as pernas feito gelatina. Se não estivesse escorada, provavelmente teria ido ao chão. Suas respirações entrelaçavam-se, ofegantes. Naquele momento, não importava o quanto tinham a perder.

— Nossa amizade é longa, né? – comentou, com a voz em soprano.

— É. – Hinata concordou com uma lufada, balançando a cabeça devagar.

— Eu não sei como nós viramos amigos, como tínhamos tanto em comum, mas aconteceu. E você é a pessoa mais importante na minha vida. – Hinata prendeu a respiração, sentindo o álcool em suas veias a esquentar – Pode ser que eu não seja retribuído, mas eu preciso falar. Preciso te falar o quanto eu te amo, o quanto você significa para mim. E eu sei do sei carma com esse dia, mas se você me der uma chance, só uma, eu juro que farei isso mudar. – sua voz estava angustiada, e ele respirou fundo, esperando pela reação da garota. No entanto, ela começou a rir, e ele a encarou, confuso. Ela gargalhava, com a cabeça reclinada. Quando se acalmou, seus olhos se abriram, refletindo uma calmaria nunca vista antes.

— Você é o maior idiota que eu já conheci.

E se inclinou. Seus rostos se chocaram, os lábios se unindo desajeitadamente. Naruto, surpreso, levou os braços em reflexos para suas costas, enquanto ela encaixava as mãos contra seu pescoço. O beijo tinha um gosto cítrico, e, quando entreabriram as bocas, enlaçando-se, as línguas estavam dormentes. Beijavam-se com uma certa urgência, apertando-se como se fossem unir os corpos. Depois de alguns minutos, afastaram-se, ofegantes, e Naruto teve uma nova imagem para memorizar. Hinata, com os lábios inchados, o rosto corado. Os olhos, embora envergonhados, admitiam um brilho novo. Seu sorriso era largo.

— Quer ser minha namorada essa noite? Acho que ainda dá tempo. – brincou, abraçando-a com firmeza e tentando conter a felicidade que fazia seu peito doer, mas uma ótima dor. Hinata riu, sentindo-se mais alegre que nunca, e sabia que não era por conta da bebida.

Reclinou-se novamente para beijá-lo, constatando que já estava viciada nos seus lábios. Mas aquilo não importava. Talvez já tivesse passado da meia-noite, há muito tempo, mas também não importava. Havia um novo tipo de carma, mas, dessa vez, um carma bom. Ela poderia conviver com aquilo.

— Feliz dia dos namorados.


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